O
historiador Henry Thomas observou que o homem é um aluno terrivelmente atrasado
na escola da vida. Realmente, tão atrasado que por incapacidade de perceber a
vantagem da harmonia, embora desejando viver sossegado, nunca deixou de viver
em conflito. Expoentes da intelectualidade, por burrice ou canalhice, garantem que
na vida social a competição é superior à cooperação. Por isto é que há
impropriedade em empregar o termo civilização de referência ao atual estado
cultural da humanidade uma vez que ela ainda vive o barbarismo da matança dos
tempos de bicho, tempo esse que em função da incapacidade de aprender é negado.
A crença generalizada é de que o homem sempre foi como é hoje e existe apenas
há seis mil anos. Desta forma, pode-se no máximo, como fez o historiador, falar
que a humanidade se encontra no jardim de infância da civilização apenas. A
ideia de infantilidade encontra fundamento na facilidade com que os seres
humanos se deixam conduzir feito molambos ao vento. Indiferentes à
possibilidade de estar sendo conduzidos para onde podem se dar mal, simplesmente
deixam levar. Mas a falta de maturidade é denunciada também pela forma da
organização social desajustada na qual a maioria produz para desfrute de uma
casta privilegiada cujos membros, apesar de parasitar quem produz, são
conhecidos por ricos, poderosos, autoridades, famosos e celebridades. Da mesma
forma, a presença de palácios e mansões onde a classe parasitária levita acima
de quem trabalha. Também esta realidade demonstra dificuldade para aprender as
lições da vida. Embora os frequentadores de igreja, axé e futebola neguem os
tempos de bicho, o espectro dos imperadores daquele tempo, senhores da vida e
da morte, continua pairando sobre as “excelências” que em jantares monumentais
decidem sobre a melhor maneira de fazer com que a população esteja sempre de
acordo em ter o rabo esfolado pelas mais diversas modalidades de multas,
impostos, taxas, dízimos, contribuições, etc. Como se não bastasse, a
manifestação de infantilidade também se faz presente na conformação dos
explorados com a esperteza dos exploradores em lhes negar informações sobre o
que estão fazendo com os seus recursos, comportamento só explicado pela falta
de percepção de que esta esperteza garante os desvios que dão origem à alega falta
de recursos. A ninguém que tenha superado a infantilidade é dado o direito de
imaginar que ricos empresários ocupam cargos públicos por terem mais apreço ao
país do que às suas empresas, mesmo porque pátria de empresário é o lugar onde
possa comprar por menor preço a maior quantidade de força-trabalho e vida de
pobres.
Mas é no
pão e circo do qual faz parte a religiosidade onde a infantilidade de mostra em
todo esplendor. Ali, senhores de cabelos brancos ou sem cabelos, indiferentes
ao que se passa nos bastidores do mundo esportivo, como crianças, se emocionam
a ponto de xingar o juiz do espetáculo circense e fazer estardalhaço quando a
bola toca a rede. Com não são mais crianças, não raro enfartam. Do mesmo modo,
a religiosidade, uma vez que os dois têm por objetivo evitar que a mente dê
voos mais altos e possa ver de lá de cima a malandragem que corre solta cá
embaixo. À religiosidade cabe a tarefa de usar da infantilidade para convencer
da boa-venturança lá no alto do céu depois da morte, razão pela qual não vale a
pena buscar melhores condições de vida em vida. A necessidade do sofrimento
serviu de mote a Martinho Lutero para desenvolver a teoria da Reforma
Protestante. Segundo consta da página 185 de Uma Breve História do Mundo, de
Geoffrey Blainey, Lutero argumentou que o direito de entrar no reino celeste
através da compra de indulgência ia de encontro à determinação do Senhor de ser
a penitência o meio pelo qual se adquiria esse direito.
É, pois, na
falta de discernimento onde está a explicação para a crença de se chegar a bom
termo entregando o destino a falsos líderes. Inté.
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