quinta-feira, 9 de agosto de 2018

ARENGA 510


 Em matéria publicada no blog Outras Palavras, Boaventura de Sousa Santos fala que temos raízes cravadas nos conceitos que herdamos para analisar ou avaliar o mundo em que vivemos. Acontece que dos conceitos transmitidos de uma geração a outra geração nenhum se refere à necessidade de se analisar a vida. Ao contrário, aprende-se a desnecessidade desta análise. A religião ensina que o destino é traçado por Deus e, portanto, inalterável. Desta falsidade resulta a cultura do conformismo com os sofrimentos desnecessários. Tão falso quanto a desnecessidade de se meditar sobre como se viver bem é a necessidade de ajuntar riqueza. Desta forma, o que as gerações posteriores recebem das anteriores é a cultura antissocial do malogro, da esperteza e do levar vantagem. Nunca, porém sobre a vida. 

A presidente da mais alta corte de justiça do Brasil, ministra Carmem Lúcia, diz esperar que propostas de políticos sobre o STF não passem de retórica. Por mais inacreditável que possa parecer, o que propõem os políticos é a submissão da justiça ao banditismo que toma conta do Poder, sendo ainda mais inacreditável a conivência de membros daquela corte com a bandidagem. Pois, embora inacreditável, é a realidade. Este país é realmente um poço de absurdos e quem se insurge contra eles recebe rajada de metralhadora. Daí a cautela que a ministra demonstrada ao declarar apenas “esperar” não passar de retórica a ação dos políticos contra a justiça. Como chefe daquela instituição, entretanto, deveria meter na cadeia os bandidos em vez de temê-los.

Na página 64 do volume VII da série de estudos do filósofo Eric Voegelin, intitulada História das Ideias Políticas, há referência da necessidade de devolver ao homem sua relação com Deus. Ora, outros filósofos afirmam que Deus nunca foi mais do que uma invenção, afirmação esta mais condizente com a realidade porque a ideia de Deus sugere uma paz e uma tranquilidade que nunca existiram desde que se tem notícia da existência do mundo. Além disso, o que mostra a história da religião é que a própria figura de Deus tem dado motivo para morticínios sem fim.

Tais constatações levam à conclusão de haver necessidade de se inverter a ideia proposta pela palavra religião (ligação do homem a Deus) para uma ligação dos homens entre si porque enquanto predominar a cultura do cada um por si haverá infelicidade de montão. Inté.   

Nenhum comentário:

Postar um comentário