domingo, 14 de maio de 2017

ARENGA 419


                Dizia o poeta Olavo Bilac sobre o brasil: CRIANÇA, AMA COM FÉ E ORGULHO A TERRA EM QUE NASCESTE! CRIANÇA, NÃO VERÁS NENHUM PAÍS COMO ESTE! OLHA QUE CÉU! QUE MAR! QUE RIOS! QUE FLORESTA! VÊ QUE LUZ, QUE CALOR, QUE MULTIDÃO DE INSETOS!

Pobre poeta! Para seu próprio bem, você não está mais aqui. Um seu colega de intelectualidade que também deixou a pocilga Brasil há pouco, o Grande Mestre do Saber Antônio Cândido, antes de morrer, desgostoso com as condições adversas para os raríssimos homens dignos que por aqui ainda existem, disse à filha que se sentia expulso do Brasil. Aqui é o lugar ideal apenas para a massa ignara de iletrados religiosos, canalhas de todos os matizes imagináveis e inimagináveis, além de imbecis aficionados ao pão e circo. Por aqui, moleques sem qualquer noção de sociabilidade são elevados à categoria de famosos e tratados como reis. No dia 13 deste mês de maio, desci do apartamento para jantar no restaurante do hotel Mercure na Av. Prof. Magalhães Neto em Salvador, mas fui escorraçado pelos gritos e algazarra que faziam vinte ou trinta jovens jogadores de futebola. Voltei e pedi o jantar no apartamento porque o restaurante parecia um chiqueiros de porcos quando se coloca lavagem nos cochos.  Aqueles jovens representam com perfeição o tipo de gente desta terra de brutamontes espirituais. Você, caro poeta, fez bem em sair deste antro de marginais safados, ou teria que sofrer muito mais do que apenas se sentir deslocado. Os rios a que você se refere, poeta, viraram esgotos. Os insetos, o contato com o sangue pestilento dos brasileiros amorais e imorais, sofreram mutação e se tornaram também tão degenerados a ponto de danificar o cérebro das crianças ainda em gestação. As florestas foram transformadas em dinheiro e as feras que lá moravam foram mortas juntamente com os índios. As que não morreram foram trazidas para as cidades para serem apreciadas por idiotas mediante pagamento para estacionar o carro e ingresso. As crianças, nobre poeta, às quais você se dirige em seus patrióticos e maravilhosos versos, elas foram transformadas em esmoleres, bandidos e presidiários que encontram nas drogas algum alívio momentâneo, uma ilusão de felicidade cuja consequência lhes aumentará a infelicidade. As que escapam de tão medonho destino, graças a uma educação voltada exclusivamente para ganhar dinheiro, tiveram castradas de sua personalidade as qualidades que dignificam o homem e foram transformadas em monstros à busca de riqueza com a mesma voracidade com que as feras atacam suas presas. Vítimas de um sistema educacional que implanta nas crianças a cultura do TER, elas se tornam jovens que agem como robôs programados para avançar uns contra os outros a fim de obter algum tipo de vantagem. São profissionais da área de saúde extorquindo quem deles precisa, inclusive estuprando suas pacientes. São advogados compartilhando com ladrões para ficarem com uma parte do roubo. A não ser atividades criminosas, a única coisa a que se dedicam as pessoas nessa terra amaldiçoada são as imbecilidades do pão e circo. Na verdade, senhor poeta, nosso país apodreceu. A imoralidade alastrou de modo tão contundente que procurar acompanhar os acontecimentos pela imprensa como faz toda pessoa normal, causa insuportável mal-estar porque as notícias giram exclusivamente em torno de crimes. Dão conta de ter sido a administração pública tomada de assalto por bandidos dos mais cruéis que agem livremente contra uma população que apesar de imensos sofrimentos vive festejamentos intermináveis. Ler jornal, ver televisão e ouvir rádio causa sensação de completo desamparo e medo. Tudo gira em torno de violência. O ministério público denuncia quadrilhas dilapidando o erário e uma plêiade de advogados amorais, a fim de levar parte do roubo, procuram as picuinhas legais adredemente preparadas para possibilitar que tais advogados encontrem meios de proteger ladrões ricos. Eis o que diz o doutor Deltan dallagnol na página 25 do livro A LUTA CONTRA A CORRUPÇÃO: “Somos o único lugar do mundo com quatro instâncias de julgamento: juiz, tribunal de apelação, Superior tribunal de Justiça e Supremo Tribunal Federal”. E, na página 22 do mesmo livro: “A prescrição é uma espécie de cancelamento do caso criminal pelo fato de seu trâmite na justiça ter demorado muito tempo sem chegar a um fim – ainda que a demora decorra exclusivamente do excesso de trabalho do judiciário ou do exagerado número de recursos interpostos”. Na página 36, temos o seguinte: “O sistema recursal, conjugado ao prescricional, cria uma verdadeira máquina de impunidade. O primeiro atrasa os processos, o segundo cancela as punições por causa desse mesmo atraso”

São as saídas ardilosamente engendradas pelos responsáveis pela administração pública para lhes permitir roubar e ficar por isso mesmo porque a imoralidade da prescrição ocorre antes que o processo tenha percorrido todo esse trâmite com as interrupções dos recursos interpostos malandramente pelos advogados parceiros dos ladrões. Ante situação verdadeiramente escabrosa, o que faz a juventude? Absolutamente nada! Como podem os jovens ser tão estúpidos a ponto de assistirem indiferentes escorrer pela tubulação do Jornal Nacional os recursos de dar melhores condições de vida aos necessitados, amenizando a violência que se alastra espantosamente e que devorará os filhos destes jovens apalermados ligados unicamente em vestibular e futucar telefone? Inté.    

   

 

 

 

 

 

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