sábado, 30 de agosto de 2014

ARENGA QUARENTA E NOVE


A maldade tem sido o traço que caracteriza o comportamento do ser humano. A última demonstração disso foi a cena de policiais obrigando dois rapazes a se espancarem e se beijarem, o que os divertia, comportamento qualificado como sádico. Segundo o dicionário Aurélio, o sadismo é hoje considerado uma anomalia do instinto sexual, que impele à prática de atos de crueldade e até ao assassínio para atingir o orgasmo. Entretanto, independentemente de problemas sexuais, o sadismo se manifesta também nas mais diversas circunstâncias. O comportamento humano é moldado pelas impressões recolhidas pelo cérebro no ambiente onde se vive, informações estas que determinarão a consolidação do caráter de cada um. Como só existem informações sobre maldade em todo ambiente onde nasce e cresce o ser humano, o resultado é o descompasso entre o que é e o que deveria ser a vida dos seres humanos uma vez que ela, a vida, depende exclusivamente do comportamento da pessoa que é sua portadora. O normal é que alguém gerado, nascido e criado até depois da adolescência num ambiente de pessoas de boa espiritualidade tende a ser também assim. Mas como os seres humanos não dispõem de um lugar assim para onde pudessem migrar e fazer os filhos, o resultado de quem é gerado, nascido e criado num ambiente onde é normal encontrar pedaços de corpo humano pelas ruas, um ambiente onde a palavra dada não significa certeza, onde as pessoas de menor conhecimento são mais prestigiadas do que as de maior conhecimento, portanto, de maior capacidade contributiva para o sucesso da sociedade, quem vive em tal ambiente jamais terá, salvo as exceções felizmente infalíveis em toda regra, que são os Grandes Mestres do Saber, mas a regra é que as pessoas tenham o comportamento adequado para formar uma sociedade de gladiadores a se estraçalharem. 

Quem, antes de sair para a igreja, vê a cena dos policiais torturando os dois jovens não vê ali motivo para despertar qualquer reflexão a respeito. Porém, para quem encara a religiosidade como atraso e impedimento de progresso mental, dá uma vontade danada de perguntar àqueles policiais se eles são religiosos. E aposto noventa e nove vírgula noventa e nove contra o que falta para inteirar cem como eram.

Minha gente: tá na hora de pensar antes que seja muito tarde. Olha que até o governador de São Paulo, aquele que sabe o que o povo não sabe e nem pode saber porque se souber vai faltar guilhotina, pois até ele que é governador e sabe das coisas já teve seus intestinos prejudicados pela qualidade da água consumida, é de se imaginar o que será dos intestinos de quem não é governador e nem sabe de nada. Quando a coisa chega nesse pé, é bom botar a barba de molho. Como as barbas não podem se por de molho porque estão demasiadamente ocupadas pelaí a inaugurar templos de arrecadar dízimo para mostrar na revista Forbes, faz-se necessário um despertar da juventude que ainda não tem barba, jovens do tipo das mais de setecentas mil pessoas que compareceram na feira do livro de São Paulo, um despertar para a compreensão da necessidade suprema de pensar em aprender a pensar.

Não há justificativa tanto progresso material e nenhum progresso espiritual. O comportamento humano demonstra total incapacidade de reflexão sobre os acontecimentos, provocando interpretações descabidas dos fatos sociais que nos envolvem, resultando das falsas interpretações uma realidade apenas aparente, mas também falsa. Uma grande distorção da realidade pode ser encontrada na declaração dos médicos americanos que contraíram a doença perigosa proveniente de um negócio chamado ebola e que afirmaram terem sido salvos por milagre. Falta de conexão com a realidade maior não há porque o que salvou suas vidas foi a alta tecnologia da ciência médica desenvolvida graças à riqueza que seu país tomou na marra de outros povos jogando bomba sobre eles. Isto fica mais do que evidente quando todos os pobres atacados pela mesma doença morrem. É também do mundo religioso dos americanos que vem uma interpretação capenga sobre o fato de cerca de três mil cidadãos americanos e ingleses se juntarem aos grupos terroristas contra seus próprios países. A falta de coragem para enfrentar a realidade leva a subterfúgios escorregadios e ocos porque a realidade é que a brutalidade das ações criminosas de saque que aqueles países praticaram sobre o mundo renderam-lhes justa repulsa até de seus nacionais. A imprensa americana disse a respeito que os terroristas conquistam adeptos convencendo-os com religiosidade de que aquilo que estão fazendo é certo. Ora, está certo afirmar que matar não está certo, mas não está certo também o que aqueles países de povo religioso e assassino fazem arrancando braços de crianças com bombas.

O fato de haver dez milhões de pessoas nas cadeias é mais do que suficiente para demonstrar a irrealidade em que vive o mundo. Dez milhões de pessoas para serem alimentadas e cuidadas por quem trabalha, recursos que poderiam ser usados para o bem-estar de quem os produz. É de insensatez em insensatez que o mundo foi transformado numa bomba e a infelicidade cresce desesperadoramente por pura falta de coragem de enfrentar a realidade e se esconder nas sombras da mediocridade. Um desses deformadores de opinião afirmava ser muito difícil lidar com a educação sexual dos adolescentes. Qual a dificuldade que há em explicar aos jovens a realidade sobre o assunto? Futuramente ele agradecerá por não ter de aprender sozinho como a turma da minha geração que se ufanava por ter contraído blenorragia. É o mesmo problema com as drogas. Pessoas inocentes, principalmente os religiosos, acreditam que a proibição das drogas é a solução para o problema, enquanto estudiosos do assunto concluem o contrário. É claro que as drogas são um problema, mas os problemas são maiores quanto maior é a ignorância do ambiente onde ele está. O uso de venenos, por exemplo, está provocando uma doença apelidada de CKDu que destrói os rins dos agricultores. E tudo para que imbecis se locupletem e façam pose na revista Forbes. Tá certo isso? Inté. 

 

 

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