Segundo as inúteis demonstrações de
intelectualidade dos intelectuais, entre as quais “sociedade líquida” e “modernidade
líquida” do intelectualíssimo Zygmunt Bauman e mais a infinidade enjoativa de “ismos”
com que os intelectuais definem crenças políticas tão falsas quanto as crenças religiosas
porquanto o objetivo de ambas é parasitar a massa estúpida de frequentadores de
igreja, axé e futebola, como prova a vida faustosa dos representantes destas
crenças, na verdade crendices, de onde se conclui não existir política, mas
politicagem. Daí não ter sentido algum falar-se em cientista político. Entre as
infindáveis baboseiras dos escrevedores dos “Best Sellers” tão inúteis quanto
seus autores no que diz respeito ao avançar no desbastamento das arestas de
ignorância em que é pródiga a humanidade, consta da página 98 do livro da
coleção Entender, da editora Leya, que o intelectualíssimo Slavoj Zizek afirma
ter Jean Paul Sartre declarado-se de acordo com o dito de Fiódor Dostoievski,
em Irmãos Karamazov, de que se deus não existe, então tudo é permitido. Isto só
não se pode atribuir à estupidez por não se tratar de gente estúpida. Muito ao
contrário, são pessoas dotadas de acuidade e grandes conhecimentos. Daí a
perplexidade ao se constatar que com tantos conhecimentos literários não tenham
sido capazes de alcançar a verdade de ter sido a figura de deus uma invenção,
uma artimanha, uma brincadeirinha, para envolver incautos, criada exatamente
para evitar que tudo fosse permitido em função da barbárie humana capaz de
comportamentos inimagináveis em termos de maldade e estupidez. Sendo maior a
ferocidade reinante no imenso zoológico dos seres humanos do que a ferocidade do
zoológico das outras feras, inventou-se uma tal de origem divina denominada Lei
das Doze Tábuas, apresentada a uma multidão de ignorantes esfarrapados por um
sujeito muitas vezes retratado com dois chifres, chamado Moisés, no intuito de
conter a barbárie humana, mas que veio a se mostrar tão inútil quando às demais
leis que desde então vêm sendo inventadas também com o mesmo intuito e a mesma
inutilidade porque a barbárie tem inflado em tais proporções que na modernidade
são criadas leis de proteção à criminalidade, entre as quais Foro Privilegiado,
Prescrição e Abuso de Autoridade.
Conhecendo a História como os
intelectuais conhecem, principalmente História das Religiões, não pode ter
alguma dúvida da inexistência de deus demostrada no “se” de “se deus não
existe” por não haver atualmente mais dúvida alguma de que deus não passa de
falta de capacidade para superar o ranço mumifico do passado. Intelectual que
se nega a reconhecer tal realidade é por ser levado por motivo obscuro. Voltaire,
por exemplo, frequentou igrejas para mostrar que respeitava a religiosidade por
recear ser agredido pela massa bruta de ignorantes frequentadores de igreja que
conversam com estátuas. Esta curiosidade histórica está em Edward McNall Burns,
História da Civilização Ocidental, II volume, página 600.
A existência de deus, ao contrário da
inexistência, exige mil e um contorcionismos e malabarismos de retórica para
ser admitida. Já a inexistência precisa apenas de analisar com isenção a
realidade de ser maior tal convicção quanto maior for a ignorância, daí a
inexistência de ateu analfabeto, detalhe revelador para o qual, parece, absolutamente
ninguém presta atenção. A história fantástica de vida depois da morte, por
exemplo, se mantém graças à falta de interesse de se observar que já existia de
modo bastante grosseiro entre os antigos egípcios e que vem sendo modificada à
medida que a estupidez humana vai permitindo farejar algo de estranho em
informações como a de que lá no céu o coração do morto, posto na balança, devia
pesar menos que uma pena para que o morto pudesse ter direito à tal vida pós
morte. Do mesmo modo, a origem das coisas que de acordo com o livro Mitologia
Nórdica, de Neil Gaiman, página 32, o deus Odin colocou de pé dois pedaços de
madeira na praia, soprou-lhes vida transformando-os em pessoas e o deus Ve
esculpiu nelas as formas de homem e mulher. Já de acordo com o livro Mitologia,
de Thomas Bulfinch, pág. 24, para a mitologia dos gregos os deuses Prometeu e
seu irmão Epimenteu criaram o homem e Júpiter criou a mulher, Pandora. É com a
mesma credulidade nestas histórias que futuras gerações encararão a história
igualmente hilária de ter o deus da atualidade feito o homem de barro e a
mulher, da costela do homem.
Como afirmava Nietzsche, combater a
religiosidade é combater a ignorância. Portanto, é lutar por uma evolução
lastreada na verdade em vez de falsidades, luta da qual não devem se omitirem
os intelectuais a exemplo do extraordinário filósofo do bigodão ao avisar a
humanidade do malefício que a religiosidade causa ao tolher o desenvolvimento
da capacidade de raciocinar, o que fez quando disse que a religiosidade é a
Circe da Humanidade. Daí constatar-se a realidade de ser a ignorância a fonte
de força da religiosidade. Como frequentadores de igreja, axé e futebola, base
sobre a qual se poia a religiosidade, não sabem quem é Circe e nem o que ela
fez, não poderão alcançar o aviso do filósofo. É por isto que ateu como o
doutor Dráuzio Varela que diz respeitar a religiosidade das pessoas não passa
de um ateu meia-tigela porque se ele se preocupa com a saúde física deveria se
preocupar acima de tudo com a saúde espiritual impedida de desenvolver pelas
peias da aberração da religiosidade que prende pobres diabos mentais facilmente
convencíveis de qualquer coisa à certeza de poder contar com uma inexistente
proteção divina, deixando, com isto, de lutar em busca da verdade salvadora.
É sabido que mentira alguma deixa de
ser mentira com o tempo. Considerando esta realidade da qual nãos se pode fugir,
tem-se que a influência de deus é inversamente proporcional ao incremento do
conhecimento adquirido pela experiência, realidade observável mediante o fato
de não se falar mais em ter presenciado milagre do tipo do que fez morto voltar
a comer e beber. Sendo, entretanto, demasiadamente lenta a ação esclarecedora
pelo tempo, cabe adiantá-la. Mas, o que há na realidade, é que pior do que a indiferença,
existe uma cooperação no sentido de impedir o avanço do esclarecimento mental
uma vez que os próprios intelectuais, como se viu acima, fazem constantes
referência à figura de deus, carro-chefe da manutenção do atraso mental.
Observe-se, por exemplo, que Isaac Newton afirmava crer no deus de Espinosa. Ora,
Espinosa admitia considerava a natureza como um deus que não se metia na vida
dos seres humanos, mas que apesar disso ao empregar o termo deus, nega-se a
participar da luta contra a crendice e contribui para manutenção da ignorância.
Como antigamente declarar-se ateu era assinar um atestado de garantia de
enfrentar todo tipo de dificuldade porque como se sabe a religiosidade é mais
forte entre os mais ignorantes, e como a ignorância era ainda maior na
antiguidade, pode-se entender a reserva do grande cientista Isaac Newton pelo
receio de dificuldade para abastecer a despensa.
Com a intelectualidade, pois, não se
pode esperar contribuição na luta em prol da busca pela racionalização da vida
porque para tanto se faz necessário inovar, deixar de lado o rame-rame
bolorento do tradicionalismo de sempre, superando corajosamente o apego a tradições
mumificadas. Observando a sentença de Thomas Paine de que o tempo convence mais
que a razão, cumpre apressar a ação inovadora do tempo por meios modernos e
trazer o convencimento da necessidade de mudança. Paulo Freire deu uma dica
nesse sentido quando sugeriu introduzir no ensino da garotada matéria que
estimulasse a capacidade de raciocínio, proposta que o ranço bolorento do
tradicionalismo que um dia o tempo descartará do mesmo modo como descartou a
certeza de que a Terra era quadrada, que mulheres eram responsáveis pela Peste
Negra e que queimar viva uma pessoa e confiscar-se os bens era fazer-lhe o
benefício de tirá-la do poder de Satanás para as bênçãos de deus. No frigir dos
ovos, percebe-se faltar uma juventude mentalmente sadia o bastante para
descobrir que nós somos os únicos responsáveis por nós. Se padecemos por males que
podiam ser evitados não é porque deus assim quer. É apenas por permitirmos que
se jogue fora o dinheiro de contornar tais males. Inté.