Dizia o poeta Olavo Bilac sobre
o brasil: CRIANÇA, AMA COM FÉ E ORGULHO A TERRA EM QUE NASCESTE! CRIANÇA, NÃO VERÁS
NENHUM PAÍS COMO ESTE! OLHA QUE CÉU! QUE MAR! QUE RIOS!
QUE FLORESTA! VÊ QUE LUZ, QUE CALOR, QUE MULTIDÃO DE INSETOS!
Pobre
poeta! Para seu próprio bem, você não está mais aqui. Um seu colega de
intelectualidade que também deixou a pocilga Brasil há pouco, o Grande Mestre
do Saber Antônio Cândido, antes de morrer, desgostoso com as condições adversas
para os raríssimos homens dignos que por aqui ainda existem, disse à filha que
se sentia expulso do Brasil. Aqui é o lugar ideal apenas para a massa ignara de
iletrados religiosos, canalhas de todos os matizes imagináveis e inimagináveis,
além de imbecis aficionados ao pão e circo. Por aqui, moleques sem qualquer
noção de sociabilidade são elevados à categoria de famosos e tratados como reis.
No dia 13 deste mês de maio, desci do apartamento para jantar no restaurante do
hotel Mercure na Av. Prof. Magalhães Neto em Salvador, mas fui escorraçado
pelos gritos e algazarra que faziam vinte ou trinta jovens jogadores de
futebola. Voltei e pedi o jantar no apartamento porque o restaurante parecia um
chiqueiros de porcos quando se coloca lavagem nos cochos. Aqueles jovens representam com perfeição o
tipo de gente desta terra de brutamontes espirituais. Você, caro poeta, fez bem
em sair deste antro de marginais safados, ou teria que sofrer muito mais do que
apenas se sentir deslocado. Os rios a que você se refere, poeta, viraram esgotos.
Os insetos, o contato com o sangue pestilento dos brasileiros amorais e
imorais, sofreram mutação e se tornaram também tão degenerados a ponto de
danificar o cérebro das crianças ainda em gestação. As florestas foram
transformadas em dinheiro e as feras que lá moravam foram mortas juntamente com
os índios. As que não morreram foram trazidas para as cidades para serem
apreciadas por idiotas mediante pagamento para estacionar o carro e ingresso. As
crianças, nobre poeta, às quais você se dirige em seus patrióticos e
maravilhosos versos, elas foram transformadas em esmoleres, bandidos e presidiários
que encontram nas drogas algum alívio momentâneo, uma ilusão de felicidade cuja
consequência lhes aumentará a infelicidade. As que escapam de tão medonho destino,
graças a uma educação voltada exclusivamente para ganhar dinheiro, tiveram
castradas de sua personalidade as qualidades que dignificam o homem e foram transformadas
em monstros à busca de riqueza com a mesma voracidade com que as feras atacam
suas presas. Vítimas de um sistema educacional que implanta nas crianças a
cultura do TER, elas se tornam jovens que agem como robôs programados para avançar
uns contra os outros a fim de obter algum tipo de vantagem. São profissionais
da área de saúde extorquindo quem deles precisa, inclusive estuprando suas
pacientes. São advogados compartilhando com ladrões para ficarem com uma parte
do roubo. A não ser atividades criminosas, a única coisa a que se dedicam as
pessoas nessa terra amaldiçoada são as imbecilidades do pão e circo. Na
verdade, senhor poeta, nosso país apodreceu. A imoralidade alastrou de modo tão
contundente que procurar acompanhar os acontecimentos pela imprensa como faz
toda pessoa normal, causa insuportável mal-estar porque as notícias giram exclusivamente
em torno de crimes. Dão conta de ter sido a administração pública tomada de
assalto por bandidos dos mais cruéis que agem livremente contra uma população
que apesar de imensos sofrimentos vive festejamentos intermináveis. Ler jornal,
ver televisão e ouvir rádio causa sensação de completo desamparo e medo. Tudo
gira em torno de violência. O ministério público denuncia quadrilhas
dilapidando o erário e uma plêiade de advogados amorais, a fim de levar parte
do roubo, procuram as picuinhas legais adredemente preparadas para possibilitar
que tais advogados encontrem meios de proteger ladrões ricos. Eis o que diz o
doutor Deltan dallagnol na página 25 do livro A LUTA CONTRA A CORRUPÇÃO: “Somos o único lugar do mundo com quatro
instâncias de julgamento: juiz, tribunal de apelação, Superior tribunal de
Justiça e Supremo Tribunal Federal”. E, na página 22 do mesmo livro: “A prescrição é uma espécie de cancelamento
do caso criminal pelo fato de seu trâmite na justiça ter demorado muito tempo
sem chegar a um fim – ainda que a demora decorra exclusivamente do excesso de
trabalho do judiciário ou do exagerado número de recursos interpostos”. Na
página 36, temos o seguinte: “O sistema
recursal, conjugado ao prescricional, cria uma verdadeira máquina de impunidade.
O primeiro atrasa os processos, o segundo cancela as punições por causa desse
mesmo atraso”
São as
saídas ardilosamente engendradas pelos responsáveis pela administração pública
para lhes permitir roubar e ficar por isso mesmo porque a imoralidade da
prescrição ocorre antes que o processo tenha percorrido todo esse trâmite com
as interrupções dos recursos interpostos malandramente pelos advogados
parceiros dos ladrões. Ante situação verdadeiramente escabrosa, o que faz a
juventude? Absolutamente nada! Como podem os jovens ser tão estúpidos a ponto
de assistirem indiferentes escorrer pela tubulação do Jornal Nacional os
recursos de dar melhores condições de vida aos necessitados, amenizando a
violência que se alastra espantosamente e que devorará os filhos destes jovens
apalermados ligados unicamente em vestibular e futucar telefone? Inté.
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