sexta-feira, 27 de junho de 2014

ARENGA TRINTA E SETE


Comparar a imprensa ao espelho que reflete a alma da sociedade é uma boa comparação. As notícias mostram a alma da nossa sociedade em desespero a clamar por um exorcismo da imoralidade e de tudo quanto é ruim e da preferência dos brasileiros, colocando paz e felicidade no lugar do demônio que infelicita esta pobre nação desde que os primeiros estrangeiros das bundas brancas colocaram aqui seus pés em forma de pé-de-cabra, portando muita religiosidade e muitas imagens de santo. A aflição maior da alma social é ver sua juventude se tornar completamente imprestável para qualquer coisa que não seja brincadeira, recusando-se, inclusive, a aceitar a maturidade, tornando-se adultos com tão pequeno desenvolvimento mental que não chega a ser suficiente para lhes permitir distinguir já não serem mais crianças, razão pela qual vivem a brincar de soltar bombas e requebrar os quadris do mesmo modo como faz uma doce e inocente menininha colocando as duas mãozinhas na cintura. Esta infantilidade levou os adultos a aprenderem a rebolar, coisa que eles fazem com orgulho, para tristeza e lamento da alma de nossa sociedade de idiotas que por não poderem ser mais idiotas, esburacam as orelhas, o nariz e os beiços para colocar objetos de metal nos buracos.

É tamanho o envolvimento com brincadeiras que os adultos não alcançam o enorme significado escondido em uma simples notícia de jornal dando conta do impasse em que estará a presidente Dilma no caso de ter de comparecer ao encerramento da Copa do Mundo se o Brasil for o vencedor. Como a única coisa que os brasileiros sabem fazer além de roubar, imitar, e não ter vergonha, é jogar futebola, é grande a possibilidade de ganhar, o que deixará a presidente anfitriã deste monumental desperdício de dinheiro público no dilema de cumprir seu dever de comparecer ao congraçamento final, mas se aparecer por lá será com certeza xingada, vaiada, espinafrada. Esta situação que nada significa para os comedores de hóstias e soltadores de bombas, no entanto, expressa o perigoso descompasso no relacionamento entre líder e liderados, do que resultam todos os motivos pelos quais sofre a alma de nossa sociedade. Ela se ressente enormemente de ver inimizade entre o povo e sua líder maior porque o natural, a forma como a natureza determinou, não é assim. O líder é sempre bem-vindo à presença de seus liderados e até nos filmes se tem o exemplo de que o líder está sempre junto a seus liderados para o que der e vier. Quanto maior a dificuldade dos liderados, maior a presença do líder. Como se explica, então, uma situação em que a líder teme seus liderados? Disto se queixa a alma social do Brasil nas pessoas que conseguiram por esforço próprio sair do meio da manada porque só com muito esforço individual se deixa de ser conduzido mentalmente visto que o sistema de educação não quer nem saber disto por ser mais conveniente aos senhores donos das negociatas na rendosa indústria da educação.

O entendimento desta situação e iniciativa para reverter isso daí é o único caminho de salvação da derrocada total desta sociedade de manada por ser uma situação insustentável esta de completo afastamento entre governantes e seus governados. O governo permanece enclausurado num mundo fantasioso onde nada falta e tudo sobra, e os pés afundam nos tapetes que só faltam voar pelo ambiente mágico dos palácios, tão mágico que transforma analfabeto em doutor, pobre em milionário, milionário em bilionário, antigos desafetos em amigos aos abraços, e criminosos em inocentes. Ao contrário, o povo vive às turras com bandidos e a polícia. É deste divórcio entre governo e governados que nasce um ambiente de brutalidade e sofrimento como o vivido, quando uma parte da população vive de esmola da cesta básica paga pelo trabalho da outra parte, e, juntas, requebram os quadris no axé e no futebola enquanto adoram “celebridades” e “famosos” que não sabem fazer um “O” com um copo.

Se a juventude não despertar para o imbróglio em que está sendo envolvida, estará pavimentando o caminho por onde suas criancinhas rechonchudas caminharão para um Armagedon. Um despertar é necessário, e consiste apenas em prestar atenção às coisas e aos acontecimentos à volta. Não é preciso se dedicar ao estudo porque quem não sabe a diferença entre “come” e “comer”, como não sabem os jovens, é por não saber ler. Assim, um simples momento de reflexão sobre os acontecimentos vivenciados no dia a dia é suficiente para perceber estar tudo errado. Mas esta percepção só poderá aparecer quando o desenvolvimento mental acompanhar o desenvolvimento físico. No momento em que isto acontecer, perceber-se-á a realidade de se viver num mundo ilusório. Só assim se explica tanta alegria a ponto de se gastar muitos bilhões para fazer festa, com total escárnio dos que lamentam suas dores de carentes.

Os bailarinos de axé e comedores de hóstias não sabem, e jamais saberão enquanto suas companhias preferidas forem “celebridades” e “famosos” que preferem Copa a escola e hospital vivendo num país de doentes e analfabetos. Passada essa fase de estupidez homérica, tomarão conhecimento de um ensinamento que ensina ser a propaganda a arte de explorar a estupidez humana. Prova ser verdade esta afirmação o fato de fazer a propaganda com que as pessoas são tomadas por um impulso irresistível de “ir às compras”, principalmente quando se pode tornar pública a chiqueza de comprar em Me Ame.  É exatamente esta estupidez que alimenta a ilusão de se estar sendo bem governado. O governo se distanciou tanto do povo que o contato entre ambos é feito através de propaganda. Como ninguém é contra si mesmo, situação até prevista na lei que dá direito a não ser obrigado o fazer prova contra si próprio, o governo propaga que ele é que é o bom, e o faz com o dinheiro dos que ouvem a sua propaganda de ser o tal e que ficam convencidos de ser mesmo.

Trata-se de uma situação desgraçada que precisa ser pensa e repensada até ser modificada. Não pode dar certo este modo tradicional de se administrar a riqueza pública porque o instinto de rato que a todos afeta, uns com maior intensidade como os brasileiros, outros com menor, mas todos os seres humanos sentem saudade do tempo em que se procurava precaver da escassez de alimento, tempos em que não havia necessidade de se respeitar a integridade física alheia. É esta saudade da brutalidade que impele à enganação para dela tirar proveito, razão dos conflitos que a todos infernizam, sendo, portanto, necessário surgir uma juventude que se contente apenas com os buracos que a natureza botou em seu corpo e use o tempo de fazer novos buracos em coisa mais digna perante seus descendentes como matutar numa forma de se reverter o quadro desolador atual para o bem-estar tanto dos governados e seus descendentes quanto dos governantes e seus descendentes porque num ambiente de paz as pessoas dos governados não precisariam ter medo das ruas e as pessoas dos governantes não precisariam ter medo da sombra fantasmagórica da guilhotina do governador de São Paulo. Mas como saco tem limite, arengaremos depois de desopilá-los. Inté.

 

 

 

 

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