sábado, 13 de abril de 2013

ETERNOS BOBOS (II)


Daqui a um quaquilhão de anos luz ainda não haverá alguém capaz de acreditar na barbaridade dos tempos atuais. Diariamente nos chegam ao conhecimento fatos que desnudam a ferocidade de monstro que ainda habita o ser humano. O caso que vou narrar ninguém me disse ter acontecido, está no cotidiano desta vida de bichos indiferentes ao sofrimento dos semelhantes. Cenas pavorosas de degradação humana passam ao largo das preocupações dos frequentadores de igrejas, terreiros de axé e de futebola.

O caso a que nos referimos envolve uma família constituída de um casal de bilionários e dois filhos rapazes e herdeiros de todo um grande império de riqueza dos seus pais. Como é comum entre todos os irmãos bilionários do mundo, também as conversas destes dois irmãos giravam sempre em torno de novas emoções que lhes custavam cada vez maior quantidade de dinheiro à medida que necessitavam de emoções mais fortes para manter o alto grau de novas sensações de prazer e extravagância.  Certa vez, a emoção forte escolhida pelos dois para aquele dia foi uma corrida disputada em suas motos milionárias. Quando estavam quase a voar, a moto do irmão que ia à frente teve a roda dianteira danificada por uma pedra e perdeu o controle. Foi de encontro à murada da ponte e atirou o bilionário lá muito abaixo dentro da água revolta. Embora o irmão que vinha atrás tivesse visto tudo, inclusive o obstáculo que causou o acidente, foi tomado de súbito pela idéia de que se o irmão desaparecesse ele teria muito mais dinheiro para novas emoções. Como é normal para a cultura de bestas em que se tornou o ser humano, alegou que vinha na frente e que nem tinha percebido a falta do irmão porquanto o ronco ensurdecedor do possante motor de sua moto não lhe permitia saber que o irmão acidentado não o acompanhava.

O baixíssimo nível de espiritualidade que orienta o comportamento desse irmão desnaturado é o mesmo que orienta uma sociedade tão desnaturada quanto esta monstruosidade em que chafurdam os ignorantes e tão depravados seres humanos que negociam xoxotas na imprensa e garantem que a prostituição não é tolerada pela moral e os bons costumes. Porém, como se falar em moral e bons costumes em lares que convivem com cenas de prostituição mais depravadas do que as do meretrício, com a agravante de participarem delas todos os membros da família?

A absolutíssima maioria dos seres humanos teve anulada sua capacidade de raciocinar em consequeência da ação enganadora dos falsos líderes através dos meios de comunicação. Além da parceria diabólica com a religião, os falsos líderes da política também fizeram parceria maligna com os meios de comunicação e formaram uma trindade maldita na divisão do trabalho de enganar. Não faz tempo uma emissora de televisão dizia aos enganados que o ateu é capaz de cometer crimes bárbaros, procedimento que visa fazer com que os enganados nunca cogitem de ser ateu para não cometer crimes bárbaros nem deixar de levar o dízimo que faz a riqueza dos pastores como mostra a matéria “riqueza dos pastores” publicada pela Revista Forbes. É para esse supermercado da fé (como disse o Arnaldo Jabor) que vão os suados tostões do aposentado tão enganado que ouve o pastor dizer que Lennon morreu porque Deus o matou por tê-Lo afrontado. Não ocorre a quem ouve tamanha enganação nem um lapso de pensamento sobre a inconseqüência de tal afirmação. Quem matou o Lennon foi um cara com revolver que atirou nele. Se Deus é o mandante, Ele deixou Seu pistoleiro divino à própria sorte, na cadeia.  Também disse o mesmo gigolô da fé que os Mamonas Assassinas morreram porque Deus guiou o avião para bater na montanha e há entre os enganados quem veja sentido nisso. Se o Deus que os enganados pensam existir é bom como eles dizem, Ele não mataria ninguém. Além disso, por que mataria Deus também o pobre do piloto? Como todo enganado, certamente também ele era temente a Deus, mas deixou sua família desfalcada do companheiro.

O poder enganador dos meios de comunicação (principalmente da luz inebriante da televisão) sobre os enganados os mantém na corda curta, sujegados ali, ó, na obrigação de não desviarem a atenção das brincadeiras nem dos lugares de fazer compras. Seus agentes são chamados Formadores de Opinião, mas são na realidade Deformadores de Opiniões. Geralmente são senhores rechonchudos cujo trabalho consiste em fomentar a eterna bestagem que faz os enganados dançar logo depois de chorar. Os deformadores de opiniões não são bobos como os enganados. Há neles inteiro conhecimento da situação porquanto ao tratar de assunto onde não haja lugar para o trabalho de enganação percebe-se neles lucidez e conhecimento, faltando-lhes, entretanto, a percepção do mal coletivo resultante do trabalho de imbecilizar os enganados porque é nesse ambiente de imbecis cada vez pior por eles fomentado onde viverão seus descendentes. O plim plim dos enganadores tem o mesmo efeito do pêndulo que o mágico balança diante dos olhos de alguém e que impede esse alguém de olhar em outra direção senão o movimento do plim plim, isto é, do pêndulo. Lá no país que joga bomba na cabeça de quem tem petróleo, um enganado morreu pisoteado por uma manada de outros enganados quando abriu a porta da loja e eles avançaram para obedecer ao “ir às compras” imposto pelo “plim plim” que até criou datas nas quais se é obrigado a dar presente às crianças, outra para as mães e os pais, outra para a namorada, e muitas outras mais. A passagem de cada uma das datas do “ir às compras” faz com que as lojas pareçam formigueiros e façam estardalhaço para atrair o maior número de enganados com o barulho de auto falantes, numa demonstração de grosseria espiritual.

Embora a enganação imposta pelos falsos líderes possa ser percebida de vários modos, um exemplo magnífico desta trama é a Venezuela. Os deformadores de opinião pintam o presidente Chávez como um bandido. Entretanto, o jornal Le Monde Diplomatique Brasil deste mês de abril traz matéria do jornalista Steve Rendall com o título PARA AS MÍDIAS, UM HOMEM A ELIMINAR, sendo o título revelador do ódio nutrido pelas mídias conta o presidente venezuelano a ponto de querer eliminá-lo é o efeito do trabalho de enganar. O motivo pelo qual os falsos ídolos pagam ao plim plim para pintar o Chávez de demônio perante os enganados é porque aquele líder natural teria cometido o mesmo crime de Jesus Cristo ao ombrear com os humildes. Revela a matéria jornalística que o crime do Chávez foi aplicar o dinheiro do petróleo em educação, saúde e programas alimentares, em vez de dividi-lo como é de costume com os capitalistas, classe que substituiu os nobres na mudança de regime ocorrida no final do século XVIII com a Revolução Francesa.

Toda vez que os enganadores se sentem seguros bastante para descuidar dos cuidados com a enganação, a descoberta da situação de enganados tem levado estes a subverter a situação por meios violentos. Nada era mais sólido que o poder da igreja antes da Revolução Francesa. No entanto, segundo a História, cerca de dois mil a três mil padres e freiras foram assassinados durante o período revolucionário. Entretanto, nenhum movimento visou acabar com a enganação. Os que eram enganados passam a ser enganadores e continua a eterna servidão dos eternos enganados com seus enganadores tão seguros de si como sempre estiveram. Até quando? Inté.

 

  

 

 

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