quinta-feira, 22 de maio de 2014

ARENGA TRINTA E UM


Será que ser sábio é melhor que ser burro, ou será que ser burro é melhor que ser sábio? Na opinião da multidão que lota as igrejas, os terreiros de axé e de futebola, e que segue a orientação bíblica de se afastar da ciência do bem e do mal, para estes ser burro é melhor do que ser sábio. Mas, e os sábios, o que pensam eles a respeito de ser sábio ou ser burro? Pelo que se pode observar dos ensinamentos dos Grandes Mestres do Saber, percebe-se que os sábios geralmente não são tão felizes quanto os adeptos da burrice porque enquanto para estes a felicidade se resume a pão, circo e barulho, para os sábios a felicidade depende da paz existente no silêncio para que seus pensamentos encontrem explicações sempre procuradas no mundo da espiritualidade, o que os coloca em campo oposto aos da preferência pela burrice cuja alegria barulhenta que só dura até a hora de chorar no corredor do hospital impede a paz de quem pensa.  Entretanto, os sábios não dariam um milésimo da sua solidão espiritual de onde tiram sua sabedoria pela algazarra alegre do mundo dos adeptos da burrice. O sábio é tão diferente deles quanto água potável é diferente da água de esgoto.

No mundo dos adeptos da burrice ocorrem contradições mirabolantes como o fato de cair de pau a imprensa em cima dos movimentos de contestação contra as mazelas que causam o desgosto de quem pensa, alegando o transtorno que tais movimentos causam às pessoas no seu corre-corre para as fábricas, escritórios, consultórios, balcões e construções a fim de cumprir seu papel de burro e trabalhar para atender necessidades alheias na maioria das vezes inexistentes. Se é real para o agricultor a necessidade de dois ou três burros (muares) que lhe puxem a carroça com lenha, água e mantimentos apanhados no roçado, é inexistente a necessidade de terem os ricos milhões de burros em forma de gente para lhes arrumar imensa riqueza apenas para mostrar na Revista Forbes. É inteiramente sem sentido a alegação de haver desordem nos movimentos porque desordem infinitamente maior tomou conta deste país de idiotas. O carro-chefe das desordens é a organização de uma administração pública que transforma o povo em manada através de uma cultura que convence as pessoas ser normal viver apenas para trabalhar, ter filhos, comer, encher latrinas e chorar no corredor do hospital quando a velhice chegar com suas limitações e doenças.

Nenhuma ordem há num sistema onde as autoridades se colocam num plano tão superior e se acham realmente merecedoras de uma vida palaciana onde o pé afunda nos tapetes e a necessidade é que dita a medida dos provimentos, enquanto do lado de fora destes palácios a violência, a pobreza e a ignorância a as necessidades de tudo, principalmente de educação, produzem um vale de lágrimas. Há desordem quando autoridades carecas e ridículas usam o dinheiro do povo para se transformar em ridículas autoridades artificialmente cabeludas. Prá que maior desordem do que autoridade fazer orgia sexual no céu em avião luxuoso comprado com o dinheiro de quem padece na fila do hospital? Ou a desordem que permite às autoridades carrearem para suas contas o dinheiro do povo? Ou ainda a desordem de um sistema judiciário que é político ao mesmo tempo, protegendo abertamente na caro do povo idiotizado os ladrões do dinheiro que deveria estar a serviço do atendimento de suas necessidades? Como se falar em ordem numa sociedade onde livros e mais livros denunciam presidentes da república do crime hediondo de roubar descaradamente o dinheiro que o povo lhes entrega para administrar?

Como se vê, a desordem é tão grande que a desordem dos “baderneiros” como são chamados em relação à desordem geral fica parecendo a ação de quem embirra apenas com uma árvore no meio de uma floresta. É verdade que é chato paca a situação de quem fica sem transporte ou no engarrafamento porque poucas pessoas fecharam as ruas. Porém, tal sofrimento é fichinha comparado com o que espera esse mesmo povo mais adiante em consequência da falta de apoio às pretensões dos que estão fechando as ruas. Estes gatos pingados parecem pressentir que o futuro de seus filhos está ameaçado e é preciso ouvi-los em vez de xingá-los. Está faltando reflexão sobre coerência. Ouvi a televisão dizer que o povo sofre sem saber por que sofre. A lógica nos mostra que é exatamente por nada saber que o povo sofre. É verdade que é extremamente incômoda a situação de quem não pode chegar a sua casa. É verdade que o transporte é produto de primeiríssima necessidade para o povo. Mas está erradíssimo aproveitar da necessidade de deslocamento do povo para extorqui-lo através de negócios e negociatas dos quais resultam bilionários como o dono de uma empresa de transportes que ofereceu como presente de casamento a uma filha de ministro uma festa de arromba no Copacabana Pálace.  

É um emaranhado de bagunça. A imprensa coloca que a sociedade paga pelo erro de mandar a justiça libertar da prisão os ladrão do dinheiro público, ou impedir a fiscalização pelo Ministério Público para evitar que candidatos sabidamente criminosos participem da eleição, o que está equivocado porque só existe erro quando se obtém da ação um resultado diferente do pretendido, o que absolutamente não é o caso da justiça ao proteger os bandidos porquanto era este o resultado esperado da ação dos ministros que se tornaram ministros exatamente para proteger bandidos ricos como fez o ministro Márcio Thomas Bastos que ficou com o nariz tão comprido que o impedia de cochichar ao ouvido do bandidão mensaleiro que defendia. Se a finalidade da justiça nessa sociedade desordeira é acobertar corrupção, ela está tendo sucesso e, portanto, não há erro algum nisso. Há, sim, erro e dos maiores é no fim a que se propõe a justiça porque ela deve agir ao contrário e retirar de circulação quem danifica o conjunto social. Então, numa sociedade desse tipo não há como se falar em ordem e estes senhores deformadores de opinião deviam pensar no futuro de seus filhos e transferir seu entusiasmo do esporte para a educação porque esse negócio de “rolar a bola” deixou de ser esporte para ser a extensão da devassidão em que mergulham todos os governos de todas as sociedades humanas ao induzir o povo a voltar sua atenção para bem longe do que eles fazem por baixo do pano. Falta a coerência encontrada apenas nos ensinamentos dos Grandes Mestres do Saber. Falta o bom senso de perceber que a desordem reinante vai ter um alto custo em infelicidade para todos. Os deformadores de opinião alegavam hoje na Rádio Bandeirantes AM de São Paulo que o fato de não serem observadas as decisões dos sindicatos pode resultar numa insegurança jurídica. Ora, senhores deformadores, prá que maior insegurança jurídica do que uma justiça política? Em vez de esporte, respeitem seus cabelos brancos e tratem de pensar no futuro dos seus descendentes porque quando eles souberem que os senhores afirmam haver educação no esporte haverão de ficar decepcionados com suas opiniões levianas. Inté.  

 

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