domingo, 17 de novembro de 2019

ARENGA 593


A política tradicional jamais terá sucesso no cumprimento do objetivo de dedicar à sociedade os mesmos cuidados que um chefe de família zeloso de seus deveres dispensa a seus dependentes. Ao contrário, em toda a história humana os agentes políticos objetivaram a exploração das sociedades. Desta forma, sob pena de ser destruída pela ganância dos Midas do mundo é necessário que o povo passe a considerar a política como a principal atividade a merecer sua atenção. Até o presente momento o que se tem é um povo tão iludido pelo pão e circo que ainda não descobriu ser a política a única responsável por sua qualidade de vida. É uma trama tão bem urdida que mesmo as pessoas supostamente esclarecidas, portadoras de títulos universitários, se deixam levar juntamente com a massa bruta de povo rumo às igrejas e aos terreiros de brincadeiras. Os meios de comunicação a serviço da má política enganam o povo tecendo loas às maravilhas dos bancos, do agribiuzinesse, dos planos de saúde, do Mercado e da fonte na qual ele se nutre e que é a necessidade desnecessária de fazer compras, principalmente em Me Ame.

O povo foi transformado pela política tradicional em servo, quando, na verdade, é o senhor por ser quem arca com todos os custos sociais porquanto a má política permite aos mais ricos se omitirem da obrigação de pagar impostos, comportamento que demonstra total ignorância de sociabilidade. Os suicídios, a depressão e a criminalidade que envolve os jovens não deixam dúvida quanto a ser crescente a infelicidade na qual incorre o povo. A atividade política não realiza nem um por cento daquilo que deveria realizar em benefício da sociedade porque mais de noventa e nove de sua ação é realizada em benefício das próprias autoridades políticas e seus apaniguados. Embora a moralidade e a honradez nunca fizessem parte do vocabulário dos políticos, atualmente a imoralidade e a desonra assumiram de tal assombrosa forma o caráter da política que os criminosos não precisam mais esconder suas atividades de bandidos travestidos de autoridades. O Supremo Tribunal Federal, órgão máximo da justiça brasileira, acaba de jogar esta realidade na cara deste povo infeliz e festivo, incapaz de se indignar com a indignidade da situação de ser o povo mais povo do mundo por constituir a única sociedade onde as autoridades não precisam disfarçar a realidade de ser a atividade política exercida contra a sociedade.

Uma vez que o bem-estar custa dinheiro, é preciso haver planejamento para a posse do dinheiro. Não pode ele ser apossado indiscriminadamente como acontece quando o pão e circo transforma em milionários pobres mentais que parasitam inocentemente a sociedade e aos quais os meios de comunicação se referem como “famosos” e “celebridades”. Estes pobres diabos acreditam serem realmente célebres e famosos embora o ridículo seja seu principal atributo. São tão débeis que sua debilidade não lhes permite perceber o ridículo de se achar capaz de serem presidentes da república.

A ação nefasta de comprar a indiferença política da massa bruta de povo com as palhaçadas das marionetes tem servido à política através dos tempos. Desta forma, enquanto o elemento asqueroso povo não despertar para seu papel de idiota a sociedade não poderá ser diferente da esculhambação que é quando se espera que ladrões administrem honestamente a fortuna resultante do pagamento dos impostos. Quanto mais desonesto, cara de pau e safado, maior a chance de qualquer aventureiro ter sucesso como político e se tornar administrador da riqueza pública. É como se uma raposa perdesse a vontade de comer galinhas ao ser nomeada vigia do galinheiro. É estarrecedor o fato de ser indiferente a massa bruta de povo a tal situação, embora ela não lhe escape totalmente porque uma historiazinha popular sobre a resposta de um político à indagação da origem de sua inclinação política deixa claro que o povo sabe ser vítima da canalhice. O político teria explicado que tudo começou quando era menino e seu pai lhe prometeu quinhentos por cada nota dez. Então, ele convenceu o professor a embolsar duzentos e cinquenta em troca de notas dez.

Desta forma, dependendo de vigilância a honestidade do político por se tratar de ser humano, não há estupidez suficiente para justificar a indiferença do elemento asqueroso povo ao deixar a cargo de desonestos o dinheiro público.

A ninguém com um mínimo de discernimento é mais dado o direito de desconhecer que a orientação dos falsos líderes tanto políticos quanto religiosos objetiva entreter o povo de modo a não perceber o engodo que o envolve. Verdade que o povo vez em quando desconfia de haver algo errado e sai às ruas. Quando isto acontece, os falsos líderes deixam cair algumas migalhas de suas mesas fartas e o povo retorna para casa, a televisão, as igrejas, o futebola, as “celebridades”, os “famosos” e ao seu destino de servir a seus senhores aboletados na vida mansa e fantasiosa do bem bom dos palácios, defendida por um séquito de baba-ovos remunerados para fazer crer ao povo ser normal que apenas gatos pingados possam usufruir do resultado do trabalho executado pela coletividade. O Brasil, não se deve esquecer, acaba de mostrar ao mundo que as autoridades formam uma confraria com os ladrões da riqueza resultante do trabalho coletivo. A administração pública jamais poderá prescindir da existência de um povo esclarecido o bastante para saber o erro monumental que é deixar-se levar pelo pão e circo. É preciso acima de tudo se ligar na política porque é dela e não de deus que depende até mesmo o sucesso ou fracasso de uma religião. Geoffrey Blainey mostra esta realidade quando afirma na página 129 do livro Uma Breve História do Mundo, o seguinte: “O budismo e o cristianismo, que ainda estavam lutando após vários séculos de pregação de fé, deveram muito de seu sucesso posterior à conversão de dois poderosos imperadores: Asoka, da Índia, e Constantino, de Roma. Um rei de um vasto império achava-se propenso a acolher bem uma religião que fizesse seu povo se sentir contente com sua vida simples e, às vezes, difícil”.

É imenso o fosso de obscuridade que separa o povo da realidade de ser a religião um dos muitos berrantes com os quais o pão e circo desvia a atenção da manada para longe da política. A cegueira mental que a religião impõe não permite raciocinar sobre a simples realidade de ser impossível a existência de um deus que embora poderoso não consegue vencer o mal, como é de seu desejo, segundo todas as religiões. A humanidade já está bem velhinha para continuar se comportando como criança. Inté.



       

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