Não tá em
nenhum gibi o que se joga fora de conversa em torno dos transtornos que
produzem a infelicidade humana, quando é tudo tão claro como água potável no
meu copo de cristal de tomar uísque. No livro A Produção do Fracasso Escolar,
de Maria Helena Souza Patto, com 454 páginas de elucubrações sobre deficiência
educacional no Brasil, na página 27, lê-se o seguinte: “A reprovação e a evasão nas escolas públicas de primeiro grau
continuam a assumir proporções inaceitáveis em plena década de 1980. Ao longo
dos sessenta anos que nos separam do início de uma política educacional no
país, sucessivos levantamentos revelam uma cronificação desse estado de coisas
praticamente imune às tentativas de revertê-lo, seja através da subvenção de
pesquisas sobre suas causas, seja pela via de medidas técnico-administrativas
tomadas pelos órgãos oficiais”. E mais adiante, na mesma página: “... do total de crianças que se
matricularam pela primeira vez no primeiro ano, em 1945, apenas 4% concluíram o
primeiro grau em 1948”. E na página 29 lê-se o seguinte: “... a surrada promessa dos políticos, o
insistente sonho dos educadores progressistas de educação para todos e o
permanente desejo de escolarização das classe populares conservam, ainda hoje,
sua condição de promessa, de sonho e desejo”. Não sendo desprovidos de
conhecimentos os intelectuais, parecem fazer questão de ser tão inúteis quanto
os economistas porque nunca houve e jamais haverá no atual sistema de administração
pública executada a favor dos próprios administradores interesse algum em
educar, uma vez que a educação levaria ao conhecimento da realidade de se
tratar de verdadeira escravidão se esbaldar para pagar impostos destinados a
dar vida tranquila a uma plêiade de vagabundos, parasitas que elaboram leis
assegurando-lhes o direito de parasitar. Um povo socialmente educado
questionaria a vida mansa dos administradores públicos, sem enriquecimento,
seus palácios, sua proliferação de ratos em infinitos ministérios, inclusive de
pesca e esporte. O interesse, na verdade, é deseducar como fez o governo dos
militares entregando ao governo americano a tarefa de planejar a educação dos
jovens brasileiros através do Programa Mec/Usaid cujo resultado pode ser
encontrado na subserviência com que os brasileiros se sentem deslumbrados pelo
“American Way of Life”. Nenhuma novidade há na deseducação. Não só da malta
brasileira, mas também de todos, absolutamente todos os seres humanos porque a
educação eleva a espiritualidade e a compreensão de ser inaceitável a situação
socialmente conflitante de se considerar normal a existência de monstros
espirituais, verdadeiros biltres mentais a fazer pose na revista Forbes como os mais ricos do mundo, enquanto fome,
miséria e sofrimento assolam e infelicitam grande número de seres humanos que
se diferem daqueles grã-finos apenas por não terem nas entranhas a mesma
quantidade de bosta por falta do que comer.
Matéria do
jornal Folha de São Paulo é ilustrada por uma dolorosa imagem para quem sabe
que a miséria decorre do mau uso do dinheiro público mostra pessoas no lixão
disputando comida com urubus em Boa vista, capital do Estado de Roraima. A
mentalidade reles de frequentadores de igreja, axé e futebola não lhes permite
alcançar o vínculo entre deseducação, excesso de riqueza, excesso de pobreza, miséria
e sofrimento. Mas é a falta de educação, de conhecimento destes males. Evidente
não se tratar da educação voltada para a formação de técnicos especializados em
produzir riqueza da qual participam gatos pingados e exclui o resto dos seres
humanos que desta forma ficam condenados ao trabalho braçal sem o qual de nada
adiantariam os técnicos, lógica distorcida própria do perverso sistema capitalista
que acaba de ser confirmada pelo senhor reitor da universidade portuguesa
referindo à deseducação no Brasil em entrevista à revista Carta Capital, em matéria
denominada SE FOSSE BRASILEIRO, ESTARIA
INDIGNADO COM A SITUAÇÃO DA EDUCAÇÃO. Afirma o senhor reitor português que não
se pode ser cidadão sem saber matemática. Ora, para ser cidadão precisa mesmo é
saber cidadania, sociabilidade, vantagens da cooperação sobre a competição
quando se vive em sociedade. Os conhecimentos matemáticos são indispensáveis às
construções dos Burjs khalifas, das world Trade Centers do mundo e das naves
espaciais destinadas a levar a custo de ouro imbecis para dar uma volta pelo
espaço de onde verão a merda que fizeram cá embaixo para onde terão de voltar,
porque como tudo o mais, também imbecis que sobem têm de descer, infelizmente. Joga
conversa fora o senhor reitor inclusive quando afirma a indignação em que
ficaria com o sistema educacional em nosso país caso fosse brasileiro porque a
única coisa capaz de causar indignação no brasileiro é a falta de gôs do seu
time de futebola. Nem deixa de ser estranha a preocupação daquele intelectual
português com a mendicância educacional no Brasil, onde Luciano Huck é
presidenciável, deixando assim de ser marionete do Pão e Circo para ser de quem
a Lava Jato impediu de se tornar o parasita mor, o Zeus do Olimpo Brasil ao
tornar pública sua desonestidade. Pode ter origem a preocupação do embaixador
português no fato de serem outros os que agora se beneficiam das nossas
riquezas sob a complacência de uma juventude pusilânime capaz de encontrar
importância em figuras insignificantes a ponto de elevá-las à condição de
“celebridades” e “famosos”.
A troca da parasitagem pode explicar a declaração do senhor reitor
português porque se lê no livro 1808, de Laurentino Gomes, na página 125, a
realidade de que a ignorância nesse belo país de triste povo e sorte
beneficiou, e muito, os governantes de Portugal, como se vê na seguinte
declaração: “A ignorância e o isolamento eram resultado de uma política deliberada
do governo português, que tinha como objetivo manter o Brasil, uma joia
extrativista e sem vontade própria longe dos olhos e da cobiça dos
estrangeiros. Era uma política tão antiga quanto a própria colônia. Ao assumir
o cargo em 1548, o primeiro governador-geral, Tomé de Sousa recebeu da coroa
portuguesa doze instruções sobre como conduzir os negócios no Brasil. Uma
delas, a nona, determinava que o governador deveria “impedir a comunicação de
uma capitania a outra pelo sertão, a não ser com a devida autorização”. E
prossegue o historiador: “Uma lei de 1733 proibia a abertura de estradas
como forma de combater o contrabando de ouro e diamantes, facilitando a
fiscalização por parte dos funcionários portugueses encarregados de recolher o
quinto real sobre toda a produção de pedras e minerais preciosos da colônia”.
Assim, não deixa de ser muito esquisito que intelectuais não percebam a
realidade de ser a deseducação promovida pelo próprio Estado Capitalista que
manda no mundo, o que explica a miséria da qual decorre o sofrimento generalizado
que grassa de canto a canto do planeta, em decorrência da prática capitalista
desumana de precisar haver pessoas desprovidas de conhecimentos e inocentes como
crianças para se disporem a trocar sua vitalidade no trabalho braçal por um
salário mínimo e sentirem-se tão satisfeitas com tal ignomínia que agradecem a
Deus por tamanha perversidade. Como aqueles que adquirem conhecimento desta
dura realidade se tornam pessoas perigosas para o sistema perverso, os também socialmente
deseducados responsáveis por ele, os capitalistas, possuídos pelo espírito de
Midas, produzem a deseducação. No próprio título do livro da intelectual doutora
Souza Patto, PRODUÇÃO DO FRACASSO ESCOLAR está
a realidade de ser intencionalmente produzida a deseducação.
A religiosidade é o principal instrumento
usado na produção do fracasso educacional porque as crianças aprendem a
desnecessidade de cogitar sobre a possibilidade de um tipo de vida que
dispensasse o medo e os sofrimentos ao terem inculcada em suas personalidades a
noção de pecado e a figura de um Deus monstruosamente vingativo e sanguinário a
vigiar e a quem se deve temer. Na página 10 do livro História Geral e do
Brasil, de Claudio Vicentino e Gianpaolo Dorigo, editora Scipione, há a imagem
de um grupo de crianças na escola e os seguintes dizeres: “Alunos do antigo
ensino primário, hoje equivalente ao Ensino Fundamental I, assistem a aula no
Instituto Muniz Barreto, Rio de Janeiro, em cerca de 1904. Neste nível de
ensino nesta época, a história religiosa era mais difundida na escola do que a
história das civilizações”. Aí está, pois, a fonte que abastece o atraso
mental do qual resulta o conformismo e a submissão de que necessitam os Midas
do mundo, para, através de uma plêiade de papagaios de microfone e escritores
assalariados, manter os seres humanos numa escravidão consentida, incapazes de
provarem aos seus algozes através de atitudes pacíficas e inteligentes o erro
que cometem em sua cegueira mental da qual resultará infelicidade para eles
mesmos, acostumados que estão à vida regalada de não saber o que é sofrimento
pela fome, frio, medo e doenças sem assistência. A história da religião que as
crianças aprendem não é a mesma história da religião contada pelos estudiosos
do comportamento humano através dos tempos. É uma confusão dos diabos destinada
a promover a submissão e a desnecessidade de pensar, a simplesmente aceitar as
informações sem cogitar de sua veracidade. Um belo exemplo desta realidade é a frase
sem sentido algum atribuída a Cristo: “Deixe que os mortos enterrem seus
mortos”. Como não se questionar a afirmação de morto fazer alguma coisa? É
através de artimanhas assim, mentiras e desfaçatez que os pobres de espírito em
consequência da deseducação são convencidos de valer a pena serem indiferentes
aos sofrimentos de não ter o que comer, enquanto outros não dão conta de comer
o que têm. Pode-se apostar um tostão furado como jamais em tempo algum os
frequentadores de igreja, axé e futebola tomarão conhecimento da realidade de
que a religião sempre andou de braços dados com a política com o objetivo de
parasitá-los. O livro História da Raça Humana, de Henry Thomas, na página 233,
mostra o seguinte: “Os bispos os príncipes e os papas foram frequentemente
políticos de baixa estirpe. Eram mais ávidos de encher seus bolsos com ouro,
que interessados em difundir a justiça pela terra. Em suas mãos, a Igreja
tornava-se constantemente um instrumento de opressão, de tortura e morte. A
história dos cinco séculos subsequentes ao reinado de Carlos Magno constituiu
um dos capítulos mais vergonhosos da história da raça humana. É uma história de
rivalidades e contendas dentro da Igreja, de fanatismo, pilhagens, massacres e
guerras entre cristãos e maometanos. Quase todos os historiadores deram-nos um
quadro alterado desses séculos. Encobriram as manchas, tintas de sangue, dessa
época hedionda, com incenso de romantismo.” Aí está, pois a verdadeira
história da religiosidade, escondida a sete chaves da massa bruta de povo a
mando dos imbecis ajuntadores de riqueza. Na televisão, um dos lacaios desses
apologistas do apocalipse festejava o aumento da venda de carros. É como alguém
com água até o pescoço festejando a chegada de mais água. E a tudo isso a juventude
assiste futucando telefone, razão pela qual seria melhor para ela não haver a
vida depois da morte que sua inocência faz acreditar haver porque assim estaria
livre da indignação com que seus descendentes com muita razão dela se lembrarão.
Inté.