segunda-feira, 11 de agosto de 2014

ARENGA QUARENTA E QUATRO


O apego à tradição é tão prejudicial ao desenvolvimento humano quanto prejudicial é ao afogando alguém que impede a outrem de lhe atirar uma corda salvadora. Encontramos um excelente exemplo desta afirmação no filme “O Vento Será Tua Herança” que tem dado origem a arengamentos. Vale muito a pena pedir ao amigão Google para mostrar o filme e prestar atenção no debate entre a tradição religiosa e sua birra contra a ciência e a lógica. Em determinada cena do maravilhoso debate entre o velho e o novo, o religioso afirma categoricamente estar errada qualquer referência a milhão de anos porque nada existe há mais de cinco mil anos, quando Deus teria criado as coisas. Até esse ponto do filme, as idéias ultrapassadas dos religiosos pareciam levar vantagem na discussão contra a inovação e o avanço da espiritualidade salutar. Era natural que no começo do século passado, numa comunidade religiosa, portanto, apegada ao que mais pode haver de retrógrado não se pudesse esperar situação diferente daquela mostrada no filme, mas o fato de presenciar com outro entendimento o atraso levar vantagem sobre o avanço causa inevitável mal-estar a quem aprendeu com os Grandes Mestres do Saber a enxergar além do que enxergam as pessoas que lotam igrejas e seu apego cego às mesmices emboloradas das tradições.

Ater-se às tradições, é fazer com que a preguiça mental tome o lugar que deve ser ocupado por uma vivacidade da qual resultem pensamentos e idéias novas para ocupar o lugar das velhas e superadas idéias, mesmo porque a mudança é um imperativo da natureza em constante mutação. Portanto, acreditar que o modo de pensar não muda é incorrer em erro grosseiro. É verdade que idéias novas podem trazer malefícios em vez de benefícios à sociedade, mas esta circunstância se deve a causas estranhas ao fato de se tratar de idéia nova porquanto o objetivo de uma idéia nova é aperfeiçoar determinado procedimento, cabendo às pessoas com suas mentes estagnadas decidir o destino deste aperfeiçoamento. É exatamente pelo mau uso das idéias novas que a humanidade está se afundando sem se dar conta disso.

A regressão mental levou os seres humanos a envenenar o ar, a água e a comida dantes sadios, e esta caminhada inversa deve-se ao conservadorismo retrógrado que renega as novidades e atém-se à cultura ultrapassada da necessidade ilimitada de bens materiais, sendo que já houve homens respeitados até pelo fato de possuir muitas esposas. Dizem até que Salomão, o famosão, tinha mil delas. O caminhar rumo à evolução mental é demasiadamente lento. Atualmente, se a ninguém mais é dado encontrar justificativa nem vantagem em ter mil esposas, contudo, ainda se crê haver vantagem em se ter mil coisas, principalmente tanta riqueza quanto for possível, independente dos meios para adquiri-la que podem incluir lançar bombas sobre crianças independentemente de serem japonesas. Enquanto as mentes enferrujadas do povo o leva a querer saber com quem Neymar namora ou não namora, os gatos pingados com a mentalidade mais avançada se preocupam mesmo é com as coisas do tipo desta notícia da imprensa que passa a anos luz da percepção do povo nas igrejas e nos terreiros de axé e futebola.

Embora a tal notícia nunca tenha sido novidade para quem vê um pouco mais que os requebradores de quadris, é motivo de apreensão quanto ao futuro das criancinhas rechonchudas que os pais pensam amar porque elas enfrentarão um ambiente ainda de maior crueldade quanto à indiferença ante o padecimento alheio, frieza necessária a quem se propõe acumular riqueza. Esta indiferença leva os laboratórios em sua necessidade de acumular fortuna a proceder do jeito monstruoso de não investir em pesquisas das quais resultassem medicamento contra doenças que afetam o continente pobre dos africanos. Em consequência desta crueldade comum nos gananciosos é que já morreram quase um milhão de africanos vitimados pelo vírus ebola. Este é um dos incontáveis males sociais decorrentes da recusa em compartilhar as idéias novas que afirmam não ser mais conveniente esse negócio de ser dono de meio mundo porque esse tempo ficou lá no tempo em que no mundo não havia esse mundão de gente que hoje há.

Qualquer mentalidade menos rasteira percebe haver contradição entre a realidade e o conservadorismo retrógrado das tradições de todo tipo. Não pode haver maior babaquice do que ainda se fazer reverência a reis, rainhas, príncipes e princesas. A tradição religiosa, então, é de uma nocividade social monstruosa ao condenar à morte pobres e inocentes africanos proibindo-lhes de usar a camisinha contra o germe da AIDS, fazendo-os crer que seriam punidos por Deus pela ousadia de desobedecer a ordem que Ele deu de só trepar prá engravidar. Como as déias não tem patrão e são mais livres que os pássaros, elas proliferam em progressão geométrica como se pode perceber pela narrativa da História da Humanidade de que a época anterior à invenção da escrita cobre noventa e cinco por cento da existência humana. É certo que a repetição da prática em qualquer atividade leva a constantes inovações que introduzem novos e mais eficientes métodos de execução, o que também ocorre no mundo das idéias. Uma idéia chama outra, que chama outra, e assim elas sugerem tantas inovações que em apenas quatro mil anos decorridos desde a invenção da escrita o ser humano desenvolveu toda tecnologia hoje existente depois de viver milhões de anos no primitivismo em que viveu até o advento da representação gráfica dos sons pronunciados.

Se alguém fizer uma visita ao tempo em que foi inventada a escrita, há quatro mil anos, encontrará um ambiente tão primitivo quanto tinha de ser o tempo em que os bichos humanos formaram os primeiros grupos. Considerando os mais de três milhões de anos que estamos a parasitar este chão, o desenvolvimento tecnológico ocorrido nestes quatro mil anos é infinitamente superior ao que ocorreu nos três milhões de anos anteriores. Entretanto, de que serve todo esse desenvolvimento tecnológico se espiritualmente está-se a regredir? As maravilhas anunciadas pela tradição não passam de fumaça porque a infelicidade que atinge os que choram no corredor do hospital abre cada vez mais seu leque de horror e é por isso que é preciso dedicar algum tempo a meditar sobre as tradições e as inovações porque lutar pela supremacia da verdade é a única luta capaz de produzir resultado positivo, além de não requer derramamento de sangue Inté.

 

 

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