O programa
Diálogos com Mário Sergio Conti, no canal Globo News, que entrevistou o doutor
Flávio Bierrenbach, deu mais um motivo de orgulho para esse mal amanhado blog.
Ao ser questionado sobre uma solução para o desmantelamento político do Brasil,
pergunta que muito me agradou ante a realidade de terem os noticiários sido
resumidos a acusações de crimes e negações, a resposta do raríssimo político
honrado, intelectual e magistrado, o doutor Flavio Bierrenbach, confirmou o que
vem sendo dito aqui através destas pessimamente alinhavadas linhas onde as
vírgulas são decididas pela cara ou coroa. Quem perde tempo lendo as bobagens
nas garatujas deste blog sabe perfeitamente estar dito aqui em várias
oportunidades ser flagrante paradoxo uma sociedade cujos membros competem entre
si por melhor posição individual. Não há nisso o espírito societário do qual
são partes integrantes a solidariedade e harmonia, portanto, o avesso da
competição caracterizada pela existência de vencidos e vencedores. Embora tenha
defensores o modo atual de administração pública cujo resultado é a
esculhambação que aí está, seus defensores têm o mesmo perfil mercenário dos
advogados que defendem os marginais de luxo que tiram das crianças o direito
tomar seu leite. Em toda a história não há registro de uma só governo que não
contasse com um séquito de seguidores. Manoel Bandeira mostrou muito bem esta
realidade quando disse das vantagens que teria em Passárgada onde era amigo do
rei. A mesma inconsistência moral que leva cientistas a venderem à Fundação
Templeton opiniões favoráveis à religião, também leva escritores e economistas a
prostituirem suas consciências e receberem pagamento para afirmar o absurdo de
ser melhor viver competindo do que cooperando, como fez o Secretário americano de
triste memória Henry Kissinger ao garantir que bom mesmo é este regime no qual
o mais capaz segue em frente e o menos capaz é largado para trás. O
procedimento de abandonar os menos capazes teve razão de ser quando os
incapazes de caminhar atrapalhavam o indispensável deslocamento do grupo em busca
de comida porque disso dependia a vida de todos.
O motivo de
nosso orgulho é que o doutoríssimo Flávio Bierrenbach, respondeu ao
entrevistador que a solução para nossos problemas estaria no surgimento de um
filósofo e uma filosofia QUE CONVENCESSE DA NECESSIDADE DE IMPOR A COOPERAÇÃO
EM LUGAR DA COMPETIÇÃO. Assim, pois, alvíssaras para o mal amanhado blog que há
muito vem procurando mostrar à juventude a necessidade de sair da letargia
mental e inovar não só essa república de banana, mas também o mundo que parece
ter sido tomado por forças demoníacas graças unicamente à cultura da competição
da qual resultam crianças fuziladas, queimadas por veneno, explodidas por
bombas, esmagadas por desabamento de igrejas, monstruosidades cuja origem está
exatamente na cultura da competição por riqueza. Como não há riqueza para
todos, através da usurpação e muita maldade, desprovidos do sentimento de
solidariedade abocanham para si recursos que a todos deviam servir e, através de mil e
uma artimanhas como pão e circo e a religião, levam para longe da realidade a
opinião pública de modo tão eficiente que até pessoas de grandes conhecimentos
se declaram religiosas ou apreciadores dos espetáculos oferecidos pelo pão e
circo, quando, na verdade, o ambiente é mais propenso à reflexões sobre medidas
capazes de promover o bem-estar social sem o qual as crianças não terão outro
futuro senão o sofrimento, coisa que só pode ser alcançada mediante ação humana
inteligente e pacífica, qualidades desconhecidas da religiosidade e da política
de competição, ambas promotoras de guerras. A História da Humanidade reservará
as páginas mais indignas para a biografia dos pusilânimes seres humanos da
atualidade de mentalidade tão torpe que ante o quadro pavoroso em que se
apresenta o mundo, voltam suas preferências para mediocridades como “famosos”,
“celebridades”, brincadeiras e igrejas, indiferentes à incompatibilidade do
procedimento das fêmeas despejando crias num mundo que já se mostra incapaz de
sustentar a população existente.
Como nosso
assunto é a confirmação destas ideias pelo doutor Bierrenbach, por outro lado,
parece haver ele exagerado quando disse ser necessário o surgimento de um
filósofo que demonstrasse a necessidade de substituir a competição pela
cooperação porque para perceber tal realidade não precisa nenhum filósofo e nem
nada além de subir num murundu e olhar em volta. O que se vê é tão estarrecedor
que há jogos eletrônicos exercendo tamanha influência negativa sobre os jovens
que eles estão sendo convencidos a praticar automutilação e suicídio, o que é
exatamente o contrário daquilo que deve ser porque a melhor fase da vida é a da
juventude, quando então se tem capacidade de determinar não só o próprio
destino, mas também o do mundo. Se os jovens foram levados a um desânimo
absoluto sobre suas vidas, ficará o mundo a cargo de mentalidades deformadas
pela cultura antissocial do enriquecimento individual e do desprezo aos nobres princípios
de moralidade e honradez, cultura torpe que dita o comportamento de uma
velharia mumificada de mente embolorada que se fazem de líderes, mas de cuja
liderança resulta poucos abastados e muitos necessitados, portanto, todos
infelizes por ser impossível felicidade num mundo infeliz onde predominam as disputas
que dão origem a guerras.
Entretanto,
com o necessário pedido de perdão, este iletrado discorda do doutor Bierrenbach
quando ele sugeriu a criação de uma Assembleia Constituinte nomeada pelo povo. Parece
ser praxe entre os intelectuais superestimar as qualidades mentais do povo.
Karl Marx contava com o proletariado no poder para que houvesse justiça social.
Paulo Freire e Myles Horton, conforme está dito na página 19 do livro O Caminho
Se Faz Caminhando, visavam uma educação participativa que desse poder aos
pobres e destituídos, o que equivale a dizer povo, sem levar em consideração
que a única educação oferecida ao povo visa exatamente mantê-lo satisfeito como
pobre e destituído, no que muito contribui a religião com sua canalhice de prometer
um paraíso despois de morrer tanto trabalhando para possibilitar que imbecis
façam pose na revista Forbes. No mesmo equívoco incorre o doutor Flávio
Bierrenbach ao acreditar na capacidade do povo para escolher pessoas capacitadas
para uma Assembleia Nacional Constituinte. Ao atribuir ao povo a desenvoltura
mental necessária para nomear pessoas intelectualmente capacitadas para tão
nobre tarefa, o ilustre entrevistado não levou em conta que povo é a massa
imbecil que além de lotar igrejas e campos de brincadeiras, é portadora de tão
profundo analfabetismo político que vota num candidato pelo fato de se
apresentar em público ao lado de um jogador de futebola. Se a tarefa de
constituinte não pode ser deixada a cargo dos atuais políticos face à desonra
que os caracteriza, é bastante atentar para a realidade de terem sido eles
nomeados pelo povo. Se o povo deu vitória a politiqueiros em lugar de Eliana
Calmon e Heloisa Helena na disputa por uma lugar no senado, como esperar que
esta mesma massa bruta, de uma hora para outra, tenha adquirido discernimento
bastante para nomear uma Assembleia com a responsabilidade de escrever uma
Constituição?
Se
verdadeira a necessidade de uma nova constituição por ter sido a atual
transformada num emaranhado tão confuso que dificulta a interpretação, os
responsáveis por ela deverão ser escolhidos pelos gatos pingados que já
superaram a fase povo e alcançaram a nobre posição de gente, os quais também
deverão juntar-se aos escolhidos. Devem ser pessoas que saibam dos benefícios provenientes
de se taxar rigorosamente as grandes fortunas, dos malefícios provenientes das
grandes propriedades rurais, das vantagens da reforma agrária e das
desvantagens do agribiuzinesse e dos bancos, do prejuízo social decorrente da
divisão do erário entre compadres através de uma infinidade de ministérios e
institutos de preservação de tristes memórias, do foro privilegiado, da
prescrição para os crimes de lesa pátria, entre outras necessidades sociais, enfim,
de pessoas esclarecidas o bastante para nomear uma constituinte capaz de
elaborar uma constituição que iniba a pior forma de governo que, segundo Thomas
Paine no seu pequeno grandioso livro Senso Comum, seria exatamente o tipo do
nosso governo, ou seja, aquele governo que utiliza para causar infelicidades os
meios que o povo lhe dá para proporcionar felicidade. Inté.
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