O intelectual Jessé de Souza afirma
na página vinte do livro Subcidadania Brasileira, o seguinte: “O que separa o americano do brasileiro é
que o primeiro legaliza a corrupção de modo profissional, deixando para os
amadores do Brasil expedientes como esconder dinheiro ilegal na cueca. Outra
distinção é que o americano não atenta contra a própria economia como faz a
Lava Jato”.
O que será que se passa na cabeça
dos intelectuais? Em seus “Best-Sellers” não há uma vírgula sequer sobre a
necessidade de preocupação com a vida comunitária. No tocante à sociabilidade,
isto é, no tocante a uma forma de se viver uma sociedade menos infeliz, os
intelectuais são tão inúteis quando os políticos e os ministros do STF.
É sabido que todo governo, por mais
desgraçado que seja, é defendido por intelectuais que em troca da despensa
abastecida juram de pés juntos ser o melhor dos governos, não obstante o
miserere nos corredores de hospitais, caso em que se configura a prostituição
da consciência, isto é, opinião emitida a troco de pagamento. Outros
intelectuais, mesmo aqueles cuja hombridade não permite vender seus
conhecimentos, apesar de escreverem sobre
os mais diversos assuntos, não
mostram qualquer preocupação quanto a deterioração da qualidade da vida social causada
pela concentração nas mãos de alguns gatos pingados da riqueza que a classe
trabalhadora produz a duras penas.
É contra todos os princípios
sociais uma cultura que permite a viciados em riqueza açambarcar para si sós
quantidade de riqueza suficiente para atender às necessidades de milhões de
pessoas condenadas à miserabilidade. Por isto é que não se pode admitir que
pessoas intelectualmente ilustres sejam indiferentes à tal situação. O texto
citado em negrito, de autoria do intelectualíssimo Jessé de Souza, é exemplar
sobre a indiferença dos intelectuais quanto à necessidade de lutar por uma
sociedade sem tamanha e brutal exclusão social. Todo aquele que adquiriu
discernimento suficiente para elevá-lo acima da vala comum habitada por frequentadores
de igreja, axé, futebola, “famosos” e “celebridades”, ou seja, o ambiente dos
engabelados pelo pão e circo, incapazes de vislumbrar a realidade de que a vida
conduz a uma velhice que apesar de demandar remédios e cuidados, em vez disso,
reserva para estes mendigos espirituais corredores de hospitais onde lamentar
as consequências funestas da indiferença quanto a vida comunitária. Em seu
mundinho particular de intelectuais, o intelectual em questão parece
desconhecer que nem todos nos encontramos na vala comum dos incapazes de
raciocinar, no que se engana redondamente. A separação que aquele escritor procura
fazer entre brasileiro e americano reflete o mesmo babaovismo pelas coisas do
estrangeiro tão comum no brasileiro e que denuncia comodismo com a situação de
colonizado. Em seguida, afirma terem os americanos legalizado a corrupção, o
que é uma grande mentira porque sendo a corrupção um crime de lesa pátria,
teria tal crime deixado de ser crime se foi legalizado? Se assim for, os
americanos são mais safados e estúpidos do que os brasileiros porque aqui,
embora se tente evitar a prisão dos corruptos a corrupção continua sendo crime.
Por último, afirma o intelectual deslumbrado pelas coisas do estrangeiro, que a
Operação Lava Jato é um atentado contra a economia. Ora, senhor intelectual,
esta é a mesma “prosa” da gatunagem que surrupiam o erário. Se impor
honestidade no trato da coisa pública prejudica a economia é por haver algo de
muito errado com esta tal de economia. Quanto a isto, aliás, o fato de estar
noventa e nove por cento da riqueza do mundo em mãos de apenas um por cento da
população não deixa dúvida de haver realmente algo de muitíssimo errado com a
economia. Inté.
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