quinta-feira, 12 de outubro de 2023

ARENGA 703

 

Nenhuma definição de dicionário define melhor a palavra POVO do que a de Érico Veríssimo na página 199 do livro Olhai os Lírios do Campo: “POVO É AQUILO QUE NÃO PENSA, NÃO TEM VONTADE”. Perfeitíssimo! Um instante de reflexão sobre o dia a dia do povo leva realmente à conclusão de ser o seu comportamento igual ao de um pedaço de papel ao sabor do vento, cujo destino não lhe pertence. Nesse mesmo livro de Veríssimo, na página 86, um personagem deísta contra-argumentando outro personagem, um ateu, faz-lhe a seguinte pergunta: “Vocês ateus querem nos tirar Deus para nos dar em lugar dele... o quê?” É o mesmo que tirar pão da boca de quem tem fome e dar-lhe em troca areia ou cinza”. Este questionamento encerra a realidade de que o povo precisa ser iludido. Diferentemente do adulto consciente para o qual aquilo que é indispensável é a verdade segundo a qual não há espaço para deus algum nesse mundo fora da imaginação das pessoas do povo que, como se pode facilmente perceber, não pensa.

Se a papagaiada de microfone incentiva para jogar na acumulada, em profusão, inumeráveis pessoas se aglomeram na loja de jogatina do Cassino Caixa Econômica Federal levando minguados reais para lá deixar. Se o incentivo é para comprar presentes por algum motivo, a aglomeração é nas lojas.

Se, aos berros de “gol” a papagaiada de microfone insinua que vai ser espetacular o clássico entre os times sai-de-baixo e sai-de-cima, alvoroçadas, aglomera-se nos estádios multidão barulhenta entre socos e tantos pontapés entre as pessoas que na bola e, não raro, morte.

Se algum menino diz ser um negócio esquisito chamado youtuber, ou que tem destreza em correr levando nos pés uma bola até finalizar a disparada num coice na bola que resulta num negócio também esquisito chamado gol, este menino passa a receber tanta admiração do povo que vira trilionário e celebridade. 

Nas eleições e na religiosidade, então, aflora em todo esplendor o comportamento de coisa que não pensa. Se nas eleições o povo paga cinco bilhões à televisão para que por meio do seu ópio colorido ela convença em quem votar. Na religiosidade, o povo busca proteção na figura de um deus que ninguém vê e que se diz chamar Eu Sou, representado por um sujeito grandalhão, aparentemente bonachão e de simpatia irradiante, chamado papa, que por não ser bobo não bota fé na proteção divina e se desloca em carro blindado.   

 

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