sexta-feira, 16 de novembro de 2012

O CASAL REAL, O VELHO E O SACO DE BOSTA

          Quem viu na televisão um velho com um saco de estrume na mão, doido prá jogar na cabeça do príncipe e na mulher do príncipe? Pois eu vi. Estou exultando de alegria, satisfação, regozijo e felicidade por descobrir a existência de outro velho que, como eu, também pensa como Raul Seixas, Cazuza, Renato Russo, enfim, os jovens que sonharam com um mundo melhor. Ah! Como eu gostaria de ter coragem e oportunidade para tacar bosta na cabeça de tudo que é rei. Todos eles, inclusive os daqui.
          Para que serve um rei, alguém pode dizer? Para nada! Absolutamente nada. Quando os chefes de governos eram reis, cada um deles se achava o dono daquele Estado e agia como se assim fosse. O povo, como nunca prestou para outra coisa, produzia gansos, leitões, galinhas, enfim tudo de que necessitavam as festas dos nobres esvoaçantes e rodopiantes.
         A existência de reis deve-se a duas causas que a sociedade precisa banir: uma delas é o excessivo apego às tradições. A outra, é a necessidade de todos os governos do mundo em providenciar entretenimento com que envolver a atenção do povo e evitar a percepção do que está sendo feito com o dinheiro que lhes é entregue para devolver em serviços. Desta distração resulta a facilidade que faz da atividade de tomar conta do erário a mais rentável das profissões.
          Tem um rei aí que chupa a atenção do povo para um enorme e muito belo palco ricamente iluminado e enfeitado, sob o encantamento mágico e deslumbrante do maravilhoso magnetismo da televisão, e lá, nesse templo profano do ouro, cujos poderes são os únicos realmente superiores a tudo, até à natureza, porquanto tem se mostrado superior a ela na capacidade de fazer pensar, lá, nesse ambiente rico e feliz, para onde aquele rei leva o povo há cinquenta anos ele conta em forma de música para o povo maravilhado e com a boca aberta que de hoje em diante ele só vai gostar de quem gosta dele. Se eu falar a mesma coisa por um minuto sequer, dou a cara à tapa que neguinho taca bosta neu. Já ele, por ter sido ungido pelo poder da magia televisiva e transformado em rei, toda vez que ele fala que só vai gostar de quem gosta dele o povo taca é muita palma e dinheiro nele.
          Tem outro rei pelaí (e pelaí soa parecido com o nome dele), sujeito aparentemente bom sujeito. Ele nem mesmo sabe o verdadeiro motivo pelo qual se tornou rei e rico como todo rei. Deve pensar, como também pensam os bailarinos de axé, que é por saber jogar bola muito bem. Mas, sendo inteligente, como não são os bailarinos de axé, mesmo inocente, deve lhe passar pela cabeça que já fez muitas belas jogadas o seguinte: Por que quem sabe jogar bola vira rei, e não faz nenhum rei saber abrir um crânio ou um coração danificado por algum motivo, arrumar tudinho lá dentro, tampar de novo e fazer com que o quase defunto volte a bailar axé ou espernear no futebola? Por que tal façanha não faz reis? Tal questionamento deveria ocorrer na cabeça de todo mundo, principalmente de quem gosta dos filhos. Não pode haver hipótese alguma de justificativa para a exacerbação do fanatismo pelas brincadeiras que leva a juventude à loucura de estar convencida valer a pena acorrer para o descampado e lá permanecer por dias à espera de brincadeira sem dar a mínima para a situação mostrada lá no Google se digitar “o veneno está na mesa”. A constatação de consumirmos cada um de nós um litro e meio de veneno a cada ano deixa entendido o motivo pelo qual as UTIs andam superlotadas a ponto de não poderem mais aliviar as dores de quando forem velhos os filhos dos jovens de hoje e isto exige de qualquer pessoa, mormente os pais, alguma reflexão a respeito, salvo em se tratando de retardado. Certa professora da Universidade do Ceará declarou em entrevista à revista Caros Amigos que em determinada localidade do seu estado os hospitais já não podiam dar conta de atender pessoas envenenadas por trabalhar na lavoura.
          Os filhos que as pessoas dizem amar só não sentem os efeitos do envenenamento porque ao contrário dos agricultores que recebem alta dose de uma só vez, nós recebemos em parcelas de modo que a fatura só chega depois de ingerida a última parcela suportável pelo organismo.
          Embora pareça irreal, quem executa algum tipo de divertimento se dá muito melhor na vida material do que qualquer outra atividade fora da de tomar conta de dinheiro público. Na atividade de produzir brincadeiras, quem não vira rei vira celebridade com direito a estardalhaço na imprensa ávida em descobrir e anunciar com quem a celebridade está namorando, quem a celebridade beijou ou quem está “de caso” com a celebridade, como é sua casa, como é o cachorro ou o gato, quantas roupas e sapatos tem a celebridade, e quais os preferidos, enfim, até gostaria a mídia de anunciar quando a celebridade solta um pum. Até jogo para pessoas inteligentes a imprensa inventa para não tirar de foco a celebridade. A mídia publicou três pares de belas coxas de mulher e desafiava os bailarinos de axé a apontar a que celebridade pertencia cada um deles. Este inteligente jogo deve ter suscitado muita discussão, principalmente entre quem ainda não tenha tido a sorte de conhecer de perto as formosas coxas. Cuecas de celebridades já foram motivo de muito anunciamento na imprensa. O Jornal do Brasil anunciou que uma celebridade por jogar bola declarou não usar cueca desde os quatorze anos. Agora, o que absorve com mais vigor a atenção da imprensa e dos admiradores de reis é a notícia ardorosamente noticiada da venda de uma prexeca pela qual um japonês se disse disposto a pagar um milhão e meio por esta “paixão” da mulher brasileira. Enquanto isso, meninas índias de dez anos na Amazônia estão vendendo suas prexecas por apenas vinte reais, com menos desgaste do que a comprada por um e meio milhão.

Um comentário:

  1. Prezado "Zébrabo",

    Por achar importante essa sua forma de empurrar os jovens para o precipício sem fim do exercício de pensar é que estou popularizando seu BLOG através de divulgação do mesmo. Espero que muitos se atirem nesse abismo em fuga da alienação reinante que a mídia tem fabricado neste país.
    Muito grato por seu trabalho.

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