sexta-feira, 21 de abril de 2017

ARENGA 411


Filósofos têm tendência a complicar as coisas simples. Afirmar que a liberdade depende da eterna vigilância é tão sem pé nem cabeça quanto afirmar que o homem nasce livre. São afirmações filosóficas cujo mérito se restringe unicamente em incentivar o pensamento a trabalhar. A primeira frase pressupõe a necessidade de vigília, o que elimina a possibilidade de liberdade. Os filmes mostram esta realidade na cena comum em que uma pessoa do grupo fica de guarda para que as outras possam dormir. Nesta situação, não há liberdade para quem vigia nem para quem dorme, escravizados que estão pela necessidade de proteção contra algum perigo. Do mesmo jeito, a frase que afirma nascer livre o homem porque nenhum ser vivo nasce sem depender da proteção dos pais, principalmente das mães. O exemplo mais comum de seres que nascem sem contar senão consigo mesmos são as tartarugas, mas a maior parte dos recém nascidos são predados antes de alcançar a água que lhes daria chance de sobreviver. Em toda sua história, os seres humanos nunca conheceram a liberdade e jamais terão a necessária desenvoltura espiritual para conhecê-la enquanto permanecerem na condição atual de brutamontes mentais. Entre os sete bilhões de pessoas, apenas alguns gatos pingados são capazes de elevar o pensamento pouco mais alto que o solado dos sapatos. A quase totalidade dos seres humanos, porém, ainda não pensam senão nas atividades físicas de comer, trepar e cagar. Ante quadro tão tenebroso, como falar em liberdade, se nunca foi dado ao ser humano oportunidade de conhecê-la uma vez que a história mostra o homem sempre preso à obrigação de servir a um senhor celestial que o submete sob ameaça de pecado e a um senhor temporal que o submete ao pagamento de imposto. A exigência do senhor celestial, que a princípio se contentava com um tosco altar sobre o qual Noé depositou cadáveres de animais, conforme o Livro de Gênesis 8:20, evoluiu para templos monumentais e uma quantidade tão grande de representantes divinos que é impossível saber-se o número deles. Do mesmo modo, também cresceu exigência do senhor temporal, que passou da obrigação de levar ganso e leitoa para alimentar nobres rodopiando valsas em grandes salões para uma monstruosidade denominada Economia Política da qual resulta noventa e nove por cento dos seres humanos transformados em serviçais de um por cento deles, por sua vez escravos da ganância. Cadê, pois, a liberdade?   

 

 

 

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