domingo, 28 de abril de 2019

ARENGA 568


            Na página 645 do primeiro volume de História da Civilização Ocidental, o historiador Edward McNall Burns conta que reagindo contra os novos ideais propostos pela Ravolução francesa, o apego ao tradicionalismo defendia a ideia de ser a tradição mais importante do que a razão. A ser levada a sério a ideia de que a tradição deve prevalecer sobre a razão um navio ou um avião não deveria mudar o curso ante o advento de uma tempestade que se formou no seu caminho porque sua rota já estava estabelecida. Nem deveriam, como fazem as múmias mentais apegadas a preceitos religiosos, se vacinar contra doenças por ir de encontro à tradição segundo a qual o corpo que foi feito por deus não deve sofrer interferência humana. Enfim, por conta da tradição burra Galileu foi obrigado a se retratar, embora estivesse correta sua opinião. Se houve época em que as tradições eram respeitadas, atualmente elas devem ser relegadas ao mesmo sarcófago para onde foi mandada a convicção de haver piedade por parte dos monstros que em nome de deus condenavam pessoas à fogueira da Inquisição afirmando ser ato de piedade reconduzir a alma extraviada do condenado de volta à companhia de deus.  Conservadorismo é nada mais do que a burrice de ter medo do futuro por quem acredita estar a cômodo no presente, o que demonstra falta de discernimento por ser a mudança uma exigência da natureza.

            Segundo o texto citado no início, o movimento conservador recomendava que a humanidade deveria se guiar apenas pela infalibilidade da religião, o que é mais uma sandice das mentalidades mumificadas para as quais inovação é coisa do diabo. Se desde suas origens a humanidade é guiada por preceitos religiosos, e sua infelicidade é cada vez maior a ponto de nunca ter havido na história número tão grande de suicídios como agora, principalmente de jovens desiludidos com a vida guiada pela religiosidade, fica evidente só haver desvantagem em depender a vida da religiosidade. Se esta falsidade não é percebida é por ter sido atrofiada a já escassa capacidade de raciocínio do ser humano de modo tão espetacular que eles carregam sorridentes no lombo o peso de parasitas a sugar sua vitalidade. Concordar que o beijo do papa no pé do sofredor seja prevenção contra o sosfrimento é prova de total falta da capacidade de raciocinar.  Em seu estado normal, qualquer mente perceberia que a manifestação de pesar e dor feita pelo papa ante as mortes ocorridas no festejamento da cerimônia religiosa da Pácoa é clara declaração da inutilidade divina ao se restringir à lamentar o horror em vez de evitá-lo.

Como é impossível evitar que a marcha da história traga consigo algum esclarecimento ainda que mínimo, a cada dia aumenta o número de pessoas conscientes o bastante para saber que considerar como ordem dar prioridade à tradição em detrimento da razão é inverter as coisas porque o ser humano em sua eterna busca pelo bem-estar não pode desconhecer que o mal-estar prevalecerá sobre o bem-estar enquanto não se reconhecer que jamais poderá dar certo a sociedade tradicional segundo a qual a maior parte de seus membros deve se conformar em não poder satisfazer suas necessidades primárias a fim de que parasitas adoradores de bezerros de ouro possam satisfazer suas necessidades suntuárias. São imbecis completos aqueles que se colocam contrariamente às ideias marxistas por ser completa irracionalidade permitir que uma só pessoa possa se apossar legalmente de bens correspondentes ao valor de duzentos bilhões de dólares, o que corresponderia a mais ou menos cinco milhões e quinhentos mil dólares por dia durante cem anos de vida faustosa e estúpida, enquanto cerca de um bilhão e meio de pessoas no mundo vivam com apenas pouco mais de um dólar por dia durante toda a vida miserável e estúpida.

            É, pois, chegada a hora de se reconhecer a necessidade de mandar para os quintos dos infernos o tradicionalismo e seus defensores de mentalidade enferrujada e burra para dar começo a um novo tipo de sociedade por ser absolutamente impossível continuar vivendo a loucura na qual pessoas de alta espiritualidade sejam submetidas a uma regulamentação social estabelecida por trogloditas espirituais incapazes da percepção do descompasso na situação na qual o militar Jair Bolsonaro e o oráculo Olavo de Carvalho, por apego à tradição, consideram inimigo da educação o educador Paulo Freire cujo método de ensino recomenda incluir estímulo à capacidade de raciocinar dos educandos. Não se pode deixar de perceber o grande avanço civilizatório contido na sugestão do Grande Mestre do Saber Paulo freire reconhecendo a necessidade de se desenvolver no jovem a capacidade de reciocinar. Como para a tradição é preciso aprender a obedecer, estimula-se a educação religiosa que ensina a desnecessidade de raciocinar, e da língua inglesa que ensina alienação patriótica. Paulo freire sabia do entrave imposto pelo tradicionalismo bolofento contra um sistema educacional capaz de formar cidadãos esclarecidos em vez de idiotas futucadores de telefone e admiradores de “famosos” e “celebridades” de merda. Tanto era conhecedor que afirmou o seguinte: “a classe dominante brasileira jamais desejará que as maiorias sejam lúcidas”. É exatamente isto, Professor Freire, os trogloditas querem uma sociedade de trogloditas.

            Portanto, dependendo de lucidez a civilização, enquanto as crianças aprenderem conservadorismo, estará a população condenada a negar que a terra gira em torno do sol e aceitar a imbecilidade de que as mortes nas igrejas e hotéis de luxo são devidas à falta de deus e não ao cansaço dos necessitados de se conformarem em apenas contemplar imensa riqueza sendo jogada fora. Inté.

  



  

  

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