Ler um livro sobre filosofia lembra a
afirmação de Politzer, o Grande Mestre do Saber que afirmou ter sido a
filosofia convertida na arte de deixar as pessoas com a cabeça às tontas.
Efetivamente, é o que acontece. Quanto maior o número de títulos honoríficos de
glorificação ao autor dos livros sobre filosofia, maior é a confusão porque o
que eles fazem é armar uma tremenda demonstração de erudição sem qualquer
conotação de praticidade no que diz respeito àquilo de que a humanidade mais
carece: engendrar uma forma menos estúpida de viver. A filosofia virou um desperdiçar
de conversa difícil que torna incompreensível algo na verdade muito simples.
Pode alguém ter qualquer dificuldade em entender o que seja ter amor à
sabedoria, até agora a melhor definição do que seja filosofia? Pois é isto em
que se resume a filosofia e a ninguém é dado o direito de desconhecer o que
significa nem amor e nem sabedoria. Amor, embora para a brutalidade que ainda
caracteriza os seres humanos signifique trepar, na realidade, é algo que paira
tão alto que vai além daquela atração irresistível que um espécime de um sexo
sente por outro do sexo oposto e que as pessoas menos brutas envolvem num manto
de romantismo uma vez que os seres humanos são tão ligados às fantasias que fazem
mil e um devorteios fantasiosos em torno de algo tão simples como a exigência
natural do instinto de conservação da espécie. A palavra amor vai muito além
destas coisas porque o desejo de união que lhe é inerente se refere também a um
sentimento ainda mais nobre, o sentimento de irmandade que deveria unir os
seres humanos pelo fato de dependermos todos das mesmas coisas e vivermos no
mesmo mundo físico, sentimento este que se observado faria com que a sensação
agradável de viver não fosse apenas uma ilusão que vai aos poucos se apagando
juntamente com a fase alegre da juventude tão distante da realidade que bate
três vezes na madeira ao ouvir falar em morte, como se os jovens não tivessem
de algum dia estar cara a cara com ela. Tendo em vista ser o bem-estar da
comodidade o objetivo de qualquer ser vivo, quem quer que se ponha a pensar
sobre a vida de modo inteligente inevitavelmente chegará à conclusões que
levariam a fazer opção por uma forma melhor de se viver do que esta forma de
vida que se faz acompanhar de sofrimentos sem fim. Seria realmente inevitável
tanto sofrimento? Seria verdadeiramente necessário que os seres humanos
vivessem sobressaltados, com medo? Por que motivo jovens deixam de viver a
alegria da juventude para se explodirem em meio a outros jovens? O Papa lavar e
beijar o pé de um infeliz contribui para aliviar a tormenta causada pelas infelicidades,
principalmente as infelicidades causadas às famílias das crianças molestadas sexualmente
pelos seus auxiliares na tarefa de fazer com que as pessoas se liguem em
fantasias em vez de realidades, crimes para os quais o Papa pede desculpas?
Toda a confusão sobre esta coisa simples de
parar para pensar a vida é intencionalmente arquitetada para impedir o
desenvolvimento espiritual dos seres humanos porque à medida que se evolui
espiritualmente menos apego se tem aos jatinhos, lanchas, palácios, contas nos
infernos fiscais, pose na revista Forbes, e coisas que tais. Acontece, porém,
que por força da estupidez humana, a palavra sociabilidade atemoriza as mentes
mumificadas por educação que ensina a antissociabilidade existente no
procedimento de individualidade que leva ao “cada um por si” incompatível com a
vida comunitária, irracionalidade observável na diferença que caracteriza os
ignorantes que fazem pose na revista Forbes e os ignorantes da sarjeta que
estendem a mão por esmola, o que se deve unicamente por conta da burrice que
caracteriza a ostentação em oposição a sabedoria existente na simplicidade. Há
realmente sabedoria na simplicidade. Embora sem o exagero de Diógenes, que por
apego à simplicidade andava nu, usando um barril para cobrir “as partes”,
exageros à parte, considerando a realidade de serem limitados os bens materiais
de que todos necessitamos e cuja falta provoca inquietação, inconformismo e a
revolta da qual provém o medo que toma conta do mundo, fica sobejamente claro
ser burrice das grandes o ajuntamento desses bens nas mãos de poucos ignorantes
que através da ostentação torna pública sua ignorância de sociabilidade.
Entretanto, apesar de ter tudo a ver com intranquilidade social, o objetivo
humano de riqueza vem sendo perseguido desde sempre, alcançando tão grande
sucesso que um por cento dos seres humanos detêm quase toda a riqueza do mundo,
razão pela qual o mundo está do jeito que está. Como pensar leva à conclusão de
estar errada a cultura do ajuntamento de riqueza, e como ser contra a cultura do
ajuntamento de riqueza vai de encontro aos interesses dos ricos donos do mundo
que a fomentam, para impedir o desenvolvimento da arte de bem pensar é que se
alimenta o desestímulo à atividade de pensar ou filosofar, tornando a filosofia
um verdadeiro bicho de sete cabeças. Tenho aqui ao lado um livro chamado
Filosofia, do intelectualíssimo Stephen Law, Editora Zahar, que é uma
demonstração do mais alto eruditismo inútil em torno dos primeiros pensadores,
os filósofos antigos, cujos ensinamentos não obstante sábias reflexões merecem restrições
em função de terem vivido épocas em que a religiosidade, a crença na existência
de Deus, não admitia contestação como hoje que o conhecimento empírico
adquirido com a vivência faz perceber só se sustentar por força da ignorância
fomentada pelos dirigentes do mundo para atrofiar a capacidade de raciocínio. A
irrealidade da existência de Deus é mostrada pelo fato palpável de exercer Sua
presença maior influência exatamente nos lugares onde são maiores os
sofrimentos em consequência do desconhecimento proveniente do atraso mental que
na Idade Média se atribuía a Peste Negra tinha às feiticeiras, e muitas
mulheres foram queimadas por conta de se ignorar que a doença estava nos ratos
e era transmitida pelas pulgas que os parasitavam do mesmo modo como as
“excelências” parasitam o bicho povo. Assim, por força do lento, mas inevitável
desenvolvimento do esclarecimento, a existência de Deus permanece apenas em
função da recusa em ser admitida a verdade depois de ter sido a mentira
enraizada na personalidade. Como no tempo dos antigos pensadores a ciência era
condenada pela religiosidade e praticamente não se contestava a existência de
Deus, quase todos os filósofos de então se deixaram levar pelo engodo divino,
razão pela qual seus ensinamentos merecem restrições, conclusão a que se chega
pelo fato de que para grandes pensadores a guerra era uma necessidade. Hoje,
pode alguém ver nas guerras senão como consequência da estupidez humana? A
ninguém mais, principalmente aos pensadores, é dado o direito de desconhecer
que a religiosidade é ao mesmo tempo causa e causadora do atraso do qual se
beneficia o modelo escravizador de administração pública do qual participa
ativamente a religiosidade. No livro 1808, página 58, entre as causas da
decadência do reino de Portugal, Laurentino Gomes diz o seguinte: “De todas
as nações da Europa, Portugal continuaria sendo, no começo do século XIX, a
mais católica, a mais conservadora e a mais avessa às ideias libertárias que
produziam revoluções e transformações em outros países. A força da Igreja era
enorme. Cerca de 300.000 portugueses (10% da população) pertenciam a ordens
religiosas ou permaneciam de alguma forma dependentes das instituições
monásticas. Só em Lisboa, uma cidade relativamente pequena, com 200.000
habitantes, havia 180 monastérios. Praticamente todos os edifícios mais
vistosos do país eram igrejas ou conventos. Por três séculos, a Igreja havia
mantido submisso o povo, seus nobres e reis. Por escrúpulos religiosos, a
Ciência e a Medicina eram atrasadas ou praticamente desconhecidas. D. José,
herdeiro do trono e irmão mais velho do príncipe regente D. João, havia morrido
de varíola por sua mãe, D. Maria I, tinha proibido os médicos de lhe aplicar
vacina. Motivo? Religioso. A rainha achava que a decisão entre a vida e a morte
estava nas mãos de Deus e que não cabia à Ciência interferir nesse processo”.
A conclusão da irrealidade de Deus veio à tona
independentemente de estudo e inteligência. Tal realidade foi absorvida pelo
conhecimento empírico resultante da observação das coisas da vida. Como os
antigos pensadores não tiveram tanto tempo assim para observar a vida,
incorreram em bobagens do tipo desta citada na página 69 do livro Filosofia
sobre o qual tratamos, atribuída ao pensador René Descartes: “Não seria
possível eu ter em mim a ideia de um Deus, se Deus não existisse realmente”. Ora,
nisto há uma falta de lógica do tamanho do mundo porque a ser o pensamento
determinante da existência das coisas cruzaríamos diariamente nas ruas com
Papai Noel comprando apetrechos para sua fábrica celestial de brinquedos, Saci
Pererê aprontando pelaí, Mula Sem Cabeça aterrorizando, e tantas outras
criacionisses do imaginário. Por estas e outras é que os intelectuais deveriam
ser o carro chefe na luta pela condução do pensamento na direção da revogação
do modo de vida até aqui vivido, fundamentado em mentiras, falsidades e ludíbrios,
quando aquilo de que se faz necessário, na verdade, é optar pelas verdades em
vez de tergiversar inutilmente em torno do que aí está porque do que aí está
resultou no que está aí. Na página 107 do livro citado, tem-se: “Se Deus é
amor e a fonte da moralidade, então fazer o que é amoroso aos olhos de Deus é
fazer o bem, como madre Tereza”. Ora, se o que fez madre Tereza foi caridade,
a existência de quem necessita de caridade denuncia falta de uma administração
pública correta como a vigente no mundo que considera normal a distorção que
permite apenas alguns se apossarem dos recursos que a todos devem servir. Desta
forma, o que se faz necessário é corrigir a distorção na administração da
riqueza pública, mas nunca usar da caridade para mitigar o sofrimento do
sofredor por não existir motivo de sofrimento por falta de recursos materiais.
Se há é por serem eles desviados de sua verdadeira finalidade, como, por
exemplo, a imensa riqueza gasta com o pão e circo, os palácios e imensa plêiade
de parasitas tratados de excelências e a pão de ló. Talvez por ter chegado à realidade
insofismável de ser a caridade o caminho errado conclusão a que teria sido leva
pela sabedoria companheira da velhice, segundo matéria publicada numa das antigas
revistas Veja ou Istoé dava conta de uma carta escrita por madre Tereza em seus
últimos dias ao seu confessor na qual ela dizia ter sido inútil o seu trabalho,
como realmente foi porque apesar de toda a caridade existente no mundo a
miséria é cada vez maior. Problema social só pode ser resolvido por meio de
política. Nunca através de ação individual por piedade a quem sofre.
Ainda sobre o tergiversar inútil da intelectualidade
em torno do simples ato de pensar, na página 123 do mesmo livro de que tratamos
tem-se o seguinte: “Num álbum de fotografias, vemos fotos de nós mesmos em
diferentes estágios da vida. O que faz de todos esses indivíduos a mesma
pessoa?” Dentro do raciocínio em torno do qual se desenvolve o texto faz
sentido a elucubração. Mas, do ponto de vista de se viver melhor, isso é apenas
bolodório inútil porque a diferença entre uma e outra fases da vida resulta do
correr do tempo. Tais divagações se justificam apenas como deleite da atividade
mental. Entretanto, com as pessoas vivendo tal estado de brutalidade que supera
a brutalidade dos irracionais, vivendo-se de modo tão estranho que pais não se
preocupam com o futuro dos filhos que ingerem veneno no leite materno, toda
atividade mental deve girar em torno do porquê de ser assim, se assim não deve nem
precisa ser. Absolutamente nada justifica viver a humanidade sob o jugo da
escravidão assegurada, inclusive, pelo Deus adotado como paradigma para o comportamento
humano, como se vê de Êxodo 21:1-11-26-27. Deuteronômio 15:12-13-14.
Efésios 6:5. Colossenses 4:1. Falsidades e mentiras sempre formam a base sobre
a qual está assentada a sociedade humana, o que pode ser facilmente percebível
mediante a forma tão esquisita como está estruturada nossa sociedade que seu
destino é decidido por apenas alguns gatos pingados denominados excelências,
reverenciados pelos demais, o que vai de encontro à sabedoria existente no
adágio “quem quer, vai, quem não quer, manda”. Nunca que chegará a sociedade a
bom termo com as pessoas que a compõem interessadas apenas no resultado da
administração pública e desinteressadas na forma como está sendo feita esta
administração. A administração pública ou política sempre foi praticada de
forma tão desenxabida que a melhor forma até agora engendrada é tida como
melhor apenas por não haver outra pior. É o que se diz da democracia. Mas só
não existe forma eficiente de política por conta da estultice de ficar de cá
entregando dinheiro a brutos seres humanos esperando deles nobreza suficiente
para empregar corretamente esse dinheiro. Aí estão os palácios, o esbanjamento
e o roubo mostrando esta realidade. A distorção da administração pública vem de
longe. A figura humana considerada guia mental dos executores da política, o
senhor Maquiavel, endeusava de tal forma o governante que na introdução do seu
livro considerado a bíblia dos políticos, O Príncipe, se dirige a um príncipe
(governo da época) como VOSSA MAGNIFICÊNCIA por sete vezes, e apesar da poesia
das palavras “Assim como é preciso se
posicionar na planície para se considerar a natureza dos montes, e nos montes
para se considerar a natureza das planícies, assim também para conhecer bem a
natureza dos povos é necessário ser príncipe, e para conhecer a dos príncipes é
necessário ser do povo”, o senhor
Maquiavel incorre em falha ao supor ser interesse do governo (príncipe)
conhecer o povo de perto. O único interesse dos governantes em relação ao povo é atochar-lhe o ferro até o
dia em que a massa bruta de povo passar à categoria de gente e colocar as
“excelências” no seu devido lugar de simples trabalhadores como os demais,
sujeitos a cumprir a vontade do patrão. Até que isto ocorra, povo continuará a
ser o elemento tão desprezível que o general Figueiredo em sua rude sinceridade
afirmou preferir cheiro de cavalo ao de povo, no que tinha inteira razão dado
ao comportamento inusitado de manada próprio de quem ainda se encontra na fase
rude de povo. Como entender adultos soltando bombas e foguetes,
estraçalhando-se aos socos como divertimento para outros adultos, aplaudindo a
substituição de escolas e hospitais por terreiros de praticar brincadeiras, se estas
coisas são coisas de criança? Inté.
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