sábado, 12 de setembro de 2020

ARENGA 439

 

O livro RAÍZES DO CONSERVADORISMO BRASILEIRO, de Juremir Machado da Silva, expõe que por ocasião do banimento da escravidão em 1888, a rica classe de produtores de café tinha nos deputados Paulino de Sousa e José de Alencar (o escritor de enjoativas melosidades), seus principais representantes como testas de ferro na luta contra a proposta de extinguir a escravidão. Esta instituição mostra ser ilimitada a maldade do ser humano posto que capaz da crueldade de considerar outro ser humano inteiramente desprovido da necessidade de respeito e afeto, ao qual se pode dispensar com naturalidade o tratamento inferior ao dispensado ao gado no pasto, isento de maus tratos. Por ocasião da Lei do Ventre Livre, argumentavam os moralmente depravados escravagistas, que assim como é propriedade do dono do terreno onde está a árvore o fruto que dela sai, também é do dono da fazenda o filho que sai da escrava de sua fazenda.

A humanidade se estruturou de forma tão errada que por mais estranho que possa parecer a brutalidade da escravidão e de ser infinita a maldade dos argumentos dos escravagistas, do ponto de vista da economia, entretanto, por mais paradoxal que pareça, tais argumentos eram justificáveis uma vez que a economia da qual depende a sociedade, dependia de trabalho de negros escravizados naquela época. Organizar a sociedade de forma a depender de produzir e vender coisas é uma coisa a ser repensada porque além de serem limitados os materiais existentes na natureza para sustentar uma produção ilimitada de coisas cuja demanda aumenta dia a dia, além dos recursos naturais, embora disfarçada de emprego, as coisas que abastecem o mercado capitalista nunca deixaram de ser produzidas sob regime de escravidão. A chibata foi substituída pelo relógio de ponto, persistindo a exploração do mais fraco pelo mais forte.

Daí a observação daquele que se ainda não foi consagrado como filósofo precisa ser, o doutor Vinícius Bittencourt, que no fabuloso livro FALANDO FRANCAMENTE disse que a humanidade se assemelha a um imenso zoológico onde feras convivem livremente com animais domésticos.

O comportamento humano tem sido pautado por ações brutais e indignas da condição de seres que podem pensar e concluir por uma forma de viver onde todos pudessem passar de modo agradável seu pouco tempo de vida, ou pelo menos não tão desagradável a ponto de haver quem não pode satisfazer as necessidades indispensáveis. Nenhuma lógica pode haver num sistema no qual quem trabalha e produz fica fora do consumo. 

 

 

 

 

 

 

 

 

3 comentários:

  1. Parece que no Brasil, quanto menos racional a pessoa é mais apta a governar ela parece ser.

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    1. Exatamente meu caro. Pessoas que buscam vida civilizada devem se empenhar em buscar novos ares.

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    2. Realmente, Yuri, é assim que é. Não fosse, Heloisa Helena não teria sido preterira em favor de Collor pelo povo alagoano.

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