terça-feira, 13 de novembro de 2018

ARENGA 515


Dois fatos que têm a mesma origem e a mesma inutilidade chamam a atenção de quem pensa sobre a vida. Um deles é a matéria intitulada Reflexões Sobre o Bolsonarismo publicada no jornal Le Monde Diplomatique Brasil, na qual André Peixoto de Souza discorre sobre o favoritismo pelo deputado Jair Bolsonaro, concluindo tratar-se de adoração cega por um mito que promete um novo mundo, um paraíso na terra, além de histeria, hipnose coletiva, passividade diante da conjuntura histórica e irresponsabilidade política. 

O segundo fato é o livro de leitura chatíssima – Tem Saída? –  versando sobre os problemas do Brasil, no qual o trecho menos intragável é de autoria de Luciana Genro, na página 51, que diz da necessidade de propor outro modelo econômico para o País.

O que chama atenção é que por preferir a complexidade, os intelectuais dispensam a simplicidade. Rodopiam em torno de zapatismo, bolivarianismo, marxismo, taylorismo, comunismo, socialismo, cristianismo, deísmo, ateísmo, e bota ismos nisso, além de tergiversar sobre a necessidade de se fazer isso, aquilo e aqueloutro. Tudo um perder de tempo porque todos os problemas humanos estão resumidos no fato de teimar a humanidade em permanecer na mesma obscuridade mental da animalidade do tempo em que inventaram como acender fogo e divindades que protegessem e conduzissem as pessoas. Até hoje continuam os seres humanos incapazes de escolherem seu caminho, precisando serem conduzidos feito manada.  A única influência sobre a decisão de como vai ser sua qualidade de vida é escolher um condutor para conduzi-los. Feita a escolha, continua o povo carregando no lombo a pesada cruz de prover os meios necessários para que seu condutor e auxiliares vivam em suntuosos palácios com vida de reis. Um urologista afirmou na Rádio Bandeirantes AM de São Paulo, que as pessoas que conseguem o procedimento inicial do tratamento de câncer de próstata pela rede pública de saúde precisam esperar dois anos para novo procedimento, quando é preciso no máximo uma semana. Há muito, Érico Veríssimo, na página 199 do livro Olhai os Lírios do Campo, através do personagem Filipe definiu a insignificância do elemento bruto povo. Do alto de um edifício, Filipe aponta lá para baixo, para o povo, e diz: “Que é o povo? Povo é aquilo. Povo não pensa, não tem vontade. ”

Mesmo os intelectuais sinceros, aqueles que não vendem opiniões, não percebem a inutilidade de sua intelectualidade diante de um povo convencido de ser portador de conhecimento maior do que a intelectualidade de quem não sabe explicar a origem do universo. Portanto, uma sociedade menos infeliz objetivada pelos intelectuais sinceros só terá início pelo convencimento da necessidade de se conhecer a realidade. Enquanto o povo estiver convencido da desimportância de sua participação na qualidade de vida, será inteiramente inútil toda conversa em torno do que está errado porque tudo de ruim que acontece à humanidade deve-se exclusivamente ao desinteresse pela atividade de viver. Eduque-se a juventude com uma educação que lhes ensine verdades e cidadania em vez de mentiras e sede de riqueza que a infelicidade cessará de infelicitar.

Se a mentira de tanto repetida toma foro de verdade, também a verdade, se repedida à exaustão resultará em convencimento. Portanto, a luta dos intelectuais sinceros deve ser em torno de combater as mentiras que de tanto repetidas tornaram o povo convencido de que o sofrimento na terra corresponde à exuberância da felicidade no céu.

A substituição de uma cultura por outra tem acontecido de forma espontânea ao longo da história humana. Faz-se necessário, pois, por parte daqueles que gostariam de viver civilizadamente, buscar uma forma de abreviar a substituição da cultura quando se torna superada por uma nova cultura. É preciso induzir o acontecimento em vez de deixar que aconteça por acaso. Desta forma, não sendo mais desconhecida a realidade de que às autoridades interessa um povo de mentalidade tão medíocre a ponto de valorizar mais “famosos” e “celebridades” de merda do que professores, cabe aos intelectuais de consciência não prostituível lutar contra este estado de coisa em vez de ficar tergiversando sobre estar errado isso e aquilo porque não há erro nenhum uma vez que as distorções são arquitetadas intencionalmente em função de ser a política, conforme explicou Maquiavel, a arte de enganar. É querer água limpa emanada de fonte suja.

O povo terá o destino de Sísifo enquanto depender de líderes que lhe digam o que é bom e o que é ruim. Nosso presidente recém-eleito, acaba de nos dar um belo exemplo desta realidade. Pelo fato de ser militar e religioso, é também conservador. Como conservador, acaba de declarar que o povo precisa compreender ser o Brasil um país conservador. Entretanto, meditando-se sobre a realidade indiscutível de que apenas as coisas boas devem ser conservadas, enquanto que as coisas ruins devem ser descartadas, uma vez que apenas coisas ruins existem por aqui, o povo precisa mesmo é de compreender haver necessidade de inovação, de mudança, em vez de conservar a podridão que está aí. Pode-se apostar um tostão furado como no fim do governo do nosso novo presidente, apesar de contar ele com deus, o povo estará contente se a estatística mostrar que diminuiu o número de assassinatos quando o ideal é não haver um só assassinato. Inté.






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