domingo, 18 de agosto de 2013

DESINTELIGÊNCIA PROGRAMADA


                         Eu havia desistido de encher o saco das pessoas. Entretanto, como não param de encher o meu, retribuo na mesma moeda. Quem não é um completo idiota não consegue viver em paz dentro de uma comunidade que não se incomoda em pisar em caldo de bosta; conversar alegremente em longas filas; quebrar o pé nos buracos das calçadas; cheirar bosta de cavalo que come ração na qual se inclui restos de animais abatidos, e que por isso mesmo tem um mau cheiro insuportável; ser indiferente ao som de imensas caixas nos carros de jovens ignorantes do resultado que os tornarão surdos antes que da velhice o exija; encarar pobres diabos exibindo desenhos feitos com tinta injetada na pele, e outros tantos com metais espetados no corpo do mesmo modo como os índios espetam madeira. Nas atuais circunstâncias, a vida só é agradável para gente desse tipo. Só bicho pode ser indiferente a tal estado de coisas e o povo está realmente se tornando bicho. Assim como um cavalo fica horas amarrado e abanando o rabo à espera do seu dono, assim também o povo permanece em imensas filas, indiferente ao direito que lhe garante ser atendido em no máximo quinze minutos, rindo e discutindo de que lado do palhaço chamado goleiro passou a bola. Esta brincadeira de bola é tida como coisa muito séria e é até recomendada por velhos safenados da Rádio Bandeirantes de São Paulo como meio de educação. Os executores desta brincadeira idiota recebem salários infinitamente maior do que o de um professor. Como sentir-se bem inalando a fumaça preta dos canos de descarga dos carros que queimam o óleo diesel mais venenoso do mundo, ou a fumaça da queima de capim e entulhos dos terrenos baldios onde as construtoras erguerão mais um prédio mal construído com o fedor de esgoto retornando pelas pias e a água dos banheiros correndo em direção oposta ao ralo de escoamento?

Vi um carro-pipa abastecendo em frente aos motéis localizados depois da rodoviária, o que significa consumir água suja que resultará em doenças que irão abarrotar os consultórios médicos onde os bichos em forma de gente se amontoam numa sala de espera insalubre onde se respira o ar já respirado, contraindo mais doença do que já se tem, o que aumenta ainda mais o número dos que acorrem aos consultórios onde os médicos fazem de conta que examinam a fim de atender muitas pessoas a fim construir luxuosos hospitais que impressionam a manada que vê eficiência nos brilho das fechadas de mármore e nos painéis embelezadores, mas que não protegem das bactérias resistentes que matam mais que bala de fuzil.

 As farmácias e as igrejas se tornaram negócio tão lucrativo que remetem montanhas de dinheiro para seus proprietários. Como disse alguém que não faz parte da manada, quanto maior o número de farmácias e igrejas de uma comunidade, maior a ignorância do seu povo. Realmente, só ignorantes consomem remédios por conta própria e acreditam numa proteção divina que não evita o massacre dos religiosos egípcios, além de adorar a bondade de um tal de deus que despejou por vingança lava de vulcão sobre pessoas e animais e que se compraz em ver alguém, inclusive crianças, com o pescoço degolado em sua homenagem.

Os estados, como as fazendas de gado, também tem seus proprietários que vivem do que produzem os bois, vacas, bezerros, porcos, enfim de tudo que se pode obter dos bichos com forma de gente. Quando eu era menino, nas fazendas dos meus pais, davam-se nomes aos animais. Tinha um barrão chamado Felão, e entre as minhas vacas havia uma chamada Flor do Gado, nome sugerido em função do belo porte daquela novilha raça gir. Esse nome foi sugerido pelo vaqueiro Alziro, meu irmão de criação que se encontra ainda entre nós na cidade de Itapetinga. Desse mesmo modo, os proprietários dos Estados nominam prédios, praças, ruas, estradas, com nomes dos familiares, numa demonstração de posse, do mesmo modo como Napoleão se apossava dos lugares conquistados e os distribuía entre seus familiares.

Em Salvador, um integrante de manada cuspiu pela janela uma bolota de catarro amarelo que caiu nas costas da minha mão. Mas o pardieiro não é privilégio da Bahia. Ele é de âmbito nacional. Exatamente nesta tarde de domingo, o Paulo Amorim, reporter pago para imbecilizar, está anunciando como grande coisa uma entrevista com a “celebridade” Sheila Carvalho, que vai discorrer sobre a importante notícia de como o marido da “celebridade” trepou fora do casamento. É imbecilidade a perder de vista. A imbecilidade da imprensa está fazendo alvoroço porque o parlamento mais inútil e mais caro do universo aprovou os royalties do petróleo para educação e saúde, quando, só os tolos não sabem, estes recursos serão roubado antes de chegarem ao destino. Dinheiro sempre existiu para tudo se não fosse engolido pela corrupção. A quantidade de autoridades milionárias, as montanhas de dinheiro para ajudar banqueiros em dificuldade inventada, as fortunas escondidas nos infernos fiscais, a imoralidade das dívidas interna e externa, as indenizações por atos irresponsáveis de politiqueiro travestido de autoridade, tudo isso consome todos os recursos existentes sob o olhar indiferente da manada.       

 Viver em meio a esse tipo de gente é como colocar alguém desse tipo de gente para viver num curral cheio de gado. É exatamente a mesma situação. Se esse tipo de gente não pode conversar com os bois, as vacas e os bezerros, também não pode conversar com esse tipo de gente alguém com algum refinamento espiritual adquirido nos livros dos Grandes Mestres do Saber. A querela sobre se o menor pode trabalhar é outra monumental estupidez porque não há emprego nem para os maiores. Faz parte desse parlamento de politiqueiros um deputado presidiário. Como diz o Zé Simão, é um país da piada pronta.

Uma doutora me aconselhou a procurar um psicólogo ao me ouvir dizer que acho a vida insuportável. Causa imensa tristeza dois fatos acontecidos hoje comigo. No primeiro, resolvi tomar um sorvete e fui à Gelato Conquista, ambiente tido como refinado, mas só para brutos. Pedi um sorvete com um pouco de cobertura de chocolate. A funcionária colocava tanta cobertura que lhe pedi para parar porque eu não seria capaz de consumir aquela monstruosidade. Paguei onze reais por um sorvete delicioso, mas que só aguentei comer a metade e joguei no lixo cinco reais e cinquenta centavos em função da exorbitância da quantidade. Certamente, acostumada a lidar com bichos, pensou a vendedora ser eu também capaz de comer uma bacia de sorvete. A imbecilidade é tão grande que o sorvete de cada sabor só é vendido em quantidade tão grande que as pessoas que não fazem parte das pessoas “desse tipo” só podem tomar sorvete de um sabor apenas.

Depois de jogar no lixo a metade do sorvete que me custou onze paus, dirigi-me à policlínica Sagrada Família para uma consulta ao preço de duzentos e vinte reais, acertada para determinado horário, mas qual não foi minha surpresa ao ser informado de que teria de esperar serem atendidas cinco outras pessoas, o que recusei energicamente. Isto só acontece num meio de pessoas com mentalidade tão inferior que não se incomodam com nada. Até os irracionais se sentem incomodados com alguma coisa, enquanto que nada, absolutamente nada, é capaz de incomodar as pessoas indiferentes às bostas, ao barulho, e aos desmandos, ou seja, as pessoas do tipo aqui qualificadas como “desse tipo” que a tudo se curvam. Mas o povo não banca o burro por falta de inteligência porque todos tem inteligência. A grande mutreta é que a mídia não permite ao povo descobrir que tem inteligência. Para isso a politicagem repassa montanhas de dinheiro do próprio povo para a imprensa para que ela não permita que as pessoas descubram ser inteligentes. As propagandas da Petrobrás, do Banco Central, das prefeituras, dos governos estaduais e do federal, tem por objetivo repassar bilhões para que a imprensa cumpra seu papel nefasto de imbecilizar tanto a ponto de se pensar que Sheila Carvalho, Pelé, o Ronaldo gorducho e o dentuço, o Neymar, e todos os integrantes dessa trupe sejam pessoas importantes. Inté.    

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