sábado, 22 de outubro de 2011

TEMPOS MODERNOS



Modernizar implica em substituir o velho pelo novo quando o novo se mostra mais eficiente. Então, quando se conclui haver um novo modo de se obter o mesmo resultado com menor esforço ou emprego de material, substitui-se a maneira antiga de fazer pela novidade. Há de se notar, entretanto, a necessidade de averiguação de haver benefício oriundo da aplicação da nova técnica.
Uma averiguação sobre a substituição dos tempos de antanho pelos tempos atuais, ainda que feita por alguém que nem sabe onde colocar as vírgulas pode provar não ter havido vantagem na troca do velho pelo novo. Esse negócio moderno de virar celebridade e ser motivo de festejo social por se casar com alguém do mesmo sexo ou se tornar tão idiota a ponto de se voltar ao tempo dos gregos no culto pela beleza física, com a desvantagem de haver na modernidade morte de pessoas em consequência do esforço para ficar bonito e dos venenos usados para apressar a boniteza, enquanto que a história não parece registrar morte de um grego por causa de seus exercícios em busca da beleza física, movidos que eram pela ingenuidade de acreditar que os males do mundo vieram quando a curiosidade de Pandora levou-a a abrir a caixa que os guardava, ingenuidade esta que continua orientando as ações dos povos ainda não habilitados a se tornarem civilizados.
É verdade que nos tempos de antanho não havia o avanço da medicina que salva muitos ricos. Entretanto, ninguém era mantido vivo por drogas, tubos, agulhas e UTIs, num sofrimento tão grande como o que vi nos olhos da minha mãe já desenganada por dois outros médicos, mas operada pelo mercenário Walter Pinotti, que nos extorquiu.
Personagens de Eça de Queiroz costumavam morrer de apoplexia nos tempos de antanho. Sujeito se empanturrava de comida e bebida e enchia as veias de obstáculos que impediam o movimento do sangue e caia mortinho da silva de apoplexia. Isto era muito mais simples do ponto de vista de evitar sofrimento do que desperdiçar os recursos que poderiam beneficiar outros membros da família para manter apenas um deles numa vida que não é vida e que logo se acabará, além de não ser do gosto do próprio doente se pudesse escolher. A vantagem do modernismo sobre os tempos de antanho no que diz respeito a este aspecto do sofrimento humano não é tão vantajosa assim.
As grandes vantagens trazidas pela experiência do passar dos tempos às ciências médicas estão só ao alcance de quem pode pagar plano de saúde. Os donos deles ficam milionários enquanto que o pessoal que cuida de nós tem de se virar para ter um padrão condizente com o esforço que fazem. Muitos deles, imbuídos da cultura que torna necessário o enriquecimento, esquecem o juramento para se tornarem mercenários como o Dr. Walter Pinotti. A modernidade, portanto, como consequência de um lento processo evolutivo, não trouxe benefícios significativos.
E na Economia Política? Ah! Aí sim! Vê só quanta riqueza? Qual o quê. Tudo balela. A produção de riqueza vai levar a humanidade à extinção. Se nós já estamos tendo problemas com a natureza, os filhos destes jovens de espeto no beiço e “nas partes” irão amassar o pão pro diabo comer.
Então, se também na produção de riqueza não houve vantagem para o povo, mesmo porque ela só beneficia poucos, a vantagem da substituição dos tempos de antanho pelos tempos modernos continua sem maiores vantagens.
É verdade que outros povos evoluíram para um estágio denominado de civilizado apesar de continuarem tão imbecilizados a ponto de também sustentarem palácios, autoridades de todo tipo com vida regalada de mordomias, casamentos espalhafatosos de ridículos príncipes e princesas que esvoaçam pelo mundo à custa deles.
Tais povos, apesar de também estúpidos, vieram a ser liderados por autoridades que aplicam mais recursos do que roubam e isto lhes permitiu um padrão de vida mais alto e a denominação de civilizadas apenas por viver melhor. Não por atingir um estagio evolutivo superior, mas apenas pela posse de bens materiais, o que denota ignorância.
“Civilizado”, então, define um estágio da evolução cultural humana ainda eivada de barbarismo capaz de manter o povo como mero servil das autoridades. Então, se um povo civilizado está ainda em tais condições de escravidão consentida, que dizer de um povo cuja evolução intelectual ainda nem lhe confere o estado de civilizado?
Se o significado de civilizado serve para definir brutos, a modernidade não trouxe vantagem alguma porque antigamente, como na modernidade, brutos saltavam sobre outros povos com menor poder físico e lhes tomavam o que tinham, sendo ainda pior agora porque os saques não são apenas entre povos, mas também entre pessoas do mesmo grupo.
O que falta para haver vantagem na substituição dos tempos de antanho pelos tempos modernos é uma EDUCAÇÃO que forme cidadãos para ser colocada no lugar desta que forma idiotas capazes de idolatrar personagens ridículas pela habilidade dos pés a ponto de eleger uma delas para legislador e outras igualmente ridículas em tal papel, por fazer palhaçadas, delegando autoridade a pessoas intelectualmente incapazes de exercê-la.
Em consequência desta deseducação é que em todo o mundo a nossa parte é a mais atrasada em função de sua deseducação. Nossa modernidade continua de fornecedores de riqueza para a gatunagem dos civilizados. Estamos tão atrasados na evolução intelectual que a brutalidade escancarada é comum entre as pessoas.
Estamos tão embrutecidos que andamos indiferentes sobre fezes nas ruas com barulho suficiente para tornar a juventude estressada e surda. O poder público habilita prédios inacabados para serem habitados e a administração de um deles distribuiu comunicado entre seus moradores advertindo para a necessidade de se resguardar civilizadamente a comodidade dos vizinhos evitando barulho entre as vinte e duas e as sete horas da manhã. Se na modernidade as pessoas só tem direito ao sossego neste horário, ao contrário do que estabelece a legislação, é porque a modernidade não trouxe benefício suficiente que superasse o malefício de criar a necessidade imensurável de riqueza que põe as pessoas em polvorosa e com o comportamento de rebanho faminto ao avistar pasto suculento.
A busca por riqueza embruteceu as pessoas de tal maneira que não se pode confiar em mais ninguém. Deixei a cargo de uma locadora de imóveis a vantagem de pagar o aluguel de todo o ano de uma só vez e o resultado foi que não houve vantagem alguma. Por confiar nas pessoas, paguei de uma só vez o mesmo que pagaria em doze vezes.
Isto de ainda confiar nas pessoas é coisa de gente do tempo de antanho como eu, que não acreditava chegar o tempo previsto por Rui Barbosa ao garantir que o homem chegaria a não ter um pingo de vergonha na cara.
Certa vez, caminhoneiro nato que sou, dirigia meu caminhão e dei carona a um grupo que levou as minhas cordas quando desceu.
Observador do Mestre Cuca, para satisfação da minha mulher, certa vez resolvi percorrer os oito quilômetros que me separavam da Cidade de Barra do Choça para comprar um pouco de aipim porque a do sítio era nova e eu queria fazer algo com aipim. Escolhi na feira um amarrado que custava dois reais e que ficou por cinco reais porque o vendeiro, um velho, se queixou que iria ficar sem trocado para os fregueses. Por ser de antanho e não querer prejudicar o velho, dispensei o troco e voltei para a cozinha onde tive a decepção de constatar que todas as raízes estavam azuis e imprestáveis.
Outra vez, dirigindo meu primeiro caminhão, ainda a gasolina, isto quando não havia asfalto para a Barra do Choça, encontrei um caminhoneiro a quem eu sentia orgulho em tratar de colega, e lhe emprestei vinte litros que seriam deixados em determinado posto, e ainda não deixou.
Em outra, também um colega caminhoneiro me levou a lata de óleo de freio e não deixou lá no posto onde disse que deixaria.
Ainda teve outro “mui” colega caminhoneiro que levou doze canos de PVC que não se acomodavam bem na minha carga e sumiu com eles.
Quando produzia café, tive vários sacos de café roubados além de seis motores e cabos de alumínio que são roubados para serem receptados e transformados em panelas. Até grãos de café eram roubados nas árvores.
A ladroagem com brutalidade dos tempos de antanho está presente também na modernidade, o que afasta a existência de ter havido vantagem em sua aplicação. Nos outros povos, a gatunagem é efetuada por meio de furto que é um modo sutil de roubar. Entre nós, entretanto, roubar, cujo processo inclui violência, é tão normal quanto respirar.
A humanidade talvez não tenha tempo de saber que estaria em melhores condições sem a estupidez que leva as pessoas a consumirem-se numa correria infernal atrás de dinheiro enquanto imbecis se arvoraram da riqueza que tem, mesmo assistindo o acontecido com outros imbecis transformados em farrapos antes de mortos em sofrimento exatamente por causa da riqueza que tinham.
Na modernidade, povo equivale realmente à manada como descobriu o poeta ao sentenciar do alto de sua genialidade a estupidez humana, como fez outra pessoa, um menino, afastando a cegueira do povo que fingia enxergar vestido um rei que estava nu.
Haja estupidez! Razão tinham os Grandes Mestres do Saber em não gostar de nossa companhia.










Um comentário:

  1. Tempos modernos iguais aos de antanho, mas nestes os grãos de café não dão em árvores. Quanto aos médicos que esquecem seu juramento de "hipócritas", ora, apenas seguem a simbologia da serpente que envolve o cálice: se mata, cobra, se cura, cobra, do mesmo jeito. E quanto ao legislador das palhaçadas, aquele que palhaço é, e de origem circence, é tão melhor que seja um palhaço eleito pelos abestados que são feitos de palhaço diuturnamente pelos legisladores letrados. No mais, resta-me dar gargalhadas da minha própria bestialidade de fera humana.

    Saló-Judson
    salo.judson@gmail.com

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