O velho
rei-pai, ao entregar a chave do curral ao jovem rei-filho recém coroado,
depositou ao lado do prato de ouro e do talher de ouro, a taça, também do ouro
tomado dos Incas assassinados, e, como se pensasse alto, falou: “Filho meu,
filho meu: maneje com sabedoria o gado teu”.
As
criancinhas rechonchudas vão ter a chance de deixar de ser manada. O nobre
senador Pedro Simon declarou a disposição de fazer um trabalho junto aos jovens
no sentido de conscientizá-los politicamente, coisa que o sistema educacional
procura evitar por motivos só conhecíveis através das entrelinhas, aquele fato
me parece alvissareiro e atiçou ainda mais minha disposição de atiçar os jovens
na arte de aprender a pensar. Os jovens são a única força capaz de revirar esse
mundo como ele precisa ser revirado, e a única forma de se fazer esse
reviramento é através dos jovens, por serem as únicas criaturas receptivas a
novas idéias quando percebem serem mais convenientes que velhas idéias. Até
tive orgulho em sentir o senador voltar sua atenção para a juventude, porque,
como iletrado, ao contrário do senador, tenho tentado dizer aos jovens da
vantagem de ensinar a seus filhos e filhas a serem amigos e amigas da paz encontrada
na espiritualidade e na sociabilidade das quais resulta a irmandade, o ânimo
para a cooperação e o desânimo para a competição por ser mãe da violência e da
infelicidade.
Hoje, Sara
e eu levamos a um salão de brinquedos três crianças de amigos trabalhadores
rurais que vieram nos visitar e que batalhavam conosco quando eu era tão mais
idiota a ponto de acreditar na atividade de pequeno produtor rural onde só fiz
penar e ser vítima da legislação trabalhista com a qual o governo desestimula
os pequenos agricultores para dar uma força ao agribiuzinesse, como se não
bastasse escancarar-lhe as portas do BNDES. Enquanto as crianças brincavam, eu
observava com tristeza que as brincadeiras preferidas eram as de matar inimigos
e destruir coisas com armas que vomitam fogo e espalham destruição. Não passa
pela cabeça dos jovens pais que a inoculação da violência na personalidade de
seus filhos vai torná-los jovens tão malucos a ponto de disparar metralhadora
sobre outros jovens.
A cultura
milenar de tirar proveito do próximo está tão profundamente enraizada na
personalidade da juventude, que eliminou em suas mentes a possibilidade de se
viver sem precisar tomar nada de ninguém, muito menos violar sua integridade
física, coisa tida como de somenos importância, mas razão de tanta infelicidade
e choro desnecessários caso fossem evitados os transtornos que lhes dão causa.
É impossível aos jovens deixar de futucar os aparelhos que viciam em futucação,
cuja necessidade lhes é incutida por papagaios que papagaiam em microfones, mas
não é impossível para eles orientar seus filhos no sentido de evitar que fiquem
também tão viciados em futucar aparelho eletrônico a ponto de almoçar e futucar
ao mesmo tempo, o que os danifica tanto quanto as drogas. Os jovens que já são
viciados em drogas, se gostam de seus filhos, ensine-os inteligentemente que as
drogas usadas com sabedoria e sem afoiteza são extremamente necessárias na
velhice apenas porque a mente do velho é tão complicada que só se pode sentir,
mas não explicar. Estas complicações mentais produzem às vezes algum mal-estar
inexplicável que o uso moderado de alguma droga leve ajuda a superar, do mesmo modo
como o analgésico disafasta a dor de cabeça. Mas para que o jovem chegue à
velhice em disposição física que permita usar alguma droga que não as da UTI, é
preciso que ele guarde para o futuro velho que ele vai ser alguma reserva da
saúde de agora, o tempo de jovem. Usando drogas na juventude, nenhum jovem
chegará à velhice em condições de poder usar o analgésico para os mal-estares
mentais da inevitável velhice. Os jovens devem e precisam dar um jeito, cada um
do seu modo, mas precisam afastar as crianças das drogas, sendo isso possível
apenas pelo convencimento. Nunca por medo a alguma coisa.
Não há
processo capaz de aferir o tamanho da estupidez em se deixar de se viver de um
modo melhor e fazer opção por se viver de um modo pior. Mas isso é o que
acontece, e acontece unicamente pelo fato de não se procurar saber se há outro
modo de se viver que não este a que se está acostumado, de andar pelas ruas se
desviando de cadáveres ou mesmo pedaços deles. A vida como é vivida pelos seres
humanos é ainda mais bruta que a vida dos irracionais a perseguirem-se
mutuamente porque os humanos não tem necessidade de perseguir ninguém desde que
disponham a usar a capacidade de raciocinar, maior presente da natureza, e
adotar procedimentos dos quais resultem bem-estar em vez de mal-estar, precisando
para tanto apenas de um despertar para as vantagens de uma vida civilizada em
oposição ao mundo de selvageria, falsidades, mentiras, crueldades, desfaçatez,
ignorância, brutalidade e falta de vergonha em que se encontra a humanidade,
mormente povos ainda menos dotados de sociabilidade como nós que vivemos em
meio a tiroteios e promessas e mais promessas de mudança que só acontecem para deixar
a vida ainda pior do que era antes da mudança. A única mudança capaz de superar
os conflitos é implantar um sistema educacional que forme cidadãos porque para
pessoas esclarecidas não há ser humano que mereça a indignidade com que é
tratado o povo. Uma parte do povo, como toda construção, inclusive a riqueza,
precisa de material, foi classificada pelos economistas por ordem dos ricos
donos do mundo como material Humano. Os demais são considerados inconvenientes
pela petulância de reivindicar tratamento de gente, devendo, portanto, na
cultura do capitalismo, serem enviados a uma cova onde haverão de se sentir
mais anchos que na vida, no dizer do nosso Chico, o poeta maior.
Torço com toda minha força e
vontade para que funcione a jornada que o Professor Pedro Simon vai empreender
no sentido de abalar da letargia a juventude e despertá-la para a verdade de
que este modo de vida não é modo de se viver, fazendo ver aos jovens que tudo decorre
do seu alheamento quanto ao destino de sua sociedade. Armou-se um circo
destinado a prender a atenção dos espectadores por “famosos” e “celebridades” de
M. enquanto seus bolsos são esvaziados sem necessidade de sutileza como mostra
esta notícia no jornal O Globo de hoje, 22/6/14: FARRA DE ADITIVOS NA ABREU E
LIMA: 770% ACIMA DO PREVISTO, o que é o maior dos absurdos, mas que a ninguém
incomoda. O dinheiro que o povo fornece para os gastos sociais é canalizado
diretamente para o bolso do mundo corrupto dos ricos donos do mundo sem o menor
constrangimento. Magina só que situação desgraçada em que um empreendimento
orçado em 2,3 bilhões de dólares venha a custar 20,1 bilhões, setecentos e
setenta vezes mais caro. Apenas isso: setecentas e setenta vezes mais caro.
Nenhum dono de nenhuma das empreiteiras que comeram essa grana deixaria de
fuzilar um gerente seu que malversasse apenas um bilionésimo desse embróglio.
Só nas entrelinhas se pode encontrar a explicação do porquê de estarem todas as
atenções voltadas para as notícias sobre a festa do futebola. É para tirar a
atenção destas coisas que existem as festas. Segundo matéria escrita pelo frei
Beto na revista Caros Amigos, a Copa teria custado vinte e oito bilhões no
lugar dos dez a doze bilhões previstos inicialmente. Assim, de surrupiamento em
surrupiamento é que falta recurso para tudo, menos para roubo e circo, sendo
perceptível apenas a quem lê nas entrelinhas o motivo de tantos idiotas
risonhos e felizes nas notícias da imprensa sobre futebola compartilhando a
ignorância de quem prefere Copa a escolas e hospitais.
Felizmente,
quem repudia a vida idiota vivida por idiotas já pode contar com uma ainda
tênue, mas pelo menos uma réstia de esperança na campanha do senador Pedro
Simon porque ele tem conhecimento destes fatos, é contra eles por ser honesto
como estadista que é, tem poder de convencimento tanto por falar a verdade
quanto por sua oratória brilhante e elevado nível cultural. Assim, Dr. Pedro
Simon, os brasileiros que não integram a manada lhe desejam melhor sorte do que
teve o Menestrel das Alagoas, no dizer dos nossos compositores maiores, Milton
Nascimento e Fernando Brant, em referência à maratona levada a efeito pelo seu
colega Teotônio Vilela, também na tentativa de fazer com que a verdade
sobrepujasse a mentira. Avante, pois, bravo senador! As futuras gerações
reconhecerão seu mérito de enfrentar na condição de meu colega de velhice a
luta que os jovens pais deles não tiveram a sabedoria de lutar contra os
desmandos que certamente anularão a possibilidade de virem elas a viver sem grandes
tormentos no futuro. Por isso, nada mais
bem-vindo do que um bravo senador em carne e osso, ainda que mais osso que
carne, a cavalgar um imaginário Rocinante, portando um discurso de paz no lugar
da espada, arrebatando as atenções para as mazelas que precisam ser combatidas
com sabedoria para evitar que da tentativa de trazer o bem sejam produzidos
outros males como tem acontecido nos processos violentos de mudança. Dos
ensinamentos que Vossa Excelência transmitirá aos jovens certamente os
convencerão de que a paz deve ser o objetivo maior de se lutar em defesa do
futuro das criancinhas rechonchudas que pilotam os carros de compra no
supermercado. Inté.
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