quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

ARENGA 534


O criador de O Poderoso Chefão III, Mario Puzo, faz um personagem pronunciar uma frase que merece meditar a respeito: A política e o crime são a mesma coisa. Apesar de extraordinária a observação, peca por excluir a religião uma vez que ela participa com igual dose dos crimes em torno dos quais gira o enredo do filme. Nem por isso deixa de ser o raciocínio uma aula prática sobre a realidade da vida, embora passe despercebida da massa bruta de povo que assiste ao filme devorando ruidosamente pipoca extremamente salgada e mamando a garapa da caneca de coca-cola. A malta que entra na sala de projeção com um saco de pipoca e um balde de coca-cola está a anos luz da capacidade de extrair alguma lição das muitas que a boa arte dá. Daí a dificuldade que tem o povo em superar a condição reles de povo. É o povo que coloca ladrão, palhaço, lutador de box e jogador de futebola em cargos públicos que deveriam ser ocupados por filósofos, como disse Platão. Daí poder-se afirmar ser pura perda de tempo o tergiversar de intelectuais sobre os defeitos da democracia porque ela nunca chegará a bom termo se os responsáveis pela administração pública são elevados a seus cargos por um povo que lava em solenidade escadas de igreja; que despeja toneladas de presentes no mar para Iemanjá; que desembesta ladeira abaixo na São Silvestre; que se orgulha de ser carneiro de deus; que escreve “presente de deus” no carrinho peba; que se emociona quando o Papa beija o pé do mendigo ou quando a bola toca a rede; que dá celebridade e fama às “celebridades” e “famosos”; que espera eternamente providências das “autoridades” e das divindades; que passa à frente ou pede alguém da fila para fazer o que ia fazer. Considerando que isto aí é o elemento responsável pelo sucesso da democracia, por que será que intelectuais perdem tempo tergiversando sobre o seu fracasso, se ela além de ter por base o elemento reles povo, depende de maioria em vez de sensatez e inteligência? Só o fato de depender de maioria as decisões políticas na democracia basta para determinar-lhe o fracasso porque não existe número suficiente de pessoas probas para formar maioria honrada.

A realidade de ter a política se tornado um jogo de cartas marcadas a favor de uma minoria parasitária não escapa a quem não se enquadra na sentença de Leonardo da Vince que classifica quem nada aprendeu na vida como mero condutor de comida que deixa latrinas cheias como única marca de sua passagem pelo mundo. Entre as sociedades supostamente civilizadas não é diferente. Se nas sociedades consideradas civilizadas a política é um jogo de cartas marcadas a favor dos idiotas conhecidos como poderosos, nas repúblicas de banana as cartas nem precisam ser marcadas para que o resultado do jogo seja sempre a favor dos parasitas da sociedade porque estes malandros se acomodaram com tamanha tranquilidade que contam com aprovação de ministros da mais alta corte de justiça, o STF, enquanto a parte da população com discernimento bastante para comentar as notícias dos jornais se limita a fazer xingamentos, mas sem a desenvoltura mental suficiente para perceber a inutilidade desta participação porque o processo político está caindo de podre. E enquanto ele apodrece sob o olhar de uma juventude constituída de analfabetos políticos, a política gira em torno do disse-me-disse de comadres futriqueiras.

Desta forma, pode-se jogar na privada e dar descarga todo o converseiro da papagaiada de microfone sobre o que é porque a arrumação passa pela necessidade de uma juventude mentalmente sadia para substituir esta pobre juventude transformada pela cultura escravista dos parasitas sociais em meros futucadores de telefone. É verdade que a questão maior da humanidade é não poder prescindir de liderança num mundo onde o homem ainda é o lobo do homem. Mas, enquanto chega a hora de resolver esta questão, faz-se necessário voltar a atenção para a questão simples de analisar as informações recebidas para expurgar delas as que vão de encontro à realidade. Este procedimento levará inevitavelmente à exclusão da bandidagem política. Para começar a se tornar capaz de promover esta mudança inicial é bastante meditar sobre os conselhos que dá a papagaiada de microfone. Será verdade que os bancos têm por objetivo o bem-estar das pessoas, se eles arrancam delas bilhões e bilhões todo ano? Será verdade que o agribiuzinesse proporciona emprego e comida sadia, se expulsa para as cidades os camponeses e envenenam as pessoas? Não serão maiores as desvantagens para as agências de viagem do que para as pessoas que esvoaçam mundo afora instigadas pelos papagaios de microfone? Nenhuma consequência negativa advirá do fato de haver vários carros em cada família e vários telefones para cada pessoa? É natural inalar fedor de esgoto, fumaça preta dos carros e conviver com o ronco ensurdecedor de motos e alto-falantes? Se tais distorções são aceitas com naturalidade pelo povo é por haver algo de muito errado com ele. Que tal buscar o erro? Inté.








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