sexta-feira, 27 de outubro de 2017

ARENGA 456


“Os conflitos e lutas nacionais pelo império são ingredientes comuns daquilo que se chama política de poder. A expressão designa a cata de poder por estados soberanos, como um fim em si mesmo ou como meio para consecução de outros fins. Os métodos empregados têm incluído tradicionalmente quase todas as formas de burla e trapaça já inventadas pela astúcia humana. Nações que mantêm oficialmente relações pacíficas espionam-se umas às outras, emitem ameaças e contra-ameaças, formam alianças e contra-alianças, e tentam lograr-se mutuamente. Por fim, quando o mêdo (sic) e a cobiça passam a prevalecer sobre tudo mais, recorrem à guerra. Embora se costume encobrir a realidade crua com o verniz dos chás de embaixadas e das formalidades oficiais, a regra fundamental da política de poder é a lei das selvas”. Este retrato perfeito de política é conclusão a que chega o historiador Edward McNall Burns e está na página 756 do segundo volume do livro História da Civilização Ocidental, editora Globo. Estas poucas palavras expõem de forma completa a origem da infelicidade humana porquanto a humanidade não tem outra escolha senão a de ser governada pelo tipo de política descrita pelo historiador, dura realidade que deverá levar à opção pelo bom senso de decretar o fim da atual fase da história humana pela simples e clara realidade de terem os governantes por finalidade a obtenção de riqueza arrancada do lombo dos governados com a qual satisfazer sua sede incontida de poder refletida na vida faustosa que levam em seus monumentais palácios. Deste procedimento resulta que os seres humanos jamais poderão alcançar o objetivo perseguido por cada um deles de poder viver na paz da tranquilidade junto com seus entes queridos. Há tão grande distorção que este desejo também é desejado pelos próprios administradores públicos que impedem sua realização para os outros e para si mesmos porquanto de suas ações resultam-lhe a infelicidade de uma vida de mentiras e falcatruas das quais muitas vezes levam à solidão da cadeia. Da cultura política descrita acima pelo grande historiador, resultaram o militarismo e o armamentismo a consumirem fabulosos recursos empregados na arte de matar da qual resulta apenas a tristeza que acompanha o sofrimento. Este modo distorcido de viver, por mais força que tenham a religiosidade e o pão e circo, o quase nada de inteligência de que dispõe o ser humano haverá de levá-lo à conclusão de estar vivendo a um tipo de vida inferior à do asno porquanto o asno recebe de quem o explora os meios necessários para viver. Por mais desprovido da capacidade de raciocinar que seja um indivíduo, ao perceber estar sendo ludibriado por algum tipo de esperteza que o prejudica, reagirá inevitavelmente. Assim, a falta de sintonia com a realidade, a enganação a que os seres humanos são submetidos desde sempre haverá de provocar neles a reação e a derrocada da cultura atual da qual resulta a humanidade ter sido submetida pelos governantes à mesma escravidão da qual resultava haver sensatez na expressão “VÃO, E MORRAM COM HONRA!” pronunciada pelo comandante dos gladiadores no filme Spartacus, determinando que homens subissem à arena onde se digladiariam até à morte para deleite de imperadores e da massa vil também conhecida como povo cujos componentes berravam e se extasiavam quando um gladiador trespassava outro com a espada, do mesmo modo como extasiam hoje quando um boxeador quebra o queixo de outro ou quando uma marionete do pão e circo espeta uma espada no coração de um touro depois de tê-lo enraivecido tanto que o pobre animal perde a noção e lança furiosamente sobre o palhaça ovacionado pela malta asquerosa de povo.

Os brasileiros, o povo mais indigno do mundo, prestarão à humanidade grande benefício de mostrar à juventude do mundo a premente necessidade de mudar de rumo, levando-a a buscar uma vida digna num ambiente no qual a mediocridade não possa ser motivo para que alguém venha a ser célebre e famoso. Sendo a desfaçatez do disfarce a única coisa que diferencia da nossa as sociedades tidas como civilizadas, é inteiramente impossível que a juventude destas sociedades supostamente civilizadas não venham a se inclinar por um tipo de sociedade diferente da sociedade brasileira uma vez que por aqui senador faz tráfico de droga, presidente da república suborna deputados e senadores, ministros da mais alta corte de justiça se declaram publicamente coniventes com criminosos ricos, candidato à presidência da república deste belo país de triste sorte em campanha apesar de condenado à cadeia, uma instituição chamada foro privilegiado que isenta criminosos ricos da condenação, livros como O Chefe, Honoráveis Bandidos e Privataria Tucana acusam ex-presidentes da república de crimes hediondos sem nenhuma consequência, bandidos comandam suas quadrilhas de dentro da prisão, senador é traficante de droga. Nossa sociedade, desta forma, é o espelho no qual se mirar a humanidade a fim de perceber que ele reflete imagem diferente daquilo que se espera: uma sociedade capaz de colocar os administradores públicos no mesmo nível dos trabalhadores outros, obrigados ao cumprimento do dever. O não cumprimento deste dever por parte dos responsáveis por ele dá origem à indiferença dos administradores públicos em relação à sociedade que administram como prova a inversão de ser a capacidade criativa usada em benefício do indivíduo em vez da sociedade. Os benefícios decorrentes do aparato tecnológico ficam restritos apenas aos ricos e, paradoxalmente, negados aos elementos asquerosos de povo, mas accessíveis a seus empregados, os administradores públicos.

Assim, ante a inegável realidade de serem os administradores públicos os promotores da desorganização social, e ainda não haver sido engendrado outro modo de organização social capaz de prescindir da cultura de entregar a eles a responsabilidade pelo destino da coletividade, cabe repensar a vida em termos práticos, deixando para depois as preocupações intelectuais em saber se espírito e alma são coisas diferentes, sobre vida depois da morte, sobre a briga entre Platão e Nietzsche a respeito destas coisas. As especulações intelectuais, embora façam parte da salutar curiosidade humana, não podem ter preferência sobre especulações a respeito de uma forma de vida melhor do que a monstruosidade vivida atualmente da qual resulta o justificado medo generalizado uma vez que a qualquer momento pessoas podem se tornar alvos de balas e explosões. Custa nada pensar. Nenão? Inté.

 

 

 

 

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