Bilhões,
trilhões, quaquilhões de palavras e toneladas de papel são desperdiçados numa
futricagem interminável e inútil sobre corrupção. Procura-se saber qual o país
mais e o menos corrupto, o porquê da corrupção, etc. e tal. Passa despercebido
a toda esta futricagem ser a corrupção inerente ao poder. Como a organização
social desde sempre se baseou no poder, tem-se a inevitabilidade da corrução.
Quanto maior a ignorância daquele a quem é atribuído poder, pior o uso deste
poder. Quando eu era menino e morava na Praça do Camacan, em Itapetinga, lembrança
que para minha decepção e mesmo tristeza em relação à humanidade permanece
viva, não sei se por pura perversidade ou se para avisar aos ladrões em
potencial o que aconteceria com eles, de um jeito ou de outro um exemplo de mau
uso de poder, vi dois soldados prá cima e prá baixo conduzindo e fustigando com
a brasa dos cigarros um preso com a metade da cabeça raspada. Àqueles dois
soldados era inteiramente impossível ocorrer a percepção de que aquela pessoa a
quem eles faziam sofrer física e moralmente era um pobre como eles. Apenas não
fora agraciado com uma farda, um salário e o título pomposo de soldado que lhe
colocasse acima das demais pessoas uma vez que lhe dava autoridade para portar
arma, prender e castigar. À falta de percepção destas coisas dá-se o nome de
ignorância. Vê-se, portanto, que o termo “ignorância” não tem sempre conotação
ofensiva. Ela existe necessariamente para preencher o lugar ainda vago no
cérebro a ser ocupado pelo conhecimento. No que diz respeito à qualidade de
vida, o conhecimento a ocupar o lugar da ignorância seria o conhecimento de
nossa irmandade e da sublimidade existente na solidariedade e na cooperação, ou
sociabilidade. Nesse sentido, como naqueles dois soldados, também em
absolutamente todos os seres humanos o lugar no cérebro destinado ao
conhecimento de sociabilidade continua ocupado pela ignorância uma vez que não
existe uma só pessoa no mundo cuja única preocupação na vida não seja levar
vantagem sobre os demais a fim de amealhar para si e os seus. Como o lugar do
conhecimento de haver necessidade de solidariedade, irmandade e cooperação
continua vago no cérebro dos seres humanos, qualquer deles de recebe poder
tende natural e inevitavelmente a agir como aqueles dois soldados.
Assim, nada
há a estranhar que autoridades e empresários se mancomunem para amealhar
riqueza ainda que tirada de pobres que precisam comprar remédios, consultar
médicos, andar de ônibus, comer, vestir e morar. É que no cérebro das
autoridades o lugar do conhecimento ainda é ocupado pela ignorância de
sociabilidade. O que é de se estranhar é a concordância da humanidade em não
procurar um meio inteligente de levar conhecimento onde impera a ignorância
materializada na pompa dos palácios e da vida faustosa custeada pelos bufões (e
cagões) da corte. Inté.
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