quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

ARENGA 539


O filósofo brasileiro Marildo Menegat, no livro As Críticas do Capitalismo em Tempos de Catástrofes, dá uma grande lição ao mundo ao recomendar a necessidade de repensar Marx. Isto é exatamente o contrário do que dizem mundo afora os defensores ferrenhos que acompanham qualquer tipo de governo, por mais torpe que seja. Aliás, todo e qualquer governo se fundamenta na torpeza de usar da facilidade com que a população se deixa levar, para, com isto, tirar proveito dela de forma tão canalha que vieram os governantes a se constituírem numa casta tão privilegiada que para ter vida faustosa basta ser bamba na arte da canalhice de fazer a massa bruta e festiva de povo acreditar estarem as “autoridades” interessadas em seus problemas. Empresários negligenciam suas empresas para fazerem parte de governos dada a facilidade com que adquirem nova fonte de renda com nova forma de levar vantagem sobre a população. O que há de mais interessante nisso tudo é que a população, como criancinhas de colo, se deixa engabelar pelo séquito de defensores que acompanha todo governo como a matilha acompanha o caçador, e que nem sob tortura admite a necessidade de se buscar algo de novo, alguma coisa diferente desta realidade de ter sido a população escravizada pelas “autoridades”.

Mas o objetivo desta “prosa” é meditar sobre a necessidade de repensar Marx, aventada pelo filósofo brasileiro, porquanto a matilha que acompanha os governos cai de pau prá cima daquele velho pensador. Pelo menos uma das muitas recomendações feitas pelo odiado Marx, merece profunda reflexão: aquela que diz ser necessário mudar o mundo em vez de apenas analisá-lo como fizeram os filósofos até aqui. Não obstante a turba de lambe-botas de qualquer forma ou sistema de governo, é indiscutível a sensatez da afirmação do velho Marx.

Estas conjecturas me ocorreram ao encontrar o seguinte trecho na página 53 do livro A Ética Protestante E O Espírito do Capitalismo, de Max Weber: “O som de teu martelo às cinco da manhã, ou às oito da noite, ouvido por um credor, deixa-o tranquilo por mais seis meses; mas se ele te vir à mesa de bilhar, ou ouvir tua voz em uma taverna, quando deverias estar ao trabalho, reclama o seu dinheiro no dia seguinte ...”.

Muito ouvi falar na universidade sobre o senhor Weber como figura proeminente no mundo da intelectualidade. Entretanto, neste pequeno trecho, vê-se que sua filosofia é a mesma dos egressos das Harvards do mundo quanto à valorização acima de tudo da necessidade de trabalhar e trabalhar sem parar para produzir riqueza. Mas, se desta orientação, seguida no mundo inteiro, resultou em se encontrar o mundo nesse estado de infelicidade crônica envolto em beligerância, fome, doenças, sofrimento e desassossego, não é de se botar fé na recomendação do senhor Weber, ao passo que não se pode dizer a mesma coisa da recomendação de Marx quando afirmou ser necessário mudar o mundo. Disto não se pode discordar porque o mundo se encontra na situação absurda de estar noventa e nove por cento da riqueza existente em mãos de apenas um por cento da população, resultando daí ter se tornado grande babaquice trabalhar duro como recomenda o senhor Weber porque parte do produto desse “trabalhar duro” vai para a riqueza dos ricos e outra parte para os miseráveis dependentes de assistência social a título de esmola. Seguir a orientação do senhor Weber, na verdade, significa trocar a vitalidade pelo direito de comer, se abrigar e levar as crianças para conhecer a Disney. Onde fica a nobreza, a diferença que faz ser um ser humano? Tirando a Disney, as demais atividades também são comuns ao asno e conhecer a Disney é também asnice.

“Trabalhar duro”, na verdade, é parte do pão e circo. Talvez a parte mais eficiente porque se os outros elementos do pão e circo: religião, esportes e festas têm por objetivo de impedir o desenvolvimento do raciocínio, fazendo com que o racional se comporte como o irracional, o “trabalhar duro”, além de não deixar tempo para a meditação, ainda contribui para satisfazer a avareza dos ignorantes ricos donos do mundo em sua tarefa satânica de abastecer suas caixas-fortes dos infernos fiscais com o suor da cara de quem trabalha duro. Assim, pois, inté.  

      


Nenhum comentário:

Postar um comentário