quarta-feira, 19 de abril de 2017

ARENGA 410


O programa Diálogos com Mário Sergio Conti, no canal Globo News, que entrevistou o doutor Flávio Bierrenbach, deu mais um motivo de orgulho para esse mal amanhado blog. Ao ser questionado sobre uma solução para o desmantelamento político do Brasil, pergunta que muito me agradou ante a realidade de terem os noticiários sido resumidos a acusações de crimes e negações, a resposta do raríssimo político honrado, intelectual e magistrado, o doutor Flavio Bierrenbach, confirmou o que vem sendo dito aqui através destas pessimamente alinhavadas linhas onde as vírgulas são decididas pela cara ou coroa. Quem perde tempo lendo as bobagens nas garatujas deste blog sabe perfeitamente estar dito aqui em várias oportunidades ser flagrante paradoxo uma sociedade cujos membros competem entre si por melhor posição individual. Não há nisso o espírito societário do qual são partes integrantes a solidariedade e harmonia, portanto, o avesso da competição caracterizada pela existência de vencidos e vencedores. Embora tenha defensores o modo atual de administração pública cujo resultado é a esculhambação que aí está, seus defensores têm o mesmo perfil mercenário dos advogados que defendem os marginais de luxo que tiram das crianças o direito tomar seu leite. Em toda a história não há registro de uma só governo que não contasse com um séquito de seguidores. Manoel Bandeira mostrou muito bem esta realidade quando disse das vantagens que teria em Passárgada onde era amigo do rei. A mesma inconsistência moral que leva cientistas a venderem à Fundação Templeton opiniões favoráveis à religião, também leva escritores e economistas a prostituirem suas consciências e receberem pagamento para afirmar o absurdo de ser melhor viver competindo do que cooperando, como fez o Secretário americano de triste memória Henry Kissinger ao garantir que bom mesmo é este regime no qual o mais capaz segue em frente e o menos capaz é largado para trás. O procedimento de abandonar os menos capazes teve razão de ser quando os incapazes de caminhar atrapalhavam o indispensável deslocamento do grupo em busca de comida porque disso dependia a vida de todos.

O motivo de nosso orgulho é que o doutoríssimo Flávio Bierrenbach, respondeu ao entrevistador que a solução para nossos problemas estaria no surgimento de um filósofo e uma filosofia QUE CONVENCESSE DA NECESSIDADE DE IMPOR A COOPERAÇÃO EM LUGAR DA COMPETIÇÃO. Assim, pois, alvíssaras para o mal amanhado blog que há muito vem procurando mostrar à juventude a necessidade de sair da letargia mental e inovar não só essa república de banana, mas também o mundo que parece ter sido tomado por forças demoníacas graças unicamente à cultura da competição da qual resultam crianças fuziladas, queimadas por veneno, explodidas por bombas, esmagadas por desabamento de igrejas, monstruosidades cuja origem está exatamente na cultura da competição por riqueza. Como não há riqueza para todos, através da usurpação e muita maldade, desprovidos do sentimento de solidariedade abocanham para si recursos  que a todos deviam servir e, através de mil e uma artimanhas como pão e circo e a religião, levam para longe da realidade a opinião pública de modo tão eficiente que até pessoas de grandes conhecimentos se declaram religiosas ou apreciadores dos espetáculos oferecidos pelo pão e circo, quando, na verdade, o ambiente é mais propenso à reflexões sobre medidas capazes de promover o bem-estar social sem o qual as crianças não terão outro futuro senão o sofrimento, coisa que só pode ser alcançada mediante ação humana inteligente e pacífica, qualidades desconhecidas da religiosidade e da política de competição, ambas promotoras de guerras. A História da Humanidade reservará as páginas mais indignas para a biografia dos pusilânimes seres humanos da atualidade de mentalidade tão torpe que ante o quadro pavoroso em que se apresenta o mundo, voltam suas preferências para mediocridades como “famosos”, “celebridades”, brincadeiras e igrejas, indiferentes à incompatibilidade do procedimento das fêmeas despejando crias num mundo que já se mostra incapaz de sustentar a população existente.

Como nosso assunto é a confirmação destas ideias pelo doutor Bierrenbach, por outro lado, parece haver ele exagerado quando disse ser necessário o surgimento de um filósofo que demonstrasse a necessidade de substituir a competição pela cooperação porque para perceber tal realidade não precisa nenhum filósofo e nem nada além de subir num murundu e olhar em volta. O que se vê é tão estarrecedor que há jogos eletrônicos exercendo tamanha influência negativa sobre os jovens que eles estão sendo convencidos a praticar automutilação e suicídio, o que é exatamente o contrário daquilo que deve ser porque a melhor fase da vida é a da juventude, quando então se tem capacidade de determinar não só o próprio destino, mas também o do mundo. Se os jovens foram levados a um desânimo absoluto sobre suas vidas, ficará o mundo a cargo de mentalidades deformadas pela cultura antissocial do enriquecimento individual e do desprezo aos nobres princípios de moralidade e honradez, cultura torpe que dita o comportamento de uma velharia mumificada de mente embolorada que se fazem de líderes, mas de cuja liderança resulta poucos abastados e muitos necessitados, portanto, todos infelizes por ser impossível felicidade num mundo infeliz onde predominam as disputas que dão origem a guerras.

Entretanto, com o necessário pedido de perdão, este iletrado discorda do doutor Bierrenbach quando ele sugeriu a criação de uma Assembleia Constituinte nomeada pelo povo. Parece ser praxe entre os intelectuais superestimar as qualidades mentais do povo. Karl Marx contava com o proletariado no poder para que houvesse justiça social. Paulo Freire e Myles Horton, conforme está dito na página 19 do livro O Caminho Se Faz Caminhando, visavam uma educação participativa que desse poder aos pobres e destituídos, o que equivale a dizer povo, sem levar em consideração que a única educação oferecida ao povo visa exatamente mantê-lo satisfeito como pobre e destituído, no que muito contribui a religião com sua canalhice de prometer um paraíso despois de morrer tanto trabalhando para possibilitar que imbecis façam pose na revista Forbes. No mesmo equívoco incorre o doutor Flávio Bierrenbach ao acreditar na capacidade do povo para escolher pessoas capacitadas para uma Assembleia Nacional Constituinte. Ao atribuir ao povo a desenvoltura mental necessária para nomear pessoas intelectualmente capacitadas para tão nobre tarefa, o ilustre entrevistado não levou em conta que povo é a massa imbecil que além de lotar igrejas e campos de brincadeiras, é portadora de tão profundo analfabetismo político que vota num candidato pelo fato de se apresentar em público ao lado de um jogador de futebola. Se a tarefa de constituinte não pode ser deixada a cargo dos atuais políticos face à desonra que os caracteriza, é bastante atentar para a realidade de terem sido eles nomeados pelo povo. Se o povo deu vitória a politiqueiros em lugar de Eliana Calmon e Heloisa Helena na disputa por uma lugar no senado, como esperar que esta mesma massa bruta, de uma hora para outra, tenha adquirido discernimento bastante para nomear uma Assembleia com a responsabilidade de escrever uma Constituição?

Se verdadeira a necessidade de uma nova constituição por ter sido a atual transformada num emaranhado tão confuso que dificulta a interpretação, os responsáveis por ela deverão ser escolhidos pelos gatos pingados que já superaram a fase povo e alcançaram a nobre posição de gente, os quais também deverão juntar-se aos escolhidos. Devem ser pessoas que saibam dos benefícios provenientes de se taxar rigorosamente as grandes fortunas, dos malefícios provenientes das grandes propriedades rurais, das vantagens da reforma agrária e das desvantagens do agribiuzinesse e dos bancos, do prejuízo social decorrente da divisão do erário entre compadres através de uma infinidade de ministérios e institutos de preservação de tristes memórias, do foro privilegiado, da prescrição para os crimes de lesa pátria, entre outras necessidades sociais, enfim, de pessoas esclarecidas o bastante para nomear uma constituinte capaz de elaborar uma constituição que iniba a pior forma de governo que, segundo Thomas Paine no seu pequeno grandioso livro Senso Comum, seria exatamente o tipo do nosso governo, ou seja, aquele governo que utiliza para causar infelicidades os meios que o povo lhe dá para proporcionar felicidade. Inté.

 

 

 

 

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