O apego à
tradição é tão prejudicial ao desenvolvimento humano quanto prejudicial é ao
afogando alguém que impede a outrem de lhe atirar uma corda salvadora.
Encontramos um excelente exemplo desta afirmação no filme “O Vento Será Tua
Herança” que tem dado origem a arengamentos. Vale muito a pena pedir ao amigão
Google para mostrar o filme e prestar atenção no debate entre a tradição
religiosa e sua birra contra a ciência e a lógica. Em determinada cena do
maravilhoso debate entre o velho e o novo, o religioso afirma categoricamente
estar errada qualquer referência a milhão de anos porque nada existe há mais de
cinco mil anos, quando Deus teria criado as coisas. Até esse ponto do filme, as
idéias ultrapassadas dos religiosos pareciam levar vantagem na discussão contra
a inovação e o avanço da espiritualidade salutar. Era natural que no começo do
século passado, numa comunidade religiosa, portanto, apegada ao que mais pode
haver de retrógrado não se pudesse esperar situação diferente daquela mostrada
no filme, mas o fato de presenciar com outro entendimento o atraso levar
vantagem sobre o avanço causa inevitável mal-estar a quem aprendeu com os
Grandes Mestres do Saber a enxergar além do que enxergam as pessoas que lotam
igrejas e seu apego cego às mesmices emboloradas das tradições.
Ater-se às
tradições, é fazer com que a preguiça mental tome o lugar que deve ser ocupado
por uma vivacidade da qual resultem pensamentos e idéias novas para ocupar o
lugar das velhas e superadas idéias, mesmo porque a mudança é um imperativo da
natureza em constante mutação. Portanto, acreditar que o modo de pensar não
muda é incorrer em erro grosseiro. É verdade que idéias novas podem trazer
malefícios em vez de benefícios à sociedade, mas esta circunstância se deve a
causas estranhas ao fato de se tratar de idéia nova porquanto o objetivo de uma
idéia nova é aperfeiçoar determinado procedimento, cabendo às pessoas com suas
mentes estagnadas decidir o destino deste aperfeiçoamento. É exatamente pelo
mau uso das idéias novas que a humanidade está se afundando sem se dar conta
disso.
A regressão mental levou os
seres humanos a envenenar o ar, a água e a comida dantes sadios, e esta
caminhada inversa deve-se ao conservadorismo retrógrado que renega as novidades
e atém-se à cultura ultrapassada da necessidade ilimitada de bens materiais,
sendo que já houve homens respeitados até pelo fato de possuir muitas esposas.
Dizem até que Salomão, o famosão, tinha mil delas. O caminhar rumo à evolução
mental é demasiadamente lento. Atualmente, se a ninguém mais é dado encontrar
justificativa nem vantagem em ter mil esposas, contudo, ainda se crê haver
vantagem em se ter mil coisas, principalmente tanta riqueza quanto for
possível, independente dos meios para adquiri-la que podem incluir lançar
bombas sobre crianças independentemente de serem japonesas. Enquanto as mentes
enferrujadas do povo o leva a querer saber com quem Neymar namora ou não
namora, os gatos pingados com a mentalidade mais avançada se preocupam mesmo é
com as coisas do tipo desta notícia da imprensa que passa a anos luz da
percepção do povo nas igrejas e nos terreiros de axé e futebola.
Embora a tal notícia nunca tenha sido
novidade para quem vê um pouco mais que os requebradores de quadris, é motivo
de apreensão quanto ao futuro das criancinhas rechonchudas que os pais pensam
amar porque elas enfrentarão um ambiente ainda de maior crueldade quanto à indiferença
ante o padecimento alheio, frieza necessária a quem se propõe acumular riqueza.
Esta indiferença leva os laboratórios em sua necessidade de acumular fortuna a
proceder do jeito monstruoso de não investir em pesquisas das quais resultassem
medicamento contra doenças que afetam o continente pobre dos africanos. Em
consequência desta crueldade comum nos gananciosos é que já morreram quase um
milhão de africanos vitimados pelo vírus ebola. Este é um dos incontáveis males
sociais decorrentes da recusa em compartilhar as idéias novas que afirmam não
ser mais conveniente esse negócio de ser dono de meio mundo porque esse tempo
ficou lá no tempo em que no mundo não havia esse mundão de gente que hoje há.
Qualquer mentalidade menos
rasteira percebe haver contradição entre a realidade e o conservadorismo
retrógrado das tradições de todo tipo. Não pode haver maior babaquice do que
ainda se fazer reverência a reis, rainhas, príncipes e princesas. A tradição religiosa,
então, é de uma nocividade social monstruosa ao condenar à morte pobres e
inocentes africanos proibindo-lhes de usar a camisinha contra o germe da AIDS,
fazendo-os crer que seriam punidos por Deus pela ousadia de desobedecer a ordem
que Ele deu de só trepar prá engravidar. Como as déias não tem patrão e são
mais livres que os pássaros, elas proliferam em progressão geométrica como se
pode perceber pela narrativa da História da Humanidade de que a época anterior
à invenção da escrita cobre noventa e cinco por cento da existência humana. É
certo que a repetição da prática em qualquer atividade leva a constantes
inovações que introduzem novos e mais eficientes métodos de execução, o que
também ocorre no mundo das idéias. Uma idéia chama outra, que chama outra, e
assim elas sugerem tantas inovações que em apenas quatro mil anos decorridos
desde a invenção da escrita o ser humano desenvolveu toda tecnologia hoje existente
depois de viver milhões de anos no primitivismo em que viveu até o advento da
representação gráfica dos sons pronunciados.
Se alguém fizer uma visita
ao tempo em que foi inventada a escrita, há quatro mil anos, encontrará um
ambiente tão primitivo quanto tinha de ser o tempo em que os bichos humanos
formaram os primeiros grupos. Considerando os mais de três milhões de anos que
estamos a parasitar este chão, o desenvolvimento tecnológico ocorrido nestes
quatro mil anos é infinitamente superior ao que ocorreu nos três milhões de
anos anteriores. Entretanto, de que serve todo esse desenvolvimento tecnológico
se espiritualmente está-se a regredir? As maravilhas anunciadas pela tradição
não passam de fumaça porque a infelicidade que atinge os que choram no corredor
do hospital abre cada vez mais seu leque de horror e é por isso que é preciso
dedicar algum tempo a meditar sobre as tradições e as inovações porque lutar
pela supremacia da verdade é a única luta capaz de produzir resultado positivo,
além de não requer derramamento de sangue Inté.
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