quarta-feira, 14 de maio de 2014

ARENGA VINTE E NOVE


 

O grande jornalista Ricardo Boechat tem o mérito de ser um grande jornalista e o demérito de gostar de futebola. Ninguém com a intelectualidade e a intelgência dele  desconhece o fato de serem o futebola, o axé e a religião a trilogia satânica com a qual se tece a matéria prima para construção da alienação política, o que contrasta com a veemência da defesa que ele faz de uma sociedade civilizada, ambição da qual participam poucos pais, apenas aqueles que não integram a turba de requebradores de quadris e que formam a manada a que se referia o também grande poeta Zé Ramalho.

O Boechat, sujeito que pensa (apesar do futebola), no seu programa da Rádio Bandeirantes FM de Brasília do dia 13/5/14,  lamentou que os políticos também se reproduzam assim como nosoutros. Admirador ardente de pessoas inteligentes e inimigo figadal da turba de ignorantes que constitui esse povo festeiro, barulhento, ladravaz e imprestável para qualquer coisa que não seja rebolado e canalhice, aprecio sempre que posso os pronunciamentos do Boechat. O que ele disse sobre a reprodução dos políticos dá o que pensar a quem pensa. Apenas a ressalva de não termos políticos, e sim politiqueiros. Há uma galáxia bem grandona de moral a separar o asqueroso politiqueiro do verdadeiro político, aquele ensigueirado com o bem-estar das futuras gerações, formadas pelos rebentos das criancinhas rechochundas de hoje.

Faria bem à sociedade se fossem castrados os politiqueiros. Arrancando-lhes os badalos, extinguir-se-ia a raça maldita e seria inteiramente impossível ser substituída por outra pior por ser também impossível haver seres de mais baixa qualidade moral e de tão grande cinismo que andam a dar risadas sabendo serem detestados. Quando o Boechat esperneia contra os males que afetam a sociedade da qual ele faz parte juntamente com sua família a quem é muito apegado, está procedendo de acordo com os Grandes Mestres do Saber porque todos eles afirmaram haver falta de inteligência na organização da sociedade humana. Há uma real incompatibilidade entre o comportamento de quem pensa e o comportamento da malta ignorante e barulhenta. A pessoa que pensa aprende mais e sabe que o barulho faz muito mal. Quem pensa sabe estar errado dar preferência aos gastos com farras e brincadeiras. Enfim, aquele que pensa tem motivo de sobra para não gostar de quem não pensa porque é da ignorância deles que saem todos os males que afligem o mundo.

Entende-se bem a justificada ojeriza de quem pensa por quem não pensa invocando como exemplo uma das muitas brincadeiras sadias do nosso rico foclore, infelizmente substituídas por requebramento de quadris. Trata-se de um jogo jogado por uma pessoa com os olhos vendados tentando quebrar com um bastão um pote dependurado no alto contendo guloseimas. As crianças que constituem o público ficam alvoroçadas para comer os doces quando o pote for quebrado, chegando algumas delas, as mais espertas, que geralmente são as menos comportadas, aquelas que não merecem presente do babaca Papai Noel, chegam mesmo a avisar ao quebrador do pote que ele está na direção errada.

Neste quadro, as crianças representam as pessoas que pensam e o quebrador do pote representa as pessoas que ainda não aprenderam a persar e que por isso mesmo ainda é manada. Assim como o quebrador indo na direção errada impede que as crianças desfrutem dos doces, as pessoas que não pensam ao se dirigirem às igrejas e terreiros de brincadeira também estão impedindo que as pessoas que pensam desfrutem de uma vida civilizada onde os sofrimentos são menores. Assim, quem pensa se agonia com a falta de ajuda necessária para se quebrar o pote e liberar a paz e uma vida menos idiota.

Na História mais recente, os russos, os chineses e os franceses, quebraram o pote onde se encontravam suas aspirações, mas como o fizeram com a ignorância dos ignorantes, quebraram-no com uma porrada tão violenta que suas esperanças de nova vida foram lançadas ao espaço, desapareceram, e aqueles povos, como todos no mundo, continuam aflitos e escravisados pela escravidão moderna que conta com a anuência do escravo. O que se sabe (e sabe-se muito bem), à medida que aumenta a insatisfação diminui na mesma proporção a distância entre o quebrador e o pote com as esperanças de viver melhor. Isto deve nos servir de advertência uma vez que a insatisfação cresce a olhos vistos indicando aumento de pessoas aprendendo a pensar. Quando chegar na quantidade suficiente, também haverão de chegar na posição de quebrar o pote, mas é preciso um quebrador mais sábio que os anteriores. Há de tratar com afagos e boas vindas o conteúdo do pote em vez de mandá-lo pelos ares, sem esquecer jamais que os benefícios de lá provenientes devem agraciar a todos. Sabe-se perfeitamente não ser possível nem desejável uma igualdade absoluta, por ferir as diferenças pessoais com que a natureza dotou cada um, mas não deve também existir uma diferença tão grande entre as pessoas, diferença esta que chega a ser perigosamente acintosa quando há pobres de pensamento fazendo pose na Revista Forbes ao lado de pobres de dinheiro e crianças sem casa, sem pais, sem comida, sem saúde, sem educação, sem vida, porque sofrer não é viver. A vida deve ser agradável e prazerosa, e jamais as angústias sugeridas pela religião.

Assim, quando for quebrado o pote, não se pode cometer a bobagem que fizeram nas outras quebradas quando o conteúdo foi repartido apenas entre uns gatos pingados. Acima de tudo, coroando todo oprocesso de mudança, deve estar uma educação que ensine verdades no lugar de mentiras; que ensine a pensar em vez de ensinar a apenas acreditar; que ensine haver beleza na honradez e feiura no sinismo; que ensine, enfim, a necessidade de nos afastarmos da ignorância absoluta  de quem prefere estádios a hospitais e escolas. Inté 

 

 

 

 

 

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