Dizem as más línguas que jesus Cristo
nunca existiu e que não passa de uma invenção do governo romano, a título de que,
só ele, o governo romano, sabe. Se é verdade, ninguém provou e talvez nunca
prove. O certo é que não se pode menosprezar o poder da quantidade tão grande
de dinheiro que os governos têm que dá para juntar de gancho. Com tal
dinheirama pode-se fazer coisas do arco da velha. Se o poder que o dinheiro
confere pode fazer deixar de existir pessoas que existiram, pode muito bem
fazer existir pessoas que não existiram. Daí não ser dado a quem tem juízo
menosprezar o que pode fazer o poder do dinheiro que os governantes têm,
principalmente porque podem gastar com uma prodigalidade inacessível aos bi,
tri, ou quatrilionários uma vez que o governante não sofre as mesmas restrições
impostas aos outros donos de dinheiro porque tendo estes se desdobrado em mil e
uma artimanhas e falcatruas para fazer a riqueza, a avareza que caracteriza esse
tipo de gente impõe neles prudência bastante para fazê-los considerar duas ou
três vezes as infindáveis malandragens e perversidades a serem engendradas para
reposição do dinheiro que sai. Já os governantes, estes passam ao largo de tais
preocupações uma vez que a reposição não é problema algum para eles porquanto
dispõem de uma fonte de onde torrentes caudalosas de dinheiro escorrem sem
dificuldade pela ponta de uma caneta mágica de ouro e presenteada por
empresários que esvoaçam em torno dos governos do mesmo modo como as mariposas
esvoaçam em torno da lâmpida de Adoniran Barbosa.
Daí não se aplicar à fonte que
abastece os governos de dinheiro a regra do “de onde se tira e não se bota,
acaba”. E não acabará nunca porque existe uma grande senzala chamada povo,
do qual, excluídos os gatos pingados de um por cento da Casa Grande, os
restantes, milhões e milhões de escravos ou consumidores cuidam de não deixar
secar a fonte de onde os governantes tiram despreocupadamente e a rodo o dinheiro que
quiserem para fazer o que quiserem, inclusive remunerar bem grande quantidade
de papagaios de microfone para convencer os frequentadores de igreja, axé e
futebola de que a divisão do poder de governar em Legislativo, Executivo e
Judiciário seja capaz de impedir atos injustos ou ilegais que possam permitir
aos governantes fazerem o que não devem.
Na verdade, os governantes nunca
deixaram de fazer o que não devem. Apesar de não serem mais vistos como um deus,
depois que uma criança chamou a atenção do elemento asqueroso povo para a
realidade de que o rei estava nu, os governantes continuam se apresentando com
tanta pose que habitam palácios onde a vida corre às mil maravilhas. Não fosse
aquela criança os governantes ainda seriam vistos como escolhidos por deus e
que só a deus teriam de prestar contas dos atos praticados. Entretanto, o fato
de ter a criança feito o que os adultos não tinham maturidade mental para
fizer, mesmo tendo aquela reação infantil dado origem à reflexão de se cogitar
da necessidade de impor moralidade aos governantes por se tratar de homens como
os demais, sentindo os governantes não ser nada bom para eles esta história de
haver restrição ao seu poder, passaram a maquinar artimanhas diabólicas que
lhes permitissem jogar solto do mesmo jeito de sempre. Foi quando lhes caiu mel
na sopa. Pintou um cara com dois chifrezinhos na testa, pés, barbicha e rabo de
bode, tridente na mão, chamado Maquiavel, que segredou aos governantes, no pé da
orelha de escutar oração, novela e jogo de futebola que eles não devem perder a
pose de senhores absolutos porque governante existe é para atochar o ferro sem
dó nem piedade no elemento asqueroso povo, que precisa apenas de igreja, axé e
futebola para se sentir feliz e não querer saber de mais nada na vida. Eis que
a dica foi muito bem aproveitada e os governantes remuneraram muito bem pessoas
que tivessem talento para falar feito papagaio, cantar feito passarinho,
escoicear bola feito burro chucro, dirigir carros a grandes velocidades, enfim,
promoverem brincadeiras de todo tipo. Entregaram microfones aos bons de fala, facilitaram
construções e funcionamento de igrejas isentando-as do pagamento de impostos
para que elas incutissem no povo a ideia de serem carneiros de deus, e, como
carneiros, morrerem sem berrar, prestando, assim, um grande serviço aos
governantes ao fazer o povo se conformar em ser conformado. A esta ajuda
Machado de Assis se refere no início do primeiro capítulo de Iaiá Garcia como o
socorro da espada canônica.
Também financiaram os governantes obras
monumentais de terreiros para axé e futebola, e compraram a consciência dos
bons de fala trocando por dinheiro suas opiniões, e eles, então, em troca da
despensa abastecida, falando sem cessar, convenceram o elemento asqueroso povo
a se ligar exclusivamente naquelas pessoas boas de palhaçadas que, embora
socialmente inúteis e mesmo prejudiciais, passaram a ser consideradas “famosas”
e “celebridades”. A estes parasitas sociais que ficam ricos entretendo com brincadeiras
a atenção do povo, os papagaios de microfone acrescentaram a apologia à putaria.
Embora não tivessem recebido orientação nesse sentido, fizeram-no por conta do
babaovismo comum na relação entre empregado e empregador, criando outro
atrativo para a massa bruta de povo tais como notícias sobre que mulher tem
bunda e peitos maiores, quem trepa em público, quem aparece na imprensa por
motivos mais torpes como aquele !famoso” que cheio de alegria anunciava que em
todo lugar as pessoas lhe passavam a mão na bunda. Com esta inversão de
valores, principalmente com os assuntos relativos à prostituição, obtiveram
sucesso tão espetacular em tornar desimportantes as verdadeiras prioridades que
os frequentadores de igreja, axé e futebola nem sequer sabem serem os donos do
dinheiro que os governantes usam inclusive para abastecer contas bilionárias
nos infernos fiscais localizados em lugares que apesar de também bárbaros, face
à superioridade da barbárie dos outros lugares, são considerados civilizados.
Ainda que por força de um dos
milagres como o que fazia chorar a imagem da santa que chora sob a chuva de
dinheiro que futucadores de telefone lhe atiram do lado de fora do cercado que
a separa deles para que não percebam uma mangueirinha de onde saem as “lágrimas”,
ainda que por força de milagre viesse o povo a ficar inteligente o bastante
para saber ser dono daquela nota preta desbaratada pelos governantes, mesmo
assim não conseguiriam as pessoas que formam o elemento asqueroso povo chegar a
conclusão alguma porque aproveitando a maquinação maquinada pelo maquinador
Maquiavel, os governantes engendraram um engendramento tão bem engendrado que
se uma população de cem mil futucadores de telefone produz um PIB de cem
milhões de unidades monetárias, daria a entender que cada um daqueles cem mil
futucadores poderia contar com benefícios provenientes de mil unidades
monetárias. Ledissíssimo engano porque desde sempre o destino de povo não é
outro senão levar ferro como se pode ver nesse exemplo simples dos cem milhões
de dinheiro para cem mil futucadores. Acontece que graças ao engendramento
maquiavélico, logo de entrada e antes de mais nada, noventa e nove milhões
daquele montante de cem milhões estariam reservados para atender necessidades
de apenas mil futucadores, os da Casa Grande, privilegiados pelo título de
rico, que em vez de vergonhoso por ser antissocial é motivo de orgulho para
babacas. Daí que o restante do grupo, noventa e nove mil futucadores, os da
senzala, não poderiam contar com benefício que ultrapassasse mil unidades
monetárias daquele montante de cem milhões de dinheiro, segundo cálculo do meu
amigo ensaísta e escritor Edmilson Mover, a quem recorri, porque precisando eu
recorrer aos dedos do pé para contar até vinte, fico invocado porque tem gente
pelaí com apenas de 19 dedos e ganha uma nota preta fazendo palestras para
”civilizados”. Inté.
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