quarta-feira, 27 de maio de 2020

ARENGA 610


Este nosso belo país de triste sorte é mesmo singular. A estupidez de seu povo supera de longe a estupidez que caracteriza a humanidade a ponto de torná-la incapaz de enxergar além da ponta do nariz. Veja-se, por exemplo, a exorbitância da estupidez que caracteriza a sociedade dos americanos tanto por uma injustificada presunção de superioridade quanto pela incapacidade de aprender com a lição do horror do onze de setembro cuja selvageria não foi capaz de ensiná-la ser impossível praticar violência sem se tornar vítima de violência. Povo algum escapa da estupidez. Aí estão povos mais antigos cuja experiência secular já lhes devia ter agraciado com algum entendimento sobre a vida, continuando, não obstante esta experiência, na vidinha medíocre de escravos sorridentes de parasitas políticos e religiosos que lhes exploram com seu consentimento tanto quanto são explorados os povos por eles considerados inferiores.

A diferença entre a estupidez de um povo tido como civilizado e a estupidez de um povo ainda colonizado restringe-se ao fato de que para os “civilizados” a Casa Grande distribui mais migalhas do que distribui a Casa Grande dos povos  ainda colonizados, e além disso também disfarça o jugo da espada canônica que ajuda a política a manter a Senzala sossegada. Entre os colonizados a espada canônica atua tão abertamente que seus esgrimidores ocupam altos postos na administração pública do mesmo modo como era na Idade Média. – A expressão ESPADA CANÔNICA foi cunhada por Machado de Assis em Iaiá Garcia para aludir à ajuda que a religião presta à política na tarefa satânica de alienar a massa bruta de povo fazendo com que ela busque em deus o bem-estar que depende da correta aplicação do erário –. Feita a ressalva e voltando ao nosso assunto temos que em contraprestação à ajuda da espada canônica a política isenta de impostos as imensas fortunas que as igrejas e os doadores de campanha eleitoral arrancam dos incautos, e estes, sorridentes, arcam com mais este peso no seu lombo de burro de carroça.

Tamanha demonstração de estupidez exige de quem  superou a fase tristonha/alegre de povo nunca esmorecer da tentativa de levar algum esclarecimento a estes pobres esfarrapados mentais, incapazes de perceber que uma qualidade melhor de vida está em suas próprias mãos e não nas mãos de nenhuma espécie de líder porque não existe no mundo alguém capaz de pôr acima dos seus os interesses de outra pessoa. Só depois de desbastada a estupidez será possível ficar evidente a falsidade do discurso da liderança na qual se deposita esperança uma vez que o mundo piora a cada dia. Fazem papel de bobo entusiastas esperançosos em algo de bom vindo de falsos líderes. Estão enganados quanto à realidade da vida.

Daí ser impropriedade falar em povo civilizado em parte alguma do mundo porque povo algum cogita da necessidade de se descobrir uma forma inteligente que exclua a violência e seja capaz de livrá-lo  da liderança dos falsos líderes que retribuem com promessas vãs o bem-bom de uma vida isenta das dificuldades de seus liderados. Este será o tipo de vida a ser vivida enquanto às crianças for ensinado não haver motivo para que se busque outro tipo de vida. Daí a necessidade de haver empenho num esforço sem trégua no sentido de despertar na massa bruta de povo a necessidade de desenvolver a capacidade de raciocinar sugerida pelo Grande Mestre do Saber Paulo Freire, para o bem das futuras gerações que, para o bem da humanidade, espera-se, não venham a também se tornarem inúteis futucadores de telefone incapazes de um único gesto inteligente. Inté.

      

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