quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

ARENGA 519


Entre as futilidades do Yahoo Notícias em torno dos ridículos “famosas” e “celebridades” incapazes de fazer um O com um copo, está a imagem de um jovem tomado por exacerbada euforia pela razão de ter sido vitorioso em alguma modalidade esportiva, o que não é de se estranhar em se tratando de um inocente jovem porquanto até velhos são afetados pela mesma emoção e até levados ao ataque cardíaco. Tamanha imbecilidade é indicativo de alguém que exerceu muito mal a tarefa de viver porque nada aprendeu durante todo o trajeto. Não aprendeu, por exemplo, ser a vida vivida apenas o momento presente, tal qual um motorista que se limitasse a dirigir na escuridão apenas com a claridade da luz baixa, indiferente a possíveis obstáculos além do campo que a luz baixa alcança. Acionando a luz alta do veículo da vida, conclui-se que aquele inocente jovem da boca e olhos escancarados comemora, na verdade, uma vitória de Pirro porque quando a natureza completar seu trabalho inexorável de consumir sua vitalidade, no lugar dos músculos daquele jovem campeão haverá pelancas de velho e a glória de sua vitória estará reduzida ao “JÁ FUI BOM NISSO”.

Envolvido em fantasias, ninguém dá conta de que num futuro não muito distante seus filhos estarão amargando a infelicidade das consequências da falta de água da qual resultarão disputas ainda mais sangrentas do que foram as disputas por ouro, uma vez que a vida não depende de ouro. Na verdade, como afirmou o historiador Henry Thomas, a humanidade é realmente constituída de seres tão estúpidos que vivem a destruir o que acabaram de construir. Esta estupidez se mostra em toda sua plenitude quando se constata que o comportamento humano não depende da vontade do próprio homem. Embora tal afirmação pareça idiotice de Zemanés, o certo é que a vontade do homem, ao contrário da nave do nosso poeta Zé Ramalho, que sei de dentro do peito, a vontade é insuflada de fora para dentro do ser humano. São os meios de comunicação a soldo de um monstro chamado Mercado, invenção antissocial a serviço de um grupinho de avaros Tios Patinhas que a fim de terem satisfeita sua avareza, usam desta instituição para criar nas pessoas o vício de comprar as coisas que vendem. Através de um processo que envolve manipulação do cérebro, os meios de comunicação insuflam nos indivíduos uma dependência de consumo superior à dependência às drogas porque desta pode-se livrar quando se tem vontade própria, o que posso afirmar porque depois de fumar maconha por quinze anos, simplesmente deixei quando benefício do bem-estar foi substituído pelo malefício da taquicardia. Mas o vício de ir às compras é tão insuperável que mesmo diante das consequências funestas decorrentes do consumismo, ele é cada vez tão mais dominante que as pessoas compram o que os meios de comunicação querem que elas comprem. Os carros são a maior demonstração desta insensatez. Quando os papagaios de microfone dos meios de comunicação dão como alvissareira a notícia de ter aumentado a venda de carros, na verdade, estão mentindo descaradamente a mando de seus patrões, os donos do microfone através do qual papagaiam por ser socialmente impraticável o transporte individual. Absolutamente nada justifica um carro com sete lugares transportando apenas uma pessoa. Tal insanidade, entretanto, é recomendada pelo grupelho de insanos brutamontes mentais pela necessidade de riqueza, incapazes da percepção de que desta insanidade resultará a destruição dos elementos naturais indispensáveis à vida humana, inclusive da própria. Não sendo racional a atitude de se destruir alguma coisa da qual depende sua vida, e sendo racional o ser humano, evidente fica que a vontade de se autodestruir independe da própria vontade de quem assim age, ou seja, o ser humano. Enquanto a sociedade desanda, sua força viva, a juventude, é conduzida à mediocridade mental de forma tão absoluta que valoriza vitórias de Pirro, indiferente ao futuro tenebroso que decorrerá da sanha incontida dos ajuntadores de dinheiro cuja avareza não lhes deixa enxergar um palmo adiante do focinho.

A indiferença quanto à realidade da vida afeta até mesmo homens inteligentes e os leva a contribuir para o alheamento à realidade.  Quando o expoente da literatura brasileira, Machado de Assis, afirma que “Deus, para a felicidade do homem, inventou a fé e o amor. O Diabo, invejoso, fez o homem confundir fé com religião e amor com casamento”, contribui para reforçar a crendice altamente prejudicial à humanidade da existência de deus e diabo, entidades tão fictícias quanto Papai Noel. A negatividade da crença na existência de um deus se materializa na esperança vã que leva os pobres de espírito às igrejas onde não raro encontram a morte.

Mas o tempo de se viver apenas por vier tem os dias contados. Aos poucos a racionalidade toma conta das mentes e um dia haverá uma juventude capaz dos questionamentos próprios de qualquer ser inteligente ante o espetáculo da vida. Tal juventude questionará, por exemplo, o fato de estar a justiça a discutir se Lula é inocente ou culpado, apesar de estar ele na cadeia. Se cadeia é lugar de culpado, e se foi a justiça que mandou prendê-lo, porque é ela que determina se alguém deve ou não ser preso, assim, não pode alguém estar preso e, ao mesmo tempo, estar a justiça envolvida em questões relativas à sua não culpabilidade porque tal situação corresponderia à irracionalidade de “atirar primeiro e perguntar depois”. Salvo se o ridículo deste pobre país de povo asqueroso já tenha chegado ao ponto de prender para depois julgar.

O único aspecto da vida que tem merecido atenção, até mesmo exagerada, tem sido o que diz respeito às necessidades materiais. Entretanto, a satisfação destas necessidades, na realidade, deve ser encarada como garantidora do bem-estar individual necessário a propiciar o ambiente adequado ao aprimoramento da inteligência através de meditações sobre a vida a fim de superar os infortúnios decorrentes da animalidade que ainda é dominante na personalidade humana. Por esta razão, Shakespeare afirmou que o motivo pelo qual choramos ao nascer deve-se ao fato de termos chegado a um mundo de dementes. À observação do Grande Mestre, pode acrescentar tratar-se de dementes tão dementes que a imprensa publica matéria sob a seguinte manchete: As separações que abalaram o mundo dos famosos em 2018. O mundo dos famosos resume-se em langerries, bundas, peitos, quem trepa com quem, quando se perdeu a virgindade, quem não usa cueca ou calcinha, melhor posição para trepadas. Nada além disto. Se as notícias giram em torno do momento e do mundo vividos, o momento e o mundo dos tais famosos e celebridades são um momento e um mundo que precisam ser descartados em nome da inteligência. Inté.




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