sábado, 24 de maio de 2014

ARENGA TRINTA E DOIS


 

Caso a natureza viesse a prorrogar o prazo de sua intervenção final para extinguir a pior espécie animal que já criou, os bichos de dois pés que se matam em escala infinitamente superior aos outros bichos, de modo a haver tempo para que os brasileiros viessem a se constituir num povo civilizado, certamente teriam constrangimento dos seus antepassados incivilizados. Assim como o brasileiro de agora sente inexplicável constrangimento por ser considerado descendente de índio ou de negro, o que realmente somos, os futuros brasileiros repudiariam seus antepassados merecedores de reprimendas civilizatórias até de atores americanos aculturados. Tendo vivido por quase oitenta anos nesse país de triste sorte onde só a natureza presta, posso falar de cadeira que o brasileiro e o peru tem o mesmo pendor gastronômico. Não se chega a outra explicação ante o fato de que oitenta em cada cem brasileiros, segundo pesquisa, declaram-se satisfeitíssimos com a vida. Parece até que a pesquisa teria sido feita entre o pessoal do Bolsa Família, gente que não se incomoda com as coisas que incomodam as poucas pessoas normais que se dedicam a alguma coisa mais elevada do que simplesmente comer, orar e encher latrinas. Sinceramente, para estar satisfeito em meio a tanto choro, tiro, seqüestros, cadáveres pelas ruas, inclusive em pedaços, dinheiro do imposto escoando como enxurrada para as bocas de lobo que dão vazão para dentro dos bolsos dos politiqueiros, enfim, tanta coisa ruim que para se estar tão satisfeito em tão adversas condições é preciso gostar do que não presta. Estas generosas terras do Brasil não merecem abrigar o povo que abriga. Não pode haver melhores terras para se cultivar a paz e nem pode haver povo pior.

Acontece, porém, que o povo é o que seus líderes fazem dele porque o homem é moldável como o ferro, com a diferença de não precisar levar porrada para assumir essa ou aquela forma no comportamento. Basta que lhe seja ordenado. Já caminhou com seus próprios pés para onde estavam feras famintas que iam comê-lo. Por falta de procedimento mais inteligente, estabeleceu-se uma cultura segunda a qual as pessoas depositam seu destino nas mãos de líderes que decidem por todos, inclusive sobre vida e morte. Como não há entre os seres humanos de todos os quadrantes do planeta Terra alguém que tenha superado a animalidade de origem, não pode haver líder verdadeiro porque no primitivismo atual predomina o instinto que, salvo nos casos de maternidade, desconhece a preocupação senão consigo mesmo. Assim, para que alguém se disponha a se sentir menos importante do que seus liderados a ponto de colocar as necessidades deles em primeiro lugar, papel do verdadeiro líder, de tal desenvolvimento espiritual distam ainda os brutos seres humanos alguns anos luz de estrada rumo à civilização e espiritualidade necessárias para não se odiarem entre si.

A cultura da obediência aos líderes precisa ser revista por ser impossível a existência de um verdadeiro líder. Falar-se em reforma feita pela liderança que instituiu o caos é insensato. Seria criancice supor que um cachorro faz alguma coisa no sentido de perder o osso que ele ama com todo coração e estômago. Uma vez transformado em cultura o ato instintivo de muito possuir, fica impossível a alguém imbuído desta cultura conseguir sacudir fora sua influência e cuidar para que a sociedade tenha mais coisas do que a própria pessoa encarregada de exercer a liderança sobre ela. Resulta daí que ou a juventude se interessa por política, ou então os filhos dos jovens liderados por líderes que os espoliam os excomungarão. A participação da juventude na política trará benefícios a todos, inclusive evitará que pobres velhos caducos e educados na cultura do “venha a mim” deem aos coleguinhas de seus netos o direito de apontar para eles e cochicharem que o avô é ladrão e que é por causa dele que eles precisam tomar dinheiro a juros para pagar estudos.

É preciso que a juventude perceba esta realidade e participe das decisões políticas, invertendo a prática até agora vigente e que resultou no que taí. Só dá certo isso de apenas os líderes tomar as decisões quando houver líderes autênticos, enquanto eles estiverem nas páginas policiais, ó, olho neles! Inté.

  

 

 

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