terça-feira, 4 de abril de 2017

ARENGA 402


Não tá em nenhum gibi o que se joga fora de conversa em torno dos transtornos que produzem a infelicidade humana, quando é tudo tão claro como água potável no meu copo de cristal de tomar uísque. No livro A Produção do Fracasso Escolar, de Maria Helena Souza Patto, com 454 páginas de elucubrações sobre deficiência educacional no Brasil, na página 27, lê-se o seguinte: “A reprovação e a evasão nas escolas públicas de primeiro grau continuam a assumir proporções inaceitáveis em plena década de 1980. Ao longo dos sessenta anos que nos separam do início de uma política educacional no país, sucessivos levantamentos revelam uma cronificação desse estado de coisas praticamente imune às tentativas de revertê-lo, seja através da subvenção de pesquisas sobre suas causas, seja pela via de medidas técnico-administrativas tomadas pelos órgãos oficiais”. E mais adiante, na mesma página: “... do total de crianças que se matricularam pela primeira vez no primeiro ano, em 1945, apenas 4% concluíram o primeiro grau em 1948”. E na página 29 lê-se o seguinte: “... a surrada promessa dos políticos, o insistente sonho dos educadores progressistas de educação para todos e o permanente desejo de escolarização das classe populares conservam, ainda hoje, sua condição de promessa, de sonho e desejo”. Não sendo desprovidos de conhecimentos os intelectuais, parecem fazer questão de ser tão inúteis quanto os economistas porque nunca houve e jamais haverá no atual sistema de administração pública executada a favor dos próprios administradores interesse algum em educar, uma vez que a educação levaria ao conhecimento da realidade de se tratar de verdadeira escravidão se esbaldar para pagar impostos destinados a dar vida tranquila a uma plêiade de vagabundos, parasitas que elaboram leis assegurando-lhes o direito de parasitar. Um povo socialmente educado questionaria a vida mansa dos administradores públicos, sem enriquecimento, seus palácios, sua proliferação de ratos em infinitos ministérios, inclusive de pesca e esporte. O interesse, na verdade, é deseducar como fez o governo dos militares entregando ao governo americano a tarefa de planejar a educação dos jovens brasileiros através do Programa Mec/Usaid cujo resultado pode ser encontrado na subserviência com que os brasileiros se sentem deslumbrados pelo “American Way of Life”. Nenhuma novidade há na deseducação. Não só da malta brasileira, mas também de todos, absolutamente todos os seres humanos porque a educação eleva a espiritualidade e a compreensão de ser inaceitável a situação socialmente conflitante de se considerar normal a existência de monstros espirituais, verdadeiros biltres mentais a fazer pose na revista Forbes  como os mais ricos do mundo, enquanto fome, miséria e sofrimento assolam e infelicitam grande número de seres humanos que se diferem daqueles grã-finos apenas por não terem nas entranhas a mesma quantidade de bosta por falta do que comer.

Matéria do jornal Folha de São Paulo é ilustrada por uma dolorosa imagem para quem sabe que a miséria decorre do mau uso do dinheiro público mostra pessoas no lixão disputando comida com urubus em Boa vista, capital do Estado de Roraima. A mentalidade reles de frequentadores de igreja, axé e futebola não lhes permite alcançar o vínculo entre deseducação, excesso de riqueza, excesso de pobreza, miséria e sofrimento. Mas é a falta de educação, de conhecimento destes males. Evidente não se tratar da educação voltada para a formação de técnicos especializados em produzir riqueza da qual participam gatos pingados e exclui o resto dos seres humanos que desta forma ficam condenados ao trabalho braçal sem o qual de nada adiantariam os técnicos, lógica distorcida própria do perverso sistema capitalista que acaba de ser confirmada pelo senhor reitor da universidade portuguesa referindo à deseducação no Brasil em entrevista à revista Carta Capital, em matéria denominada SE FOSSE BRASILEIRO, ESTARIA INDIGNADO COM A SITUAÇÃO DA EDUCAÇÃO. Afirma o senhor reitor português que não se pode ser cidadão sem saber matemática. Ora, para ser cidadão precisa mesmo é saber cidadania, sociabilidade, vantagens da cooperação sobre a competição quando se vive em sociedade. Os conhecimentos matemáticos são indispensáveis às construções dos Burjs khalifas, das world Trade Centers do mundo e das naves espaciais destinadas a levar a custo de ouro imbecis para dar uma volta pelo espaço de onde verão a merda que fizeram cá embaixo para onde terão de voltar, porque como tudo o mais, também imbecis que sobem têm de descer, infelizmente. Joga conversa fora o senhor reitor inclusive quando afirma a indignação em que ficaria com o sistema educacional em nosso país caso fosse brasileiro porque a única coisa capaz de causar indignação no brasileiro é a falta de gôs do seu time de futebola. Nem deixa de ser estranha a preocupação daquele intelectual português com a mendicância educacional no Brasil, onde Luciano Huck é presidenciável, deixando assim de ser marionete do Pão e Circo para ser de quem a Lava Jato impediu de se tornar o parasita mor, o Zeus do Olimpo Brasil ao tornar pública sua desonestidade. Pode ter origem a preocupação do embaixador português no fato de serem outros os que agora se beneficiam das nossas riquezas sob a complacência de uma juventude pusilânime capaz de encontrar importância em figuras insignificantes a ponto de elevá-las à condição de “celebridades” e “famosos”.

A troca da parasitagem pode explicar a declaração do senhor reitor português porque se lê no livro 1808, de Laurentino Gomes, na página 125, a realidade de que a ignorância nesse belo país de triste povo e sorte beneficiou, e muito, os governantes de Portugal, como se vê na seguinte declaração: “A ignorância e o isolamento eram resultado de uma política deliberada do governo português, que tinha como objetivo manter o Brasil, uma joia extrativista e sem vontade própria longe dos olhos e da cobiça dos estrangeiros. Era uma política tão antiga quanto a própria colônia. Ao assumir o cargo em 1548, o primeiro governador-geral, Tomé de Sousa recebeu da coroa portuguesa doze instruções sobre como conduzir os negócios no Brasil. Uma delas, a nona, determinava que o governador deveria “impedir a comunicação de uma capitania a outra pelo sertão, a não ser com a devida autorização”. E prossegue o historiador: “Uma lei de 1733 proibia a abertura de estradas como forma de combater o contrabando de ouro e diamantes, facilitando a fiscalização por parte dos funcionários portugueses encarregados de recolher o quinto real sobre toda a produção de pedras e minerais preciosos da colônia”.  

Assim, não deixa de ser muito esquisito que intelectuais não percebam a realidade de ser a deseducação promovida pelo próprio Estado Capitalista que manda no mundo, o que explica a miséria da qual decorre o sofrimento generalizado que grassa de canto a canto do planeta, em decorrência da prática capitalista desumana de precisar haver pessoas desprovidas de conhecimentos e inocentes como crianças para se disporem a trocar sua vitalidade no trabalho braçal por um salário mínimo e sentirem-se tão satisfeitas com tal ignomínia que agradecem a Deus por tamanha perversidade. Como aqueles que adquirem conhecimento desta dura realidade se tornam pessoas perigosas para o sistema perverso, os também socialmente deseducados responsáveis por ele, os capitalistas, possuídos pelo espírito de Midas, produzem a deseducação. No próprio título do livro da intelectual doutora Souza Patto, PRODUÇÃO DO FRACASSO ESCOLAR está a realidade de ser intencionalmente produzida a deseducação.

 A religiosidade é o principal instrumento usado na produção do fracasso educacional porque as crianças aprendem a desnecessidade de cogitar sobre a possibilidade de um tipo de vida que dispensasse o medo e os sofrimentos ao terem inculcada em suas personalidades a noção de pecado e a figura de um Deus monstruosamente vingativo e sanguinário a vigiar e a quem se deve temer. Na página 10 do livro História Geral e do Brasil, de Claudio Vicentino e Gianpaolo Dorigo, editora Scipione, há a imagem de um grupo de crianças na escola e os seguintes dizeres: “Alunos do antigo ensino primário, hoje equivalente ao Ensino Fundamental I, assistem a aula no Instituto Muniz Barreto, Rio de Janeiro, em cerca de 1904. Neste nível de ensino nesta época, a história religiosa era mais difundida na escola do que a história das civilizações”. Aí está, pois, a fonte que abastece o atraso mental do qual resulta o conformismo e a submissão de que necessitam os Midas do mundo, para, através de uma plêiade de papagaios de microfone e escritores assalariados, manter os seres humanos numa escravidão consentida, incapazes de provarem aos seus algozes através de atitudes pacíficas e inteligentes o erro que cometem em sua cegueira mental da qual resultará infelicidade para eles mesmos, acostumados que estão à vida regalada de não saber o que é sofrimento pela fome, frio, medo e doenças sem assistência. A história da religião que as crianças aprendem não é a mesma história da religião contada pelos estudiosos do comportamento humano através dos tempos. É uma confusão dos diabos destinada a promover a submissão e a desnecessidade de pensar, a simplesmente aceitar as informações sem cogitar de sua veracidade. Um belo exemplo desta realidade é a frase sem sentido algum atribuída a Cristo: “Deixe que os mortos enterrem seus mortos”. Como não se questionar a afirmação de morto fazer alguma coisa? É através de artimanhas assim, mentiras e desfaçatez que os pobres de espírito em consequência da deseducação são convencidos de valer a pena serem indiferentes aos sofrimentos de não ter o que comer, enquanto outros não dão conta de comer o que têm. Pode-se apostar um tostão furado como jamais em tempo algum os frequentadores de igreja, axé e futebola tomarão conhecimento da realidade de que a religião sempre andou de braços dados com a política com o objetivo de parasitá-los. O livro História da Raça Humana, de Henry Thomas, na página 233, mostra o seguinte: “Os bispos os príncipes e os papas foram frequentemente políticos de baixa estirpe. Eram mais ávidos de encher seus bolsos com ouro, que interessados em difundir a justiça pela terra. Em suas mãos, a Igreja tornava-se constantemente um instrumento de opressão, de tortura e morte. A história dos cinco séculos subsequentes ao reinado de Carlos Magno constituiu um dos capítulos mais vergonhosos da história da raça humana. É uma história de rivalidades e contendas dentro da Igreja, de fanatismo, pilhagens, massacres e guerras entre cristãos e maometanos. Quase todos os historiadores deram-nos um quadro alterado desses séculos. Encobriram as manchas, tintas de sangue, dessa época hedionda, com incenso de romantismo.” Aí está, pois a verdadeira história da religiosidade, escondida a sete chaves da massa bruta de povo a mando dos imbecis ajuntadores de riqueza. Na televisão, um dos lacaios desses apologistas do apocalipse festejava o aumento da venda de carros. É como alguém com água até o pescoço festejando a chegada de mais água. E a tudo isso a juventude assiste futucando telefone, razão pela qual seria melhor para ela não haver a vida depois da morte que sua inocência faz acreditar haver porque assim estaria livre da indignação com que seus descendentes com muita razão dela se lembrarão. Inté.

   

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

   

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