segunda-feira, 15 de abril de 2019

ARENGA 564


Há de se discordar do pensamento de intelectuais afirmando não valer a pena adquirir conhecimento e tornar-se instruído uma vez que se é obrigado a viver em meio à ignorância generalizada que caracteriza quase a totalidade dos seres humanos que demonstram sua infantilidade nas igrejas, no axé e no futebola. Entretanto, nada justifica a ignorância porque instruir-se é civilizar-se, é elevar-se espiritualmente, é afastar-se da animalidade, é conquistar sabedoria. O fato de se estender tapete vermelho para brutamontes em vez de o entender para os sábios, apesar de ser uma realidade, é uma realidade da qual se deve discordar. O sábio aceita com tranquilidade o que para o ignorante é motivo de tormento. Portanto, há mais vantagem em seguir o sábio ao ignorante. O sábio não desconhece que a frivolidade dos que ignoram a realidade da vida tem prazo de validade que se esgota quando o organismo exigir repouso. Por esta ocasião, para o ignorante, quando a frivolidade é substituída pela necessidade de repouso vem o horror do vazio e o medo da morte apavora os ignorantes. Mas é necessário observar que ignorância aqui não vai no sentido de ofensa, mas de referência à falta de oportunidade de se instruir, o que é propositadamente orquestrada pelos governantes que precisam de um povo que aceite a condição de burro-de-carroça. Para tanto, nada melhor do que ter por objetivo apenas orar, requebrar os quadris no axé e espernear no futebola. A falta de conhecimento generalizada independe da capacidade mental porque são também ignorantes portadores de títulos universitários que comungam com pobres analfabetos as crendices sobre divindades, milagres e vida depois da morte.

A felicidade que faz a alegria dos ignorantes mostrar-se-á injustificada se se dedicar um minuto apenas para refletir se há realmente razão para emocionar-se às lágrimas porque Michel Jackson lhe apontou o saco ou balançar os braços prá lá e prá cá ao ritmo de uma melodia ridícula cantada por algum não menos ridículo pobre diabo cujo desconhecimento da realidade o faz achar-se realmente uma celebridade. Mais um minuto de reflexão levaria à conclusão de haver um grande erro em valorizar tanto as brincadeiras que seus protagonistas viram reis enquanto professores são relegados a salários miseráveis. E mais um minuto de reflexão levaria à conclusão de que a frivolidade, como a bebedeira, dará lugar à ressaca.

Embora conste da história humana pessoas de grande nobreza espiritual revoltadas por viverem em meio à malta festiva que ignora a realidade da vida, não se deve revoltar contra o inevitável sob pena de aumentar ainda mais a contrariedade e a infelicidade. Melhor, portanto, convencer-se da necessidade de conviver com as diferenças porque há compensação na constatação de ter-se elevado acima da mediocridade que caracteriza a massa bruta de povo incapaz de perceber algo esquisito quando a papagaiada de microfone se refere a brutamontes mentais como celebridades, quando insinua haver vantagem em abrir conta no banco, quando garante ser a competição a melhor forma de se viver em sociedade. Quem ouve tais afirmações sem questionar a razão pela qual se é indiferente a tamanhas falsidades é um ignorante completo. O fato de se viver pacificamente esta realidade é evidência de se viver uma grande falsidade. Não é porque o mundo foi transformado numa grande mentira que se deve aceitar esta situação. Ao instituir um sistema educacional que ensina religiosidade e indiferença política o governo reforça a cultura da falsidade de forma tão espetacular que chega a considerar inimigo o grande educador Paulo Freire que propôs uma educação que valorizasse o desenvolvimento da capacidade de raciocínio dos jovens.

A atividade de viver para os seres humanos foi convertida na obrigação de carregar no lombo uma plêiade de ajuntadores de riqueza parasitando a coletividade. A coisa foi pervertida de tal maneira que a atividade de governar tem atualmente o objetivo de sacrificar o povo em benefício de alguns gatos pingados. E o interessante nisso tudo é que o próprio povo está de acordo com esta inversão de valores. Inté.









 


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