quarta-feira, 3 de maio de 2017

ARENGA 416


Muito se escreve a respeito não só de como é, mas também de como deve ser o relacionamento humano na sociedade. Entretanto, no que diz respeito a se fazer entender quem assim escreve, isto é, de levar esclarecimento aos leitores sobre como funciona e como deve funcionar a sociedade humana a fim de poderem eles se agir objetivando melhor qualidade de vida, quanto mais famoso for o autor e os livros versando sobre problemas sociais, mais se assemelha a fama de tais escritores e livros à mesma dos “famosos” e das “celebridades” dos quais não se extrai uma gota sequer de influência positiva sobre a sociedade. No famoso livro Rebelião das Massas, do famosíssimo José Ortega Y Gasset, por exemplo, na página 77 está dito que “A vida pública não é somente política, mas, também e primeiro, intelectual, moral, econômica e religiosa”. Ora, tal afirmação mais confunde do que esclarece. Relegar a segundo plano a influência da política na vida pública é algo talvez compreensível apenas para os intelectuais porque para o povo é da vontade política que depende tudo o mais. Esta realidade está aí à vista de quem tem olhos de ver, materializada na total degradação da qualidade de vida no mundo inteiro em função de ser a política da cultura da produção de riqueza o único objetivo visado pela vontade política. Nesse livro famoso, a única coisa clara para nós que não somos intelectuais como também não é a população, é a afirmação constante da página 79 quando diz que ao jogador de futebola é vedado o maravilhar-se ante a grandiosidade do universo como fazem os intelectuais. Quanto a isso, nenhuma dúvida. O jogador de futebola, apesar de elevado aos píncaros da glória, na verdade é peso morto para o sucesso da organização social. Não faz muito, vimos um famoso jogador de futebola dizer que estádios são mais importantes do que hospitais e escolas. A importância social atribuída ao jogador de futebola é fruto justamente da atividade de uma política voltada contra os reais interesses da sociedade. É visando o desinteresse do povo pela vida social que a má política manipula o cérebro das pessoas fazendo-as ignorar quem realmente tem condição de influenciar positivamente o desenvolvimento civilizatório da sociedade e valorizar pessoas desprovidas totalmente de tais qualidades, usando para tanto do histórico pão e circo. Desta forma, sendo a política que determina a qualidade da vida pública e sendo esta que determina a qualidade da vida individual ora tomada por infelicidades generalizadas, fica incompreensível admitir como faz o intelectualíssimo Ortega Y Gasset que a política não esteja em primeiro plano no que diz respeito à vida pública.  

O estado pavoroso em que se encontra a sociedade humana, com cadáveres, lágrimas, cabeças cepadas fora do corpo, crianças sacrificadas aos milhares, e o medo constante de se tornar vítima de alguma fatalidade, medo que assombra absolutamente todas as pessoas em qualquer lugar em que esteja, esta situação tem por única causa a orientação política proveniente de bonecos  colocados nos postos de mando onde se perpetuam, lá colocados graças à ação nefasta dos Reis Midas do mundo, resulta daí uma atividade política que apesar de nefasta é aplaudida por filósofos e escritores de aluguel encarregados de inibir nas pessoas a capacidade de raciocinar. É através da ação socialmente criminosa destes prostitutos da consciência que o povo se torna capaz de aceitar como ricamente vestido um rei que na verdade estava nu. Não há como relegar a atividade política a plano inferior. Ante a realidade inquestionável de não se viver isoladamente cada um por si, mas cada um por todos e o todo por cada um, esta forma de viver depende de uma atividade política que promova sua organização. Assim, pois, dependendo da política a vida pública, tal realidade contraria a opinião do intelectualíssimo Gasset, que, como todos os intelectuais, também vive no mundo fantasioso dos poetas.

A realidade de depender a vida da política, além da realidade pavorosa em que vive a humanidade em função unicamente da política perversa adotada no mundo, aparece também na matéria publicada no jornal Le Monde Diplomatic Brasil, do dia 03/04/2017, de Silvio Caccia Bava, onde se lê o seguinte: “Hoje, sabe-se que a corrupção é uma prática generalizada entre as grandes empresas, que não conhecem limites para maximizar seus ganhos.   -   R$ 660 bilhões a evasão fiscal no Brasil entre 2003 e 2012”. ... “As grandes empresas passaram a controlar a democracia.  No Brasil isso fica claro nas eleições de 2014. Investindo cerca de R$ 5 bilhões, dez grandes grupos econômicos elegeram 70% do Congresso Nacional. O financiamento foi direto aos candidatos, e os partidos políticos se tornaram irrelevantes. Esses grupos passaram a controlar o Legislativo. Some-se a isso o fato de que os atuais ministro da Fazenda e presidente do Banco Central são seus representantes no governo”. ... “O fato é que a democracia que temos e suas instituições foram capturadas pelo poder econômico e deixaram de defender o interesse público. Resgatar a democracia e recuperar o controle político e democrático sobre a economia torna-se o grande desafio do presente.” Aí está, pois, a realidade de ser a atividade política que ocupa o primeiríssimo lugar na determinação da qualidade da vida pública. O fato de estar a atividade política submetida a uma atividade econômica voltada exclusivamente para satisfazer a fome de riqueza dos monstros espirituais de cujas bocas escorre baba de, dragão vai dar nesse estado de infelicidade geral na vida pública. Caso contrário, havendo uma atividade política voltada para uma boa qualidade de vida pública, em tais condições não haveria predominância desta atividade econômica funesta que aí está porque políticos em uma atividade política soberana não são marionetes cujos cordões são manipulados pelos Reis Midas do mundo como é a corja de parlamentares aos quais a matéria jornalística acima diz serem apenas cumpridores das ordens de dos seus patrões que os colocam nos cargos políticos. Assim, é da vontade política que resultam todos os demais aspectos da vida, o que aparece claramente na realidade mostrada na reportagem e a qualidade de vida das pessoas. Enquanto notícias como esta enchem as páginas dos jornais, o povo se liga mesmo é em assuntos como esse também nos jornais: “Sem sutiã, Mônica Iozzi sensualiza e rouba a cena na web”. Inté.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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