quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

SONHO REALIZADO


 

De tanto ouvir falar nas belezas do nordeste, mesmo com uma pulga atrás da orelha, mas, incentivado sobretudo pela possibilidade de encontrar alguém cuja identidade revelarei mais adiante, alguém que tiraria o Brasil de sua eterna desmoralização, possibilidade esta com a qual sonho há muito, resolvi olhar de perto as decantadas belezas nordestinas. Sara cancelou alguns exames de saúde, enchi o tanque da CRV e nos mandamos com a intenção de percorrer tantos estados quantos meus setenta e oito anos me permitissem dirigir. Entretanto, confirmando o que tenho afirmado neste blog, este é um país apropriado para manada e não para quem tem noção do que sejam responsabilidade, direitos e obrigações. Logo de entrada, um desmando: pagar pedágio várias vezes para andar atrás de caminhões que soltam lufadas de fumaça preta proveniente da queima do óleo diesel mais venenoso do mundo. Em seguida, outro desmando: os caminhoneiros ignoram a determinação legal de deixar espaço entre si para os automóveis e fazem buzinaço quando se é forçado a entrar na marra entre dois caminhões a fim de não chocar de frente com outro caminhão. São incontáveis os desmandos. Depois de correr perigo para ultrapassar inúmeros caminhões, chegando aos postos de pedágio dá-se de cara com outro desmando: guichês fechados por medida de economia para atender à usura dos ricos donos do mundo e imensas filas, resultando que os caminhões, ônibus e muitos carros outros penosamente ultrapassados voltam a ficar em nossa frente porque eles passam diretamente por um guichê especial sem necessidade de entrar na fila para pagar o indevido pedágio, anulando, assim, todo o esforço empreendido e os riscos corridos para ultrapassá-los.

Disse o Mestre do Saber Leonardo da Vinci o seguinte: “aqueles que se submetem aos desmandos, não passam de condutores de comida. A única marca que deixam de sua passagem pelo mundo são latrinas cheias”. Como tenho também outras marcas a deixar, comecei a ficar irritado ao ser submetido a tantos desmandos que ia encontrando pelo caminho. Para quem tem experiência de mais de meio século em direção nas estradas, as ultrapassagens são estressantes porque envolvem riscos. Nas subidas onde há uma terceira pista, a situação de estresse é ainda maior porque os motoristas dos caminhões trafegam com as rodas sobre a linha que separa a terceira pista da pista na qual nos encontramos, fazendo com que passemos tirando fino nos caminhões que vão e nos que vem em sentido contrário.

Embora sem autorização para passar pelo guichê especial, não suportando a vilania da situação de ter várias vezes de repetir a operação da ultrapassagem, invadi o guichê especial disposto a arrebentar aquela vara que obstrui o caminho mesmo que estragasse minha CRV, só não o fazendo porque o espaço entre a ponta da vara que serve de obstáculo e o muro foi suficiente para que meu carro passasse. Vou esperar pela multa para contestar. Não creio que nenhum juiz concordasse com tal absurdo por não acreditar haver juiz que se enquadre na qualificação de enchedor de privada.

Seguindo viagem, chegamos a uma capital de um estado nordestino onde um filete de água putrificada e fétida escorria ao lado do meio-fio e um rio igualmente fedorento despejava diretamente na praia mais adiante. Um carro estampava os dizeres “TUDO É DO PAI” embora não explicitasse a que se referia aquele “tudo” e nem o pai de quem era o dono de tudo. Outro carro anunciava em grandes letras “JESUS MIM AMA”. Depois destas bizarrices nos hospedamos num hotel de quinhentos reais a diária, onde saía apenas um filete de água na pia do banheiro e mesmo assim não tinha vazão e ficava empoçada dentro da pia. Convoquei a manutenção que melhorou a condição da pia (apenas melhorou) e explicou que a água era fraca mesmo e embolsou vinte de gorjeta. Não se tinha privacidade no banheiro porque além da porta comum havia também uma porta fixa de vidro que permitia a quem estivesse do lado de fora ver quem estava lá dentro. O resfriador de ar não esfriava o ambiente e foi preciso vir alguém da manutenção que levou mais vintão. Dois dias depois, já em outra capital, hospedamos num hotel que dava para o mar, e mesmo estando no décimo oitavo andar não se podia abrir a janela porque o axé dos farofeiros na praia lá embaixo arrebentava os ouvidos cá em cima.

Ante tantos desmandos, quebrei o beco de volta da quarta capital, desistindo das demais. Não há lugar neste país de manada para quem aprendeu a pensar e ambicionar uma vida com mais dignidade. Entretanto, um acontecimento alvissareiro superou todos os desprazeres e a tristeza de viver em ambiente tão desagradável. Eu seria capaz de repetir tudo se tivesse novamente a oportunidade de desfrutar ainda que por pouco tempo da companhia de ninguém menos do que a fabulosa musa da política brasileira, HELOÍSA HELENA, a mulher que faria desse país um lugar onde nós que pensamos pudéssemos viver sem tantos dissabores.

Esta juventude imprestável para qualquer coisa que não sejam adorar imbecilidades como as notícias dando conta dos lugares inusitados onde Xuxa já trepou, ou que Daniela Mercury quer ser engravidada pela namorada, poderiam muito bem deixar de ser apenas enchedores de latrina e se interessarem por política porque é dela que depende o futuro de seus descendentes. Para começar, procurem saber quem é HELOÍSA HELENA, suas atitudes, seu caráter e sua luta em nossa defesa. Juntamente com Sara, fiquei emocionado ao lado dela, e não resisto à tentação de mostrar estas fotos aos que honram com sua visita este blog trapaiado . Inté.

 

 

 





    

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