quinta-feira, 13 de abril de 2017

ARENGA 407


Embora a falta de discernimento faça o bicho povo acreditar que o bem ou o mal depende da vontade de Deus, o raciocínio lógico do filósofo Thomas More levou-o à conclusão de ser o governo a nascente de onde emana sobre o povo todo o bem e todo o mal. Na realidade entretanto, no que se refere ao bem, o povo pode esperar sentado porque infinitos males até o presente momento são as únicas coisas que dos governos emanam sobre ele. Aqui nesta república de bananas e de macacos deslumbrados pelo American Way of Life, dispensando-se as aspas pelo fato de ter a macacada deslumbrada integrado o inglês ao português, por aqui os governantes se esmeraram tanto na produção de males a ponto de não haver nos jornais outras notícias que não sejam de crimes contra o povo por eles praticados. Pior ainda é não haver no mundo inteiro um palmo sequer de sociedade humana na qual não esteja seu povo sujeito à obrigação de dar conforto a uma plêiade de parasitas a título de representá-lo. Recusa-se a humanidade terminantemente a sair da barbárie de tempos imemoriáveis, apegando-se a comportamentos que deviam existir apenas na memória, para servir de parâmetro a fim de se poder equilatar o que já fomos e o que somos, comparação impossível de se fazer por sermos ainda o que sempre fomos em termos de espiritualidade. Pode-se mesmo dizer que se regride espiritualmente porque na atualidade talvez a barbárie ainda seja maior porquanto se vive a situação socialmente inexplicável de haver um por cento da humanidade parasitando os noventa e nove por cento dela. Acomodaram-se os seres humanos sob o jugo de uma escravidão tão consentida que os escravizados aplaudem seus escravizadores que, em função da cultura distorcida engendrada pelos próprios seres humanos, não se sentem escravizadores, mas, ao contrário desta triste e incompreensível realidade, se veem como benfeitores daqueles a quem causam sofrimento. A sociedade inglesa, por exemplo, situa-se entre as poucas sociedades consideradas pela cultura da parasitagem como das mais evoluídas do mundo. Entretanto, seus habitantes, graças a esta mesma cultura de considerar certo aquilo que está errado, sentem-se bem como súditos de uma realeza cuja rainha, uma senhora bastante idosa, mas que nada aprendeu na escola da vida, por não ter realmente o que fazer, quando há tanto o que fazer, apareceu na televisão brincando de alimentar um elefante, sob admiração do povo e da imprensa.

Se a barbárie humana ainda não permite uma espécie de sociedade que dispense a ameaça do cassetete, visto que a melhor forma de administração pública até agora criada, a democracia, é tida como melhor forma de se administrar uma sociedade apenas por não haver outra forma ainda pior, esta realidade leva à conclusão lógica da premente necessidade de se dedicar à tarefa de se encontrar uma forma melhor em que dedicar o tempo gasto em construir Burjs Califas, acumular riqueza, passear pelo espaço e pesquisar o infinito. Entre os muitos indicativos da necessidade de outra forma de sociedade, uma delas é a desagregação que substituiu a agregação da qual depende a harmonia social. O preço de uma prestação de serviço atualmente tem por base a condição de quem precisa do serviço. Quando o prestador sabe que o usuário dispõe de melhor condição, cobra dele várias vezes o preço justo. Outro indicativo é o fato de serem as pessoas menos intelectualmente capacitadas a entender de sociabilidade aquelas pessoas consideradas pela sociedade atual como as pessoas de maiores méritos, merecedoras portanto, de maior reconhecimento social. A administração pública se tornou tão espantosamente incompreensível além de inaceitável que matéria na Revista Época dá conta de um livro chamado DE SENHOR A LACAIO, escrito pelo doutor Celso Amorim, dando conta de que o governo Lula, do qual era ministro do exterior o próprio doutor Celso Amorim, tornou o Brasil uma potência mundial, desvencilhada dos interesses de Washington, com diminuição da exclusão social. E não é só o doutor Celso Amorim a tecer elogios ao governo Lula e ao próprio ex-presidente. Se o endeusamento de Lula pelo povo não pode ser levado em conta pelo fato de povo não ter discernimento, o fato de haver pessoas mentalmente ilustres afirmando ser Lula um líder autêntico, como fez José Mujica e como fazem intelectuais brasileiros, leva à conclusão de ser realmente confuso, carente de transparência o mundo político porque ao mesmo tempo em que se fazem estas alegações, outras diametralmente opostas são feitas. O livro O Chefe, por exemplo, cita casos escabrosos de canalhices praticadas pela mesma pessoa a quem são atribuídas qualidades de liderança. Ao lado disso, estão aí corruptores afirmando ter Lula participado de atos de corrupção sem que nem ele e nem as inúmeras pessoas também denunciadas sejam definitivamente defenestradas da política e nem obrigadas a devolver o dinheiro roubado do povo.

Afirmar-se ter havido vantagem para o povo no governo de Lula equivale a declarar total falência da atual forma de governar porque o Brasil e seu povo nunca deixaram de padecer as consequências da falta de um governo eficiente. Embora com os corredores dos hospitais lotados de infelizes desassistidos, Lula declarava que a assistência à saúde estava tão boa que até dava vontade de ficar doente para nela se tratar. Entretanto, ao se ver doente, foi se tratar num hospital que está mais para banco do que para hospital, o Sírio Libanês. Posso afirmar esta realidade porque me apresentaram lá o preço de quinhentos reais por uma endoscopia estomacal, com o aviso da possibilidade de haver uma complementação um pouco para mais ou para menos, sendo, depois, cobrada a título dessa complementação a quantia de dois mil e cem reais. Depois desse assalto, recebi outra cobrança de mais duzentos reais por conta da mesma complementação, ao que respondi que fossem roubar nas profundezas dos infernos, e não paguei. É, não é como fazem os bancos? Pois foi lá, por conta do povo sofrido que Lula, considerado líder, foi se tratar por conta do povo que amarga a falta de assistência.

No Jornal do Brasil, matéria intitulada POVO DESTRUÍDO É CONSEQUÊNCIA DOS PRIVILEGIADOS DE UMA ELITE HIPÓCRITA encontram-se mais evidências de quanto é estranho esse mundo da política em que sob o olhar complacente da sociedade, autoridades compactuam entre si artimanhas das quais resultam graves prejuízos sociais. Apenas um trecho da reportagem do Jornal do Brasil é bastante para mostrar a necessidade de outro tipo de administração pública: “Enquanto corruptores pagam multas milhardárias e continuam operando, os corruptos do momento pegam penas como se fossem os únicos responsáveis. Estes sequestram alguns anéis, mas, como os corruptores, continuam privilegiados com seus patrimônios. Se considerarmos nesta Lava Jato todos os corruptos e corruptores presos, não se conhece nenhum que esteja vivendo como os que passaram para as estatísticas do desemprego, na miséria, por responsabilidade justamente destes corruptos e corruptores.  Até quando ladrão será perdoado só por delatar ladrão? Que devolve só a quantia dada publicamente como objeto de roubo, mas permanece com patrimônios magníficos enquanto o povo roubado passa à miséria absoluta”.

Por tudo que se viu e que se vê, é mais do que preciso lançar as vistas sobre novos horizontes como fez o saudoso Raul Seixas ao cantar a música S.O.S. O mundo está a clamar por uma juventude diferente, uma juventude que pense. Inté. 

 

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