O grande jornalista Ricardo Boechat tem o mérito de ser um grande jornalista
e o demérito de gostar de futebola. Ninguém com a intelectualidade e a
intelgência dele desconhece o fato de
serem o futebola, o axé e a religião a trilogia satânica com a qual se tece a matéria
prima para construção da alienação política, o que contrasta com a veemência da
defesa que ele faz de uma sociedade civilizada, ambição da qual participam poucos
pais, apenas aqueles que não integram a turba de requebradores de quadris e que
formam a manada a que se referia o também grande poeta Zé Ramalho.
O Boechat, sujeito que pensa (apesar do futebola), no seu programa da Rádio
Bandeirantes FM de Brasília do dia 13/5/14, lamentou que os políticos também se reproduzam
assim como nosoutros. Admirador ardente de pessoas inteligentes e inimigo
figadal da turba de ignorantes que constitui esse povo festeiro, barulhento,
ladravaz e imprestável para qualquer coisa que não seja rebolado e canalhice,
aprecio sempre que posso os pronunciamentos do Boechat. O que ele disse sobre a
reprodução dos políticos dá o que pensar a quem pensa. Apenas a ressalva de não
termos políticos, e sim politiqueiros. Há uma galáxia bem grandona de moral a
separar o asqueroso politiqueiro do verdadeiro político, aquele ensigueirado
com o bem-estar das futuras gerações, formadas pelos rebentos das criancinhas
rechochundas de hoje.
Faria bem à sociedade se fossem castrados os politiqueiros. Arrancando-lhes
os badalos, extinguir-se-ia a raça maldita e seria inteiramente impossível ser
substituída por outra pior por ser também impossível haver seres de mais baixa
qualidade moral e de tão grande cinismo que andam a dar risadas sabendo serem
detestados. Quando o Boechat esperneia contra os males que afetam a sociedade
da qual ele faz parte juntamente com sua família a quem é muito apegado, está
procedendo de acordo com os Grandes Mestres do Saber porque todos eles
afirmaram haver falta de inteligência na organização da sociedade humana. Há uma
real incompatibilidade entre o comportamento de quem pensa e o comportamento da
malta ignorante e barulhenta. A pessoa que pensa aprende mais e sabe que o
barulho faz muito mal. Quem pensa sabe estar errado dar preferência aos gastos
com farras e brincadeiras. Enfim, aquele que pensa tem motivo de sobra para não
gostar de quem não pensa porque é da ignorância deles que saem todos os males
que afligem o mundo.
Entende-se bem a justificada ojeriza de quem pensa por quem não pensa
invocando como exemplo uma das muitas brincadeiras sadias do nosso rico foclore,
infelizmente substituídas por requebramento de quadris. Trata-se de um jogo
jogado por uma pessoa com os olhos vendados tentando quebrar com um bastão um
pote dependurado no alto contendo guloseimas. As crianças que constituem o
público ficam alvoroçadas para comer os doces quando o pote for quebrado,
chegando algumas delas, as mais espertas, que geralmente são as menos
comportadas, aquelas que não merecem presente do babaca Papai Noel, chegam
mesmo a avisar ao quebrador do pote que ele está na direção errada.
Neste quadro, as crianças representam as pessoas que pensam e o quebrador
do pote representa as pessoas que ainda não aprenderam a persar e que por isso
mesmo ainda é manada. Assim como o quebrador indo na direção errada impede que
as crianças desfrutem dos doces, as pessoas que não pensam ao se dirigirem às
igrejas e terreiros de brincadeira também estão impedindo que as pessoas que
pensam desfrutem de uma vida civilizada onde os sofrimentos são menores. Assim,
quem pensa se agonia com a falta de ajuda necessária para se quebrar o pote e
liberar a paz e uma vida menos idiota.
Na História mais recente, os russos, os chineses e os franceses, quebraram
o pote onde se encontravam suas aspirações, mas como o fizeram com a ignorância
dos ignorantes, quebraram-no com uma porrada tão violenta que suas esperanças
de nova vida foram lançadas ao espaço, desapareceram, e aqueles povos, como
todos no mundo, continuam aflitos e escravisados pela escravidão moderna que
conta com a anuência do escravo. O que se sabe (e sabe-se muito bem), à medida
que aumenta a insatisfação diminui na mesma proporção a distância entre o
quebrador e o pote com as esperanças de viver melhor. Isto deve nos servir de
advertência uma vez que a insatisfação cresce a olhos vistos indicando aumento
de pessoas aprendendo a pensar. Quando chegar na quantidade suficiente, também
haverão de chegar na posição de quebrar o pote, mas é preciso um quebrador mais
sábio que os anteriores. Há de tratar com afagos e boas vindas o conteúdo do
pote em vez de mandá-lo pelos ares, sem esquecer jamais que os benefícios de lá
provenientes devem agraciar a todos. Sabe-se perfeitamente não ser possível nem
desejável uma igualdade absoluta, por ferir as diferenças pessoais com que a
natureza dotou cada um, mas não deve também existir uma diferença tão grande
entre as pessoas, diferença esta que chega a ser perigosamente acintosa quando
há pobres de pensamento fazendo pose na Revista Forbes ao lado de pobres de
dinheiro e crianças sem casa, sem pais, sem comida, sem saúde, sem educação,
sem vida, porque sofrer não é viver. A vida deve ser agradável e prazerosa, e
jamais as angústias sugeridas pela religião.
Assim, quando for quebrado o pote, não se pode cometer a bobagem que
fizeram nas outras quebradas quando o conteúdo foi repartido apenas entre uns
gatos pingados. Acima de tudo, coroando todo oprocesso de mudança, deve estar
uma educação que ensine verdades no lugar de mentiras; que ensine a pensar em
vez de ensinar a apenas acreditar; que ensine haver beleza na honradez e feiura
no sinismo; que ensine, enfim, a necessidade de nos afastarmos da ignorância
absoluta de quem prefere estádios a
hospitais e escolas. Inté
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