domingo, 15 de fevereiro de 2015

ARENGA 91


Nem todo mundo no mundo se enquadra na classificação de enchedor de latrina. Observando a vida e comparando o que se ouve com o que se vê, algumas pessoas aprenderam na mais eficiente de todas as escolas, a escola da vida, muito mais do que o ensinamento ministrado nas escolas do sistema deseducacional de formar imbecis capazes do bafafá que faz a imprensa em torno da biografia de Mick Jagger, inclusive em que circunstâncias ocorriam as trepadas que ele dava com uma garota brasileira, também do mundo iletrado das “celebridades” e da pornografia do mundo do “fashion”. Não há limite para a estupidez humana. Está aí na imprensa uma destas “autoridades” propondo que o governo patrocine viagens para eventos religiosos, o que é demonstração do desprezo que essa espécie de “autoridade” tem pelo povo quando expõe sua intenção, não se sabe a troco de quê, de ajudar a arrecadação da igreja angariando mais pagadores de dízimo, não obstante expor em perigo a integridade física dos idiotas que enchem as estradas em busca de proteção divina e ficam espichados no asfalto. A raça humana, como criança, é só insensatez. Adultos apaixonados pelos requebros corporais do senhor Mick Jagger e suas trepadas demonstram completa imaturidade mental, não passando de tremenda imbecilidade sua indiferença ante a possibilidade de desabastecimento coletivo de comida e água. É mais importante para estas mentes deformadas as trepadas de Mr. Jagger.  Para haver sensatez no mundo é preciso que se esvaziem as escolas que ensinam a desunião e o excessivo apego à materialidade. Esvaziar também as igrejas que ensinam a mentira, e, do mesmo modo, esvaziar as festas depois de certa maturidade intelectual e declínio do vigor físico e correspondente aumento do vigor mental. Nada proveniente destas reuniões presta para coisa alguma, e a falta de senso observada por todo canto é a evidência desta inutilidade das reuniões nas escolas, igrejas e nas festas e celebrações a “famosos” e “celebridades”. Muito mais vantajoso em termos de atitudes positivas para o bem-estar geral seria trocar o assunto destas reuniões por uma iniciação à atividade de pensar. Reunirem-se para meditar. No momento em que o assunto deixar de ter por preferência as “celebridades” e os “famosos” e passar a ser a situação de desconforto que já começou a acontecer para um futuro cada vez mais perto e ameaçador, aí, com a maior das certezas, haveriam de sair soluções para as várias enfermidades que afetam a humanidade, principalmente as mentais, de onde brota a insensatez da autodestruição. Mas enquanto se aprende não haver necessidade de pensar, bastando apenas obedecer, o que é um aprendizado às avessas, comportamento de extrema burrice só equiparável ao comportamento do burro de carroça que apenas vai, sem necessidade de saber para onde vai. Enquanto as mentalidades se formarem com base no que é ensinado às crianças, os ainda brutos seres humanos estarão se engalfinhando nas desavenças e na matança das guerras para as quais não há mais justificativa porquanto todos pensam não haver mais motivo para preocupação com a fome, como acontecia no tempo em que só se comia quando se encontrava o que comer. Estando todos absolutamente certos da garantia de segurança alimentar, contando, inclusive, com o reforço da possibilidade de uma chuva de codornas assadas e muito saborosas ainda que sujas de areia, não deve haver mais motivo para atacar outro ser humano.

A única coisa que falta para que a humanidade viva melhor é que cada um dos seres humanos desperte para a necessidade de se conhecer a si mesmo a fim de saber o quanto seu procedimento independe de sua vontade. Nota-se tremenda contradição entre o fato de ser a vida o bem mais precioso, como todos dizem, mas, ao mesmo tempo em que assim se pensa, a mortandade pelo ferro e pelo fogo tem sido a nota dominante no comportamento humano desde sempre. Esta contradição não deixa dúvida de que as pessoas certas de ser a vida o bem mais precioso não estão agindo por sua própria vontade matando-se mutuamente porque ninguém se desfaz espontaneamente do bem mais precioso de que dispõe. A loucura se torna ainda maior quando mata e morre por se acreditar que isto agrada a um Deus que se acredita e afirma de pé junto ser de uma bondade infinita. O comportamento resultante do que se aprende é de completos idiotas. Os poucos iluminados que alcançaram o privilégio de conhecer como funciona a vida em sociedade devem fazer algum tipo de esforço para mostrar a esta juventude de bosta que ela está totalmente sem rumo e vai acabar dentro de um tremendo buracão porque é o que acontece sempre com quem anda a esmo. Uma vez que se é obrigado a viajar pelos caminhos da vida, que se escolha o melhor deles para viajar. A escolha do melhor caminho, entretanto, como toda escolha implica em exercícios mentais, maiores especulações são indispensáveis a fim de que se chegue a conclusões presumivelmente acertadas no sentido de se formar uma coletividade na qual se desfrute de bem-estar. Todas as tentativas já feitas nesse sentido falharam exatamente por não terem tido examinadas cuidadosamente as consequências da ação levada a efeito para a mudança. Mudança feita na base da violência não leva a lugar algum. A violência é o inverso da sensatez e da sabedoria, e própria dos irracionais. Como a mente esclerosada da velharia que comanda o mundo o faz ainda na base da violência desnecessária das guerras de saque, seu embotamento não permite a percepção da necessidade de novos comportamentos, razão pela qual carece uma juventude capaz de perceber estar o mundo sendo dirigido de modo completamente errado como se pode ver pelo fato de ainda existirem reis e rainhas de verdade, além dos “reis” das brincadeiras, tão inúteis e bobos quanto os primeiros.

 Estando defasado o sistema de organização social, faz-se extremamente necessário que as pessoas que conseguiram superar a miopia que não deixa ver ser absurdo resumir a vida às bobagens que prendem a atenção dos jovens cuja mentalidade pequena os faz pensar haver importância no seu mundo fútil de exagerado apelo à sensualidade e à burrice, mundo no qual as personalidades mais importantes são as “celebridades” e os “famosos” cujos assuntos preferidos giram em torno de quem usa ou não usa cueca e calcinha. Do descaso da juventude quanto às coisas sérias das quais depende a qualidade do futuro resultarão grandes sofrimentos para as futuras gerações. Enquanto a juventude for composta de bois, vacas e bezerros, os assuntos relevantes serão preteridos por futilidades e muita ignorância.

O esforço para alertar a juventude de bosta quanto ao rumo perigoso que segue não deve ser encarado como ato de bondade, mas sim de cumprimento do dever de avisar ao inocente em perigo que ele está correndo perigo. Desta obrigação não foge aquele que aprendeu como é que funciona a vida coletiva. A percepção pela intuição e observação requer alguma finura mental. Como manada não pode atender a tal requisito, só quem lê os Grandes Mestres do Saber estão absolutamente certos em cultivar a harmonia não só com a natureza, mas também entre os componentes da coletividade por ser completamente impossível pessoas que se odeiam viverem juntas sem que o resultado seja um ambiente impróprio para quem busca algum refinamento espiritual, coisa que os bichos em forma de gente nem sabem o que é, mas que todos deveriam buscar. A realidade que passa despercebida à manada é que o asfalto e o concreto não são saudáveis e nem tão bonitos quanto a paisagem bucólica com rios nos quais se possa entrar sem medo. Mas como os jovens não sabem disso é preciso ensinar-lhes pelo motivo de estar a infelicidade tendo espaço maior do que a tranquilidade pela qual todos correm atrás, situação indicativa de algo tão errado quanto está errado plantar árvores ao lado das casas e estender a fiação elétrica sobre as cabeças de quem anda pelas ruas. É tão insensato o comportamento humano que a qualidade da água e dos alimentos resultará uma velhice mais infeliz do que ela tem necessariamente de ser. Da inimizade com a leitura de bons livros nasce o impedimento da evolução espiritual, única forma de superar a ignorância monumental em que se encontram os jovens. Do mesmo modo, a falta de curiosidade para observar se o que se ouve é condizente com a realidade leva a comportamentos irracionais como conversar com estátua e transformar lembrança de defunto em santo. Enfim, só o que pode corrigir tanta brutalidade, insensatez, burrice e ignorância, é cultivar a extraordinária qualidade de pensar, magnífico instrumento para orientar o caminho certo com que a natureza nos distinguiu dos irracionais. A arte de pensar ou meditar, segundo o historiador Geoffrey Blainey, se não me engano, desenvolveu-se entre os gregos em função da topografia sisuda da Grécia com seus acidentes geográficos que de certa forma induzem à meditação, circunstância que teria sido o motivo pelo qual os gregos foram levados a se tornarem os maiores pensadores da história humana. Havia por lá uns caras chamados sofistas que ganhavam dinheiro ensinando a pensar. Tem pelaí um livro chamado O Mundo de Sofia que é um livro danado de bom para também ensinar a pensar, o que significa que com quarenta e alguns reais um montão de gente pode ser iniciado nas viagens do pensamento das quais resulta o desenvolvimento da inteligência que leva à sabedoria que faz concluir pela desvantagem de viver apenas no mundo ilusório de correr atrás de riqueza material e pessoal em vez de se buscar uma riqueza espiritual e coletiva necessária ao enfrentamento da vida quando encerrar a lida e chegar à conclusão de que as coisas são completamente diferentes das imaginadas, o que só ocorrerá quando não se aguentar mais ficar em pé direito e andar arrastando os pés limpando o passeio como se fosse gari.

Comentar um pequeno trecho do livro citado é um exercício mental que vale a pena uma vez se tratando de exercitar o pensamento. A leitura do final da página 99 e começo da seguinte dá excelente explicação sobre um assunto muito em voga no tempo dos sofistas, assunto de que também se ocuparam Sócrates e Platão, e que é aquele negócio aparentemente esquisito a que eles se referiam como “aquilo que é eterno e imutável” e “aquilo que flui”. O trecho a que me refiro do livro O Mundo de Sofia esclarece esse negócio com a figura de um cavalo, o que me levou à lembrança do meu cavalo lá dos tempos em que eu era vaqueiro na fazenda do meu pai e tinha um cavalo chamado Roxoforte que foi meu companheiro por muitos anos e do qual tenho grata lembrança. Pois, o Roxoforte que se encontrava arreado e à minha espera para irmos campear é a coisa que flui referida pelos filósofos. Quer dizer, que vira bufa, desaparece, envelhece e morre como morreu meu Roxoforte de agradáveis cavalgadas e algumas estripulias como roubar melancia de madrugada nas vizinhanças onde houvesse o fruto. A esta altura, Roxoforte estará na mesma situação em que logo estarei e em que todos estarão: apenas a caveira. Mas a figura de um cavalo que vem à mente ao se ouvir a palavra “cavalo” é eterna e imutável. No caso do meu cavalo Roxoforte, o que eu montava virou bufa, desapareceu, escafedeu-se para sempre. Mas sua figura continua viva na minha lembrança. Embora esta lembrança não possa ser eterna porque existe apenas enquanto eu existir, mas a lembrança da figura simpática de um cavalo estará eternamente configurada na mente de quem quer que ouça a palavra “cavalo”, e seria uma coisa eterna e imutável. Para quem a vida se resume em comer e encher latrinas, a atividade de pensar em outra coisa que não comer e cagar é pura bobagem. Entretanto, sem tais exercícios mentais, o que sobra é um aglomerados de cagões que nem se mancam de se considerarem civilizados, posição tão longe de ser alcançada por eles que o vaticano ainda usa o método primitivo de se comunicar por sinais de fumaça com a massa de ignorantes que se ajunta na Praça de São Pedro para ler a mensagem saída de uma chaminé anunciando a transformação de um comedor de macarrão em santo padre. Também apropriado para seres não pensantes o fato de se anunciar o funerai de um imortal. Inté.      

Nenhum comentário:

Postar um comentário