Entre todos
os seres vivos existentes, o termo “humano” distingue uma categoria à qual as reviravoltas
da natureza impuseram um processo evolutivo tão complexo que foi capaz de
permitir a estes seres fisicamente mais fracos bolar artimanhas capazes de subjugar
outros seres muito mais fortes, o que se deve ao desenvolvimento de um órgão chamado
cérebro, órgão tão complexo que coordena todas as funções das quais depende a
vida, e ainda por cima detém um negócio esquisito denominado poder mental, tão
extraordinário quanto desconhecido, que se manifesta esporadicamente aqui e
acolá produzindo efeitos chamados de milagre em virtude da ignorância que
atribui a forças misteriosas vindas de entes fluidos, portanto invisíveis, a
quem resolveram chamar de divindades. Tudo que escapa a uma explicação lógica
ainda não alcançada pelos parcos conhecimentos científicos até agora incapazes
de promover bem-estar entre os componentes da sociedade humana, qualquer coisa
desconhecida é tida como vindo das divindades.
O poder
atual do cérebro, tão poderoso que produz “milagres”, nem sempre foi tão
poderoso assim. Era igualzinho ao poder do cérebro dos outros animais hoje
denominados de inferiores por sua incapacidade de produzir idéias. Porém,
deixou esta igualdade e embarcou na canoa furada da evolução, trocando pelo
turbilhão nervoso e doentio do corre-corre, a sua paz de bicho cujos sofrimentos
não podiam ser maiores que os atuais em virtude da ausência de sentimento. A
história do desenvolvimento mental do ser humano, se bem pensada, vai dar numa
contradição porque a palavra “evolução” tem sentido de “prá frente”.
Considerando o fato lógico e compreensível de que ninguém quer ter seu
sofrimento progredindo senão prá trás, o termo evolução está indicando um
progresso da involução porquanto a humanidade está mais bruta que a animalidade
do tempo em que não havia idéias, mas apenas instinto. Do processo de evolução
do poder mental resultou um ambiente com predominância de mortes e lágrimas em
lugar da praz e da alegria justificada porque a alegria festiva em que vivem os
seres humanos é falsa. O fato é que a humanidade está num processo tão
acentuado de decadência que está à beira da extinção, o que não indica motivo
para alegria. É de se perguntar: E por que a humanidade se encontra desse
jeito? Simplesmente porque o processo de evolução não podia levar em conta a
predominância dos seres menos evoluídos mentalmente sobre os mais evoluídos, e
esta inversão de valores colocou a humanidade em posição inferior aos bichos. E
a evolução não podia prever esta situação porque ela é natureza e natureza não
tem rumo. Assim, sem rumo, a quantidade assumiu a predominância sobre a
qualidade e seres inferiores são travestidos de “celebridades” e “famosos” ao
lado de desprezados cérebros privilegiados que afirmam em sua sensatez estar
errado gastar em brincadeira o dinheiro de aliviar o choro de quem chora no
corredor do hospital, e a explicação de chegar a humanidade ao ponto em que
chegou se deve unicamente à situação absurda de seguir a orientação dos menos
aptos às atitudes inteligentes e desprezar a orientação de seres tão
privilegiados no ramo de produzir boas idéias que mostram como evitar ingerir
veneno, ouvir barulho e brigar.
Também está
errado o emprego do termo “humano” para representar a generalidade da espécie
humana porque ela se compõe de duas espécies de seres tão diferentes
espiritualmente uma da outra quanto a água do esgoto e a potável. E, por mais
esquisito que seja, é exatamente o grupo da podridão que realmente detém o
poder de mando. São os espécimes menos avançados em sociabilidade que decidem o
destino da sociedade humana, embora também faça parte dela seres de infinita
sabedoria cuja voz não se faz ouvir porque ficou convencionado que o poder de
mando cabe ao grupo maior em quantidade, o que elimina a qualidade. Como
noventa e nove e meio por cento dos seres humanos estão no grupo do esgoto
mental, são eles os responsáveis pelo destino da humanidade e o resultado desta
condução é este cenário de mortes e sofrimento que conhecemos e que acreditamos
erradamente sermos obrigados a viver. Estaria a humanidade fadada ao
sofrimento? Não. Não está. Além não estar, não deve ao sofrimento se acostumar.
Ao contrário, devemos nos livrar de todos os sofrimentos decorrentes do fato de
se viver em grupo por ser esta a melhor forma de se viver. Percebe-se a
necessidade do ajuntamento ao contemplar quanta coisa existe em cada casa, na
rua, nas cidades e no mundo que utilizamos e das quais não podemos prescindir.
Outras pessoas fizeram com que a luz acenda ao acionarmos o interruptor, que
água saia da torneira, enfim todas as coisas que nos possibilitam a vida com
menores transtornos. Embora incógnitos, verdadeiros batalhões de outros seres
humanos contribuem assim ou assado para o conforto de cada um individualmente.
Entretanto,
se precisamos uns dos outros, está completamente errado ser o grupo liderado
por quem promove desarmonia entre seus membros. A liderança da sociedade humana,
como afirmou um dos raros espécimes do grupo de pureza mental, antes da
existência de Cristo, o poder de mando ou liderança deve ser exercido por quem
tem capacidade de produzir idéias luminosas. Entretanto, o que temos é o
predomínio das mentes mais conturbadas onde habita a perversidade e o crime
sobre outras onde a inteligência e a sabedoria se propõem a orientar em direção
à paz e harmonia sem as quais não se pode falar em civilização. É tempo,
portanto, de se refletir sobre tudo isso porque já chega de choro e insensatez. Inté.
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