quinta-feira, 7 de maio de 2020

ARENGA 607


Dizem as más línguas que jesus Cristo nunca existiu e que não passa de uma invenção do governo romano, a título de que, só ele, o governo romano, sabe. Se é verdade, ninguém provou e talvez nunca prove. O certo é que não se pode menosprezar o poder da quantidade tão grande de dinheiro que os governos têm que dá para juntar de gancho. Com tal dinheirama pode-se fazer coisas do arco da velha. Se o poder que o dinheiro confere pode fazer deixar de existir pessoas que existiram, pode muito bem fazer existir pessoas que não existiram. Daí não ser dado a quem tem juízo menosprezar o que pode fazer o poder do dinheiro que os governantes têm, principalmente porque podem gastar com uma prodigalidade inacessível aos bi, tri, ou quatrilionários uma vez que o governante não sofre as mesmas restrições impostas aos outros donos de dinheiro porque tendo estes se desdobrado em mil e uma artimanhas e falcatruas para fazer a riqueza, a avareza que caracteriza esse tipo de gente impõe neles prudência bastante para fazê-los considerar duas ou três vezes as infindáveis malandragens e perversidades a serem engendradas para reposição do dinheiro que sai. Já os governantes, estes passam ao largo de tais preocupações uma vez que a reposição não é problema algum para eles porquanto dispõem de uma fonte de onde torrentes caudalosas de dinheiro escorrem sem dificuldade pela ponta de uma caneta mágica de ouro e presenteada por empresários que esvoaçam em torno dos governos do mesmo modo como as mariposas esvoaçam em torno da lâmpida de Adoniran Barbosa.

Daí não se aplicar à fonte que abastece os governos de dinheiro a regra do “de onde se tira e não se bota, acaba”. E não acabará nunca porque existe uma grande senzala chamada povo, do qual, excluídos os gatos pingados de um por cento da Casa Grande, os restantes, milhões e milhões de escravos ou consumidores cuidam de não deixar secar a fonte de onde os governantes tiram  despreocupadamente e a rodo o dinheiro que quiserem para fazer o que quiserem, inclusive remunerar bem grande quantidade de papagaios de microfone para convencer os frequentadores de igreja, axé e futebola de que a divisão do poder de governar em Legislativo, Executivo e Judiciário seja capaz de impedir atos injustos ou ilegais que possam permitir aos governantes fazerem o que não devem.

Na verdade, os governantes nunca deixaram de fazer o que não devem. Apesar de não serem mais vistos como um deus, depois que uma criança chamou a atenção do elemento asqueroso povo para a realidade de que o rei estava nu, os governantes continuam se apresentando com tanta pose que habitam palácios onde a vida corre às mil maravilhas. Não fosse aquela criança os governantes ainda seriam vistos como escolhidos por deus e que só a deus teriam de prestar contas dos atos praticados. Entretanto, o fato de ter a criança feito o que os adultos não tinham maturidade mental para fizer, mesmo tendo aquela reação infantil dado origem à reflexão de se cogitar da necessidade de impor moralidade aos governantes por se tratar de homens como os demais, sentindo os governantes não ser nada bom para eles esta história de haver restrição ao seu poder, passaram a maquinar artimanhas diabólicas que lhes permitissem jogar solto do mesmo jeito de sempre. Foi quando lhes caiu mel na sopa. Pintou um cara com dois chifrezinhos na testa, pés, barbicha e rabo de bode, tridente na mão, chamado Maquiavel, que segredou aos governantes, no pé da orelha de escutar oração, novela e jogo de futebola que eles não devem perder a pose de senhores absolutos porque governante existe é para atochar o ferro sem dó nem piedade no elemento asqueroso povo, que precisa apenas de igreja, axé e futebola para se sentir feliz e não querer saber de mais nada na vida. Eis que a dica foi muito bem aproveitada e os governantes remuneraram muito bem pessoas que tivessem talento para falar feito papagaio, cantar feito passarinho, escoicear bola feito burro chucro, dirigir carros a grandes velocidades, enfim, promoverem brincadeiras de todo tipo. Entregaram microfones aos bons de fala, facilitaram construções e funcionamento de igrejas isentando-as do pagamento de impostos para que elas incutissem no povo a ideia de serem carneiros de deus, e, como carneiros, morrerem sem berrar, prestando, assim, um grande serviço aos governantes ao fazer o povo se conformar em ser conformado. A esta ajuda Machado de Assis se refere no início do primeiro capítulo de Iaiá Garcia como o socorro da espada canônica.

Também financiaram os governantes obras monumentais de terreiros para axé e futebola, e compraram a consciência dos bons de fala trocando por dinheiro suas opiniões, e eles, então, em troca da despensa abastecida, falando sem cessar, convenceram o elemento asqueroso povo a se ligar exclusivamente naquelas pessoas boas de palhaçadas que, embora socialmente inúteis e mesmo prejudiciais, passaram a ser consideradas “famosas” e “celebridades”. A estes parasitas sociais que ficam ricos entretendo com brincadeiras a atenção do povo, os papagaios de microfone acrescentaram a apologia à putaria. Embora não tivessem recebido orientação nesse sentido, fizeram-no por conta do babaovismo comum na relação entre empregado e empregador, criando outro atrativo para a massa bruta de povo tais como notícias sobre que mulher tem bunda e peitos maiores, quem trepa em público, quem aparece na imprensa por motivos mais torpes como aquele !famoso” que cheio de alegria anunciava que em todo lugar as pessoas lhe passavam a mão na bunda. Com esta inversão de valores, principalmente com os assuntos relativos à prostituição, obtiveram sucesso tão espetacular em tornar desimportantes as verdadeiras prioridades que os frequentadores de igreja, axé e futebola nem sequer sabem serem os donos do dinheiro que os governantes usam inclusive para abastecer contas bilionárias nos infernos fiscais localizados em lugares que apesar de também bárbaros, face à superioridade da barbárie dos outros lugares, são considerados civilizados.

Ainda que por força de um dos milagres como o que fazia chorar a imagem da santa que chora sob a chuva de dinheiro que futucadores de telefone lhe atiram do lado de fora do cercado que a separa deles para que não percebam uma mangueirinha de onde saem as “lágrimas”, ainda que por força de milagre viesse o povo a ficar inteligente o bastante para saber ser dono daquela nota preta desbaratada pelos governantes, mesmo assim não conseguiriam as pessoas que formam o elemento asqueroso povo chegar a conclusão alguma porque aproveitando a maquinação maquinada pelo maquinador Maquiavel, os governantes engendraram um engendramento tão bem engendrado que se uma população de cem mil futucadores de telefone produz um PIB de cem milhões de unidades monetárias, daria a entender que cada um daqueles cem mil futucadores poderia contar com benefícios provenientes de mil unidades monetárias. Ledissíssimo engano porque desde sempre o destino de povo não é outro senão levar ferro como se pode ver nesse exemplo simples dos cem milhões de dinheiro para cem mil futucadores. Acontece que graças ao engendramento maquiavélico, logo de entrada e antes de mais nada, noventa e nove milhões daquele montante de cem milhões estariam reservados para atender necessidades de apenas mil futucadores, os da Casa Grande, privilegiados pelo título de rico, que em vez de vergonhoso por ser antissocial é motivo de orgulho para babacas. Daí que o restante do grupo, noventa e nove mil futucadores, os da senzala, não poderiam contar com benefício que ultrapassasse mil unidades monetárias daquele montante de cem milhões de dinheiro, segundo cálculo do meu amigo ensaísta e escritor Edmilson Mover, a quem recorri, porque precisando eu recorrer aos dedos do pé para contar até vinte, fico invocado porque tem gente pelaí com apenas de 19 dedos e ganha uma nota preta fazendo palestras para ”civilizados”. Inté.  


























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