Caso a
natureza viesse a prorrogar o prazo de sua intervenção final para extinguir a
pior espécie animal que já criou, os bichos de dois pés que se matam em escala
infinitamente superior aos outros bichos, de modo a haver tempo para que os
brasileiros viessem a se constituir num povo civilizado, certamente teriam
constrangimento dos seus antepassados incivilizados. Assim como o brasileiro de
agora sente inexplicável constrangimento por ser considerado descendente de
índio ou de negro, o que realmente somos, os futuros brasileiros repudiariam
seus antepassados merecedores de reprimendas civilizatórias até de atores
americanos aculturados. Tendo vivido por quase oitenta anos nesse país de
triste sorte onde só a natureza presta, posso falar de cadeira que o brasileiro
e o peru tem o mesmo pendor gastronômico. Não se chega a outra explicação ante
o fato de que oitenta em cada cem brasileiros, segundo pesquisa, declaram-se
satisfeitíssimos com a vida. Parece até que a pesquisa teria sido feita entre o
pessoal do Bolsa Família, gente que não se incomoda com as coisas que incomodam
as poucas pessoas normais que se dedicam a alguma coisa mais elevada do que
simplesmente comer, orar e encher latrinas. Sinceramente, para estar satisfeito
em meio a tanto choro, tiro, seqüestros, cadáveres pelas ruas, inclusive em
pedaços, dinheiro do imposto escoando como enxurrada para as bocas de lobo que
dão vazão para dentro dos bolsos dos politiqueiros, enfim, tanta coisa ruim que
para se estar tão satisfeito em tão adversas condições é preciso gostar do que
não presta. Estas generosas terras do Brasil não merecem abrigar o povo que
abriga. Não pode haver melhores terras para se cultivar a paz e nem pode haver
povo pior.
Acontece,
porém, que o povo é o que seus líderes fazem dele porque o homem é moldável
como o ferro, com a diferença de não precisar levar porrada para assumir essa
ou aquela forma no comportamento. Basta que lhe seja ordenado. Já caminhou com
seus próprios pés para onde estavam feras famintas que iam comê-lo. Por falta
de procedimento mais inteligente, estabeleceu-se uma cultura segunda a qual as
pessoas depositam seu destino nas mãos de líderes que decidem por todos,
inclusive sobre vida e morte. Como não há entre os seres humanos de todos os
quadrantes do planeta Terra alguém que tenha superado a animalidade de origem,
não pode haver líder verdadeiro porque no primitivismo atual predomina o
instinto que, salvo nos casos de maternidade, desconhece a preocupação senão
consigo mesmo. Assim, para que alguém se disponha a se sentir menos importante
do que seus liderados a ponto de colocar as necessidades deles em primeiro
lugar, papel do verdadeiro líder, de tal desenvolvimento espiritual distam
ainda os brutos seres humanos alguns anos luz de estrada rumo à civilização e
espiritualidade necessárias para não se odiarem entre si.
A cultura
da obediência aos líderes precisa ser revista por ser impossível a existência
de um verdadeiro líder. Falar-se em reforma feita pela liderança que instituiu
o caos é insensato. Seria criancice supor que um cachorro faz alguma coisa no
sentido de perder o osso que ele ama com todo coração e estômago. Uma vez transformado
em cultura o ato instintivo de muito possuir, fica impossível a alguém imbuído
desta cultura conseguir sacudir fora sua influência e cuidar para que a
sociedade tenha mais coisas do que a própria pessoa encarregada de exercer a
liderança sobre ela. Resulta daí que ou a juventude se interessa por política,
ou então os filhos dos jovens liderados por líderes que os espoliam os
excomungarão. A participação da juventude na política trará benefícios a todos,
inclusive evitará que pobres velhos caducos e educados na cultura do “venha a
mim” deem aos coleguinhas de seus netos o direito de apontar para eles e
cochicharem que o avô é ladrão e que é por causa dele que eles precisam tomar
dinheiro a juros para pagar estudos.
É preciso
que a juventude perceba esta realidade e participe das decisões políticas,
invertendo a prática até agora vigente e que resultou no que taí. Só dá certo
isso de apenas os líderes tomar as decisões quando houver líderes autênticos,
enquanto eles estiverem nas páginas policiais, ó, olho neles! Inté.
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