sábado, 27 de dezembro de 2014

ARENGA SETENTA E NOVE


Houve época em que a noção de realidade era totalmente desconhecida e os seres brutos daquela época acreditavam contar com o poder de forças misteriosas para ajudá-los a realizar seus desejos. O pouco desenvolvimento cerebral que limitava a capacidade de abstração fazia com que procurassem demonstrar materialmente às forças ocultas de quem esperavam um favor a necessidade que os levava a recorrer a elas. Sendo a comida a maior de todas as necessidades, pintavam animais sendo abatidos com sucesso como forma de mensagem às entidades misteriosas. Pois, apesar da grande distância do tempo em que se pensava assim, ainda assim se pensa porque ainda se vive fora da realidade. É como se existissem um mundo real, esse sobre o qual nos encontramos com os pés em cima dele, e um mundo de fantasias, no qual, sem saber, os enchedores de igrejas e de latrinas vivem separados da realidade. Quando abarrotam as casas de Deus em busca de proteção, não fazem outra coisa senão apelar para as mesmas forças ocultas e misteriosas das quais os bobos antigos esperavam obter proteção e a quem os bobos atuais chamam de primitivos. Entretanto, da crendice dos primitivos não decorria prejuízo para sua sociedade, o que, evidentemente, não acontece com a cretinice da crendice dos enchedores de igrejas e de saco com suas repetições enfadonhas e sem sentido das expressões “graças a Deus”, “se Deus quiser”, “fique com Deus”, “vá com Deus”. O estranho nisso tudo é não perceber que os lugares de maior religiosidade, onde mais apelos são feitos a Deus, são também os lugares onde há mais pobreza e desconhecimento até de noções de higiene, condições que propiciam a incidências de doenças e maior infelicidade a cada dia.

A incapacidade de pensar e refletir sobre a melhor forma de conduzir a vida faz com que a parte dos seres humanos não pensantes espere que seu bem-estar lhe seja dado pelas divindades, enquanto a outra parte espera alcançá-lo  pelo dinheiro. Como o bem-estar não pode ser encontrado por nenhum destes dois processos, o resultado é uma sociedade humana tão desumana que o país mais poderoso do mundo é também onde há o maior número de pessoas encarceradas sem culpa alguma porque à sociedade dos brutos “civilizados” cabe toda a culpa do sofrimento não só de quem amargura a perda da liberdade, mas também de todo o sofrimento do mundo porque a cultura até agora cultivada induz a erro, razão pela qual a sociedade é a única culpada pela existência de cárceres cheios e de latrinas cheias. Se qualquer zemané sabe que um adulto é o resultado da criança que foi, não tem justificativa para culpar por crimes quem foi criança aprendendo a ser criminoso e violento desde antes de nascer, quando sua mãe era bombardeada por emoções provenientes de cenas violentas de crimes, emoções negativas transmitidas àquela criança que agora tem as ruas por escola e a sarjeta como cama e mesa. Desse modo, de nada adianta montar um aparato policial dispendioso contra a violência porque ela está enraizada na personalidade de cada um dos bichos em que a sociedade transforma suas crianças dando-lhes por ídolos brutamontes físicos e brutamontes mentais transformados em “famosos” e “celebridades”, o que equivale a pregar para estas crianças o caminho mais fácil e menos digno como o melhor caminho a ser caminhado. Por ter passado da fase da sensualidade, atributo mais valorizado no mundo da cultura televisiva, importante atriz acaba de declarar que naquele mundo o sucesso depende de usar saia curta. Na verdade, os comportamentos valorizados pela sociedade são falsos e impedientes da elevação espiritual porque a preocupação é desenvolver os músculos, principalmente na bunda das mulheres. Como as feras que precisam de músculos para sobreviver,  a sociedade americana estimulou o pobre de espírito Cassius Clay a viver tomando e dando socos e hoje ele tem como consequência riqueza e mal de Parkinson como resultado. A preferência pelas coisas erradas leva os enchedores de igrejas e de latrinas à certeza de que os deserdados de dignidade são assim por sua própria vontade. Quem mandou eles não observarem direitinho o livre arbítrio? Cegos de todos os tipos de cegueira, os frequentadores de igrejas, axé e futebola são incapazes de perceber que essa história de livre arbítrio nada mais é do que uma grande covardia atrás da qual se esconde a irresponsabilidade pelo comportamento monstruoso de ser indiferente às crianças desamparadas.

A desorganização social é resultado do casamento entre a religião e a politicagem. Desta união maligna resultou o aborto de todos os males que afligem a humanidade porquanto estas duas instituições tem a mentira por base. Como toda mentira é substituída um dia pela verdade, e como nenhuma construção fica em pé sem uma base, quando a verdade destruir a mentira que forma a base da politicagem e da religiosidade todo o sistema de organização social virá abaixo. Quem disse isso foi quem sabe muitíssimo bem das coisas a esse respeito e não foi outra coisa que disse o governador de São Paulo quando afirmou que quando a verdade aparecer faltará guilhotina na praça. É uma situação insustentável a longo prazo, mas que as pessoas encaram como eterna e imutável em sua incapacidade de analisar as informações recebidas tanto da religião quanto da politicagem. Quem se dispuser a observar perceberá a impossibilidade de se alcançar posição social cômoda face ao antagonismo resultante de uma situação em que os ricos não podem ter sossego com medo de serem roubados, enquanto os pobres também não tem sossego pelos tormentos da pobreza e da tentação de roubar a riqueza dos ricos. Tal tem sido o modo de vida dos seres humanos que só deixarão de proceder como cupins devoradores de tudo, até da preciosa paz de espírito, quando a juventude transferir a atenção do telefone para o tipo de futuro que está sendo preparado para seus filhos.

A contraposição entre a realidade e o que se acredita ser a realidade é a razão pela qual a humanidade é incapaz de acertar o passo no rumo de um destino melhor. Continuar seguindo no mesmo caminho equivale a cavar a própria sepultura e não pode estar em paz quem abre o buraco onde vai ser enterrado. A ignorância que leva os bichos humanos a se acharem tão sábios a ponto de saberem como foram feitas as coisas que existem juntamente conosco no universo é sobeja demonstração de total desconhecimento de tudo. É tão grande o descompasso entre o modo violento de se viver e a aspiração de viver em paz alimentada pelos seres humanos capazes de raciocinar, coisa que não faz muita gente socialmente importante que até escrevem livros afirmando serem necessárias as guerras.

O Natal é mais uma confirmação do distanciamento da realidade da vida e os vários tipos de “faz de conta” em que se vive.  Há um faz de conta que os administradores empregam o dinheiro público em benefício da sociedade. Há um faz de conta que a felicidade está no céu, onde só se chega depois de passar a vida produzindo a riqueza que os pobres de espírito vão mostrar na revista Forbes. Há um faz de conta que pobres não precisam ser levados em consideração, e há outro faz de conta de que o vigor da juventude é eterno. Outro faz de conta adotado estupidamente pela humanidade é o Natal. Finge-se exortar a irmandade entre as pessoas, quando é a maior demonstração de desumanidade, ignorância, maldade e burrice, uma vez que se trata apenas de atender à necessidade nefasta de quem acumula riqueza ao custo da destruição da natureza. Não pode haver perversidade maior do que fazer zonzeira na cabeça em formação das criancinhas inocentes fazendo-as crer na mentira de Papai-Noel. O verdadeiro espírito de Natal pode ser conhecido numa matéria da redação do blog Outras Palavras intitulada A FANTÁSTICA FÁBRICA DE PAPAI-NOEL. Ali fica demonstrado o papel de idiota que fazem os enchedores de lojas e de latrinas ao tornar ainda mais tristes as pobres crianças pobres a quem esse merda de Papai Noel não leva presente.

Não se pode viver de ilusões e esta é a razão pela qual se vive mal. Tanto está errado quem entrega seu destino ao poder das divindades ou do dinheiro. Tanto as divindades quanto o ajuntamento de dinheiro desvia a atenção do procedimento correto para que se instale o bem-estar social impossível de existir enquanto houver quem busque um bem-estar individual. Só pode haver bem-estar coletivo. Enquanto houver quem não tenha direito a nada, destinado a apenas assistir uns gatos pingados terem direito a tudo, só a falta de raciocínio não deixa perceber em tal situação é na verdade um gerador de inveja que provoca o ressentimento proveniente do instinto de imitação inerente à personalidade do macaco que ainda predomina nos enchedores de latrinas e que os leva a embarcarem para Me Ame a fim de atender ao “ir às compras” ordenado pelo Mercado sob um manto de sacralidade envolvendo um senhor chamado Jesus Cristo cuja existência está sendo negada por um historiador, o que deixará com cara de marmota os bobalhões que celebram o nascimento de quem não nasceu.

Ao impor a desnecessidade de pensar, atrofiando a atividade mental, a religião torna as pessoas tão “inocentes” que nem lhes permite discernimento para perceber coisas simples como o fato de não poder a chuva chover apenas porque as pessoas precisam de chuva. A chuva só chove quando acontece de acontecer a simultaneidade de condições atmosféricas que fazem condensar as partículas de água em suspensão para formar gotas cujo peso as faz cair, se é que me lembro da lição que o professor Movér me deu. Pode o homem dar uma “ajudinha” à natureza fornecendo-lhe algum dos ingredientes químicos necessários para promover o ajuntamento das gotículas. Entretanto, só o afastamento da realidade justifica o seguinte comportamento de bruxaria noticiado na imprensa: “Rituais, orações e oferendas são feitos para 'chamar' chuva em SP”.

Esse é o tipo de mentalidade que dita o rumo da humanidade, e o resultado é cepar cabeças fora do corpo a fim de fazer bonito perante Deus. A cultura da mentira, do roubo e da desfaçatez do “faz de conta” é a forma na qual é moldada a personalidades das pessoas tidas como as mais importantes do mundo, razão pela qual o mundo não poderia estar mais esculhambado. Tão esculhambado que as pessoas de menos valor são as consideradas de maior valor. Nenhum valor para a sociedade tem os ajuntadores de riqueza. O emprego que justifica a aceitação do ajuntador de riqueza não passa de grande engodo porque só beneficia à sua riqueza. No ajuntamento de riqueza há esperteza em vez de sabedoria. A sabedoria está na sensatez de acomodar no mundo atual de modo diferente dos tempos em que as populações dos antigos reinos eram contadas em termos de milhares, quando a posse de riqueza talvez fosse menos perniciosa à sociedade do que atualmente quando as populações são contadas em milhões, o que exige uma forma de comportamento diferente porque quando chega mais gente é necessário comer o feijão com mais água. O cabresto colocado na humanidade faz com que as pessoas sigam obedientemente ordens transmitidas do além desde os tempos em que o além era o único lugar para se apelar. Quando o ser humano alcança algo desejado e pela qual tenha lutado com garra, atribui a Deus o seu sucesso. A uma espantosa incapacidade a religião reduziu a humanidade ao ensinar que a vida depende da vontade de forças divinas, inutilizando a busca da verdade pela curiosidade inata no ser humano.

Cá entre nós, a verdade sobre estas coisas às quais a juventude ignora e que são a causa de toda a dificuldade em se viver com dignidade está demonstrada numa reportagem que a jornalista Inês Castilho, publicou no blog Outras Palavras, matéria intitulada UMA ALTERNATIVA AO AJUSTE FISCAL, sobre um debate entre os economistas Ladislau Dowbor, Marco Antonio Cintra, Claudio Fernandes e Antonio Martins. Apenas três frases pronunciadas durante o debate dão prova da injustiça praticada por conta da ganância animalesca de brutos ajuntadores de riqueza que para satisfação de sua avareza arruínam o futuro da juventude ao fazê-la crer em sua incapacidade face à superioridade da capacidade divina, quando, na realidade, segundo observação de pessoas mais inteligentes e preparadas do que qualquer brutamontes ajuntador de dinheiro, nunca houve qualquer proteção fora da que podemos nos dar a nós mesmos contra as adversidades constantes que a natureza nos impõe. Por outro lado, além das adversidades naturais como as doenças e a velhice, o próprio ser humano cria outras tantas dificuldades para si mesmo em virtude do desconhecimento do lado nobre da vida, o lado espiritual, sem o qual não se diferencia dos irracionais. Nenhuma diferença há entre uma fera rosnando para defender a caça abatida e a expressão de euforia daquele jovem empresário com olhos esbugalhados anunciando na revista que sua empresa dobra a cada dez anos, mas que ele quer é ainda muito mais. É este o enfoque que os ignorantes de sociabilidade dão à vida como se pode ver nas três frases citadas no debate entre os economistas, que são as seguintes:

Vinte e cinco a trinta por cento do lucro mundial do banco Santander vem do Brasil.

O banco HSBC cobra das empresas 40,36% no Brasil e 7,86 no Reino Unido.

Há 519,5 bilhões de dólares de dinheiro do Brasil em paraísos fiscais.

Aí estão as verdadeiras causa do choro no corredor do hospital que os bobos atribuem ao livre-arbítrio. Inté.

 

 

 

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