A palavra povo é muitas vezes mais eficiente
para definir um comportamento desinteligente do que a palavra estupidez. Nesse
exato momento em que esta República Brasileira de Bananas chegou a um estado de degradação moral nunca antes
alcançado em sua trajetória de imoralidades, baixezas e vilanias, cerca de cem
a cento e cinquenta mil dos mais de duzentos milhões de macacos deslumbrados
com o American Way of Life que aqui vivem ajuntaram-se em Brasília, quebraram
vidros de alguns prédios públicos comprados com seu próprio dinheiro, fizeram fogueirinhas
nas ruas, requebraram e saltitaram ao som de gritinhos de pedidos de justiça, de
fora cicrano, fora beltrano, queremos eleições diretas já. Imbecilidades, só
imbecilidades. Tomaram porrada da polícia, infelizmente muito menos do que
mereciam, e retornaram depois da sova às suas casas, lambuzaram com unguento os
hematomas e os calombos e passaram à rotina de se entusiasmar com o incentivo
da papagaiada de microfone que os orienta na direção do pão e circo. Enquanto
isso, ciente da debilidade mental do povo, o governo dos banqueiros o convence de
estar tudo às mil maravilhas apenas com propaganda paga com o dinheiro do
próprio povo. Está aí, alardeada pelos papagaios de microfone uma propaganda
que termina assim: GOVERNO FEDERAL: ORDEM E PROGRESSO! Pronto. É o bastante
para que o povo se convença de estar tudo muitíssimo bem, sem, entretanto, nem
de longe perceber que a ordem a que se se refere a propaganda do governo é o
conformismo dos palermas com a realidade de terem o rabo fustigado, e o
progresso é nada mais nem menos do que o inchaço das contas dos empresários nos
infernos fiscais. Povo é nada mais que um joguete nas mãos do grupinho de
ignorantes de sociabilidade que se apossaram do mundo, e do alto de suas poses
e posses manipulam os cordões que movimentam a marionete povo. A notícia de que
o Bando Mundial recomenda que o governo desta república de bananas amplie o Bolsa Família
para enfrentar a crise que massacra os brasileiros de
triste memória é clara declaração da incapacidade que tem o povo de saber o que
lhe serve ou desserve. Banqueiros desnaturados mandam jogar uma moeda para o
povo sofrido na certeza de que esta esmola fará com que a massa bruta deixe as reivindicações
e volte ao pão e circo.
A
enxurrada barrenta conduzindo um troço de bosta é a perfeita representação da
liderança de politiqueiros conduzindo o povo em sua eterna indiferença quanto
ao destino que espera por ele. Nesse exato momento, o povo brasileiro tem dois
tipos de enxurrada a conduzi-lo: a que o conduz no momento, formada por
banqueiros, empreiteiros e os politiqueiros de sempre, ou uma nova enxurrada
que apesar de formada por eleição direta, será tão imunda quanto a que o conduz
agora. A biografia dos prováveis candidatos mostra que todos deveriam estar
cumprindo pena por alguma canalhice. A humanidade não será outra coisa senão um
troço de bosta sem destino enquanto o povo não passar a ser gente. Até mesmo
nos lugares onde se aglomeram os povos mais velhos do mundo, cuja experiência
já lhes devia ter feito perceber que ser povo é ser um troço de bosta, até
mesmo nesses lugares os povos são levados ao sabor de enxurradas que os
conduzem independentemente da vontade dos conduzidos. É tudo tão simples quanto
água limpa no meu copo de cristal em que eu tomava uísque antes de ser proibido
de fazê-lo por doença no estômago, mais uma das restrições impostas pela
velhice que os jovens estão certos de nunca atingi-los, ignorância proveniente de
sua eterna recusa em evoluir espiritualmente. A situação de calamidade mental do
povo se deve ao fato de ser o ele orientado para uma inexplicável paixão pelo
pão e circo, quando deveria ser orientado para o desenvolvimento espiritual. No
momento em que o povo adquirir maturidade bastante para se auto conduzir em vez
de ser conduzido feito bois, a partir desse momento descobrirá ter sido desde
sempre induzido a erro tão monumental que busca sua própria extinção em vez da
preservação.
A recente brutalidade que infelicitou várias
famílias inglesas demonstra com perfeição o quanto longe estão todos os povos
do mundo da capacidade de agir conforme a razão. Diante de tão brutal
acontecimento, as providências tomadas pelos povos tidos como os mais civilizados
do mundo foram tão inócuas quanto as dos macacos deslumbrados de Brasília:
Apresentaram bravatas, armas e mais violência para contrapor a violência que
haverá de atormentá-los enquanto precisarem ser conduzidos por defensores do
ajuntamento de riqueza ao lado do ajuntamento de miséria. O que fizeram os
“civilizados” diante daquele acontecimento monstruoso foi acender velas, fazer
orações e minutos de silencio, quando o que precisava e precisa ser feito é observar
o raciocínio lúcido de não ser possível resolver um problema enquanto
perdurarem as circunstâncias que dão origem a esse problema. E elas, as circunstâncias que dão origem não
só ao último ato bárbaro de terrorismo que estraçalhou inocentes crianças, mas
também de todos os demais problemas do mundo é uma só: a recusa em se evoluir
mentalmente para ser percebido que é inteiramente impossível viver uma situação
em que apenas um por cento da humanidade retém em seu poder noventa e nove por
cento da riqueza da mundo.
Tendo ainda os seres humanos o mesmo comportamento
dos bichos, em vez do recurso da inteligência que os levaria a atitudes
civilizadas na solução dos problemas, usam da brutalidade como recurso para a
violência contra aqueles que realmente têm justas reivindicações a fazer,
realidade que aparece até mesmo nos parlamentos. Lá deveriam haver espécimes de
gente que fizessem prevalecer a sabedoria. Um trecho sobre o comportamento
humano copiado da página 368 do livro História da Raça Humana, de Henry Thomas,
mostra mais uma vez não só como temos sido bárbaros, mas também a necessidade
de sermos diferentes. Nesse trecho, nota-se que o historiador, com justíssima
razão, dá maior valor aos poetas do que aos governantes porque fala em “descer”
quando deixa o assunto sobre reis para passar a falar dos poetas: Desçamos
mais uma vez dos poetas para os reis. No século XVIII a civilização da Europa
quase atingia seu fim, como resultado da ambição e dos desatinos de seus
governantes. A geração que veio depois de Shakespeare presenciou a mais
sangrenta guerra religiosa de toda a História. Durante trinta anos os reis
católicos e os príncipes protestantes massacraram seus súditos e devastaram
suas nações para “a maior glória de Deus”. Quando terminou a guerra, a Europa
Central era um deserto. Homens e lobos famintos lutavam pela carcaça de um
cavalo; a população da Alemanha diminuiu de dezesseis para seis milhões de
criaturas humanas; o Palatinado (um dos Estados da Alemanha Ocidental)
foi saqueado vinte e oito vezes; e a Boêmia teve nada menos de trinta mil
aldeias incendiadas”.
É o comportamento resultante da cultura
proveniente do que é ensinado às crianças. Aquelas pobres crianças inglesas
destroçadas no penúltimo (outros
advirão) ataque terrorista foram vítimas da cultura transmitida de geração a
geração através do aprendizado que valoriza religiosidade, apego a riqueza, e,
principalmente, a desnecessidade de ser observada a existência de outras pessoas
que também têm necessidades a satisfazer e que não se conformam em ser
afrontadas pelo escárnio do resto do mundo ao jogar-lhes na cara os espetáculos
de futilidades que são a materialização da indiferença dos que não sofrem ante
os que muito sofrem. Aqui em nossa Vitória da Conquista, enquanto a violência
extermina os jovens pobres, a cidade se alvoraço para receber o milionário
Roberto Carlos, marionete do pão e circo. Estas coisas causam a revolta de
indivíduos tão pobres de espírito quanto aqueles que os afrontam e materializam
sua revolta através de barbaridades. No frigir dos ovos, culpados por toda a
merda que existe no mundo são os pais incapazes de romper com o tradicionalismo
e injetar em suas crianças outra forma de encarar a tarefa de viver. Enquanto a
educação a ser ministrada for programada pelos Reis Midas do mundo haverá choro
e ranger de dentes.