Em matéria publicada no blog Outras Palavras, Boaventura de Sousa Santos fala que temos raízes cravadas nos conceitos que herdamos
para analisar ou avaliar o mundo em que vivemos. Acontece que dos conceitos
transmitidos de uma geração a outra geração nenhum se refere à necessidade de
se analisar a vida. Ao contrário, aprende-se a desnecessidade desta análise. A
religião ensina que o destino é traçado por Deus e, portanto, inalterável. Desta
falsidade resulta a cultura do conformismo com os sofrimentos desnecessários.
Tão falso quanto a desnecessidade de se meditar sobre como se viver bem é a
necessidade de ajuntar riqueza. Desta forma, o que as gerações posteriores
recebem das anteriores é a cultura antissocial do malogro, da esperteza e do
levar vantagem. Nunca, porém sobre a vida.
A
presidente da mais alta corte de justiça do Brasil, ministra Carmem Lúcia, diz
esperar que propostas de políticos sobre o STF não passem de retórica. Por mais
inacreditável que possa parecer, o que propõem os políticos é a submissão da
justiça ao banditismo que toma conta do Poder, sendo ainda mais inacreditável a
conivência de membros daquela corte com a bandidagem. Pois, embora
inacreditável, é a realidade. Este país é realmente um poço de absurdos e quem
se insurge contra eles recebe rajada de metralhadora. Daí a cautela que a
ministra demonstrada ao declarar apenas “esperar” não passar de retórica a ação
dos políticos contra a justiça. Como chefe daquela instituição, entretanto,
deveria meter na cadeia os bandidos em vez de temê-los.
Na página
64 do volume VII da série de estudos do filósofo Eric Voegelin, intitulada História
das Ideias Políticas, há referência da necessidade de devolver ao homem sua
relação com Deus. Ora, outros filósofos afirmam que Deus nunca foi mais do que
uma invenção, afirmação esta mais condizente com a realidade porque a ideia de
Deus sugere uma paz e uma tranquilidade que nunca existiram desde que se tem
notícia da existência do mundo. Além disso, o que mostra a história da religião
é que a própria figura de Deus tem dado motivo para morticínios sem fim.
Tais
constatações levam à conclusão de haver necessidade de se inverter a ideia proposta
pela palavra religião (ligação do homem a Deus) para uma ligação dos homens
entre si porque enquanto predominar a cultura do cada um por si haverá
infelicidade de montão. Inté.
Nenhum comentário:
Postar um comentário