Dois fatos
que têm a mesma origem e a mesma inutilidade chamam a atenção de quem pensa
sobre a vida. Um deles é a matéria intitulada Reflexões Sobre o Bolsonarismo
publicada no jornal Le Monde Diplomatique Brasil, na qual André Peixoto de
Souza discorre sobre o favoritismo pelo deputado Jair Bolsonaro, concluindo
tratar-se de adoração cega por um mito que promete um novo mundo, um paraíso na
terra, além de histeria, hipnose coletiva, passividade diante da conjuntura
histórica e irresponsabilidade política.
O segundo fato
é o livro de leitura chatíssima – Tem Saída? – versando sobre os problemas do Brasil, no qual
o trecho menos intragável é de autoria de Luciana Genro, na página 51, que diz da
necessidade de propor outro modelo econômico para o País.
O que chama
atenção é que por preferir a complexidade, os intelectuais dispensam a
simplicidade. Rodopiam em torno de zapatismo, bolivarianismo, marxismo,
taylorismo, comunismo, socialismo, cristianismo, deísmo, ateísmo, e bota ismos
nisso, além de tergiversar sobre a necessidade de se fazer isso, aquilo e
aqueloutro. Tudo um perder de tempo porque todos os problemas humanos estão
resumidos no fato de teimar a humanidade em permanecer na mesma obscuridade
mental da animalidade do tempo em que inventaram como acender fogo e divindades
que protegessem e conduzissem as pessoas. Até hoje continuam os seres humanos incapazes
de escolherem seu caminho, precisando serem conduzidos feito manada. A única influência sobre a decisão de como vai
ser sua qualidade de vida é escolher um condutor para conduzi-los. Feita a
escolha, continua o povo carregando no lombo a pesada cruz de prover os meios necessários
para que seu condutor e auxiliares vivam em suntuosos palácios com vida de reis.
Um urologista afirmou na Rádio Bandeirantes AM de São Paulo, que as pessoas que
conseguem o procedimento inicial do tratamento de câncer de próstata pela rede
pública de saúde precisam esperar dois anos para novo procedimento, quando é
preciso no máximo uma semana. Há muito, Érico
Veríssimo, na página 199 do livro Olhai os Lírios do Campo, através do
personagem Filipe definiu a insignificância do elemento bruto povo. Do alto de
um edifício, Filipe aponta lá para baixo, para o povo, e diz: “Que é o povo?
Povo é aquilo. Povo não pensa, não tem vontade. ”
Mesmo os intelectuais sinceros, aqueles que não vendem opiniões, não
percebem a inutilidade de sua intelectualidade diante de um povo convencido de
ser portador de conhecimento maior do que a intelectualidade de quem não sabe
explicar a origem do universo. Portanto, uma sociedade menos infeliz objetivada
pelos intelectuais sinceros só terá início pelo convencimento da necessidade de
se conhecer a realidade. Enquanto o povo estiver convencido da desimportância
de sua participação na qualidade de vida, será inteiramente inútil toda
conversa em torno do que está errado porque tudo de ruim que acontece à
humanidade deve-se exclusivamente ao desinteresse pela atividade de viver.
Eduque-se a juventude com uma educação que lhes ensine verdades e cidadania em
vez de mentiras e sede de riqueza que a infelicidade cessará de infelicitar.
Se a
mentira de tanto repetida toma foro de verdade, também a verdade, se repedida à
exaustão resultará em convencimento. Portanto, a luta dos intelectuais sinceros
deve ser em torno de combater as mentiras que de tanto repetidas tornaram o
povo convencido de que o sofrimento na terra corresponde à exuberância da
felicidade no céu.
A
substituição de uma cultura por outra tem acontecido de forma espontânea ao
longo da história humana. Faz-se necessário, pois, por parte daqueles que
gostariam de viver civilizadamente, buscar uma forma de abreviar a substituição
da cultura quando se torna superada por uma nova cultura. É preciso induzir o
acontecimento em vez de deixar que aconteça por acaso. Desta forma, não sendo
mais desconhecida a realidade de que às autoridades interessa um povo de
mentalidade tão medíocre a ponto de valorizar mais “famosos” e “celebridades”
de merda do que professores, cabe aos intelectuais de consciência não
prostituível lutar contra este estado de coisa em vez de ficar tergiversando
sobre estar errado isso e aquilo porque não há erro nenhum uma vez que as
distorções são arquitetadas intencionalmente em função de ser a política,
conforme explicou Maquiavel, a arte de enganar. É querer água limpa emanada de
fonte suja.
O povo terá
o destino de Sísifo enquanto depender de líderes que lhe digam o que é bom e o
que é ruim. Nosso presidente recém-eleito, acaba de nos dar um belo exemplo
desta realidade. Pelo fato de ser militar e religioso, é também conservador.
Como conservador, acaba de declarar que o povo precisa compreender ser o Brasil
um país conservador. Entretanto, meditando-se sobre a realidade indiscutível de
que apenas as coisas boas devem ser conservadas, enquanto que as coisas ruins devem
ser descartadas, uma vez que apenas coisas ruins existem por aqui, o povo
precisa mesmo é de compreender haver necessidade de inovação, de mudança, em
vez de conservar a podridão que está aí. Pode-se apostar um tostão furado como
no fim do governo do nosso novo presidente, apesar de contar ele com deus, o
povo estará contente se a estatística mostrar que diminuiu o número de
assassinatos quando o ideal é não haver um só assassinato. Inté.
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