Da última
vez que pensamos sobre as bestagens bíblicas registradas até Gênesis 15; 8, 9,
10, 11, deixamos Abrão cumprindo a ordem macabra de Deus de esbandalhar alguns
animais cujos pedaços foram arrumados pelo inocente Abrão em certa ordem. De
acordo com estas bestagens, e cumprido o ritual funesto, talvez causado pelo
cheiro de sangue, um acentuado torpor invadiu o infeliz Abrão e ele caiu em
forte desalento. Aquele desconforto talvez não estivesse ligado aos
assassinatos dos animais porque como veremos quando chegar a hora, também em
obediência a Deus ele ia matar o próprio filho, situação monstruosamente
inexplicável, mas para a qual a enganação encontra explicação que a manada
aceita e, pior, acredita. O mal-estar de Abrão talvez decorresse das novas
orientações de Deus. Declarou o Senhor Deus a Abrão que sua descendência seria
escravizada durante quatrocentos anos, mas que Ele, Deus, puniria os
escravizadores. Certamente teria ocorrido um ligeiro funcionamento da
inteligência de Abrão, porque até os integrantes de manada dispõe de alguma.
Eles ainda não sabem disso porque a imprensa não permite. Em troca de muito
dinheiro que os politiqueiros lhe dão a imprensa faz acreditar que tomar
conhecimento do resultado do exame de urina do jogador de futebola seja mais
importante do que o futuro de seus filhos. Não tem outra finalidade notícias
sobre Ronaldo gordo ganhando mordidinha na boca, nem que Ronaldo Magro tornou
famosa uma boate na Itália por tê-la frequentado. Este fato desnuda a mentira
de haver povo civilizado no planeta. Uma civilização das mais antigas do mundo
tem uma boate tornada famosa porque passou por lá um iletrado dentuço
escoiceador de bola. É assim que a imprensa leva as pessoas a desconhecer haver
inteligência em seus cérebros. Confirmando o dito de haver algo de bom até nas
coisas ruins, a Rádio Bandeirantes AM de São Paulo entrevistava Laurentino
Gomes sobre seu novo livro quando um dos entrevistadores comparou um dos
personagens da Proclamação da República com a figura desprezível para quem
pensa de um jogador de futebola. Enquanto
não se descobrir haver inteligência nas cabeças para as quais a mais importante
palavra de nossa língua é gôôôôôôôôôôôôôôôôôôôôôô permaneceremos na condição de
manada. Entretanto, em Abrão,como o sono de sua pouca inteligência teve uma
pequena falha, teve ele um lapso de raciocínio que o fez perceber a falta de
lógica em ter seus filhos, netos, bisnetos, trinetos, tataranetos, enfim, toda
sua descendência escravizada. Esta mudança de Abrão, de quase assassino do
filho a uma repentina preocupação com seus descendentes certamente o fez cair
em prostração.
Ao pensar
por alguns instantes, Abrão não conseguiu encontrar nenhuma vantagem nem no
sofrimento de sua posteridade, nem daqueles que os fariam sofrer. Quando se
pensa, chega-se a uma conclusão. Foi o que aconteceu com Abrão e sua conclusão,
desta vez, correta: melhor seria que ninguém sofresse. O que ele não sabia é
que o sofrimento é a bandeira que Deus desfralda para manter os pobres acreditando
na bestagem de que a felicidade só existe fora deste mundo. Embora rápido o intervalo
na interrupção da letárgica inteligência de Abrão, foi suficiente para ele
pensar um pouco no seguinte: Se até as baratas quando mordem, assopram para
evitar sofrimento na vítima, como se explicava que uma entidade tida como de
infinita bondade gostasse tanto de sofrimento?
O pobre
Abrão nem desconfiava de ser ele uma ficção. Se ele dispusesse de uma máquina
do tempo como aquela do livro Operação Cavalo de Tróia, de J. J. Benítez, onde
nos mostra a origem dos banqueiros: avarentos que cobravam ágio altíssimo em
suas bancas de trocar as várias moedas de estrangeiros pela moeda oficial com a
qual a manada da época pagava os favores concedidos pelos deuses adorados no
Sinédrio, do mesmo modo como se paga hoje por missas.
Mas, se
Abrão, em ficção viesse aos tempos mais modernos, descobriria que todos os seguidores
de Deus se deram muito mal e saltaria fora dos quadrinhos da sua também
fictícia história. O próprio filho de
Deus foi obrigado a carregar sob chibatadas imensa cruz na qual foi pregado e
espetado por lanças até morrer em tremendo sofrimento. Abrão poderia ver no
livro Uma Breve História do Cristianismo, de Geoffrey Blainey, na página 47,
que o segundo maior seguidor de Deus depois do seu filho torturado e morto de
forma tão cruel quanto a de Herzog, sob a indiferença do seu Pai. Também para
tamanha bestagem a manada aceita explicação dos enganadores das várias religiões
nas quais se incluem sacerdotes estupradores, assassinos, ladrões entre os
quais estava um que escolheu o novo papa. Se ele chegasse ainda mais perto de
nós e consultasse o amigão Google haveria de ficar estarrecido ao pedir-lhe
para lhe mostrar “a riqueza dos pastores brasileiros”.
Outro infeliz
seguidor de Deus, Paulo, estava tão seguro de estar protegido por um manto
divino que chegou a proferir as seguintes palavras “Se Deus é por nós, quem
será contra nós?”. Entretanto, foi assassinado. Ainda outro seguidor, Tiago,
bispo de Jerusalém, irmão de Cristo só por parte de mãe, também foi assassinado
por ordem do seguidor de um daqueles deuses adorados no Sinédrio e que só foram
desbancados por ordem do imperador romano ao perceber que o povo preferia o
deus de Abrão que nessa época já era Abraão. É como se meu nome fosse mudado
para Zeé. O sucessor de Tiago, Pedro, transformado em chaveiro pela bestagem,
também não escapou de ser assassinado.
Sofrimento e
morte antes do tempo é o destino da humanidade ao preferir estas bestagens aos
avisos da ciência. Uma senhora com uma criancinha nos braços no supermercado, a
quem indaguei sobre o que ela esperava para o futuro daquela criança, estava
absolutamente convicta de que a proteção divina tomaria conta de tudo e não permitiria
que nada de ruim pudesse acontecer à sua pobre filha tão inocente quanto os personagens destas
bestagens porque a religião, em vez de ser protetora é inimiga por ser
apaniguada da riqueza e a riqueza é a
causa da pobreza que causa todos os choros no corredor do hospital. A imagem de
cristo grudunhada na parede dos bancos nos mostra isso. Onde a religião e a
riqueza encontram sabedoria só há insensatez. Inté.