Com
tristeza se constata estar a atividade política resumida a canalhices e denúncias
de novas modalidades de corrupção que se sobrepõem às antigas. Para maior
tristeza, constata-se serem estes os assuntos que alimentam as futricagens do
converseiro enjoativo da papagaiada de microfone que tem na atividade de falar
a garantia da despensa abastecida. Se o “eu
acho que” dos papagaios de microfone já é um chute no saco, o “eu acho que se o presidente pode admitir,
também pode demitir”, é um chute duplo no saco. Por mais que se tagarele a
respeito, é impossível tomar pé no lamaçal político. Afirma-se ser ladrão quem afirma
não ser ladrão. Em meio a tamanha confusão, as pessoas capazes de indignação se
perdem na bagunça generalizada. A conclusão a que se chega é de ser inútil a
atividade política porquanto o único trabalho efetivo dos agentes políticos tem
sido negar denúncias e quem comenta as notícias publicadas nos jornais demonstram
um ódio mortal às autoridades. Ministros da mais alta corte de justiça são tratados
de canalhas. E além de seus atos os impedirem de provar o contrário, o fato de se
comportarem como se nada estivesse acontecendo prova serem merecedores do
rebaixamento moral que lhes é atribuído e o asco que desperta na população os
obriga a chegar sorrateiramente ao avião para embarcar. Se a realidade é que se
trata de meliantes detestáveis, por que, então, o patrão deles, que é o povo,
mantém empregados que detesta tanto? Ficam as pessoas sensatas sem compreender
o que está acontecendo com a sociedade. E o pior de tudo é que a ação do pão e
circo, que é o braço direito das Forças Ocultas, mantém o grosso da população
envolvida na atividade agradar a deus e notícias dando conta de “famosas” com peitos
e xoxotas à mostra. Estas pessoas jamais perceberão que a atividade política da
qual dependemos todos passou a ter finalidades inconfessáveis uma vez que
riquíssimos empresários ocupam cargos públicos. Sabendo-se ser o interesse de
empresários o que a Lava Jato tem mostrado, tem-se outra incógnita: além de
fazer a riqueza dos empresários, o povo ainda tem de lhes dar emprego. A imprensa dá conta de que o povo paga a determinados
empregados de estatais salários acima de cem mil reais mensais.
Tamanho é o
desinteresse do povo nos assuntos da maior importância para ele que o
presidente da Vale, aquela figura fantasmagórica evadida de algum sarcófago, cuspiu
na cara da massa bruta de povo ser insignificante a morte de mais de trezentas
pessoas ante a importância de sua empresa. Chega-se à situação em que pobres têm
por única serventia se sacrificarem em benefício dos ricos, o que inclui a
eliminação do excedente deles uma vez que procriando como ratos perturbam o
sossego de seus senhores e donos comodamente instalados em mansões e palácios.
O contingente asqueroso de povo, quase que ainda irracional, a saltitar no axé,
no futebola e a lotar as igrejas, quando despertado para a realidade de ter
tido o destino moldado pelos ricos para ser burro de carroça e bobo da corte,
como tem acontecido através da história, proverá tamanha bagunça que não
deixará pedra sobre pedra. Sabendo disto, e tendo descendentes a sofrerem as
consequências, por que a falta de interesse dos intelectuais em divulgar a
necessidade de dar coerência à política? O modo injusto como ela estrutura a
sociedade desde sempre não encontra justificativa sob nenhuma lógica.
Tomando-se como exemplo a administração do maior bem que se pode desfrutar
porque sem ele nada mais desperta interesse, a saúde, tem-se que os empregados
do povo, as autoridades, dispõem do que há de melhor, enquanto que o povo que
paga tem de se contentar com a esmola das Santas Casas, do INSS e dos postos de
saúde. É costume dos ricos achar que o necessitado não precisa mais do que esmola.
Se a realidade é estar tudo errado, por que a classe intelectual se comporta de
modo a parecer não haver nada de errado?
Acabei de
desperdiçar o dinheiro da compra de mais dois livros de expoentes da
intelectualidade tergiversando sobre os acontecimentos históricos, pura erudição
estéril porquanto não há uma palavra sequer sobre a causa de todo o transtorno
e que outra não é senão a atual estrutura social esquisita montada pelo sistema
político, visando beneficiar a classe parasitária de sempre. Um destes livros é
COMO AS DEMOCRACIAS MORREM, de Steven Levintsky e Daniel Ziblet. O outro é A
ERA DOS EXTREMOS, de Eric Hobsbawn, malgrado os elogios rasgados de outros
intelectuais também inúteis, restringem ambos à repetição do que fizeram ou
deixaram de fazer personagens históricos. O foco das atenções de quem é capaz
de escrever livros e incapaz de prostituir sua consciência deve ser a
inexplicável situação de se ter transformado em pária social a maior parte dos
integrantes da sociedade humana. Está tudo tão errado que foi eliminada na
juventude a capacidade de raciocinar, o que se deve unicamente à necessidade
que têm os responsáveis pela administração pública de uma juventude composta de
autômatos futucadores de telefone no lugar de uma juventude vivaz e
inteligente, capaz de perceber a indispensabilidade de substituir nos três
poderes a mentalidade embolorada de velhos, e de jovens, todos alheios ao
sentimento de honra e da nobreza de compromisso com o cumprimento do dever. É
sobre isto que se devem voltar as atenções. Inté.
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