Eu havia desistido de
encher o saco das pessoas. Entretanto, como não param de encher o meu, retribuo
na mesma moeda. Quem não é um completo idiota não consegue viver em paz dentro
de uma comunidade que não se incomoda em pisar em caldo de bosta; conversar
alegremente em longas filas; quebrar o pé nos buracos das calçadas; cheirar
bosta de cavalo que come ração na qual se inclui restos de animais abatidos, e
que por isso mesmo tem um mau cheiro insuportável; ser indiferente ao som de
imensas caixas nos carros de jovens ignorantes do resultado que os tornarão
surdos antes que da velhice o exija; encarar pobres diabos exibindo desenhos
feitos com tinta injetada na pele, e outros tantos com metais espetados no
corpo do mesmo modo como os índios espetam madeira. Nas atuais circunstâncias,
a vida só é agradável para gente desse tipo. Só bicho pode ser indiferente a
tal estado de coisas e o povo está realmente se tornando bicho. Assim como um
cavalo fica horas amarrado e abanando o rabo à espera do seu dono, assim também
o povo permanece em imensas filas, indiferente ao direito que lhe garante ser
atendido em no máximo quinze minutos, rindo e discutindo de que lado do palhaço
chamado goleiro passou a bola. Esta brincadeira de bola é tida como coisa muito
séria e é até recomendada por velhos safenados da Rádio Bandeirantes de São
Paulo como meio de educação. Os executores desta brincadeira idiota recebem
salários infinitamente maior do que o de um professor. Como sentir-se bem inalando
a fumaça preta dos canos de descarga dos carros que queimam o óleo diesel mais
venenoso do mundo, ou a fumaça da queima de capim e entulhos dos terrenos
baldios onde as construtoras erguerão mais um prédio mal construído com o fedor
de esgoto retornando pelas pias e a água dos banheiros correndo em direção
oposta ao ralo de escoamento?
Vi um
carro-pipa abastecendo em frente aos motéis localizados depois da rodoviária, o
que significa consumir água suja que resultará em doenças que irão abarrotar os
consultórios médicos onde os bichos em forma de gente se amontoam numa sala de
espera insalubre onde se respira o ar já respirado, contraindo mais doença do
que já se tem, o que aumenta ainda mais o número dos que acorrem aos
consultórios onde os médicos fazem de conta que examinam a fim de atender muitas
pessoas a fim construir luxuosos hospitais que impressionam a manada que vê
eficiência nos brilho das fechadas de mármore e nos painéis embelezadores, mas
que não protegem das bactérias resistentes que matam mais que bala de fuzil.
As farmácias e as igrejas se tornaram negócio
tão lucrativo que remetem montanhas de dinheiro para seus proprietários. Como
disse alguém que não faz parte da manada, quanto maior o número de farmácias e
igrejas de uma comunidade, maior a ignorância do seu povo. Realmente, só
ignorantes consomem remédios por conta própria e acreditam numa proteção divina
que não evita o massacre dos religiosos egípcios, além de adorar a bondade de
um tal de deus que despejou por vingança lava de vulcão sobre pessoas e animais
e que se compraz em ver alguém, inclusive crianças, com o pescoço degolado em
sua homenagem.
Os estados,
como as fazendas de gado, também tem seus proprietários que vivem do que
produzem os bois, vacas, bezerros, porcos, enfim de tudo que se pode obter dos
bichos com forma de gente. Quando eu era menino, nas fazendas dos meus pais,
davam-se nomes aos animais. Tinha um barrão chamado Felão, e entre as minhas
vacas havia uma chamada Flor do Gado, nome sugerido em função do belo porte
daquela novilha raça gir. Esse nome foi sugerido pelo vaqueiro Alziro, meu
irmão de criação que se encontra ainda entre nós na cidade de Itapetinga. Desse
mesmo modo, os proprietários dos Estados nominam prédios, praças, ruas,
estradas, com nomes dos familiares, numa demonstração de posse, do mesmo modo
como Napoleão se apossava dos lugares conquistados e os distribuía entre seus
familiares.
Em
Salvador, um integrante de manada cuspiu pela janela uma bolota de catarro
amarelo que caiu nas costas da minha mão. Mas o pardieiro não é privilégio da
Bahia. Ele é de âmbito nacional. Exatamente nesta tarde de domingo, o Paulo
Amorim, reporter pago para imbecilizar, está anunciando como grande coisa uma
entrevista com a “celebridade” Sheila Carvalho, que vai discorrer sobre a importante
notícia de como o marido da “celebridade” trepou fora do casamento. É
imbecilidade a perder de vista. A imbecilidade da imprensa está fazendo
alvoroço porque o parlamento mais inútil e mais caro do universo aprovou os
royalties do petróleo para educação e saúde, quando, só os tolos não sabem, estes
recursos serão roubado antes de chegarem ao destino. Dinheiro sempre existiu
para tudo se não fosse engolido pela corrupção. A quantidade de autoridades
milionárias, as montanhas de dinheiro para ajudar banqueiros em dificuldade
inventada, as fortunas escondidas nos infernos fiscais, a imoralidade das
dívidas interna e externa, as indenizações por atos irresponsáveis de
politiqueiro travestido de autoridade, tudo isso consome todos os recursos
existentes sob o olhar indiferente da manada.
Viver em meio a esse tipo de gente é como
colocar alguém desse tipo de gente para viver num curral cheio de gado. É
exatamente a mesma situação. Se esse tipo de gente não pode conversar com os
bois, as vacas e os bezerros, também não pode conversar com esse tipo de gente alguém
com algum refinamento espiritual adquirido nos livros dos Grandes Mestres do
Saber. A querela sobre se o menor pode trabalhar é outra monumental estupidez
porque não há emprego nem para os maiores. Faz parte desse parlamento de
politiqueiros um deputado presidiário. Como diz o Zé Simão, é um país da piada
pronta.
Uma doutora
me aconselhou a procurar um psicólogo ao me ouvir dizer que acho a vida
insuportável. Causa imensa tristeza dois fatos acontecidos hoje comigo. No
primeiro, resolvi tomar um sorvete e fui à Gelato Conquista, ambiente tido como
refinado, mas só para brutos. Pedi um sorvete com um pouco de cobertura de
chocolate. A funcionária colocava tanta cobertura que lhe pedi para parar
porque eu não seria capaz de consumir aquela monstruosidade. Paguei onze reais
por um sorvete delicioso, mas que só aguentei comer a metade e joguei no lixo
cinco reais e cinquenta centavos em função da exorbitância da quantidade.
Certamente, acostumada a lidar com bichos, pensou a vendedora ser eu também
capaz de comer uma bacia de sorvete. A imbecilidade é tão grande que o sorvete
de cada sabor só é vendido em quantidade tão grande que as pessoas que não
fazem parte das pessoas “desse tipo” só podem tomar sorvete de um sabor apenas.
Depois de
jogar no lixo a metade do sorvete que me custou onze paus, dirigi-me à policlínica
Sagrada Família para uma consulta ao preço de duzentos e vinte reais, acertada
para determinado horário, mas qual não foi minha surpresa ao ser informado de
que teria de esperar serem atendidas cinco outras pessoas, o que recusei
energicamente. Isto só acontece num meio de pessoas com mentalidade tão
inferior que não se incomodam com nada. Até os irracionais se sentem
incomodados com alguma coisa, enquanto que nada, absolutamente nada, é capaz de
incomodar as pessoas indiferentes às bostas, ao barulho, e aos desmandos, ou
seja, as pessoas do tipo aqui qualificadas como “desse tipo” que a tudo se
curvam. Mas o povo não banca o burro por falta de inteligência porque todos tem
inteligência. A grande mutreta é que a mídia não permite ao povo descobrir que
tem inteligência. Para isso a politicagem repassa montanhas de dinheiro do
próprio povo para a imprensa para que ela não permita que as pessoas descubram
ser inteligentes. As propagandas da Petrobrás, do Banco Central, das
prefeituras, dos governos estaduais e do federal, tem por objetivo repassar
bilhões para que a imprensa cumpra seu papel nefasto de imbecilizar tanto a ponto
de se pensar que Sheila Carvalho, Pelé, o Ronaldo gorducho e o dentuço, o
Neymar, e todos os integrantes dessa trupe sejam pessoas importantes. Inté.
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