quarta-feira, 27 de maio de 2020

ARENGA 610


Este nosso belo país de triste sorte é mesmo singular. A estupidez de seu povo supera de longe a estupidez que caracteriza a humanidade a ponto de torná-la incapaz de enxergar além da ponta do nariz. Veja-se, por exemplo, a exorbitância da estupidez que caracteriza a sociedade dos americanos tanto por uma injustificada presunção de superioridade quanto pela incapacidade de aprender com a lição do horror do onze de setembro cuja selvageria não foi capaz de ensiná-la ser impossível praticar violência sem se tornar vítima de violência. Povo algum escapa da estupidez. Aí estão povos mais antigos cuja experiência secular já lhes devia ter agraciado com algum entendimento sobre a vida, continuando, não obstante esta experiência, na vidinha medíocre de escravos sorridentes de parasitas políticos e religiosos que lhes exploram com seu consentimento tanto quanto são explorados os povos por eles considerados inferiores.

A diferença entre a estupidez de um povo tido como civilizado e a estupidez de um povo ainda colonizado restringe-se ao fato de que para os “civilizados” a Casa Grande distribui mais migalhas do que distribui a Casa Grande dos povos  ainda colonizados, e além disso também disfarça o jugo da espada canônica que ajuda a política a manter a Senzala sossegada. Entre os colonizados a espada canônica atua tão abertamente que seus esgrimidores ocupam altos postos na administração pública do mesmo modo como era na Idade Média. – A expressão ESPADA CANÔNICA foi cunhada por Machado de Assis em Iaiá Garcia para aludir à ajuda que a religião presta à política na tarefa satânica de alienar a massa bruta de povo fazendo com que ela busque em deus o bem-estar que depende da correta aplicação do erário –. Feita a ressalva e voltando ao nosso assunto temos que em contraprestação à ajuda da espada canônica a política isenta de impostos as imensas fortunas que as igrejas e os doadores de campanha eleitoral arrancam dos incautos, e estes, sorridentes, arcam com mais este peso no seu lombo de burro de carroça.

Tamanha demonstração de estupidez exige de quem  superou a fase tristonha/alegre de povo nunca esmorecer da tentativa de levar algum esclarecimento a estes pobres esfarrapados mentais, incapazes de perceber que uma qualidade melhor de vida está em suas próprias mãos e não nas mãos de nenhuma espécie de líder porque não existe no mundo alguém capaz de pôr acima dos seus os interesses de outra pessoa. Só depois de desbastada a estupidez será possível ficar evidente a falsidade do discurso da liderança na qual se deposita esperança uma vez que o mundo piora a cada dia. Fazem papel de bobo entusiastas esperançosos em algo de bom vindo de falsos líderes. Estão enganados quanto à realidade da vida.

Daí ser impropriedade falar em povo civilizado em parte alguma do mundo porque povo algum cogita da necessidade de se descobrir uma forma inteligente que exclua a violência e seja capaz de livrá-lo  da liderança dos falsos líderes que retribuem com promessas vãs o bem-bom de uma vida isenta das dificuldades de seus liderados. Este será o tipo de vida a ser vivida enquanto às crianças for ensinado não haver motivo para que se busque outro tipo de vida. Daí a necessidade de haver empenho num esforço sem trégua no sentido de despertar na massa bruta de povo a necessidade de desenvolver a capacidade de raciocinar sugerida pelo Grande Mestre do Saber Paulo Freire, para o bem das futuras gerações que, para o bem da humanidade, espera-se, não venham a também se tornarem inúteis futucadores de telefone incapazes de um único gesto inteligente. Inté.

      

quinta-feira, 21 de maio de 2020

ARENGA 609


Segundo as inúteis demonstrações de intelectualidade dos intelectuais, entre as quais “sociedade líquida” e “modernidade líquida” do intelectualíssimo Zygmunt Bauman e mais a infinidade enjoativa de “ismos” com que os intelectuais definem crenças políticas tão falsas quanto as crenças religiosas porquanto o objetivo de ambas é parasitar a massa estúpida de frequentadores de igreja, axé e futebola, como prova a vida faustosa dos representantes destas crenças, na verdade crendices, de onde se conclui não existir política, mas politicagem. Daí não ter sentido algum falar-se em cientista político. Entre as infindáveis baboseiras dos escrevedores dos “Best Sellers” tão inúteis quanto seus autores no que diz respeito ao avançar no desbastamento das arestas de ignorância em que é pródiga a humanidade, consta da página 98 do livro da coleção Entender, da editora Leya, que o intelectualíssimo Slavoj Zizek afirma ter Jean Paul Sartre declarado-se de acordo com o dito de Fiódor Dostoievski, em Irmãos Karamazov, de que se deus não existe, então tudo é permitido. Isto só não se pode atribuir à estupidez por não se tratar de gente estúpida. Muito ao contrário, são pessoas dotadas de acuidade e grandes conhecimentos. Daí a perplexidade ao se constatar que com tantos conhecimentos literários não tenham sido capazes de alcançar a verdade de ter sido a figura de deus uma invenção, uma artimanha, uma brincadeirinha, para envolver incautos, criada exatamente para evitar que tudo fosse permitido em função da barbárie humana capaz de comportamentos inimagináveis em termos de maldade e estupidez. Sendo maior a ferocidade reinante no imenso zoológico dos seres humanos do que a ferocidade do zoológico das outras feras, inventou-se uma tal de origem divina denominada Lei das Doze Tábuas, apresentada a uma multidão de ignorantes esfarrapados por um sujeito muitas vezes retratado com dois chifres, chamado Moisés, no intuito de conter a barbárie humana, mas que veio a se mostrar tão inútil quando às demais leis que desde então vêm sendo inventadas também com o mesmo intuito e a mesma inutilidade porque a barbárie tem inflado em tais proporções que na modernidade são criadas leis de proteção à criminalidade, entre as quais Foro Privilegiado, Prescrição e Abuso de Autoridade.

Conhecendo a História como os intelectuais conhecem, principalmente História das Religiões, não pode ter alguma dúvida da inexistência de deus demostrada no “se” de “se deus não existe” por não haver atualmente mais dúvida alguma de que deus não passa de falta de capacidade para superar o ranço mumifico do passado. Intelectual que se nega a reconhecer tal realidade é por ser levado por motivo obscuro. Voltaire, por exemplo, frequentou igrejas para mostrar que respeitava a religiosidade por recear ser agredido pela massa bruta de ignorantes frequentadores de igreja que conversam com estátuas. Esta curiosidade histórica está em Edward McNall Burns, História da Civilização Ocidental, II volume, página 600.

A existência de deus, ao contrário da inexistência, exige mil e um contorcionismos e malabarismos de retórica para ser admitida. Já a inexistência precisa apenas de analisar com isenção a realidade de ser maior tal convicção quanto maior for a ignorância, daí a inexistência de ateu analfabeto, detalhe revelador para o qual, parece, absolutamente ninguém presta atenção. A história fantástica de vida depois da morte, por exemplo, se mantém graças à falta de interesse de se observar que já existia de modo bastante grosseiro entre os antigos egípcios e que vem sendo modificada à medida que a estupidez humana vai permitindo farejar algo de estranho em informações como a de que lá no céu o coração do morto, posto na balança, devia pesar menos que uma pena para que o morto pudesse ter direito à tal vida pós morte. Do mesmo modo, a origem das coisas que de acordo com o livro Mitologia Nórdica, de Neil Gaiman, página 32, o deus Odin colocou de pé dois pedaços de madeira na praia, soprou-lhes vida transformando-os em pessoas e o deus Ve esculpiu nelas as formas de homem e mulher. Já de acordo com o livro Mitologia, de Thomas Bulfinch, pág. 24, para a mitologia dos gregos os deuses Prometeu e seu irmão Epimenteu criaram o homem e Júpiter criou a mulher, Pandora. É com a mesma credulidade nestas histórias que futuras gerações encararão a história igualmente hilária de ter o deus da atualidade feito o homem de barro e a mulher, da costela do homem.

Como afirmava Nietzsche, combater a religiosidade é combater a ignorância. Portanto, é lutar por uma evolução lastreada na verdade em vez de falsidades, luta da qual não devem se omitirem os intelectuais a exemplo do extraordinário filósofo do bigodão ao avisar a humanidade do malefício que a religiosidade causa ao tolher o desenvolvimento da capacidade de raciocinar, o que fez quando disse que a religiosidade é a Circe da Humanidade. Daí constatar-se a realidade de ser a ignorância a fonte de força da religiosidade. Como frequentadores de igreja, axé e futebola, base sobre a qual se poia a religiosidade, não sabem quem é Circe e nem o que ela fez, não poderão alcançar o aviso do filósofo. É por isto que ateu como o doutor Dráuzio Varela que diz respeitar a religiosidade das pessoas não passa de um ateu meia-tigela porque se ele se preocupa com a saúde física deveria se preocupar acima de tudo com a saúde espiritual impedida de desenvolver pelas peias da aberração da religiosidade que prende pobres diabos mentais facilmente convencíveis de qualquer coisa à certeza de poder contar com uma inexistente proteção divina, deixando, com isto, de lutar em busca da verdade salvadora.

É sabido que mentira alguma deixa de ser mentira com o tempo. Considerando esta realidade da qual nãos se pode fugir, tem-se que a influência de deus é inversamente proporcional ao incremento do conhecimento adquirido pela experiência, realidade observável mediante o fato de não se falar mais em ter presenciado milagre do tipo do que fez morto voltar a comer e beber. Sendo, entretanto, demasiadamente lenta a ação esclarecedora pelo tempo, cabe adiantá-la. Mas, o que há na realidade, é que pior do que a indiferença, existe uma cooperação no sentido de impedir o avanço do esclarecimento mental uma vez que os próprios intelectuais, como se viu acima, fazem constantes referência à figura de deus, carro-chefe da manutenção do atraso mental. Observe-se, por exemplo, que Isaac Newton afirmava crer no deus de Espinosa. Ora, Espinosa admitia considerava a natureza como um deus que não se metia na vida dos seres humanos, mas que apesar disso ao empregar o termo deus, nega-se a participar da luta contra a crendice e contribui para manutenção da ignorância. Como antigamente declarar-se ateu era assinar um atestado de garantia de enfrentar todo tipo de dificuldade porque como se sabe a religiosidade é mais forte entre os mais ignorantes, e como a ignorância era ainda maior na antiguidade, pode-se entender a reserva do grande cientista Isaac Newton pelo receio de dificuldade para abastecer a despensa.

Com a intelectualidade, pois, não se pode esperar contribuição na luta em prol da busca pela racionalização da vida porque para tanto se faz necessário inovar, deixar de lado o rame-rame bolorento do tradicionalismo de sempre, superando corajosamente o apego a tradições mumificadas. Observando a sentença de Thomas Paine de que o tempo convence mais que a razão, cumpre apressar a ação inovadora do tempo por meios modernos e trazer o convencimento da necessidade de mudança. Paulo Freire deu uma dica nesse sentido quando sugeriu introduzir no ensino da garotada matéria que estimulasse a capacidade de raciocínio, proposta que o ranço bolorento do tradicionalismo que um dia o tempo descartará do mesmo modo como descartou a certeza de que a Terra era quadrada, que mulheres eram responsáveis pela Peste Negra e que queimar viva uma pessoa e confiscar-se os bens era fazer-lhe o benefício de tirá-la do poder de Satanás para as bênçãos de deus. No frigir dos ovos, percebe-se faltar uma juventude mentalmente sadia o bastante para descobrir que nós somos os únicos responsáveis por nós. Se padecemos por males que podiam ser evitados não é porque deus assim quer. É apenas por permitirmos que se jogue fora o dinheiro de contornar tais males. Inté.



 




sábado, 16 de maio de 2020

ARENGA 608


A indiferença e mesmo a contribuição para a péssima qualidade de vida à qual a humanidade se acostumou tanto que nem sabe viver mal é manifesta falta de discernimento resultante da imaturidade que não só leva os seres humanos a buscar em deus conforto para seus sofrimentos, mas também se comportar feito bobos chorando e lamentando em incessantes reclamações sobre coisas erradas, quando, na verdade, absolutamente tudo está errado. Note-se, por exemplo, a inconsequência monumental que é colocar a responsabilidade pela tarefa de fazer com que as coisas estejam certas nas mãos de autoridades interessadas justamente em que nada esteja certo. Quaisquer reclamadores chorões que estivessem no bem-bom que em se encontram as autoridades nada teriam a reclamar e nada haveriam de querer mudar. A busca pela comodidade é própria de qualquer ser vivente, e as autoridades estão absolutamente certas de estarem completamente bem estando completamente erradas. Como é a certeza que manda, principalmente quando se conta com a indiferença dos prejudicados, não há motivo para virem as autoridades a abrir mão de uma situação que têm certeza de lhes ser confortavelmente cômoda. Cabe, pois, aos hospedeiros das autoridades parasitárias em vez de choramingar ou se conformar com a esperança de uma vida no além semelhante à vida das autoridades aqui na Terra, buscar e secar com o balde da inteligência o poço onde são germinadas as coisas erradas.

Pode-se começar a luta insurgindo contra a indiferença com que pessoas intelectualmente ilustres e bem preparadas passam indiferentes ao largo do assunto do qual depende o bem-estar social, igualando-se muitas delas aos desprovidos de conhecimentos que estão certos de que só deus resolve as coisas, comportamento inaceitável quando se conhece a história das religiões. Portanto, faz-se necessário esmiuçar o que leva um intelectual a ser religioso porquanto não podem desconhecer tratar-se de monumental embuste. Um mínimo de inteligência basta para perceber que a impossibilidade de satisfazer as necessidades é o grande erro a ser corrigido pela política e não por deus porquanto morrerá tísico quem para matar a fome depender de chuva de codornas assadas ou multiplicação de pães. (Como pode alguém acreditar que choveu codornas assadas?). Assim é que om a riqueza que possibilitaria satisfazer as necessidades coletivas aprisionada por monstros de cuja boca escorre baba de dragão, conhecidos como Reis Midas do mundo, encabeçados por grandes empresários liderados por banqueiros, fica fora do alcance qualquer perspectiva de comodidade.

Ante coisa tão simples, a intelectualidade do mundo limita-se a referências sobre coisas erradas. Veja-se, por exemplo, o intelectualíssimo Joseph E. Stiglitz ao afirmar em O Mundo Em Queda Livre que o capitalismo não pode funcionar se as recompensas privadas não tiverem relação com ganhos sociais. É claro que está errado qualquer um sistema econômico cujos ganhos não sejam revestidos em benefício da coletividade. Incorre o autor em tamanha redundância sabendo melhor que ninguém nunca ter tido o capitalismo ganhos sociais por objetivo. Ao contrário, pode o capitalismo ser comparado a uma gigantesca pá carregadeira enchendo gigantescas caçambas de dinheiro que os pobres produziram com seu trabalho para ser descarregado nas caixas fortes do ricos donos do mundo, o que configura exatamente o contrário de ganhos sociais, realidade do conhecimento do doutor Stiglitz poque mais adiante no mesmo livro ele se refere nas páginas 176 e 177 sobre a crise imobiliária americana quando então o governo injetou bilhões de dólares para salvar os bancos tidos pelo capitalismo como de utilidade pública por fazer o dinheiro circular onde ele seja necessário, o que, na verdade, é mais um embuste para se juntar aos muitos outros por meio dos quais se exerce a função antissocial de favorecer o parasitário sistema financeiro onde só há ganhos para os ricos. É de pleno conhecimento do citado autor que o sistema financeiro pratica crime contra a sociedade porque afirma no começo da página 177 terem os banqueiros recebido bilhões de dólares em vez de pagarem pelos seus erros.

Como se vê, a desorganização do mundo provém de uma organização adredemente engendrada para ser socialmente desorganizada, fato visível na realidade de sobressaírem socialmente pessoas vulgares e de nenhuma nobreza de atitude em detrimento das legítimas celebridades.

Há desinteresse em se conectar à realidade ou interesse e manter a desconexão em que se vive e aqui está exemplo ilustrativo desta realidade: na página 30 do livro Os Erros Fatais do Socialismo, do intelectualíssimo F. A. Hayek, (Nobel de Economia), como é próprio de quem se envergonha de algo que tem de dizer por força da necessidade de omitir a verdade, por meio de uma enrolação denominada O HOMEM NATURAL NÃO SE ENCAIXA NA ORDEM AMPLIADA afirma não se poder esperar que o homem natural se sinta bem sendo privado de seus mais fortes instintos. Toda esta baboseira para dizer o indizível de ser inadequado o socialismo. Mas como inadequado uma ideologia que visa fazer com que a riqueza pública sirva indistintamente a todos os membros da sociedade em vez de servir apenas a alguns deixando os outros ao léu? Se a igualdade absoluta é inadequada e deve mesmo ser muito chata, jamais terão bons resultados procedimentos dos quais resultem alguns possuíram para o desperdício enquanto outros passam necessidades das mínimas coisas. Na mesma linha de inconsequências continua o Nobel de Economia afirmando não ser aceitável que o homem natural abra mão dos mais fortes instintos. Ora, senhor Nobel de Economia, o homem natural tende necessariamente a ser substituído pelo homem social, exigência da qual não pode abrir mão uma sociedade civilizada. O homem puramente natural só é aceitável em sociedade bárbara como ainda é a sociedade humana. A repressão dos instintos primitivos visa resguardar a incolumidade das pessoas que vivem em meio a outras pessoas. O instinto sexual, por exemplo, em ser puramente primitivo sou natural, se não reprimido leva inevitavelmente ao estupro. A vida social não pode admitir a prevalência da força bruta como acontece entre as feras. Portanto, doutor Nobel de Economia, não adianta querer esconder o sol com a peneira porque a civilização demora, mas chegará caso a barbárie não destrua antes a humanidade.

Coroando o leque de distorções com as quais se procura preservar as coisas erradas, na mesma página 30 o Nobel de Economia diz ser falsa a afirmação de ser a cooperação melhor do que a competição, ideia falsa, mentira deslavada a título de que não se sabe. Tal aberração lembra quando o papagaio de microfone da rede Record comentava um crime bárbaro e terminava dizendo que o homem sem deus é capaz de tudo. Tal afirmação, embora falsa porque sou um homem sem deus e incapaz de cometer crime de qualquer espécie, para a turba mentalmente esfarrapada tal estupidez é motivo para altas reflexões. Assim é levada a vida, de falsidade em falsidade, ao gosto de cretinos interessados em que nada esteja certo. Cabe, portanto, promover com inteligência a reviravolta de transformar em seres pensantes a turba robotizada de futucadores de telefone, frequentadores de igreja, axé e futebola a fim de trazê-la à realidade, apressando  o trabalho que a evolução vem fazendo com a lentidão com que a corrente de água rói a pedra que lhe constitui obstáculo e que poderia ser simplesmente retirada do lugar. Inté.  


quinta-feira, 7 de maio de 2020

ARENGA 607


Dizem as más línguas que jesus Cristo nunca existiu e que não passa de uma invenção do governo romano, a título de que, só ele, o governo romano, sabe. Se é verdade, ninguém provou e talvez nunca prove. O certo é que não se pode menosprezar o poder da quantidade tão grande de dinheiro que os governos têm que dá para juntar de gancho. Com tal dinheirama pode-se fazer coisas do arco da velha. Se o poder que o dinheiro confere pode fazer deixar de existir pessoas que existiram, pode muito bem fazer existir pessoas que não existiram. Daí não ser dado a quem tem juízo menosprezar o que pode fazer o poder do dinheiro que os governantes têm, principalmente porque podem gastar com uma prodigalidade inacessível aos bi, tri, ou quatrilionários uma vez que o governante não sofre as mesmas restrições impostas aos outros donos de dinheiro porque tendo estes se desdobrado em mil e uma artimanhas e falcatruas para fazer a riqueza, a avareza que caracteriza esse tipo de gente impõe neles prudência bastante para fazê-los considerar duas ou três vezes as infindáveis malandragens e perversidades a serem engendradas para reposição do dinheiro que sai. Já os governantes, estes passam ao largo de tais preocupações uma vez que a reposição não é problema algum para eles porquanto dispõem de uma fonte de onde torrentes caudalosas de dinheiro escorrem sem dificuldade pela ponta de uma caneta mágica de ouro e presenteada por empresários que esvoaçam em torno dos governos do mesmo modo como as mariposas esvoaçam em torno da lâmpida de Adoniran Barbosa.

Daí não se aplicar à fonte que abastece os governos de dinheiro a regra do “de onde se tira e não se bota, acaba”. E não acabará nunca porque existe uma grande senzala chamada povo, do qual, excluídos os gatos pingados de um por cento da Casa Grande, os restantes, milhões e milhões de escravos ou consumidores cuidam de não deixar secar a fonte de onde os governantes tiram  despreocupadamente e a rodo o dinheiro que quiserem para fazer o que quiserem, inclusive remunerar bem grande quantidade de papagaios de microfone para convencer os frequentadores de igreja, axé e futebola de que a divisão do poder de governar em Legislativo, Executivo e Judiciário seja capaz de impedir atos injustos ou ilegais que possam permitir aos governantes fazerem o que não devem.

Na verdade, os governantes nunca deixaram de fazer o que não devem. Apesar de não serem mais vistos como um deus, depois que uma criança chamou a atenção do elemento asqueroso povo para a realidade de que o rei estava nu, os governantes continuam se apresentando com tanta pose que habitam palácios onde a vida corre às mil maravilhas. Não fosse aquela criança os governantes ainda seriam vistos como escolhidos por deus e que só a deus teriam de prestar contas dos atos praticados. Entretanto, o fato de ter a criança feito o que os adultos não tinham maturidade mental para fizer, mesmo tendo aquela reação infantil dado origem à reflexão de se cogitar da necessidade de impor moralidade aos governantes por se tratar de homens como os demais, sentindo os governantes não ser nada bom para eles esta história de haver restrição ao seu poder, passaram a maquinar artimanhas diabólicas que lhes permitissem jogar solto do mesmo jeito de sempre. Foi quando lhes caiu mel na sopa. Pintou um cara com dois chifrezinhos na testa, pés, barbicha e rabo de bode, tridente na mão, chamado Maquiavel, que segredou aos governantes, no pé da orelha de escutar oração, novela e jogo de futebola que eles não devem perder a pose de senhores absolutos porque governante existe é para atochar o ferro sem dó nem piedade no elemento asqueroso povo, que precisa apenas de igreja, axé e futebola para se sentir feliz e não querer saber de mais nada na vida. Eis que a dica foi muito bem aproveitada e os governantes remuneraram muito bem pessoas que tivessem talento para falar feito papagaio, cantar feito passarinho, escoicear bola feito burro chucro, dirigir carros a grandes velocidades, enfim, promoverem brincadeiras de todo tipo. Entregaram microfones aos bons de fala, facilitaram construções e funcionamento de igrejas isentando-as do pagamento de impostos para que elas incutissem no povo a ideia de serem carneiros de deus, e, como carneiros, morrerem sem berrar, prestando, assim, um grande serviço aos governantes ao fazer o povo se conformar em ser conformado. A esta ajuda Machado de Assis se refere no início do primeiro capítulo de Iaiá Garcia como o socorro da espada canônica.

Também financiaram os governantes obras monumentais de terreiros para axé e futebola, e compraram a consciência dos bons de fala trocando por dinheiro suas opiniões, e eles, então, em troca da despensa abastecida, falando sem cessar, convenceram o elemento asqueroso povo a se ligar exclusivamente naquelas pessoas boas de palhaçadas que, embora socialmente inúteis e mesmo prejudiciais, passaram a ser consideradas “famosas” e “celebridades”. A estes parasitas sociais que ficam ricos entretendo com brincadeiras a atenção do povo, os papagaios de microfone acrescentaram a apologia à putaria. Embora não tivessem recebido orientação nesse sentido, fizeram-no por conta do babaovismo comum na relação entre empregado e empregador, criando outro atrativo para a massa bruta de povo tais como notícias sobre que mulher tem bunda e peitos maiores, quem trepa em público, quem aparece na imprensa por motivos mais torpes como aquele !famoso” que cheio de alegria anunciava que em todo lugar as pessoas lhe passavam a mão na bunda. Com esta inversão de valores, principalmente com os assuntos relativos à prostituição, obtiveram sucesso tão espetacular em tornar desimportantes as verdadeiras prioridades que os frequentadores de igreja, axé e futebola nem sequer sabem serem os donos do dinheiro que os governantes usam inclusive para abastecer contas bilionárias nos infernos fiscais localizados em lugares que apesar de também bárbaros, face à superioridade da barbárie dos outros lugares, são considerados civilizados.

Ainda que por força de um dos milagres como o que fazia chorar a imagem da santa que chora sob a chuva de dinheiro que futucadores de telefone lhe atiram do lado de fora do cercado que a separa deles para que não percebam uma mangueirinha de onde saem as “lágrimas”, ainda que por força de milagre viesse o povo a ficar inteligente o bastante para saber ser dono daquela nota preta desbaratada pelos governantes, mesmo assim não conseguiriam as pessoas que formam o elemento asqueroso povo chegar a conclusão alguma porque aproveitando a maquinação maquinada pelo maquinador Maquiavel, os governantes engendraram um engendramento tão bem engendrado que se uma população de cem mil futucadores de telefone produz um PIB de cem milhões de unidades monetárias, daria a entender que cada um daqueles cem mil futucadores poderia contar com benefícios provenientes de mil unidades monetárias. Ledissíssimo engano porque desde sempre o destino de povo não é outro senão levar ferro como se pode ver nesse exemplo simples dos cem milhões de dinheiro para cem mil futucadores. Acontece que graças ao engendramento maquiavélico, logo de entrada e antes de mais nada, noventa e nove milhões daquele montante de cem milhões estariam reservados para atender necessidades de apenas mil futucadores, os da Casa Grande, privilegiados pelo título de rico, que em vez de vergonhoso por ser antissocial é motivo de orgulho para babacas. Daí que o restante do grupo, noventa e nove mil futucadores, os da senzala, não poderiam contar com benefício que ultrapassasse mil unidades monetárias daquele montante de cem milhões de dinheiro, segundo cálculo do meu amigo ensaísta e escritor Edmilson Mover, a quem recorri, porque precisando eu recorrer aos dedos do pé para contar até vinte, fico invocado porque tem gente pelaí com apenas de 19 dedos e ganha uma nota preta fazendo palestras para ”civilizados”. Inté.