quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

ARENGA 530


O historiador Henry Thomas observou que o homem é um aluno terrivelmente atrasado na escola da vida. Realmente, tão atrasado que por incapacidade de perceber a vantagem da harmonia, embora desejando viver sossegado, nunca deixou de viver em conflito. Expoentes da intelectualidade, por burrice ou canalhice, garantem que na vida social a competição é superior à cooperação. Por isto é que há impropriedade em empregar o termo civilização de referência ao atual estado cultural da humanidade uma vez que ela ainda vive o barbarismo da matança dos tempos de bicho, tempo esse que em função da incapacidade de aprender é negado. A crença generalizada é de que o homem sempre foi como é hoje e existe apenas há seis mil anos. Desta forma, pode-se no máximo, como fez o historiador, falar que a humanidade se encontra no jardim de infância da civilização apenas. A ideia de infantilidade encontra fundamento na facilidade com que os seres humanos se deixam conduzir feito molambos ao vento. Indiferentes à possibilidade de estar sendo conduzidos para onde podem se dar mal, simplesmente deixam levar. Mas a falta de maturidade é denunciada também pela forma da organização social desajustada na qual a maioria produz para desfrute de uma casta privilegiada cujos membros, apesar de parasitar quem produz, são conhecidos por ricos, poderosos, autoridades, famosos e celebridades. Da mesma forma, a presença de palácios e mansões onde a classe parasitária levita acima de quem trabalha. Também esta realidade demonstra dificuldade para aprender as lições da vida. Embora os frequentadores de igreja, axé e futebola neguem os tempos de bicho, o espectro dos imperadores daquele tempo, senhores da vida e da morte, continua pairando sobre as “excelências” que em jantares monumentais decidem sobre a melhor maneira de fazer com que a população esteja sempre de acordo em ter o rabo esfolado pelas mais diversas modalidades de multas, impostos, taxas, dízimos, contribuições, etc. Como se não bastasse, a manifestação de infantilidade também se faz presente na conformação dos explorados com a esperteza dos exploradores em lhes negar informações sobre o que estão fazendo com os seus recursos, comportamento só explicado pela falta de percepção de que esta esperteza garante os desvios que dão origem à alega falta de recursos. A ninguém que tenha superado a infantilidade é dado o direito de imaginar que ricos empresários ocupam cargos públicos por terem mais apreço ao país do que às suas empresas, mesmo porque pátria de empresário é o lugar onde possa comprar por menor preço a maior quantidade de força-trabalho e vida de pobres.

Mas é no pão e circo do qual faz parte a religiosidade onde a infantilidade de mostra em todo esplendor. Ali, senhores de cabelos brancos ou sem cabelos, indiferentes ao que se passa nos bastidores do mundo esportivo, como crianças, se emocionam a ponto de xingar o juiz do espetáculo circense e fazer estardalhaço quando a bola toca a rede. Com não são mais crianças, não raro enfartam. Do mesmo modo, a religiosidade, uma vez que os dois têm por objetivo evitar que a mente dê voos mais altos e possa ver de lá de cima a malandragem que corre solta cá embaixo. À religiosidade cabe a tarefa de usar da infantilidade para convencer da boa-venturança lá no alto do céu depois da morte, razão pela qual não vale a pena buscar melhores condições de vida em vida. A necessidade do sofrimento serviu de mote a Martinho Lutero para desenvolver a teoria da Reforma Protestante. Segundo consta da página 185 de Uma Breve História do Mundo, de Geoffrey Blainey, Lutero argumentou que o direito de entrar no reino celeste através da compra de indulgência ia de encontro à determinação do Senhor de ser a penitência o meio pelo qual se adquiria esse direito.

É, pois, na falta de discernimento onde está a explicação para a crença de se chegar a bom termo entregando o destino a falsos líderes. Inté.













   










Nenhum comentário:

Postar um comentário