quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

ARENGA 540



         No tocante à posição ridícula deste belo país de triste sorte (e povo), o livro – TEM SAÍDA? – apresenta duas sugestões, ambas de uma infantilidade que lembra a criança emburrada por não poder levar para casa o buraco que tinha feito na areia da praia. A primeira sugestão diz o seguinte: “A saída, nessa lógica, seria aprovar um pacote de austeridade e reformas de enxugamento do Estado”. Ora, austeridade significa aplicar corretamente os recursos públicos, o que significa não gastar mais do que o necessário para cada obra.  Assim, é infantilidade supor que as “autoridades” e as empreiteiras concordariam em perder sua fonte de riqueza.

Na mesma infantilidade incorre a segunda parte da primeira sugestão porque enxugar o Estado quer dizer privatização. Mas, o que é a privatização senão mais uma das muitas modalidades de atochar o ferro no rabo dos frequentadores de igreja e requebradores de quadris no axé e no futebola? Alguém tem dúvida? Então leia o livro Privataria Tucana e o resultado das pesquisas do jornalista de verdade Hélio Fernandes no jornal Tribuna da Imprensa, que por contrariar os interesses inconfessáveis dos ricos responsáveis pela miséria do mundo, foi obrigado a desaparecer.

A segunda sugestão também infantil diz o seguinte: “Precisamos romper com essa lógica e propor outro modelo econômico para o País, a começar por romper com a subordinação à lógica do superávit primário. Não é possível que o Brasil siga utilizando os recursos do esforço produtivo do País para pagar juros de uma dívida que sequer passou por auditoria. Uma dívida que, quanto mais se paga, mais cresce”. Se a política vigente no mundo tem exatamente a função de tirar dos pobres para dar aos ricos, e sendo a agiotagem parasitária a forma mais eficiente de tirar de quem precisa para dar a quem não precisa, isto é, os ricos, não há que cogitar de estancar a sangria pela dívida externa. Na lógica dos ricos que parasitam a sociedade, errado seria fazer uma auditagem sobre a dívida porque a conclusão seria de que teriam de devolver grana bastante para não precisar de reforma da previdência. No que diz respeito ao “quanto mais paga mais deve”, está perfeitamente dentro da lógica da agiotagem que encontra nessa republiqueta de banana e de canalhas seu ambiente perfeito porque a vantagem do agiota está justamente nos juros. É por isso que os credores parasitas não querem receber o principal. É como o carrapato que só leva vantagem enquanto o boi existir. Saldar a dívida, para os agiotas, é o mesmo que matar o boi, para o carrapato.

O único problema que existe no mundo é a falta de reflexão sobre a vida. As pessoas se preocupam exclusivamente com seu lado material e não têm tempo de pensar no lado espiritual. Afirma-se até que a vida deve ser dedicada a adorar deus. Pode haver mais insanidade? Se deus não leva vantagem alguma em ter saco puxado por meio da adoração, os puxadores do saco dele perdem muito em não cuidarem para que seus filhos tenham condições de viver daqui a mais alguns anos porque a situação já está tão desgraçada que se não chove acontecem as terríveis consequências da falta d’água, mas se chove acontecem as terríveis consequências das enchentes. E haja saco para tanta burrice. Inté.






quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

ARENGA 539


O filósofo brasileiro Marildo Menegat, no livro As Críticas do Capitalismo em Tempos de Catástrofes, dá uma grande lição ao mundo ao recomendar a necessidade de repensar Marx. Isto é exatamente o contrário do que dizem mundo afora os defensores ferrenhos que acompanham qualquer tipo de governo, por mais torpe que seja. Aliás, todo e qualquer governo se fundamenta na torpeza de usar da facilidade com que a população se deixa levar, para, com isto, tirar proveito dela de forma tão canalha que vieram os governantes a se constituírem numa casta tão privilegiada que para ter vida faustosa basta ser bamba na arte da canalhice de fazer a massa bruta e festiva de povo acreditar estarem as “autoridades” interessadas em seus problemas. Empresários negligenciam suas empresas para fazerem parte de governos dada a facilidade com que adquirem nova fonte de renda com nova forma de levar vantagem sobre a população. O que há de mais interessante nisso tudo é que a população, como criancinhas de colo, se deixa engabelar pelo séquito de defensores que acompanha todo governo como a matilha acompanha o caçador, e que nem sob tortura admite a necessidade de se buscar algo de novo, alguma coisa diferente desta realidade de ter sido a população escravizada pelas “autoridades”.

Mas o objetivo desta “prosa” é meditar sobre a necessidade de repensar Marx, aventada pelo filósofo brasileiro, porquanto a matilha que acompanha os governos cai de pau prá cima daquele velho pensador. Pelo menos uma das muitas recomendações feitas pelo odiado Marx, merece profunda reflexão: aquela que diz ser necessário mudar o mundo em vez de apenas analisá-lo como fizeram os filósofos até aqui. Não obstante a turba de lambe-botas de qualquer forma ou sistema de governo, é indiscutível a sensatez da afirmação do velho Marx.

Estas conjecturas me ocorreram ao encontrar o seguinte trecho na página 53 do livro A Ética Protestante E O Espírito do Capitalismo, de Max Weber: “O som de teu martelo às cinco da manhã, ou às oito da noite, ouvido por um credor, deixa-o tranquilo por mais seis meses; mas se ele te vir à mesa de bilhar, ou ouvir tua voz em uma taverna, quando deverias estar ao trabalho, reclama o seu dinheiro no dia seguinte ...”.

Muito ouvi falar na universidade sobre o senhor Weber como figura proeminente no mundo da intelectualidade. Entretanto, neste pequeno trecho, vê-se que sua filosofia é a mesma dos egressos das Harvards do mundo quanto à valorização acima de tudo da necessidade de trabalhar e trabalhar sem parar para produzir riqueza. Mas, se desta orientação, seguida no mundo inteiro, resultou em se encontrar o mundo nesse estado de infelicidade crônica envolto em beligerância, fome, doenças, sofrimento e desassossego, não é de se botar fé na recomendação do senhor Weber, ao passo que não se pode dizer a mesma coisa da recomendação de Marx quando afirmou ser necessário mudar o mundo. Disto não se pode discordar porque o mundo se encontra na situação absurda de estar noventa e nove por cento da riqueza existente em mãos de apenas um por cento da população, resultando daí ter se tornado grande babaquice trabalhar duro como recomenda o senhor Weber porque parte do produto desse “trabalhar duro” vai para a riqueza dos ricos e outra parte para os miseráveis dependentes de assistência social a título de esmola. Seguir a orientação do senhor Weber, na verdade, significa trocar a vitalidade pelo direito de comer, se abrigar e levar as crianças para conhecer a Disney. Onde fica a nobreza, a diferença que faz ser um ser humano? Tirando a Disney, as demais atividades também são comuns ao asno e conhecer a Disney é também asnice.

“Trabalhar duro”, na verdade, é parte do pão e circo. Talvez a parte mais eficiente porque se os outros elementos do pão e circo: religião, esportes e festas têm por objetivo de impedir o desenvolvimento do raciocínio, fazendo com que o racional se comporte como o irracional, o “trabalhar duro”, além de não deixar tempo para a meditação, ainda contribui para satisfazer a avareza dos ignorantes ricos donos do mundo em sua tarefa satânica de abastecer suas caixas-fortes dos infernos fiscais com o suor da cara de quem trabalha duro. Assim, pois, inté.  

      


terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

ARENGA 538


Ao escrever o romance Servidão Humana, que gira em torno da dependência total de Philip ao amor de Mildred, certamente que o autor não tinha a intenção. Mas a realidade é que o escritor William Somerset Maugham ao escrever o romance representou com perfeição absoluta a dependência da humanidade a líderes. Enquanto a humanidade não parar um instante e meditar sobre sua realidade estará em relação a seus líderes na mesma situação de dependência em que se encontrava Philip em relação a Mildred por força de uma paixão total. A única diferença observável é que Mildred não era responsável pela dependência decorrente da paixão de Philip que o tornava escravo da vontade dela. Ao contrário, no que diz respeito à dependência da humanidade aos líderes, ela não só foi criada, mas também é alimentada por eles com objetivo de explorá-los, razão pela qual é falsa sua liderança. Os fabulosos templos que falsos líderes dizem ser casa de deus são apenas postos de arrecadação de imensas riquezas. Os palácios da administração pública não passam de antros onde são urdidas as mais perversas resoluções sobre o destino da humanidade. Tudo que é dito tanto nos primeiros quanto nos segundos não passa de mentiras. Ao se colocarem como intermediários entre deus e o ser humano os falsos líderes religiosos desempenham o mesmo papel que desempenhavam os vendedores das indulgências que em troca de dinheiro davam ao indigno de deus o direito de entrar no reino divino. Já nos palácios dos falsos líderes políticos o engodo não é diferente porque enquanto os falsos líderes que os habitam, apesar de receberem salários pagos pelos seres humanos, são, na verdade, mais do que seus patrões uma vez que decidem sobre a vida ou morte de seus liderados ao colocar um fuzil em suas mãos e mostrar-lhes o caminho da guerra.

Assim tem sido desde que se tem notícia da existência humana e isto significa que a humanidade sempre se colocou a serviço de um senhor. Sendo esta a realidade a que chega quem quer que se dedique a pensar sobre o assunto, o que acontece com cada vez maior número de pessoas. Até aqui os aboletados em vida faustosa têm conseguido manter a massa bruta de povo entretida com o pão e circo. Mas, nem é bom pensar no que acontecerá quando esta massa bruta perceber estar sendo feita de palhaça sem graça. Isto já aconteceu algumas vezes e o resultado não foi bom nem para os trouxas e nem para os que fazem as pessoas de trouxas conformadas em ter o rabo esfolado para que seus senhores acumulem fortunas que por maiores que sejam, servirão apenas como meio a ser usado para fazer mais fortuna, e assim por diante.

Os pais conformados em ser trouxas com seus filhinhos nos carros de supermercado ao lado dos galões de refrigerante devem pensar se há mesmo razão para que eles não reflitam sobre a possibilidade de haver racionalidade no que dizem as pessoas esconjuradas pelos ricos donos do mundo através de seus sabujos, os papagaios de microfone. Um começo seria conhecer o resultado de uma reforma agrária tida como coisa do diabo pelos papagaios de microfone em oposição ao agribiuzinesse que os papagaios de microfone endeusam nos meios de comunicação em troca da despensa abastecida. Mas é preciso, antes de tudo, saber realmente o que é reforma agrária. Inté.  

domingo, 24 de fevereiro de 2019

ARENGA 537


Os jornalistas Raphael Silva Fagundes e Wendel Barbosa perguntam no jornal Le Monde Diplomatic Brasil o motivo pelo qual o sistema educacional brasileiro não segue a orientação do educador Paulo Freire. Coisas assim me intrigam. Se até eu sei o motivo, como podem intelectuais desconhecer? O motivo é que ao sistema capitalista que dita as regras no mundo, razão pela qual o mundo é esta merda que é, a esta monstruosidade interessa um povo alheio à noção de sociabilidade. Um povo tão alheio que passa a juventude festejando e a velhice chorando. Um povo que não liga para os assuntos pertinentes à qualidade de sua vida, mas que se preocupa com o resultado do exame de urina do jogador de futebola. É um povo assim que interessa ao capitalismo, sistema para o qual povo é apenas uma peça da máquina de fazer dinheiro. Daí o motivo pelo qual o sistema educacional por ele foge do sistema educacional proposto por Paulo Freire como o diabo foge da cruz porque Paulo Freire sugere uma educação que formasse cidadãos enquanto que os ricos capitalistas querem uma educação que forme burros-de-carroça. Paulo Freire jamais instituiria o ensino religioso que está aí de volta ao sistema educacional capitalista porque a religião ensina a não se preocupar com a qualidade de vida aqui na Terra porque há uma vida plena de qualidade depois de morrer. Este aprendizado faz com que pobres se interessem menos em saber o porquê do beijo do Papa no pé do infeliz do que em saber o motivo pelo qual tem de amargar o corredor do hospital enquanto uma montanha de dinheiro é desbarata pelaí. Enquanto o povo tiver o pensamento ligado nos passos do sambista, no chute do futebola, no beija-pé do Papa, no silicone da “celebridade”, na ausência de cueca no “famoso”, não se interessará em saber se é verdade o que dizem os livros Honoráveis Bandidos, O Chefe e Privataria Tucana. Resumindo: é para ter um povo na condição reles de povo, uma juventude indigna de merecer esta qualificação pela apatia, pela falta de inciativa, pela indiferença quanto ao seu futuro, que o sistema educacional foge da orientação de Paulo Freire. Simples assim. Inté.




sábado, 23 de fevereiro de 2019

ARENGA 536


Portadores de imensa maldade e instinto de feras, os homens perceberam a necessidade de conter sua fúria assassina. Para isto criaram uma autoridade espiritual que morava no céu e lhe deram o nome de Eu Sou. Esta entidade apareceu a Moisés na forma de labaredas e mandou que ele fosse ao Egito em Seu nome e dissesse ao Faraó que Eu Sou mandou dizer a ele que parasse de judiar dos judeus. Como o faraó não soubesse quem é Eu Sou, mandou Moisés às favas. Mas se deu mal porque Eu Sou botou prá quebrar prá cima dele, mostrando-se também tão mau quanto todo mundo. Encheu de praga os egípcios, transformou em sangue a água do Nilo, matou o primeiro filho dos casais do mesmo modo como o faraó tinha mandado matar os filhos dos hebreus, uma zorra total. Por fim, ante as peripécias e as maldades de Eu Sou, o faraó percebeu que o buraco era mais embaixo e deixou que os hebreus voltassem para a terra onde abundava leite e mel. Mas depois se arrependeu e foi atrás de Moisés e a turba que ele conduzia. Só não se ferrou de vez porque para isto existe o povo. Tirou o corpo fora e mandou a soldadesca prosseguir pela brecha que Eu Sou tinha aberto Moisés e seu povo passar no Mar Vermelho e ficou do lado de cá a olhar o que acontecia. Aconteceu que Eu Sou fechou a brecha e os soldados, muitos dos quais pais de família, como sempre, se racharam. Como a maldade humana continuasse sendo o “quente” da humanidade, criaram-se “autoridades” de carne e osso que punissem diretamente as maldades dos maus. Mas como as “autoridades” eram também seres humanos, portanto, também maus, a maldade continuou até hoje e está cada vez pior porquanto praticadas em maior escala ainda pelas autoridades encarregadas de coibi-las. Estará a humanidade condenada a ser má eternamente? Porque é maldade das maiores o comportamento adotado de o mais forte ter o direito de tomar do mais fraco aquilo de que ele necessita para viver. Se não se pode negar ser isto uma grande maldade, por que, então, os egressos das Harvards do mundo o recomendam apenas em troca da despensa abastecida? Eles pensam que todas as demais pessoas são tão bobas a ponto de acreditar que os recursos tomados pelos mais capazes ou mais fortes dos menos capazes ou mais fracos serão usados para dar emprego aos menos capazes, com o que estariam promovendo bem-estar social. Como são bobinhos esses meninos .... Todo mundo já sabe, porque Marx ensinou, que por meio do emprego os mais capazes tiram dos menos capazes recursos não para promover desenvolvimento, mas sim para acumular nos infernos fiscais a fim de ter o direito de fazer pose na revista Forbes.

E os mais fortes tem razão porque os mais fracos também conhecidos como povo merecem mesmo é safanão no escutador de novela, BBB, Fazenda e notícias sobre “famosos” e “celebridades”. Quem manda não se ligarem nas coisas que lhes dizem respeito? Quem manda caírem como patinhos nas armadilhas do pão e circo que os mais fortes armam prá eles? Quem manda irem na conversa dos papagaios de microfone de ser o esporte importante, se importante é ter saúde, casa, comida e segurança? Quem manda serem tão infantis que acreditam ser verídica a história de Eu Sou? Afinal, quem manda serem tão burros os menos capazes, que são a mesma coisa de mais fracos, que são a mesma coisa de povo? Inté.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

ARENGA 535


No Yotube, os jornalistas Fábio Panunzio, Fernando Mitre e Antônio Teles entrevistam o filósofo Mário Sérgio Cortella sobre Jesus Cristo. Os entrevistadores demonstram grande conhecimento sobre o assunto, e o entrevistado dá um verdadeiro espetáculo de erudição, esclarecendo, inclusive, a diferença entre místico e mítico. Em outra fonte de informação, o livro Entender Filosofia, Editora Leya, Dave Robinson e Judy Groves, seus autores, sugerem que os primeiros filósofos, os sofistas, puderam se dedicar à arte de pensar graças à ociosidade, porquanto naquela época eram os escravos que trabalhavam. Fazendo-se de conta ser filósofo e pensando sobre estas duas fontes de informação, chega-se a duas conclusões: a de que os seres humanos não pensam porque suas atividades não lhes deixam tempo para isto e a de que os poucos que pensam o fazem por força da atividade de suas obrigações. Como para falar é preciso pensar antes sobre o que se vai falar, os poucos que pensam o fazem pela mesma obrigação que têm todos os trabalhadores: executar as tarefas que lhes são determinadas pelos patrões. É aqui que está o porquê de apesar de tanta erudição, as conclusões das poucas pessoas que pensam passam ao largo de qualquer importância do que diz respeito à qualidade de vida, ao contrário da conclusão a que chegou o pensador Carl Marx quando afirmou sensatamente que os filósofos têm se limitado a descrever o mundo, mas o de se precisa é mudar o mundo.

É sobre a necessidade de mudar o mundo que devem se ater as atenções. O comportamento da humanidade equivale ao comportamento da tripulação que embora se encontrando num navio fazendo água, se recusasse a reconhecer um problema a ser resolvido e prosseguisse viagem como se nada estivesse acontecendo. O fedor que toma conta das cidades, a ingestão e inalação de venenos, a extinção das águas potáveis, a exacerbação das secas e das enchentes, o apossamento da riqueza do mundo por apenas um por cento de sua população, o uso da terra para produzir riqueza através de negociatas, a estrutura social em forma de pirâmide na qual os abastados ocupam a pontinha do vértice, a base de necessitados, e praticamente todo o corpo ocupado por escravos obrigados a manter a pose dos abastados do vértice e mitigar a fome dos necessitados da base, tudo isso evidencia a necessidade de mudança a que se referia Marx. Embora indiscutível a sensatez desta afirmação, é, contudo, negada pela obtusidade mental dos ocupantes da pontinha da pirâmide por meio de defensores por eles assalariados para manterem no ar a peteca da distorção dos assuntos apresentados pelos meios de comunicação de sua propriedade. É aqui onde está a explicação de tanta conversa jogada fora enquanto a extinção da vida se torna cada vez mais presente.

Apesar de causar espanto esta realidade, espanto ainda maior causa o fato de permanecer a humanidade num eterno coma induzido que a torna indiferente à situação terrivelmente adversa a que está sendo conduzida em função da falsa necessidade de riqueza que orienta o comportamento dos seus condutores. Desta forma, para que ocorra a mudança capaz de redimir o comportamento estúpido da humanidade é necessário que ela desperte do sonambulismo fantasioso que a leva a festejos, foguetórios e curtição de demonstrações estéreis de erudição quando o ambiente está mais para luto. Inté. 

    


quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

ARENGA 534


O criador de O Poderoso Chefão III, Mario Puzo, faz um personagem pronunciar uma frase que merece meditar a respeito: A política e o crime são a mesma coisa. Apesar de extraordinária a observação, peca por excluir a religião uma vez que ela participa com igual dose dos crimes em torno dos quais gira o enredo do filme. Nem por isso deixa de ser o raciocínio uma aula prática sobre a realidade da vida, embora passe despercebida da massa bruta de povo que assiste ao filme devorando ruidosamente pipoca extremamente salgada e mamando a garapa da caneca de coca-cola. A malta que entra na sala de projeção com um saco de pipoca e um balde de coca-cola está a anos luz da capacidade de extrair alguma lição das muitas que a boa arte dá. Daí a dificuldade que tem o povo em superar a condição reles de povo. É o povo que coloca ladrão, palhaço, lutador de box e jogador de futebola em cargos públicos que deveriam ser ocupados por filósofos, como disse Platão. Daí poder-se afirmar ser pura perda de tempo o tergiversar de intelectuais sobre os defeitos da democracia porque ela nunca chegará a bom termo se os responsáveis pela administração pública são elevados a seus cargos por um povo que lava em solenidade escadas de igreja; que despeja toneladas de presentes no mar para Iemanjá; que desembesta ladeira abaixo na São Silvestre; que se orgulha de ser carneiro de deus; que escreve “presente de deus” no carrinho peba; que se emociona quando o Papa beija o pé do mendigo ou quando a bola toca a rede; que dá celebridade e fama às “celebridades” e “famosos”; que espera eternamente providências das “autoridades” e das divindades; que passa à frente ou pede alguém da fila para fazer o que ia fazer. Considerando que isto aí é o elemento responsável pelo sucesso da democracia, por que será que intelectuais perdem tempo tergiversando sobre o seu fracasso, se ela além de ter por base o elemento reles povo, depende de maioria em vez de sensatez e inteligência? Só o fato de depender de maioria as decisões políticas na democracia basta para determinar-lhe o fracasso porque não existe número suficiente de pessoas probas para formar maioria honrada.

A realidade de ter a política se tornado um jogo de cartas marcadas a favor de uma minoria parasitária não escapa a quem não se enquadra na sentença de Leonardo da Vince que classifica quem nada aprendeu na vida como mero condutor de comida que deixa latrinas cheias como única marca de sua passagem pelo mundo. Entre as sociedades supostamente civilizadas não é diferente. Se nas sociedades consideradas civilizadas a política é um jogo de cartas marcadas a favor dos idiotas conhecidos como poderosos, nas repúblicas de banana as cartas nem precisam ser marcadas para que o resultado do jogo seja sempre a favor dos parasitas da sociedade porque estes malandros se acomodaram com tamanha tranquilidade que contam com aprovação de ministros da mais alta corte de justiça, o STF, enquanto a parte da população com discernimento bastante para comentar as notícias dos jornais se limita a fazer xingamentos, mas sem a desenvoltura mental suficiente para perceber a inutilidade desta participação porque o processo político está caindo de podre. E enquanto ele apodrece sob o olhar de uma juventude constituída de analfabetos políticos, a política gira em torno do disse-me-disse de comadres futriqueiras.

Desta forma, pode-se jogar na privada e dar descarga todo o converseiro da papagaiada de microfone sobre o que é porque a arrumação passa pela necessidade de uma juventude mentalmente sadia para substituir esta pobre juventude transformada pela cultura escravista dos parasitas sociais em meros futucadores de telefone. É verdade que a questão maior da humanidade é não poder prescindir de liderança num mundo onde o homem ainda é o lobo do homem. Mas, enquanto chega a hora de resolver esta questão, faz-se necessário voltar a atenção para a questão simples de analisar as informações recebidas para expurgar delas as que vão de encontro à realidade. Este procedimento levará inevitavelmente à exclusão da bandidagem política. Para começar a se tornar capaz de promover esta mudança inicial é bastante meditar sobre os conselhos que dá a papagaiada de microfone. Será verdade que os bancos têm por objetivo o bem-estar das pessoas, se eles arrancam delas bilhões e bilhões todo ano? Será verdade que o agribiuzinesse proporciona emprego e comida sadia, se expulsa para as cidades os camponeses e envenenam as pessoas? Não serão maiores as desvantagens para as agências de viagem do que para as pessoas que esvoaçam mundo afora instigadas pelos papagaios de microfone? Nenhuma consequência negativa advirá do fato de haver vários carros em cada família e vários telefones para cada pessoa? É natural inalar fedor de esgoto, fumaça preta dos carros e conviver com o ronco ensurdecedor de motos e alto-falantes? Se tais distorções são aceitas com naturalidade pelo povo é por haver algo de muito errado com ele. Que tal buscar o erro? Inté.








terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

ARENGA 533


Com tristeza se constata estar a atividade política resumida a canalhices e denúncias de novas modalidades de corrupção que se sobrepõem às antigas. Para maior tristeza, constata-se serem estes os assuntos que alimentam as futricagens do converseiro enjoativo da papagaiada de microfone que tem na atividade de falar a garantia da despensa abastecida. Se o “eu acho que” dos papagaios de microfone já é um chute no saco, o “eu acho que se o presidente pode admitir, também pode demitir”, é um chute duplo no saco. Por mais que se tagarele a respeito, é impossível tomar pé no lamaçal político. Afirma-se ser ladrão quem afirma não ser ladrão. Em meio a tamanha confusão, as pessoas capazes de indignação se perdem na bagunça generalizada. A conclusão a que se chega é de ser inútil a atividade política porquanto o único trabalho efetivo dos agentes políticos tem sido negar denúncias e quem comenta as notícias publicadas nos jornais demonstram um ódio mortal às autoridades. Ministros da mais alta corte de justiça são tratados de canalhas. E além de seus atos os impedirem de provar o contrário, o fato de se comportarem como se nada estivesse acontecendo prova serem merecedores do rebaixamento moral que lhes é atribuído e o asco que desperta na população os obriga a chegar sorrateiramente ao avião para embarcar. Se a realidade é que se trata de meliantes detestáveis, por que, então, o patrão deles, que é o povo, mantém empregados que detesta tanto? Ficam as pessoas sensatas sem compreender o que está acontecendo com a sociedade. E o pior de tudo é que a ação do pão e circo, que é o braço direito das Forças Ocultas, mantém o grosso da população envolvida na atividade agradar a deus e notícias dando conta de “famosas” com peitos e xoxotas à mostra. Estas pessoas jamais perceberão que a atividade política da qual dependemos todos passou a ter finalidades inconfessáveis uma vez que riquíssimos empresários ocupam cargos públicos. Sabendo-se ser o interesse de empresários o que a Lava Jato tem mostrado, tem-se outra incógnita: além de fazer a riqueza dos empresários, o povo ainda tem de lhes dar emprego.  A imprensa dá conta de que o povo paga a determinados empregados de estatais salários acima de cem mil reais mensais.

Tamanho é o desinteresse do povo nos assuntos da maior importância para ele que o presidente da Vale, aquela figura fantasmagórica evadida de algum sarcófago, cuspiu na cara da massa bruta de povo ser insignificante a morte de mais de trezentas pessoas ante a importância de sua empresa. Chega-se à situação em que pobres têm por única serventia se sacrificarem em benefício dos ricos, o que inclui a eliminação do excedente deles uma vez que procriando como ratos perturbam o sossego de seus senhores e donos comodamente instalados em mansões e palácios. O contingente asqueroso de povo, quase que ainda irracional, a saltitar no axé, no futebola e a lotar as igrejas, quando despertado para a realidade de ter tido o destino moldado pelos ricos para ser burro de carroça e bobo da corte, como tem acontecido através da história, proverá tamanha bagunça que não deixará pedra sobre pedra. Sabendo disto, e tendo descendentes a sofrerem as consequências, por que a falta de interesse dos intelectuais em divulgar a necessidade de dar coerência à política? O modo injusto como ela estrutura a sociedade desde sempre não encontra justificativa sob nenhuma lógica. Tomando-se como exemplo a administração do maior bem que se pode desfrutar porque sem ele nada mais desperta interesse, a saúde, tem-se que os empregados do povo, as autoridades, dispõem do que há de melhor, enquanto que o povo que paga tem de se contentar com a esmola das Santas Casas, do INSS e dos postos de saúde. É costume dos ricos achar que o necessitado não precisa mais do que esmola. Se a realidade é estar tudo errado, por que a classe intelectual se comporta de modo a parecer não haver nada de errado?

Acabei de desperdiçar o dinheiro da compra de mais dois livros de expoentes da intelectualidade tergiversando sobre os acontecimentos históricos, pura erudição estéril porquanto não há uma palavra sequer sobre a causa de todo o transtorno e que outra não é senão a atual estrutura social esquisita montada pelo sistema político, visando beneficiar a classe parasitária de sempre. Um destes livros é COMO AS DEMOCRACIAS MORREM, de Steven Levintsky e Daniel Ziblet. O outro é A ERA DOS EXTREMOS, de Eric Hobsbawn, malgrado os elogios rasgados de outros intelectuais também inúteis, restringem ambos à repetição do que fizeram ou deixaram de fazer personagens históricos. O foco das atenções de quem é capaz de escrever livros e incapaz de prostituir sua consciência deve ser a inexplicável situação de se ter transformado em pária social a maior parte dos integrantes da sociedade humana. Está tudo tão errado que foi eliminada na juventude a capacidade de raciocinar, o que se deve unicamente à necessidade que têm os responsáveis pela administração pública de uma juventude composta de autômatos futucadores de telefone no lugar de uma juventude vivaz e inteligente, capaz de perceber a indispensabilidade de substituir nos três poderes a mentalidade embolorada de velhos, e de jovens, todos alheios ao sentimento de honra e da nobreza de compromisso com o cumprimento do dever. É sobre isto que se devem voltar as atenções. Inté.

  

 




sábado, 16 de fevereiro de 2019

ARENGA 532


Bilhões, trilhões, quaquilhões de palavras e toneladas de papel são desperdiçados numa futricagem interminável e inútil sobre corrupção. Procura-se saber qual o país mais e o menos corrupto, o porquê da corrupção, etc. e tal. Passa despercebido a toda esta futricagem ser a corrupção inerente ao poder. Como a organização social desde sempre se baseou no poder, tem-se a inevitabilidade da corrução. Quanto maior a ignorância daquele a quem é atribuído poder, pior o uso deste poder. Quando eu era menino e morava na Praça do Camacan, em Itapetinga, lembrança que para minha decepção e mesmo tristeza em relação à humanidade permanece viva, não sei se por pura perversidade ou se para avisar aos ladrões em potencial o que aconteceria com eles, de um jeito ou de outro um exemplo de mau uso de poder, vi dois soldados prá cima e prá baixo conduzindo e fustigando com a brasa dos cigarros um preso com a metade da cabeça raspada. Àqueles dois soldados era inteiramente impossível ocorrer a percepção de que aquela pessoa a quem eles faziam sofrer física e moralmente era um pobre como eles. Apenas não fora agraciado com uma farda, um salário e o título pomposo de soldado que lhe colocasse acima das demais pessoas uma vez que lhe dava autoridade para portar arma, prender e castigar. À falta de percepção destas coisas dá-se o nome de ignorância. Vê-se, portanto, que o termo “ignorância” não tem sempre conotação ofensiva. Ela existe necessariamente para preencher o lugar ainda vago no cérebro a ser ocupado pelo conhecimento. No que diz respeito à qualidade de vida, o conhecimento a ocupar o lugar da ignorância seria o conhecimento de nossa irmandade e da sublimidade existente na solidariedade e na cooperação, ou sociabilidade. Nesse sentido, como naqueles dois soldados, também em absolutamente todos os seres humanos o lugar no cérebro destinado ao conhecimento de sociabilidade continua ocupado pela ignorância uma vez que não existe uma só pessoa no mundo cuja única preocupação na vida não seja levar vantagem sobre os demais a fim de amealhar para si e os seus. Como o lugar do conhecimento de haver necessidade de solidariedade, irmandade e cooperação continua vago no cérebro dos seres humanos, qualquer deles de recebe poder tende natural e inevitavelmente a agir como aqueles dois soldados.

Assim, nada há a estranhar que autoridades e empresários se mancomunem para amealhar riqueza ainda que tirada de pobres que precisam comprar remédios, consultar médicos, andar de ônibus, comer, vestir e morar. É que no cérebro das autoridades o lugar do conhecimento ainda é ocupado pela ignorância de sociabilidade. O que é de se estranhar é a concordância da humanidade em não procurar um meio inteligente de levar conhecimento onde impera a ignorância materializada na pompa dos palácios e da vida faustosa custeada pelos bufões (e cagões) da corte. Inté.  


sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

ARENGA 531


O livro Operações Mãos Limpas e Lava Jato – a corrupção se olha no espelho –, de Rodrigo Chemim, poderia ter prestado serviço infinitamente mais benéfico à humanidade do que efetivamente prestou se em vez de falar sobre corrupção tivesse desenvolvido o detalhe dos cartazes portados pelo povo italiano quando protestava contra a corrupção, e que não escapou à percepção do autor. Esclarecendo: Na página 18 do livro citado consta que nos cartazes lia-se a frase “Deixai toda a esperança, vós que votais”, copiada com modificação da monumental obra de Dante Alighieri A Divina Comédia, “deixai toda a esperança, vós de entrais”, grafada na porta de entrada do inferno. A ideia de unir a impossibilidade de se ter esperança (em algo de bom) tanto para quem entra no inferno quanto para quem escolhe líderes nas eleições é tão brilhante quanto a ideia de Rodrigo Chemim em nos dar conhecimento de terem os protestantes italianos feito esta comparação genial porque de eleições resultam nada mais do que isto que aí está: um conluio entre “autoridades para atochar o ferro no rabo do povo. Entretanto, desenvolver o tema sobre a inutilidade de eleições no tocante ao bem-estar social é mais importante do que discorrer sobre corrupção porque as eleições são a causa da desesperança, enquanto que a corrupção é o efeito. Como não se elimina o feito sem eliminar a causa, tem-se que discorrer sobre a corrupção é perda de tempo por ser impossível impedir que pessoas com personalidade modelada pela cultura do “cada um por si”, do “levar vantagem”, e a de ter a riqueza como norte para a atividade de viver possam se conter diante da montanha de dinheiro público sem avançar sobre ela.

Ao contrário do que afirma Olavo de Carvalho na introdução do livro Como Vencer um Debate Sem Precisar Ter Razão, de Arthur Schopenhauer, página 28, Editora Topbooks, que cada homem já nasce com sua filosofia pronta, tal afirmação não corresponde à realidade porque o modo de pensar, agir e se comportar de cada um, seu modo de encarar a vida (sua filosofia), depende mesmo é do ambiente no qual viveu a infância e juventude. Uma vez ingerida junto com o leite materno a cultura do levar vantagem sobre os semelhantes, é simplesmente impossível que por meio da eleição seja escolhido alguém que possa desprezar a brutalidade do instinto de rato. É por conta da influência da cultura de sua época que na página 3 de O leviatã Hobbes afirma que agressão verbal não é abuso se dirigida a subalterno.

Que fazer, então, se não se pode prescindir de liderança, e se ladrão não serve para líder, e se as pessoas que se propõem a líderes o fazem justamente por serem ladrões? Diante de tal situação, resta engendrar uma forma de substituir por outra a atual organização social porque do contrário matraquear-se-á eternamente sobre a incompatibilidade entre o que é e o que deve ser. Inté.  

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

ARENGA 530


O historiador Henry Thomas observou que o homem é um aluno terrivelmente atrasado na escola da vida. Realmente, tão atrasado que por incapacidade de perceber a vantagem da harmonia, embora desejando viver sossegado, nunca deixou de viver em conflito. Expoentes da intelectualidade, por burrice ou canalhice, garantem que na vida social a competição é superior à cooperação. Por isto é que há impropriedade em empregar o termo civilização de referência ao atual estado cultural da humanidade uma vez que ela ainda vive o barbarismo da matança dos tempos de bicho, tempo esse que em função da incapacidade de aprender é negado. A crença generalizada é de que o homem sempre foi como é hoje e existe apenas há seis mil anos. Desta forma, pode-se no máximo, como fez o historiador, falar que a humanidade se encontra no jardim de infância da civilização apenas. A ideia de infantilidade encontra fundamento na facilidade com que os seres humanos se deixam conduzir feito molambos ao vento. Indiferentes à possibilidade de estar sendo conduzidos para onde podem se dar mal, simplesmente deixam levar. Mas a falta de maturidade é denunciada também pela forma da organização social desajustada na qual a maioria produz para desfrute de uma casta privilegiada cujos membros, apesar de parasitar quem produz, são conhecidos por ricos, poderosos, autoridades, famosos e celebridades. Da mesma forma, a presença de palácios e mansões onde a classe parasitária levita acima de quem trabalha. Também esta realidade demonstra dificuldade para aprender as lições da vida. Embora os frequentadores de igreja, axé e futebola neguem os tempos de bicho, o espectro dos imperadores daquele tempo, senhores da vida e da morte, continua pairando sobre as “excelências” que em jantares monumentais decidem sobre a melhor maneira de fazer com que a população esteja sempre de acordo em ter o rabo esfolado pelas mais diversas modalidades de multas, impostos, taxas, dízimos, contribuições, etc. Como se não bastasse, a manifestação de infantilidade também se faz presente na conformação dos explorados com a esperteza dos exploradores em lhes negar informações sobre o que estão fazendo com os seus recursos, comportamento só explicado pela falta de percepção de que esta esperteza garante os desvios que dão origem à alega falta de recursos. A ninguém que tenha superado a infantilidade é dado o direito de imaginar que ricos empresários ocupam cargos públicos por terem mais apreço ao país do que às suas empresas, mesmo porque pátria de empresário é o lugar onde possa comprar por menor preço a maior quantidade de força-trabalho e vida de pobres.

Mas é no pão e circo do qual faz parte a religiosidade onde a infantilidade de mostra em todo esplendor. Ali, senhores de cabelos brancos ou sem cabelos, indiferentes ao que se passa nos bastidores do mundo esportivo, como crianças, se emocionam a ponto de xingar o juiz do espetáculo circense e fazer estardalhaço quando a bola toca a rede. Com não são mais crianças, não raro enfartam. Do mesmo modo, a religiosidade, uma vez que os dois têm por objetivo evitar que a mente dê voos mais altos e possa ver de lá de cima a malandragem que corre solta cá embaixo. À religiosidade cabe a tarefa de usar da infantilidade para convencer da boa-venturança lá no alto do céu depois da morte, razão pela qual não vale a pena buscar melhores condições de vida em vida. A necessidade do sofrimento serviu de mote a Martinho Lutero para desenvolver a teoria da Reforma Protestante. Segundo consta da página 185 de Uma Breve História do Mundo, de Geoffrey Blainey, Lutero argumentou que o direito de entrar no reino celeste através da compra de indulgência ia de encontro à determinação do Senhor de ser a penitência o meio pelo qual se adquiria esse direito.

É, pois, na falta de discernimento onde está a explicação para a crença de se chegar a bom termo entregando o destino a falsos líderes. Inté.













   










segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

ARENGA 529


Desperta, juventude brasileira incapaz de um só gesto de nobreza! Desperta, malta de indiferentes ao destino dos filhos e incapazes de um único gesto de nobreza espiritual! O país de vocês chegou a tamanho impasse moral que se tornou indigno de homens de caráter porquanto a atividade política, que é o norte da sociedade, virou uma lambança deprimente enquanto vocês, jovens, que são a força viva da sociedade cuidam de cachorrinhos, futucam telefone, frequentam igrejas e terreiros de futebola e axé e consideram como dever apenas graduar-se em alguma técnica que os torne serviçais da atividade de ajudar os imbecis ricos donos do mundo responsáveis pela inviabilidade do futuro das próximas gerações a se tornarem cada vez mais ricos e mais imbecis. Já não é mais admissível a pusilanimidade da juventude em estar de acordo que as pessoas por ela investidas de autoridade para promoverem o bem-estar social usem desta autoridade para cometer crimes. A nobreza da atividade política deu lugar à vilania de servir como meio de afanar recursos públicos com tamanha segurança que o ataque aos cofres públicos encontra vasta gama de modalidades e é exercido com tal tranquilidade que os afanadores desafiam petulantemente e escarnecem dos funcionários zelosos do dever. As notícias ou a sociedade enlouqueceu. Estão dando conta de que um ministro da mais alta corte de justiça do país disse que se ele for para a cadeia levará consigo os demais ministros. Mas isto é simplesmente o cúmulo dos absurdos porque se o próprio ministro admite a possibilidade de ir para a cadeia é por ser o bandido que as notícias na imprensa dizem ser. Entregar a um bandido a responsabilidade de exercer o cargo de maior autoridade judiciária do país destes jovens robotizados é algo realmente de uma insensatez imensurável. Se é que se chegou a tal ponto é porque está na hora de rever os conselhos dos filósofos pessimistas que recomendavam o suicídio como meio de ficar livre das mazelas que infelicitam. Inté.        










domingo, 10 de fevereiro de 2019

ARENGA 528


Os meios de comunicação reduziram o povo à condição de massa bruta tão bruta que o deixa incapaz de elevar o pensamento além de oração, axé, futebola, “famosos” e “celebridades”. Nesse exato momento a Rádio Bandeirantes AM de São Paulo acaba de dar um verdadeiro espéculo no cumprimento da obrigação de imbecilizar a juventude. O papagaio de microfone do momento dizia ter recebido de um ouvinte a comunicação de que gostaria muito de participar de corridas, mas que infelizmente perdera uma perna. É simplesmente de pasmar o que disse o papagaio de microfone: que isto não devia ser obstáculo porque o jovem de uma perna só poderia colocar uma prótese e participar das corridas ou mesmo se tornar um atleta cadeirante. Aí está, pois, o tamanho do desserviço que os meios de comunicação prestam à juventude. Não vá na conversa desses canalhas não, jovem de uma perna só. Se o fizer vai se tornar ridículo além de infeliz. Dedique-se a desenvolver sua capacidade mental através de boas leituras. É como você terá sucesso em prestar inestimável serviço à juventude ao se tornar capaz de mostrar aos outros jovens as armadilhas que estes capachos dos meios de comunicação os induzem tornando-os meros futucadores de telefone incapazes do menor gesto inteligente.

Ainda que unicamente por conta do resultado da observação, do conhecimento empírico, aos poucos a mediocridade mental coletiva vai cedendo lugar a algum esclarecimento visto que por menor que seja a inteligência ela é inerente mesmo no mais estulto dos seres humanos. Desta forma, será impossível que a papagaiada de microfone, capachos dos meios de comunicação consigam eternizar a servidão a que o povo vem sendo submetido desde que se tem notícia da invenção das divindades e dos governantes. Interessante é observar que os principais interessados na manutenção da mediocridade mental coletiva, os meios de comunicação, sejam eles mesmos os combatentes da mediocridade por eles defendida. Tomemos como exemplo desta realidade a notícia publicada pela Enciclopédia Wikipédia versando sobre o livro de Friedrich Engels, intitulado A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra. Até mesmo um garoto ligado em livros haveria de ficar intrigado com a repugnância que os papagaios de microfone a serviço dos meios de comunicação manifestam contra as ideias de Engels e seu companheiro de ideologia Marx. A notícia da Wikipédia dá conta de ter Engels denunciado as condições de penúria em que viviam os trabalhadores nas áreas industriais da Inglaterra que ele observou durante sua estada em Manchester, então o coração da Revolução Industrial inglesa. Quem lê livros sabe que na Inglaterra teve origem o que veio a ser chamada de Revolução Industrial, que deu origem ao consumismo, que deu origem à inviabilidade da vida na Terra ao trocar por dinheiro os recursos naturais indispensáveis à saúde. Engels registrou, por exemplo, que a mortalidade por doenças era mais alta nas cidades industriais do que no campo, principalmente de trabalhadores. Em cidades como Manchester e Liverpool, a mortalidade por varíola, sarampo, escarlatina e coqueluche era quatro vezes maior do que nas áreas rurais vizinhas, e a mortalidade por convulsões era dez vezes maior do que no campo. Além disso, a taxa de mortalidade geral em Manchester e Liverpool (onde se concentravam as indústrias) era significativamente mais elevada do que a média nacional. Levando ao conhecimento público tal realidade e considerando serem verídicas suas conclusões uma vez que da industrialização resulta a destruição das condições de vida no planeta, é de dar o que pensar o porquê de cair de pau os filósofos assalariados e a papagaiada de microfone sobre as ideias de Engels e seu companheiro de ideologia Marx, se o que fizeram foi mostrar à humanidade a burrice que é tornar inviável o futuro das novas gerações para que Tios Patinhas acumulem fortunas.

É necessário meditar sobre a possibilidade de não merecer credibilidade aquilo em que se acredita. Exemplo maior desta necessidade é a afirmação de ser a competição a melhor forma de se viver em sociedade. Os argumentos nesse sentido não resistem ao menor raciocínio porque são de uma falsidade visível. O livro A Moralidade do Capitalismo, por exemplo, diz ser o capitalismo um inovador sistema de geração de riqueza e transformações sociais que trouxe prosperidade para bilhões de pessoas. Como para bilhões de pessoas, se no mundo só há sete bilhões de pessoas apenas um por cento destes sete bilhões detêm para si noventa e nove por cento da riqueza do mundo? Como prosperidade se multidões de famintos se deslocam em busca de sobrevivência?  Como prosperidade se a maior parte da população não tem acesso à segurança e saúde e a educação ministrada tem por objetivo a formação de técnicos em produzir dinheiro, mas sem noção de cidadania, que ensinam a seus filhos a macaquice de festejar o Halloween? Um só momento de reflexão é suficiente para se concluir viver-se uma grande mentira em nome da preservação de um tipo de vida que se mostra irracional. Condena-se ao ostracismo quem manifesta bons conselhos e se endeusa parasitas sociais, elevando quadrúpedes mentais à condição de famosos e celebridades com o único objetivo de enredar a juventude numa tramoia tão grande que os jovens foram privados da vivacidade e curiosidade próprias de jovens mentalmente sadios. A vulgaridade toma o lugar da elevação espiritual. Jornal importante como Folha de São Paulo tem uma coluna sobre putaria e outra sobre cachorrinhos, considerados por mentes vazias mais importantes do que as crianças desamparadas que terão a violência no futuro como único instrumento de trabalho. No Yahoo notícias toma-se conhecimento do número de vezes que trepa determinado casal de “famosos”. Por trás disso tudo correm coisas do arco da velha que os meios de comunicação dos ricos donos do mundo procuram esconder atrás de sete chaves. É por meio destas safadezas que os meios de comunicação mantêm a juventude imbecilizada a futucar telefone enquanto tem o rabo esfolado na tarefa de se profissionalizar em alguma coisa para sustentar com seu trabalho palácios abarrotados de parasitas e a corrupção mostrada pela Lava Jato. Ao buscar saciar a incontida sede de riqueza do Mercado, mostro de cuja boca escorre baba de dragão, a humanidade marcha rumo ao impasse insuperável de se autodestruir em nome de um progresso do qual resulta a situação negativa observada por Engels, considerado inimigo social pelos verdadeiros inimigos da sociedade.

Está na imprensa que uma jovem deputada americana chamada Alexandria Ocasio-Cortez propõe que os Estados Unidos tributem a renda acima de 10 milhões de dólares anuais com uma alíquota de 60 ou 70%. Aí está uma sugestão que se adotada no mundo inteiro resolveria o problema da fome no mundo. Entretanto, tal sugestão encontra pela frente a realidade de que pagar imposto é para pobre. Nas páginas 26 e 27 do livro Política, Ideologia e Conspirações lê-se o seguinte:  “Um artigo publicado pela North American Alliance em agosto de 1957 revela que os membros da família Rockfeller, apesar de sua enorme riqueza, na realidade não pagam imposto de renda. O artigo revela que um deles pagou o enorme total de 685 dólares de imposto de renda em um ano recente. Os Kennedy são donos do Merchandise Mart de Chicago, de mansões, iates, aviões, tudo sob propriedade de uma miríade de fundações e trustes familiares. Imposto é para peão!

E assim marcha a humanidade: de rabo esfolado pelo ferro de parasitas sociais, mas feliz da vida por poder futucar telefone, ter os filhos estuprados por representantes de deus, fazer oração por quem foi soterrado pelas barragens e enchentes, abarrotar igrejas onde não raro encontra terroristas em vez de proteção, ver solenidade no ridículo beijo do Papa no pé do infeliz, acompanhar notícias sobre “famosos” e “celebridades” que não usam calcinhas e cuecas, lavar escadas de igrejas, saracotear no carnaval, emocionar-se pelo fato de ter uma bola tocado a rede, e imbecilidades que tais. Inté.


sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

ARENGA 527


A humanidade teima em não fazer uso da inteligência para concluir que desde sempre desempenha papel de idiota. Não há quadro mais revelador de desinteligência do que a multidão ovacionando seus carrascos na pessoa de falsos líderes, estupidez que se repete a cada eleição. À massa bruta de povo escapa a percepção de ser tão vã a esperança em novos tempos cada vez que novos líderes substituem velhos líderes quanto vã é a esperança de felicidade cada vez que um ano novo substitui um ano velho. O ser humano exorbita em termos de estupidez ao esperar que pessoas estranhas se ocupem da tarefa de resolver seus problemas. Nascidos e criados dentro da cultura individualista e predominante do cada um por si, é inteiramente impossível haver quem deixe de ser por si para ser pelos outros. Daí não passar de imbróglio, de uma palhaçada muito custosa, isso de Poder Executivo, Legislativo e Judiciário em relação ao bem-estar social porque os integrantes de todos os poderes estão preocupados unicamente consigo mesmos. Nem poderia ser de outra forma porquanto inexiste quem não tenha ainda em sua índole resquícios dos tampos de bicho, preservada pela cultura do cada um por si e o resto que se dane. A humanidade empacou na estupidez e de lá não sai. No mundo rural de antigamente onde fui jovem, costumava-se desempacar burro empacador colocando debaixo do rabo dele um coco verde de cansanção. Queimando como fogo, quanto mais o burro empacador apertava o rabo, mais o coco queimava, e quanto mais o coco queimava, mais o burro empacador disparava e apertava o rabo. Faz-se necessário, pois, colocar um coco de cansanção debaixo do rabo da humanidade para desempacá-la da inamovibilidade mental que a torna incapaz de perceber o quanto tem sido estúpida em deixar-se levar por espertalhões travestidos de líderes, canastrões que enredaram os seres humanos com um manto de falsidades tão envolvente que incapacita a humanidade de alcançar a percepção de viver uma eterna fantasia, realidade que salta aos olhos quando se observa que as pessoas consideradas as mais importantes da sociedade são, na realidade, as de nenhuma importância social por serem verdadeiros parasitas sociais. Este tipo de gente fica perfeitamente bem representada na pessoa de um jogador de futebola quando marca um ponto e se ajoelha e levanta as mãos e o rosto para o céu em agradecimento por lhe permitir ter sucesso.

Uma vez portadores de tamanha incapacidade mental os membros da sociedade humana, como se falar em civilização? A mesma competição própria do mundo dos irracionais é recomendada na sociedade humana por expoentes da intelectualidade humana que em troca da despensa abastecida se dispõem a distorcer a verdade e esconder a realidade, evitando que a coletividade se foque nas coisas realmente importantes do ponto de vista do bem-estar social. Mas a história mostra que de tempos em tempos os enganadores passam de esfoladores de rabo para rabo esfolado. Por mais que demore, por mais burra que seja massa bruta de povo, será impossível impedir a percepção de ser inaceitável a imposição ao povo da obrigatoriedade de sustentar parasitas sociais na vida nababesca dos palácios a urdirem tramoias contra a sociedade. Quem viver, verá. Inté.   

  










terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

ARENGA 526


Há sociedades humanas que torcem o nariz para outras sociedades humanas, convictas de sua superioridade em relação a estas. E o que há de mais curioso nisso é que as sociedades consideradas inferiores, acham-se realmente tão inferiores em relação às que se acham superiores que as invejam e, como macacos, procuram imitá-las copiando sua cultura, numa demonstração de baixeza mental. Entretanto, de acordo com a definição perfeita do historiador Henry Thomas de ser a humanidade constituída de seres estúpidos, nenhuma sociedade humana é superior em absolutamente nada uma vez que absolutamente todos os seres humanos têm comportamento ainda mais irracional do que os irracionais que, ao contrário dos humanos, são obrigados pela natureza a uma eterna disputa sanguinolenta pela sobrevivência, enquanto os humanos vivem uma eterna disputa sanguinolenta pela posse de riqueza. É mais do que perfeita a conclusão do historiador de ser a raça humana composta de seres estúpidos. Pode-se encontrar atitudes estúpidas até mesmo em seres humanos inteligentes como o filósofo Herbert Spencer ao inventar a teoria estúpida do darwinismo social. Afirmava aquela criatura que do mesmo modo como os animais e plantas, também os seres humanos mais fortes e mais capazes devem prevalecer sobre os mais fracos e mais incapazes, o que é de uma imbecilidade monumental. Dispondo os seres humanos da capacidade de raciocinar, não há como deixar de se concluir pela necessidade do sentimento de irmandade que a todos deve unir de forma tão absoluta que o menos capaz possa contar com a compreensão e o apoio do mais capaz em vez de ser destruído por ele.

É graças a ideias infelizes como a ideia do senhor Spencer e seus seguidores baba-ovos dos acumuladores de riqueza e promotores de infelicidades que juram de pé junto ser a competição superior à cooperação. Deve-se à sanha destes monstros antissociais o fato de estar o mundo próximo de se tornar inabitável. Estas tristes criaturas são verdadeiros assassinos. Cometem crime hediondo ao condenar crianças à morte por inanição ao impedir acesso aos alimentos em função da pobreza decorrente do apresamento em suas mãos criminosas dos recursos que a todos deveriam beneficiar. Deve-se ao egoísmo destes trastes antissociais a situação totalmente inaceitável de estar um por cento da humanidade de posse de noventa e nove por cento da riqueza do mundo. E o resto que se dane. É o modo estúpido de encarar a vida por estes espíritos malignos para os quais dinheiro é a coisa mais importante da vida. O grande erro desta forma de pensar só não já foi percebido por conta da estupidez que caracteriza a humanidade. É impossível deixar de se observar não haver necessidade de riqueza maior do que a necessária para que se viva com dignidade, constatação tão importante para se viver bem quanto a de que absolutamente todo ser humano tem direito a uma vida digna. O fato de cães e gatos terem vida mais digna do que seres humanos demonstra a dimensão imensurável da estupidez humana à qual se referia o historiador. É extremamente desagradável viver em meio a seres tão estúpidos que podendo fazer o mundo ser belo e agradável, limitam-se a lavar escadas de igrejas, encontrar motivo para fama e celebridade em toupeiras mentais, cultuar Iemanjá, Oxóssi, Rei Momo e matar e morrer em função do resultado de um jogo de futebola. Faz-se necessário inventar uma palavra capaz de descrever a imbecilidade humana porque estupidez é insuficiente para definir a mentalidade de quem se presta a ovacionar discursos de falsos líderes, por ser incapaz de perceber suas reais intenções. Inté.