Há de se
discordar do pensamento de intelectuais afirmando não valer a pena adquirir
conhecimento e tornar-se instruído uma vez que se é obrigado a viver em meio à
ignorância generalizada que caracteriza quase a totalidade dos seres humanos
que demonstram sua infantilidade nas igrejas, no axé e no futebola. Entretanto,
nada justifica a ignorância porque instruir-se é civilizar-se, é elevar-se
espiritualmente, é afastar-se da animalidade, é conquistar sabedoria. O fato de
se estender tapete vermelho para brutamontes em vez de o entender para os
sábios, apesar de ser uma realidade, é uma realidade da qual se deve discordar.
O sábio aceita com tranquilidade o que para o ignorante é motivo de tormento.
Portanto, há mais vantagem em seguir o sábio ao ignorante. O sábio não
desconhece que a frivolidade dos que ignoram a realidade da vida tem prazo de
validade que se esgota quando o organismo exigir repouso. Por esta ocasião, para
o ignorante, quando a frivolidade é substituída pela necessidade de repouso vem
o horror do vazio e o medo da morte apavora os ignorantes. Mas é necessário
observar que ignorância aqui não vai no sentido de ofensa, mas de referência à
falta de oportunidade de se instruir, o que é propositadamente orquestrada
pelos governantes que precisam de um povo que aceite a condição de
burro-de-carroça. Para tanto, nada melhor do que ter por objetivo apenas orar,
requebrar os quadris no axé e espernear no futebola. A falta de conhecimento
generalizada independe da capacidade mental porque são também ignorantes
portadores de títulos universitários que comungam com pobres analfabetos as
crendices sobre divindades, milagres e vida depois da morte.
A
felicidade que faz a alegria dos ignorantes mostrar-se-á injustificada se se
dedicar um minuto apenas para refletir se há realmente razão para emocionar-se
às lágrimas porque Michel Jackson lhe apontou o saco ou balançar os braços prá
lá e prá cá ao ritmo de uma melodia ridícula cantada por algum não menos
ridículo pobre diabo cujo desconhecimento da realidade o faz achar-se realmente
uma celebridade. Mais um minuto de reflexão levaria à conclusão de haver um
grande erro em valorizar tanto as brincadeiras que seus protagonistas viram
reis enquanto professores são relegados a salários miseráveis. E mais um minuto
de reflexão levaria à conclusão de que a frivolidade, como a bebedeira, dará
lugar à ressaca.
Embora
conste da história humana pessoas de grande nobreza espiritual revoltadas por
viverem em meio à malta festiva que ignora a realidade da vida, não se deve revoltar
contra o inevitável sob pena de aumentar ainda mais a contrariedade e a
infelicidade. Melhor, portanto, convencer-se da necessidade de conviver com as
diferenças porque há compensação na constatação de ter-se elevado acima da
mediocridade que caracteriza a massa bruta de povo incapaz de perceber algo
esquisito quando a papagaiada de microfone se refere a brutamontes mentais como
celebridades, quando insinua haver vantagem em abrir conta no banco, quando
garante ser a competição a melhor forma de se viver em sociedade. Quem ouve tais
afirmações sem questionar a razão pela qual se é indiferente a tamanhas
falsidades é um ignorante completo. O fato de se viver pacificamente esta
realidade é evidência de se viver uma grande falsidade. Não é porque o mundo
foi transformado numa grande mentira que se deve aceitar esta situação. Ao
instituir um sistema educacional que ensina religiosidade e indiferença
política o governo reforça a cultura da falsidade de forma tão espetacular que
chega a considerar inimigo o grande educador Paulo Freire que propôs uma
educação que valorizasse o desenvolvimento da capacidade de raciocínio dos
jovens.
A atividade
de viver para os seres humanos foi convertida na obrigação de carregar no lombo
uma plêiade de ajuntadores de riqueza parasitando a coletividade. A coisa foi
pervertida de tal maneira que a atividade de governar tem atualmente o objetivo
de sacrificar o povo em benefício de alguns gatos pingados. E o interessante
nisso tudo é que o próprio povo está de acordo com esta inversão de valores. Inté.
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