domingo, 22 de junho de 2014

O REI E A SEGUNDA PROFECIA


O velho rei-pai, ao entregar a chave do curral ao jovem rei-filho recém coroado, depositou ao lado do prato de ouro e do talher de ouro, a taça, também do ouro tomado dos Incas assassinados, e, como se pensasse alto, falou: “Filho meu, filho meu: maneje com sabedoria o gado teu”.

As criancinhas rechonchudas vão ter a chance de deixar de ser manada. O nobre senador Pedro Simon declarou a disposição de fazer um trabalho junto aos jovens no sentido de conscientizá-los politicamente, coisa que o sistema educacional procura evitar por motivos só conhecíveis através das entrelinhas, aquele fato me parece alvissareiro e atiçou ainda mais minha disposição de atiçar os jovens na arte de aprender a pensar. Os jovens são a única força capaz de revirar esse mundo como ele precisa ser revirado, e a única forma de se fazer esse reviramento é através dos jovens, por serem as únicas criaturas receptivas a novas idéias quando percebem serem mais convenientes que velhas idéias. Até tive orgulho em sentir o senador voltar sua atenção para a juventude, porque, como iletrado, ao contrário do senador, tenho tentado dizer aos jovens da vantagem de ensinar a seus filhos e filhas a serem amigos e amigas da paz encontrada na espiritualidade e na sociabilidade das quais resulta a irmandade, o ânimo para a cooperação e o desânimo para a competição por ser mãe da violência e da infelicidade.

Hoje, Sara e eu levamos a um salão de brinquedos três crianças de amigos trabalhadores rurais que vieram nos visitar e que batalhavam conosco quando eu era tão mais idiota a ponto de acreditar na atividade de pequeno produtor rural onde só fiz penar e ser vítima da legislação trabalhista com a qual o governo desestimula os pequenos agricultores para dar uma força ao agribiuzinesse, como se não bastasse escancarar-lhe as portas do BNDES. Enquanto as crianças brincavam, eu observava com tristeza que as brincadeiras preferidas eram as de matar inimigos e destruir coisas com armas que vomitam fogo e espalham destruição. Não passa pela cabeça dos jovens pais que a inoculação da violência na personalidade de seus filhos vai torná-los jovens tão malucos a ponto de disparar metralhadora sobre outros jovens.

A cultura milenar de tirar proveito do próximo está tão profundamente enraizada na personalidade da juventude, que eliminou em suas mentes a possibilidade de se viver sem precisar tomar nada de ninguém, muito menos violar sua integridade física, coisa tida como de somenos importância, mas razão de tanta infelicidade e choro desnecessários caso fossem evitados os transtornos que lhes dão causa. É impossível aos jovens deixar de futucar os aparelhos que viciam em futucação, cuja necessidade lhes é incutida por papagaios que papagaiam em microfones, mas não é impossível para eles orientar seus filhos no sentido de evitar que fiquem também tão viciados em futucar aparelho eletrônico a ponto de almoçar e futucar ao mesmo tempo, o que os danifica tanto quanto as drogas. Os jovens que já são viciados em drogas, se gostam de seus filhos, ensine-os inteligentemente que as drogas usadas com sabedoria e sem afoiteza são extremamente necessárias na velhice apenas porque a mente do velho é tão complicada que só se pode sentir, mas não explicar. Estas complicações mentais produzem às vezes algum mal-estar inexplicável que o uso moderado de alguma droga leve ajuda a superar, do mesmo modo como o analgésico disafasta a dor de cabeça. Mas para que o jovem chegue à velhice em disposição física que permita usar alguma droga que não as da UTI, é preciso que ele guarde para o futuro velho que ele vai ser alguma reserva da saúde de agora, o tempo de jovem. Usando drogas na juventude, nenhum jovem chegará à velhice em condições de poder usar o analgésico para os mal-estares mentais da inevitável velhice. Os jovens devem e precisam dar um jeito, cada um do seu modo, mas precisam afastar as crianças das drogas, sendo isso possível apenas pelo convencimento. Nunca por medo a alguma coisa.

Não há processo capaz de aferir o tamanho da estupidez em se deixar de se viver de um modo melhor e fazer opção por se viver de um modo pior. Mas isso é o que acontece, e acontece unicamente pelo fato de não se procurar saber se há outro modo de se viver que não este a que se está acostumado, de andar pelas ruas se desviando de cadáveres ou mesmo pedaços deles. A vida como é vivida pelos seres humanos é ainda mais bruta que a vida dos irracionais a perseguirem-se mutuamente porque os humanos não tem necessidade de perseguir ninguém desde que disponham a usar a capacidade de raciocinar, maior presente da natureza, e adotar procedimentos dos quais resultem bem-estar em vez de mal-estar, precisando para tanto apenas de um despertar para as vantagens de uma vida civilizada em oposição ao mundo de selvageria, falsidades, mentiras, crueldades, desfaçatez, ignorância, brutalidade e falta de vergonha em que se encontra a humanidade, mormente povos ainda menos dotados de sociabilidade como nós que vivemos em meio a tiroteios e promessas e mais promessas de mudança que só acontecem para deixar a vida ainda pior do que era antes da mudança. A única mudança capaz de superar os conflitos é implantar um sistema educacional que forme cidadãos porque para pessoas esclarecidas não há ser humano que mereça a indignidade com que é tratado o povo. Uma parte do povo, como toda construção, inclusive a riqueza, precisa de material, foi classificada pelos economistas por ordem dos ricos donos do mundo como material Humano. Os demais são considerados inconvenientes pela petulância de reivindicar tratamento de gente, devendo, portanto, na cultura do capitalismo, serem enviados a uma cova onde haverão de se sentir mais anchos que na vida, no dizer do nosso Chico, o poeta maior.

                 Torço com toda minha força e vontade para que funcione a jornada que o Professor Pedro Simon vai empreender no sentido de abalar da letargia a juventude e despertá-la para a verdade de que este modo de vida não é modo de se viver, fazendo ver aos jovens que tudo decorre do seu alheamento quanto ao destino de sua sociedade. Armou-se um circo destinado a prender a atenção dos espectadores por “famosos” e “celebridades” de M. enquanto seus bolsos são esvaziados sem necessidade de sutileza como mostra esta notícia no jornal O Globo de hoje, 22/6/14: FARRA DE ADITIVOS NA ABREU E LIMA: 770% ACIMA DO PREVISTO, o que é o maior dos absurdos, mas que a ninguém incomoda. O dinheiro que o povo fornece para os gastos sociais é canalizado diretamente para o bolso do mundo corrupto dos ricos donos do mundo sem o menor constrangimento. Magina só que situação desgraçada em que um empreendimento orçado em 2,3 bilhões de dólares venha a custar 20,1 bilhões, setecentos e setenta vezes mais caro. Apenas isso: setecentas e setenta vezes mais caro. Nenhum dono de nenhuma das empreiteiras que comeram essa grana deixaria de fuzilar um gerente seu que malversasse apenas um bilionésimo desse embróglio. Só nas entrelinhas se pode encontrar a explicação do porquê de estarem todas as atenções voltadas para as notícias sobre a festa do futebola. É para tirar a atenção destas coisas que existem as festas. Segundo matéria escrita pelo frei Beto na revista Caros Amigos, a Copa teria custado vinte e oito bilhões no lugar dos dez a doze bilhões previstos inicialmente. Assim, de surrupiamento em surrupiamento é que falta recurso para tudo, menos para roubo e circo, sendo perceptível apenas a quem lê nas entrelinhas o motivo de tantos idiotas risonhos e felizes nas notícias da imprensa sobre futebola compartilhando a ignorância de quem prefere Copa a escolas e hospitais.

Felizmente, quem repudia a vida idiota vivida por idiotas já pode contar com uma ainda tênue, mas pelo menos uma réstia de esperança na campanha do senador Pedro Simon porque ele tem conhecimento destes fatos, é contra eles por ser honesto como estadista que é, tem poder de convencimento tanto por falar a verdade quanto por sua oratória brilhante e elevado nível cultural. Assim, Dr. Pedro Simon, os brasileiros que não integram a manada lhe desejam melhor sorte do que teve o Menestrel das Alagoas, no dizer dos nossos compositores maiores, Milton Nascimento e Fernando Brant, em referência à maratona levada a efeito pelo seu colega Teotônio Vilela, também na tentativa de fazer com que a verdade sobrepujasse a mentira. Avante, pois, bravo senador! As futuras gerações reconhecerão seu mérito de enfrentar na condição de meu colega de velhice a luta que os jovens pais deles não tiveram a sabedoria de lutar contra os desmandos que certamente anularão a possibilidade de virem elas a viver sem grandes tormentos no futuro.  Por isso, nada mais bem-vindo do que um bravo senador em carne e osso, ainda que mais osso que carne, a cavalgar um imaginário Rocinante, portando um discurso de paz no lugar da espada, arrebatando as atenções para as mazelas que precisam ser combatidas com sabedoria para evitar que da tentativa de trazer o bem sejam produzidos outros males como tem acontecido nos processos violentos de mudança. Dos ensinamentos que Vossa Excelência transmitirá aos jovens certamente os convencerão de que a paz deve ser o objetivo maior de se lutar em defesa do futuro das criancinhas rechonchudas que pilotam os carros de compra no supermercado. Inté.  

 

 

 

   

 

 

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