O criador
de O Poderoso Chefão III, Mario Puzo, faz um personagem pronunciar uma frase
que merece meditar a respeito: A política
e o crime são a mesma coisa. Apesar de extraordinária a observação, peca por
excluir a religião uma vez que ela participa com igual dose dos crimes em torno
dos quais gira o enredo do filme. Nem por isso deixa de ser o raciocínio uma
aula prática sobre a realidade da vida, embora passe despercebida da massa
bruta de povo que assiste ao filme devorando ruidosamente pipoca extremamente salgada
e mamando a garapa da caneca de coca-cola. A malta que entra na sala de
projeção com um saco de pipoca e um balde de coca-cola está a anos luz da
capacidade de extrair alguma lição das muitas que a boa arte dá. Daí a
dificuldade que tem o povo em superar a condição reles de povo. É o povo que
coloca ladrão, palhaço, lutador de box e jogador de futebola em cargos públicos
que deveriam ser ocupados por filósofos, como disse Platão. Daí poder-se
afirmar ser pura perda de tempo o tergiversar de intelectuais sobre os defeitos
da democracia porque ela nunca chegará a bom termo se os responsáveis pela
administração pública são elevados a seus cargos por um povo que lava em
solenidade escadas de igreja; que despeja toneladas de presentes no mar para
Iemanjá; que desembesta ladeira abaixo na São Silvestre; que se orgulha de ser
carneiro de deus; que escreve “presente de deus” no carrinho peba; que se
emociona quando o Papa beija o pé do mendigo ou quando a bola toca a rede; que
dá celebridade e fama às “celebridades” e “famosos”; que espera eternamente
providências das “autoridades” e das divindades; que passa à frente ou pede
alguém da fila para fazer o que ia fazer. Considerando que isto aí é o elemento
responsável pelo sucesso da democracia, por que será que intelectuais perdem
tempo tergiversando sobre o seu fracasso, se ela além de ter por base o
elemento reles povo, depende de maioria em vez de sensatez e inteligência? Só o
fato de depender de maioria as decisões políticas na democracia basta para
determinar-lhe o fracasso porque não existe número suficiente de pessoas probas
para formar maioria honrada.
A realidade
de ter a política se tornado um jogo de cartas marcadas a favor de uma minoria
parasitária não escapa a quem não se enquadra na sentença de Leonardo da Vince
que classifica quem nada aprendeu na vida como mero condutor de comida que
deixa latrinas cheias como única marca de sua passagem pelo mundo. Entre as
sociedades supostamente civilizadas não é diferente. Se nas sociedades
consideradas civilizadas a política é um jogo de cartas marcadas a favor dos idiotas
conhecidos como poderosos, nas repúblicas de banana as cartas nem precisam ser
marcadas para que o resultado do jogo seja sempre a favor dos parasitas da
sociedade porque estes malandros se acomodaram com tamanha tranquilidade que
contam com aprovação de ministros da mais alta corte de justiça, o STF,
enquanto a parte da população com discernimento bastante para comentar as
notícias dos jornais se limita a fazer xingamentos, mas sem a desenvoltura
mental suficiente para perceber a inutilidade desta participação porque o
processo político está caindo de podre. E enquanto ele apodrece sob o olhar de
uma juventude constituída de analfabetos políticos, a política gira em torno do
disse-me-disse de comadres futriqueiras.
Desta
forma, pode-se jogar na privada e dar descarga todo o converseiro da papagaiada
de microfone sobre o que é porque a arrumação passa pela necessidade de uma
juventude mentalmente sadia para substituir esta pobre juventude transformada
pela cultura escravista dos parasitas sociais em meros futucadores de telefone.
É verdade que a questão maior da humanidade é não poder prescindir de liderança
num mundo onde o homem ainda é o lobo do homem. Mas, enquanto chega a hora de
resolver esta questão, faz-se necessário voltar a atenção para a questão
simples de analisar as informações recebidas para expurgar delas as que vão de
encontro à realidade. Este procedimento levará inevitavelmente à exclusão da
bandidagem política. Para começar a se tornar capaz de promover esta mudança inicial
é bastante meditar sobre os conselhos que dá a papagaiada de microfone. Será
verdade que os bancos têm por objetivo o bem-estar das pessoas, se eles
arrancam delas bilhões e bilhões todo ano? Será verdade que o agribiuzinesse
proporciona emprego e comida sadia, se expulsa para as cidades os camponeses e
envenenam as pessoas? Não serão maiores as desvantagens para as agências de
viagem do que para as pessoas que esvoaçam mundo afora instigadas pelos
papagaios de microfone? Nenhuma consequência negativa advirá do fato de haver
vários carros em cada família e vários telefones para cada pessoa? É natural
inalar fedor de esgoto, fumaça preta dos carros e conviver com o ronco
ensurdecedor de motos e alto-falantes? Se tais distorções são aceitas com
naturalidade pelo povo é por haver algo de muito errado com ele. Que tal buscar
o erro? Inté.
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