sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

ARENGA 535


No Yotube, os jornalistas Fábio Panunzio, Fernando Mitre e Antônio Teles entrevistam o filósofo Mário Sérgio Cortella sobre Jesus Cristo. Os entrevistadores demonstram grande conhecimento sobre o assunto, e o entrevistado dá um verdadeiro espetáculo de erudição, esclarecendo, inclusive, a diferença entre místico e mítico. Em outra fonte de informação, o livro Entender Filosofia, Editora Leya, Dave Robinson e Judy Groves, seus autores, sugerem que os primeiros filósofos, os sofistas, puderam se dedicar à arte de pensar graças à ociosidade, porquanto naquela época eram os escravos que trabalhavam. Fazendo-se de conta ser filósofo e pensando sobre estas duas fontes de informação, chega-se a duas conclusões: a de que os seres humanos não pensam porque suas atividades não lhes deixam tempo para isto e a de que os poucos que pensam o fazem por força da atividade de suas obrigações. Como para falar é preciso pensar antes sobre o que se vai falar, os poucos que pensam o fazem pela mesma obrigação que têm todos os trabalhadores: executar as tarefas que lhes são determinadas pelos patrões. É aqui que está o porquê de apesar de tanta erudição, as conclusões das poucas pessoas que pensam passam ao largo de qualquer importância do que diz respeito à qualidade de vida, ao contrário da conclusão a que chegou o pensador Carl Marx quando afirmou sensatamente que os filósofos têm se limitado a descrever o mundo, mas o de se precisa é mudar o mundo.

É sobre a necessidade de mudar o mundo que devem se ater as atenções. O comportamento da humanidade equivale ao comportamento da tripulação que embora se encontrando num navio fazendo água, se recusasse a reconhecer um problema a ser resolvido e prosseguisse viagem como se nada estivesse acontecendo. O fedor que toma conta das cidades, a ingestão e inalação de venenos, a extinção das águas potáveis, a exacerbação das secas e das enchentes, o apossamento da riqueza do mundo por apenas um por cento de sua população, o uso da terra para produzir riqueza através de negociatas, a estrutura social em forma de pirâmide na qual os abastados ocupam a pontinha do vértice, a base de necessitados, e praticamente todo o corpo ocupado por escravos obrigados a manter a pose dos abastados do vértice e mitigar a fome dos necessitados da base, tudo isso evidencia a necessidade de mudança a que se referia Marx. Embora indiscutível a sensatez desta afirmação, é, contudo, negada pela obtusidade mental dos ocupantes da pontinha da pirâmide por meio de defensores por eles assalariados para manterem no ar a peteca da distorção dos assuntos apresentados pelos meios de comunicação de sua propriedade. É aqui onde está a explicação de tanta conversa jogada fora enquanto a extinção da vida se torna cada vez mais presente.

Apesar de causar espanto esta realidade, espanto ainda maior causa o fato de permanecer a humanidade num eterno coma induzido que a torna indiferente à situação terrivelmente adversa a que está sendo conduzida em função da falsa necessidade de riqueza que orienta o comportamento dos seus condutores. Desta forma, para que ocorra a mudança capaz de redimir o comportamento estúpido da humanidade é necessário que ela desperte do sonambulismo fantasioso que a leva a festejos, foguetórios e curtição de demonstrações estéreis de erudição quando o ambiente está mais para luto. Inté. 

    


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