De tanto
ouvir falar nas belezas do nordeste, mesmo com uma pulga atrás da orelha, mas, incentivado
sobretudo pela possibilidade de encontrar alguém cuja identidade revelarei mais
adiante, alguém que tiraria o Brasil de sua eterna desmoralização, possibilidade
esta com a qual sonho há muito, resolvi olhar de perto as decantadas belezas
nordestinas. Sara cancelou alguns exames de saúde, enchi o tanque da CRV e nos
mandamos com a intenção de percorrer tantos estados quantos meus setenta e oito
anos me permitissem dirigir. Entretanto, confirmando o que tenho afirmado neste
blog, este é um país apropriado para manada e não para quem tem noção do que
sejam responsabilidade, direitos e obrigações. Logo de entrada, um desmando: pagar
pedágio várias vezes para andar atrás de caminhões que soltam lufadas de fumaça
preta proveniente da queima do óleo diesel mais venenoso do mundo. Em seguida,
outro desmando: os caminhoneiros ignoram a determinação legal de deixar espaço entre
si para os automóveis e fazem buzinaço quando se é forçado a entrar na marra
entre dois caminhões a fim de não chocar de frente com outro caminhão. São
incontáveis os desmandos. Depois de correr perigo para ultrapassar inúmeros
caminhões, chegando aos postos de pedágio dá-se de cara com outro desmando:
guichês fechados por medida de economia para atender à usura dos ricos donos do
mundo e imensas filas, resultando que os caminhões, ônibus e muitos carros
outros penosamente ultrapassados voltam a ficar em nossa frente porque eles
passam diretamente por um guichê especial sem necessidade de entrar na fila
para pagar o indevido pedágio, anulando, assim, todo o esforço empreendido e os
riscos corridos para ultrapassá-los.
Disse o Mestre
do Saber Leonardo da Vinci o seguinte: “aqueles
que se submetem aos desmandos, não passam de condutores de comida. A única
marca que deixam de sua passagem pelo mundo são latrinas cheias”. Como
tenho também outras marcas a deixar, comecei a ficar irritado ao ser submetido
a tantos desmandos que ia encontrando pelo caminho. Para quem tem experiência
de mais de meio século em direção nas estradas, as ultrapassagens são
estressantes porque envolvem riscos. Nas subidas onde há uma terceira pista, a
situação de estresse é ainda maior porque os motoristas dos caminhões trafegam
com as rodas sobre a linha que separa a terceira pista da pista na qual nos encontramos,
fazendo com que passemos tirando fino nos caminhões que vão e nos que vem em
sentido contrário.
Embora sem
autorização para passar pelo guichê especial, não suportando a vilania da
situação de ter várias vezes de repetir a operação da ultrapassagem, invadi o
guichê especial disposto a arrebentar aquela vara que obstrui o caminho mesmo
que estragasse minha CRV, só não o fazendo porque o espaço entre a ponta da
vara que serve de obstáculo e o muro foi suficiente para que meu carro
passasse. Vou esperar pela multa para contestar. Não creio que nenhum juiz concordasse
com tal absurdo por não acreditar haver juiz que se enquadre na qualificação de
enchedor de privada.
Seguindo
viagem, chegamos a uma capital de um estado nordestino onde um filete de água
putrificada e fétida escorria ao lado do meio-fio e um rio igualmente fedorento
despejava diretamente na praia mais adiante. Um carro estampava os dizeres
“TUDO É DO PAI” embora não explicitasse a que se referia aquele “tudo” e nem o
pai de quem era o dono de tudo. Outro carro anunciava em grandes letras “JESUS
MIM AMA”. Depois destas bizarrices nos hospedamos num hotel de quinhentos reais
a diária, onde saía apenas um filete de água na pia do banheiro e mesmo assim
não tinha vazão e ficava empoçada dentro da pia. Convoquei a manutenção que
melhorou a condição da pia (apenas melhorou) e explicou que a água era fraca
mesmo e embolsou vinte de gorjeta. Não se tinha privacidade no banheiro porque
além da porta comum havia também uma porta fixa de vidro que permitia a quem
estivesse do lado de fora ver quem estava lá dentro. O resfriador de ar não esfriava
o ambiente e foi preciso vir alguém da manutenção que levou mais vintão. Dois
dias depois, já em outra capital, hospedamos num hotel que dava para o mar, e
mesmo estando no décimo oitavo andar não se podia abrir a janela porque o axé
dos farofeiros na praia lá embaixo arrebentava os ouvidos cá em cima.
Ante tantos
desmandos, quebrei o beco de volta da quarta capital, desistindo das demais.
Não há lugar neste país de manada para quem aprendeu a pensar e ambicionar uma
vida com mais dignidade. Entretanto, um acontecimento alvissareiro superou
todos os desprazeres e a tristeza de viver em ambiente tão desagradável. Eu
seria capaz de repetir tudo se tivesse novamente a oportunidade de desfrutar
ainda que por pouco tempo da companhia de ninguém menos do que a fabulosa musa
da política brasileira, HELOÍSA
HELENA, a mulher que faria desse país um lugar onde nós que
pensamos pudéssemos viver sem tantos dissabores.
Esta
juventude imprestável para qualquer coisa que não sejam adorar imbecilidades
como as notícias dando conta dos lugares inusitados onde Xuxa já trepou, ou que
Daniela Mercury quer ser engravidada pela namorada, poderiam muito bem deixar de
ser apenas enchedores de latrina e se interessarem por política porque é dela
que depende o futuro de seus descendentes. Para começar, procurem saber quem é HELOÍSA HELENA, suas atitudes, seu caráter e
sua luta em nossa defesa. Juntamente com Sara, fiquei emocionado ao lado dela, e
não resisto à tentação de mostrar estas fotos aos que honram com sua visita
este blog trapaiado . Inté.
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