sábado, 16 de fevereiro de 2019

ARENGA 532


Bilhões, trilhões, quaquilhões de palavras e toneladas de papel são desperdiçados numa futricagem interminável e inútil sobre corrupção. Procura-se saber qual o país mais e o menos corrupto, o porquê da corrupção, etc. e tal. Passa despercebido a toda esta futricagem ser a corrupção inerente ao poder. Como a organização social desde sempre se baseou no poder, tem-se a inevitabilidade da corrução. Quanto maior a ignorância daquele a quem é atribuído poder, pior o uso deste poder. Quando eu era menino e morava na Praça do Camacan, em Itapetinga, lembrança que para minha decepção e mesmo tristeza em relação à humanidade permanece viva, não sei se por pura perversidade ou se para avisar aos ladrões em potencial o que aconteceria com eles, de um jeito ou de outro um exemplo de mau uso de poder, vi dois soldados prá cima e prá baixo conduzindo e fustigando com a brasa dos cigarros um preso com a metade da cabeça raspada. Àqueles dois soldados era inteiramente impossível ocorrer a percepção de que aquela pessoa a quem eles faziam sofrer física e moralmente era um pobre como eles. Apenas não fora agraciado com uma farda, um salário e o título pomposo de soldado que lhe colocasse acima das demais pessoas uma vez que lhe dava autoridade para portar arma, prender e castigar. À falta de percepção destas coisas dá-se o nome de ignorância. Vê-se, portanto, que o termo “ignorância” não tem sempre conotação ofensiva. Ela existe necessariamente para preencher o lugar ainda vago no cérebro a ser ocupado pelo conhecimento. No que diz respeito à qualidade de vida, o conhecimento a ocupar o lugar da ignorância seria o conhecimento de nossa irmandade e da sublimidade existente na solidariedade e na cooperação, ou sociabilidade. Nesse sentido, como naqueles dois soldados, também em absolutamente todos os seres humanos o lugar no cérebro destinado ao conhecimento de sociabilidade continua ocupado pela ignorância uma vez que não existe uma só pessoa no mundo cuja única preocupação na vida não seja levar vantagem sobre os demais a fim de amealhar para si e os seus. Como o lugar do conhecimento de haver necessidade de solidariedade, irmandade e cooperação continua vago no cérebro dos seres humanos, qualquer deles de recebe poder tende natural e inevitavelmente a agir como aqueles dois soldados.

Assim, nada há a estranhar que autoridades e empresários se mancomunem para amealhar riqueza ainda que tirada de pobres que precisam comprar remédios, consultar médicos, andar de ônibus, comer, vestir e morar. É que no cérebro das autoridades o lugar do conhecimento ainda é ocupado pela ignorância de sociabilidade. O que é de se estranhar é a concordância da humanidade em não procurar um meio inteligente de levar conhecimento onde impera a ignorância materializada na pompa dos palácios e da vida faustosa custeada pelos bufões (e cagões) da corte. Inté.  


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