“Os conflitos e lutas nacionais pelo império são
ingredientes comuns daquilo que se chama política de poder. A expressão designa
a cata de poder por estados soberanos, como um fim em si mesmo ou como meio
para consecução de outros fins. Os métodos empregados têm incluído
tradicionalmente quase todas as formas de burla e trapaça já inventadas pela
astúcia humana. Nações que mantêm oficialmente relações pacíficas espionam-se
umas às outras, emitem ameaças e contra-ameaças, formam alianças e contra-alianças,
e tentam lograr-se mutuamente. Por fim, quando o mêdo (sic) e a cobiça passam a prevalecer sobre tudo
mais, recorrem à guerra. Embora se costume encobrir a realidade crua com o
verniz dos chás de embaixadas e das formalidades oficiais, a regra fundamental
da política de poder é a lei das selvas”. Este retrato perfeito de política
é conclusão a que chega o historiador Edward McNall Burns e está na página 756
do segundo volume do livro História da Civilização Ocidental, editora Globo. Estas poucas palavras expõem de forma completa a origem da
infelicidade humana porquanto a humanidade não tem outra escolha senão a de ser
governada pelo tipo de política descrita pelo historiador, dura realidade que
deverá levar à opção pelo bom senso de decretar o fim da atual fase da história
humana pela simples e clara realidade de terem os governantes por finalidade a
obtenção de riqueza arrancada do lombo dos governados com a qual satisfazer sua
sede incontida de poder refletida na vida faustosa que levam em seus monumentais
palácios. Deste procedimento resulta que os seres humanos jamais poderão
alcançar o objetivo perseguido por cada um deles de poder viver na paz da
tranquilidade junto com seus entes queridos. Há tão grande distorção que este
desejo também é desejado pelos próprios administradores públicos que impedem
sua realização para os outros e para si mesmos porquanto de suas ações
resultam-lhe a infelicidade de uma vida de mentiras e falcatruas das quais
muitas vezes levam à solidão da cadeia. Da cultura política descrita acima pelo
grande historiador, resultaram o militarismo e o armamentismo a consumirem
fabulosos recursos empregados na arte de matar da qual resulta apenas a
tristeza que acompanha o sofrimento. Este modo distorcido de viver, por mais
força que tenham a religiosidade e o pão e circo, o quase nada de inteligência
de que dispõe o ser humano haverá de levá-lo à conclusão de estar vivendo a um
tipo de vida inferior à do asno porquanto o asno recebe de quem o explora os
meios necessários para viver. Por mais desprovido da capacidade de raciocinar
que seja um indivíduo, ao perceber estar sendo ludibriado por algum tipo de
esperteza que o prejudica, reagirá inevitavelmente. Assim, a falta de sintonia
com a realidade, a enganação a que os seres humanos são submetidos desde sempre
haverá de provocar neles a reação e a derrocada da cultura atual da qual
resulta a humanidade ter sido submetida pelos governantes à mesma escravidão da
qual resultava haver sensatez na expressão “VÃO, E MORRAM COM HONRA!” pronunciada
pelo comandante dos gladiadores no filme Spartacus, determinando que homens
subissem à arena onde se digladiariam até à morte para deleite de imperadores e
da massa vil também conhecida como povo cujos componentes berravam e se
extasiavam quando um gladiador trespassava outro com a espada, do mesmo modo
como extasiam hoje quando um boxeador quebra o queixo de outro ou quando uma
marionete do pão e circo espeta uma espada no coração de um touro depois de
tê-lo enraivecido tanto que o pobre animal perde a noção e lança furiosamente
sobre o palhaça ovacionado pela malta asquerosa de povo.
Os
brasileiros, o povo mais indigno do mundo, prestarão à humanidade grande
benefício de mostrar à juventude do mundo a premente necessidade de mudar de
rumo, levando-a a buscar uma vida digna num ambiente no qual a mediocridade não
possa ser motivo para que alguém venha a ser célebre e famoso. Sendo a
desfaçatez do disfarce a única coisa que diferencia da nossa as sociedades
tidas como civilizadas, é inteiramente impossível que a juventude destas
sociedades supostamente civilizadas não venham a se inclinar por um tipo de
sociedade diferente da sociedade brasileira uma vez que por aqui senador faz
tráfico de droga, presidente da república suborna deputados e senadores,
ministros da mais alta corte de justiça se declaram publicamente coniventes com
criminosos ricos, candidato à presidência da república deste belo país de
triste sorte em campanha apesar de condenado à cadeia, uma instituição chamada
foro privilegiado que isenta criminosos ricos da condenação, livros como O
Chefe, Honoráveis Bandidos e Privataria Tucana acusam ex-presidentes da
república de crimes hediondos sem nenhuma consequência, bandidos comandam suas
quadrilhas de dentro da prisão, senador é traficante de droga. Nossa sociedade,
desta forma, é o espelho no qual se mirar a humanidade a fim de perceber que
ele reflete imagem diferente daquilo que se espera: uma sociedade capaz de
colocar os administradores públicos no mesmo nível dos trabalhadores outros,
obrigados ao cumprimento do dever. O não cumprimento deste dever por parte dos
responsáveis por ele dá origem à indiferença dos administradores públicos em
relação à sociedade que administram como prova a inversão de ser a capacidade
criativa usada em benefício do indivíduo em vez da sociedade. Os benefícios
decorrentes do aparato tecnológico ficam restritos apenas aos ricos e,
paradoxalmente, negados aos elementos asquerosos de povo, mas accessíveis a
seus empregados, os administradores públicos.
Assim, ante
a inegável realidade de serem os administradores públicos os promotores da
desorganização social, e ainda não haver sido engendrado outro modo de
organização social capaz de prescindir da cultura de entregar a eles a
responsabilidade pelo destino da coletividade, cabe repensar a vida em termos
práticos, deixando para depois as
preocupações intelectuais em saber se espírito e alma são coisas diferentes,
sobre vida depois da morte, sobre a briga entre Platão e Nietzsche a respeito
destas coisas. As especulações intelectuais, embora façam parte da salutar
curiosidade humana, não podem ter preferência sobre especulações a respeito de
uma forma de vida melhor do que a monstruosidade vivida atualmente da qual
resulta o justificado medo generalizado uma vez que a qualquer momento pessoas
podem se tornar alvos de balas e explosões. Custa nada pensar. Nenão? Inté.
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