terça-feira, 3 de outubro de 2017

ARENGA 450


José Ortega Y Gasset, em A rebelião das Massas, Editora Vide Editorial, pág. 18, faz a seguinte ponderação: “Nossa atividade de decisão não descansa um instante sequer. Mesmo quando, desesperados, nos abandonamos ao que vier, estamos decidindo não decidir”. A humanidade, segundo esta filosofia, decidiu não decidir sobre a qualidade de sua vida, deixando tão grande responsabilidade a cargo de líderes cuja propensão à liderança equivale a de Nietzsche a ser um pastor evangélico. Desta insensata e estúpida indiferença da humanidade quanto ao seu próprio futuro resulta não haver na face da terra um único ser humano que não esteja submetido à escravidão de proporcionar vida regalada a estes malandros travestidos de líderes que decidem o seu destino da humanidade. Estes líderes, na verdade, nada mais são do que lambe-botas dos ricos donos do mundo aos quais se submetem de rabo entre as pernas tal qual cachorro vira lata. E não pode mesmo ser de outra forma uma vez que para ocupar os cobiçados postos de liderança que lhes permitem roubar o erário é preciso contar com o apoio da massa bruta de povo, apoio esse que depende de muito dinheiro porque a massa bruta escolhe quem faz maior estardalhaço em festas, fotografias ao lado de jogador de futebola, ou que gasta mais dinheiro para que a imprensa divulgue suas mentiras, além da grana destinada aos tais marqueteiros, na verdade, tão malandros quanto seus clientes porque também se tornam multimilionários convencendo os débeis frequentadores de igreja, axé e futebola de que fulano ou beltrano é que é o cara. Uma vez que o dinheiro grosso para estas coisas está nas mãos do ricos donos do mundo, é mais do que natural que os ocupantes e os aspirantes à posse da chave do erário babem o saco de quem tem dinheiro. Uma vez empossados, passam os falsos líderes a representar a vontade dos malditos ricos dono do mundo, antas sociais, incapazes de perceber que o ajuntamento de riqueza impossibilita o equilíbrio social necessário à tranquilidade, portanto, à felicidade das pessoas, uma vez que ninguém pode deixar de ser infeliz na intranquilidade.

Ao deixar a cargo dos falsos líderes a responsabilidade pela aplicação do dinheiro que deveria ser usado para promover tranquilidade social, o elemento bruto e asqueroso de povo procede como alguém que abrisse um botequim e o deixasse a cargo do mais irresponsável e maior cachaceiro do local. Em todas as sociedades do mundo os falsos líderes cavalgam o bicho povo. Quando esse bicho povo ainda é mais bicho, como aqui entre nós, aí a coisa ainda é pior. Aqui já se chegou a uma situação tão desesperadora que embora esteja a sociedade à míngua de tudo, famílias inteiras de falsos líderes também conhecidos como excelências formam quadrilhas para assaltar o erário, o que fazem com facilidade graças à indiferença da população a tantos desmandos que a administração pública é exercida por bandidos. Nossa sociedade chegou a tal estado de putrefação moral que o crime já se tornou tão banal que a mais alta corte de justiça protege desordeiros e persegue quem faz opção pela ordem sem a qual se instala o caos graças à brutalidade humana. Há deputados condenados por crime, mas autorizado pela desmoralizada justiça a continuarem na função de deputado. É uma administração pública canhestra, exercida a favor dos administradores e seus chefes mafiosos, os ricos donos do mundo. Dela, o que sobra para a massa bruta de povo são apenas queixumes, lágrimas na televisão e nos corredores dos hospitais, além de cadáveres pelas ruas e crianças na cadeia.

No mundo inteiro os administradores públicos parasitam a sociedade humana por ordem de seus superiores. Embora integrando a classe parasitária, sendo a informação sua fonte de renda, a imprensa informa que nos Estados Unidos a Associação nacional do Rifle deu cinquenta e três milhões de dólares para ajudar a eleger políticos que agora suam a camisa para garantir o livre comércio de armas. Pode-se apostar um tostão furado como esta associação é produto da indústria armamentista, cuja finalidade é trocar armas pelo dinheiro que enche as caixas-fortes nos infernos fiscais, assim como o Prêmio Nobel tem por finalidade fazer apologia da cultura que faz crer ser normal a existência de bilionários ao lado de famintos. Finalidade também antissocial tem a Fundação Templeton, instituição americana semelhante ao Nobel, cuja finalidade é comprar opiniões de cientistas favoráveis à religiosidade, entidade esta tão inútil que o Afeganistão distribui armas aos civis para que protejam suas igrejas. A religiosidade tem por única função fazer com que os pobres de espírito, a quase totalidade dos seres humanos, prefiram as igrejas à política, única responsável pela qualidade de vida. É por conta da necessidade de não deixar cair a peteca da indiferença política que a mais alta corte de justiça torna obrigatório o ensino religioso nas escolas públicas, graças ao poder das forças ocultas que a Lava Jato está desocultando. Como se vê, a sociedade humana vive sobre um pedestal de falsidades, razão pela qual precisa urgentemente mudar de rumo porque a estupidez de permanecer em erro supera qualquer outro tipo de estupidez, mesmo a estupidez de se conformar em ser presa da canalha que se apossou da riqueza do mundo, posto que até os irracionais fogem o predador.

Para o brasileiro, a estupidez é adorno. No livro O LADO SUJO DO FUTEBOL, seus autores, Amauri Ribeiro Jr., Leandro Cipoloni, Luiz Carlos Azenha e Tony Chastinet, pela editora Planeta, mostram ter sido o esporte das multidões de idiotas transformado numa forma de esfolar o rabo das multidões de mendigos mentais que formam o elemento asqueroso povo. São mansões monumentais, relógios de ouro cravejados de diamantes, iates fabulosos, contas abarrotadas de dinheiro automóveis dos mais caros do mundo, monumentais farras com mulheres que se escondem atrás da profissão de modelo, enfim, algo só comparável, ao fantástico mundo multimilionário resultante dos conluios entre os canalhas da política e os das grandes empresas. Desta forma, estando o mundo de cabeça para baixo, é de se estranhar, e muito, que os intelectuais escrevam livros e mais livros sem que uma sílaba apenas se refira à insustentabilidade desta situação. Embora inegável ser interessante conhecer nossa trajetória evolutiva, curiosidades como o fato de ter a domesticação do fogo contribuído para o desenvolvimento do cérebro em função do aproveitamento da energia economizada com a diminuição do intestino graças ao cozimento dos alimentos, tais devaneios em absolutamente nada contribuem para o que há de mais importante para o ser humano: sua condição de vida. Contra a miséria humana, os intelectuais apenas dão dicas que a massa bruta de povo não aproveita por analfabetismo ou ojeriza aos livros. Faz-se necessário, pois, deixar de lado a intelectualidade dos intelectuais e passar a cogitar de assuntos práticos e relacionados com uma forma de vida na qual predomine o raciocínio lógico de ser descartável a quase totalidade dos sofrimentos que afligem os seres humanos. Tais infortúnios decorrem por ação dos próprios seres humanos transformados em robôs programados para produzir dinheiro, adorar santidades e festejamentos, numa alegria que acabará quando começar a fase das dores, dos remédios e do hospital, onde a cultura da riqueza fará com que profissionais da saúde façam de tudo para não deixar que se esvaia uma vida cuja única utilidade é lhes servir de fonte de renda. As divindades às quais a ignorância humana atribui sua qualidade de vida, caso existissem realmente, precisariam ser queimadas por uma inquisição benéfica em função do mal causado à humanidade por estas santidades cuja orientação resultou no atual estado de desgraças que grassam mundo afora.

Faz-se necessário que os intelectuais atuem diretamente para a mudança desse estado social medíocre para outro de elevado padrão social, visto que para seu próprio bem a humanidade não deve se ater a evoluir espiritualmente de forma tão lenta como faz a natureza no que se refere à evolução física. Na página 22 de Uma Breve História da Humanidade, de Yuval Noah Harari, editora L&PM, consta que há cento e cinquenta mil anos o ser humano já era como hoje é. As conjecturas dos intelectuais dizem respeito apenas ao seu mundo. Na página 371 do laureado livro História do Pensamento Ocidental, do não menos laureado escritor Bertrand Russel, consta o seguinte: “Ao tratarmos da filosofia nos últimos setenta ou oitenta anos, enfrentamos algumas dificuldades especiais, pois, como estamos muito perto desses acontecimentos, é difícil vê-los com o distanciamento e a imparcialidade adequados”. Tal afirmação, embora tenha tudo a ver com a intelectualidade dos intelectuais, encerra para o leigo o paradoxo de ser justamente por estarem presentes os infortúnios dos quais provêm as infelicidades que se faz necessário debruçar sobre eles a fim de detectar sua causa para que se possa neutralizar seu efeito. É sobre questões práticas que devem os filósofos filosofar. O prefácio deste livro citado começa assim: “Um grande livro é um grande mal”. Pensamento atribuído ao poeta Calímaco. Ora, como ser um mal um grande livro, se o qualificativo “grande” está relacionado a sentido positivo? Mas os intelectuais, parece, sentem necessidade de mostrar intelectualidade ainda que inútil, da mesma forma que os ricos precisam mostrar riqueza também inútil, porque em absolutamente nada tem de proveitoso em relação a uma forma agradável de vida cogitar-se sobre o significado da vida, se o mundo tem um propósito ou se o desenrolar da história nos leva a algum lugar. Não raro, porém, os intelectuais, principalmente os egressos das Harvards do mundo, distorcem a realidade. O mesmo laureado filósofo Yuval Noah Harari, no livro Homo Deus, Uma Breve História do Amanhã, editora Companhia das Letras, na página 14, há uma afirmação deletéria ao desenvolvimento do espírito de sociabilidade, único caminho que poderá levar a humanidade à tranquilidade da paz. Afirma o filósofo que embora centenas de milhões de pessoas ainda passem fome quase todos os dias, na maioria dos países o número de mortes por inanição é muito pequeno. Esta é a absurdo lógica capitalista para a qual é normal estar nas mãos de apenas um por cento da humanidade os bens materiais que a todos deveriam servir. Não há maior desumanidade do que ser indiferente a quem passa fome.

Especulações que passam ao largo da necessária mudança para uma cultura sadia que substitua esta cultura infame e doentia a cair aos pedaços de podre, devem aguardar o momento propício para outras divagações alheias à brutalidade que tomou conta do mundo. Em primeiríssimo lugar faz-se necessário substituir a cultura do faz de conta que tá tudo bem por uma cultura capaz de encarar a vida com realismo. Assim como para quem está tendo a casa incendiada é mais importante apagar o fogo do que especular sobre como ele teria começado, do mesmo modo, os desamparados pela falta de conhecimento precisam que os intelectuais lhes ajudem a superar esta fase negativa da qual provêm os males do mundo que existem por obra e graça do conformismo com a cultura brutal de acumular riqueza num canto e miséria no outro canto, graças ao comportamento antissocial dos trogloditas mentais, magnificamente delineado nos seguintes versos de La Fontaine, na página 23 do livro Fábulas, da editora Martin Claret: Um galo achou num terreiro / Uma pérola, e ligeiro, / corre a um lapidário e diz: / “Isto é bom, é de valia. / De milho um grão todavia / Era um achado mais feliz.

Um néscio ficou herdeiro / De um manuscrito, e a um livreiro / Vai à pressa, e fala assim: / “É bom, é livro acabado, / Concordo, mas um ducado / Valia mais para mim. Destas duas estrofes se conclui que a mentalidade do néscio, qualificativo que expressa com eficiência o comportamento dos ajuntadores de riqueza, é inferior à do galo, orientado apenas pelo instinto. O qualificativo néscio define com eficiência o comportamento do imbecil que pavoneia ser o mais rico, sem, entretanto, cogitar das consequências funestas de tal comportamento.

É sobre estas questões práticas que devem os filósofos filosofar. Esclarecer em vez de confundir. Esclarecer, por exemplo, a inconsequência à qual a ninguém parece interessar de serem as pessoas submetidas a uma constante lavagem cerebral através da papagaiada de microfone que por conta das forças ocultas fazem crer à massa ignara haver algo de bom em coisas altamente danosas. Um exemplo esclarecedor desta realidade é o agribiuzinesse laureado por papagaios de microfone, em franca contradição com a realidade materialmente confirmável e exposta na reportagem denominada Maldição em Sandovalina, da jornalista Inês Castilho, publicada no blog Outras Palavras, escola de alfabetização política, no seguinte teor: “O município paulista com a maior taxa de morte por câncer do pâncreas é Sandovalina, pequena cidade de pouco mais de 4 mil habitantes na região do Pontal do Paranapanema. É também o segundo maior índice de nascidos vivos com malformações congênitas, conforme dados do Ministério da Saúde de 2000 a 2013, e o motivo é bem conhecido pela população. São os aviões que passam despejando veneno, contaminando as águas, pessoas e plantações”. O que justifica, então, fazer proselitismo de tal monstruosidade? Pensar sobre isto é mais importante do que conhecer o conteúdo das 759 páginas do livro A História da Grande Evolução, do intelectualíssimo Richard Dawkins, que na página 21 recomenda a leitura do livro A Vida do Cosmos, do físico teórico Lee Smolin. Sobre este livro recomendado, o autor que o recomenda diz o seguinte: “No modelo de Smolin, universos originam universos “filhos”, os quais variam em suas leis e constantes. Os universos-filhos nascem de buracos negros produzidos pelo universo pai, e desse herdam suas leis e constantes, porém, com alguma possibilidade de pequenas mudanças aleatórias”. O livro de Dawkins é realmente uma excelente aula sobre o processo evolutivo. Entretanto, de esclarecimento, de contribuição para superar a ignorância em que se encontra mergulhada a humanidade e que a impede de viver sem tanto sofrimento, a única coisa prática está na página 37, quando torna pública o embuste da religião ao mencionar o fato de terem teólogos alemães do século XIX adulterado a história do Antigo Testamento para adequá-la a profecias do Antigo Testamento, no que contribui para o esclarecimento de ser um embuste a religiosidade. No mais, é tudo divagações que em nada contribuem para adequar o dia a dia das pessoas à dignidade que o ser humano deve, merece e precisa ter. Inté.  

 
 

 

 

 

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