É por não
pensar que os brasileiros declaram satisfação com o tipo de vida que levam,
conforme apuram as pesquisas, porque a verdade é que o povo desse país de
triste sorte se declara tão satisfeito com seu modo vida apenas por desconhecer
outro modo de vida. A realidade, entretanto, é que a sociedade brasileira
surgiu num ambiente de degradação moral e assim permanece desde então. O
capítulo 15, intitulado O Ataque ao Cofre, do livro esclarecedor de Laurentino
Gomes, 1808, é prova contundente da indignidade que acompanha a personalidade
desse povo nascido para fazer papel de bobo das cortes estrangeiras. Os gatos
pingados que leem podem perceber a semelhança do ambiente atual com o lamaçal
moral que nos serviu de berço. Se hoje tomar conta do dinheiro público dá
direito de surrupiar parte dele, lá no começo de nossa história não era
diferente, mas era exatamente do mesmo jeito. Na matéria citada, há a história
de um senhor Targini, de origem pobre e humilde, que entrou para o serviço
público da monarquia como guarda-livros, mas que chegou a ser encarregado de
administrar as finanças públicas do regime monárquico há mais de duzentos anos
atrás, passando de pobre a multimilionário, o que se repete agora quando outro
pobretão virou o responsável maior pela administração das finanças públicas e também
se tornou multimilionário segundo o livro O Chefe.
Mas, e aí?
Vamos viver eternamente esta esculhambação, ou vamos assumir atitudes dignas
como colocar educadamente as coisas nos lugares? É tudo uma questão de pensar e
concluir se vale a pena ser requebrador de quadris e fornecer de tudo que os
outros povos querem inclusive satisfação da libido através da prostituição
camuflada do cartaz que estampava a figura de uma mulher com pouquíssima roupa
e a recomendação para que as mulheres fizessem o turista ficasse com vontade de
voltar. Recusar mudar de situação incômoda para situação cômoda é atitude não
só inteligente como natural, e é também a razão do apego às tradições devido à
desconfiança que se tem às mudanças. Entretanto, a recusa de se mudar de uma
situação incômoda para outra cômoda é atitude desinteligente, antinatural, mas
é a situação vivida desde sempre pelos brasileiros festivos e mestres na arte
de requebrar os quadris e fazer papel de bobos ao apresentarem ao mundo como
trunfos a fama de ladrões, carnaval, futebol e prostituição.
O apego às tradições, portanto, acaba se
transformando num tipo de cegueira que impede o avanço da inteligência sobre a
burrice. Chega a hora, entretanto, em que se faz necessário desapegar-se de
algo. Aqueles pobres infelizes que saltaram das torres americanas em chamas
desapegaram-se da própria vida sem que fossem suicidas. No decorrer da história
da humanidade, muitas idéias foram deixadas para trás como dá prova a diferença
entre as condições de viagem de Cabral e as de Lula. A única coisa de comum
entre as viagens destes dois é que o primeiro não sabia quanto custava, e o
segundo, pelo jeito, sabe menos ainda. É claro que não se passa de uma hora
para outra de um estado de selvageria, instinto de rato e incapacidade de
indignação para um estado civilizado, mas também não precisamos carregar no
lombo este fardo desabonador por tanto tempo. Está na hora de começar a pensar
no destino trágico que se está desenhando para as criancinhas rechonchudas que
os pais levam para a igreja para comer hóstia, e depois levam para casa para
tomar refrigerante.
Tudo à
volta requer meditação. Um dos jornalistas do programa Manhattan Connection
(não precisa aspas porque todos falam ingreis) disse uma verdade absolutíssima
sem dizer textualmente o que disse. Quem leva a vida a correr atrás dos meios para
atender as necessidades desnecessárias que a televisão bota na cabeça como
fazem os frequentadores de igrejas e terreiros de brincadeiras, são pessoas
incapazes de perceber o que não estiver totalmente explícito e muito bem
explicado, impossibilitados pela limitação mental de perceber o conteúdo das
entrelinhas cujo significado é infinitamente maior do que o que se pode apurar
nas linhas. As pessoas de curto entendimento dirão que o jornalista errou feio
quando disse que a saída de Joaquim Barbosa do STF deixaria aquele tribunal à
mercê de um só partido. Como partido dá logo a idéia de atividade política, as
pessoas de entendimento curto não veem sentido na fala do jornalista e são até
capazes de tachá-lo de inocente porque a atividade jurisdicional do STF é
apolítica, conclusões contidas nas linhas das leis, sobretudo da Constituição
Federal. Mas, e as entrelinhas, o que dizem elas? Dizem que a nobilíssima
atividade judicante do STF está vergonhosamente contaminada não pela política,
mas pela politicagem como prova a situação de serem os juízes do STF escolhidos
pelos politiqueiros. Só nas entrelinhas se toma conhecimento de ser este fato a
explicação do tal de foro privilegiado. As entrelinhas esclarecem que a
possibilidade de vir o atual Ministro da Justiça, a ocupar o lugar de Joaquim
Barbosa como Ministro do Supremo Tribunal Federal é a materialização da
desordem de contaminar o STF com a politicagem. Será que o senhor José Eduardo
Cardoso, sevado no ambiente da politicagem como companheiro de Lula, Maluf,
Sarney, e que tais, teria a isenção necessária para ocupar tal posto? Além
disso, teria também o conhecimento exigido na expressão “notório saber jurídico”
como requisito necessário para ser juiz da mais alta corte de justiça do país?
Se quem não
houve conselho ouve coitado, a juventude que não se liga nestes assuntos pode
se considerar uma pobre coitada juventude a ser vitimada pelas consequências da
inconformação manifestada em atitudes cada vez mais violentas a anunciar perigo
para as criancinhas rechonchudas que aprendem a comer hóstia na igreja e tomar
refrigerante em casa com os pais que dizem amá-las, mas que nada fazem para
evitar venham elas a se tornarem velhos e velhas infelizes a lotar as UTIs como
eles lotam as igrejas e os campos de brincadeiras. Inté.
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