sábado, 4 de agosto de 2018

ARENGA 509


Meu amigo Movér, escritor, poeta, e de várias outras serventias úteis à sociedade, me recomenda não ser contra os intelectuais. Todavia, para quem nasceu com o defeito de desejar que os seres humanos deixem para os irracionais esse negócio de ter medo uns dos outros não há como não ser contra a atitude indiferente dos intelectuais a esse respeito. Eles desperdiçam o riquíssimo cabedal de conhecimento sobre os mais diversos assuntos, menos sobre o motivo pelo qual os seres humanos digladiam quando deviam se abraçar. É imperdoável a despreocupação dos intelectuais quanto a esta realidade. Em vez de erudição, caberia a eles mostrar a nós de poucas letras ser inteiramente incompatível competição e vida social. Pior ainda que a indiferença é haver entre eles quem defenda esta cultura flagrantemente antissocial que em vez de saúde e tranquilidade encheu o planeta de armas, gases venenosos, bombas, morticínio, riqueza, pobreza e infelicidade. É por isso, meu caro amigo Movér, que ainda na pequenez da minha desimportância não deixo de condenar os intelectuais. Como podem homens de grande discernimento ficarem impassíveis ante a deterioração moral, cinismo, falta de pudor, roubalheira desavergonhada, autoridades compactuando com a bandidagem que transformou o Estado de Direito em Estado do Crime? Se a ninguém, nem mesmo aos Zemanés é dado o direito de não observar que se todos os seres humanos normais gostariam de poder viver na tranquilidade da paz. Por que, então, não vivem se é o que desejam? É, pois, imperdoável a atitude dos intelectuais de pavonear erudição e não se interessarem em empregar sua sabedoria em torno desta distorção de valores que faz de brutamontes sociais e vulgares as pessoas mais valorizadas da sociedade. Abração, meu amigo. Inté.

 

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