País cagado
de arara é esse nosso país nascido sob o signo da torpeza que o orienta até
hoje e que por isso mesmo é do jeito que todo mundo sabe como é: de cabeça para
baixo. Tão invertidas são as coisas por aqui que a canalhice, a burrice, a prostituição,
o roubo, a falta de vergonha são os atributos mais apreciados pelo povo desse país
de triste sorte. A espiritualidade que devia ser a marca predominante nos seres
humanos, por aqui foi substituída pela animalidade que orienta os bichos no cio.
Tudo gira em torno de sexo. As velhas se agarram à esperança de permanecerem
sexualmente atraentes e exibem “corpão” artificial que a imprensa movida a
dinheiro alardeia diariamente. Os jovens machos cultuam os músculos e as moças
tornam públicas fotos nuas numa clara insinuação à prostituição de alto luxo
almejada pelas senhorinhas cuja futilidade faz sonhar em também se tornar
“celebridade”. Como se vê, até parece que o mestre Da Vince tinha os
brasileiros em mente quando qualificou de enchedores de latrinas aqueles que
nada aprendem na vida. Este é sem tirar nem por o caráter do brasileiro, a pior
espécie de bicho que a natureza concebeu e que veio se aglomerar nessas terras
belas, para desgosto dos poucos brasileiros que aprenderam com os Grandes Mestres
do Saber a nobreza de uma vida com dignidade, o que não é em absoluto a forma
de vida idiota de idolatrar “celebridades” e “famosos” que, na verdade, não
passam de inexpressivos cagões.
E ninguém
faz nada para sair do esgoto em que nos meteram. Aqui em minha cidade o esgoto
corre por cima do asfalto e os carros salpicam as pessoas com o caldo
putrefato, mas ninguém se incomoda pela adaptabilidade nata às porcarias,
qualidade proveniente do tipo de educação ministrada no berço esplêndido da
nossa origem. Sabendo-se ser o homem o resultado do que aprendeu na infância,
vamos saber o que o pesquisador e historiador Laurentino Gomes nos conta do
resultado de suas pesquisas sobre o começo da república quando ela substituiu o
regime imperial lá no ano de 1889, e que pode ser lido na página 22 do livro que
tem como título exatamente o ano de 1889: “Os salões do império procuravam imitar o ambiente e os hábitos de
Viena, Versalhes e Madri, mas a moldura real compunha-se de pobreza e
ignorância. Havia uma flagrante contradição entre a corte de Petrópolis, que se
julgava europeia, e a situação social dominada pela mão de obra cativa, na qual
mais de um milhão de escravos eram considerados propriedade privada, sem
direito algum à cidadania. Nesse Brasil de faz de conta, destacava-se uma
nobreza constituída, em sua maioria, pelos fazendeiros donos ou traficantes de
escravos. Eram eles os sustentáculos do trono, que, em contrapartida, lhes conferia
títulos de nobreza não hereditária, tão efêmera quanto a própria experiência
monárquica brasileira”. Aí está, portanto, uma coisa sobre a qual se refletir:
sendo tais práticas incompatíveis com uma sociedade civilizada, por que, então,
estão em vigor até hoje? A escravidão apenas mudou de forma. Hoje é aceita
pacificamente por milhões que acorrem ao apito da fábrica onde vão produzir as
coisas inúteis que a multidão avança para comprar assim que a loja abre,
estando todos satisfeitíssimos com esta vida de serem obrigados a fazer e
comprar as coisas que a luzinha mágica da televisão manda comprar. Ela faz os
escravos se sentirem tão felizes que vivem a requebrar os quadris e a encher as
igrejas, os campos de futebola e as latrinas. Mas não é só a escravidão que nos
acompanha, e com maior número de escravos, outras mazelas que impediam o
desenvolvimento mental nos tempos do império continuam impedindo do mesmo modo
nos tempos de república. Ainda segundo Laurentino Gomes, desta vez citando
Oliveira Viana, que afirmou no livro O Ocaso do Império, o seguinte: “Eram realmente os ministros os que deturpavam as
intensões do monarca”. E o próprio
Laurentino confirma que os ministros no antigo regime eram os verdadeiros
culpados pelas deturpações do regime monárquico. Como se vê, a única diferença
é só no nome do regime de governo. No mais é tudo igual. Aí estão trinta o nove
ministérios custando cada um deles uma montanha de dinheiro para ser esbanjado,
o que inviabiliza o êxito de qualquer administração pública tenha ela o nome
que tiver. Aliás, como disse o personagem do mestre Raul Cortez da novela O Rei
do Gado, um bom presidente não pode fazer que de um mau ministério saiam boas
obras, mas um bom ministério pode tirar boas obras de um presidente ruim.
Apenas uma
das coisas do sistema imperial contadas por Laurentino não é mais hoje como era
naquele tempo porque ficou ainda mais danosa à sociedade. Se, como diz o
historiador, os salões
do império procuravam imitar o ambiente e os hábitos de Viena, Versalhes e
Madri, hoje os palácios europeus estão superados em suntuosidade e esbanjamento
pelos palácios de Brasília onde não é necessário prestar conta das despesas
pessoais. Cartõezinhos mágicos que só mesmo a magia explica, chamados Cartões
Corporativos, uma espécie de varinha de condão, dispensa preocupação com o
saldo da conta bancária porque duzentos milhões de súditos param por um
instante o que estão fazendo, pagam a conta do cartãozinho mágico e voltam a
rebolar no axé, no futebola e na igreja onde também já se rebola. É muito
duvidoso que algum chefe de palácio europeu conte com os aplausos de seus
pagadores de imposto por trepar acima das nuvens, principalmente depois de ter
sido pau-de-arara, coisa que por aqui transforma em herói o autor de tal
façanha. Mas não é apenas a suntuosidade dos palácios que nos acompanha. Quando o mestre Laurentino disse que o trono
(governo daquela época) era sustentado pelo apoio dos fazendeiros que eram
donos ou também traficantes de escravos, e que em contrapartida a esse apoio o
trono lhes concedia títulos nobiliárquicos, parece estar descrevendo o que
ocorre também em Brasília e se espalha pelo resto deste país de idiotas. Do
mesmo modo como acontecia em 1889, também acontece agora. Quem sustenta o
governo são também os fazendeiros e donos de escravos e do agribiuzinesse, e das
empreiteiras, além dos fazendeiros colonizadores das bundas brancas que chegam
de Me Ame com pastas 007 vazias e voltam cheias.
Até nas
entrelinhas pode ser encontrada a origem negativa das coisas que nos tornam
inferiores como o tal de “jeitinho”. Ele estava presente lá na arrumação que o trono
fez para transformar brutamontes em nobres, e hoje transforma palhaço e chutador
de bola em legisladores, analfabeto e ignorante em doutor. Além disso, a mesma
ignorância e pobreza que reinava do lado de fora dos salões europeizados do
império, também hoje os que não fazem parte dos apadrinhados pelas sombras dos
palácios vivem os mesmos vexames oriundos da ignorância e da pobreza que viviam
os súditos no império. Se uns padecem da ignorância de ajuntar riqueza como
querendo ser dono do mundo, outros chafurdam na ignorância de se sentir a gosto
na pobreza tanto de bens materiais como espirituais ao viver sem dignidade
esperando como cão caseiro que lhe sirvam a comida através dos vários tipos de
bolsa.
Pode-se bater
pé firme que tá tudo do mesmo jeito dos tempos de antanho. Também hoje o
governo retribui aos fazendeiros que lhe garantem eleição colocando à
disposição de sua sanha o couro do lombo da cambada que paga imposto. Com o
começo mostrado pelo livro 1889, só poderia mesmo dar nesse fim que resultou
nessa espécie insignificante de sociedade que somos nós, por culpa exclusiva de
quem não pensa.
O jornal
Folha de São Paulo publicou há algum tempo um artigo de pessoa importante no
mundo intelectual, portanto, bem preparado pelo sistema de educação, e que sabe
escrever, dizendo que na sua juventude, juntamente com amigos, comiam à vontade
em algum barzinho e depois simplesmente diziam que não tinham dinheiro para
pagar. Isto demonstra o quanto estamos distantes de uma sociedade sem
necessidade cerca elétrica. Quando alguém que chegou ao mais alto grau da
escala educacional que a sociedade dispõe e pratica atos desonestos como
distração evidencia a impossibilidade de andar rumo à civilização. Não é o espírito
jocoso da juventude que justifica servir-se do serviço de um restaurante e se negar
a corresponder com sua responsabilidade de retribuir com o pagamento da despesa
feita. É o desconhecimento da necessidade da cooperação de cada um para que
possa haver paz para todos. Somente com a participação positiva individual se
forma uma coletividade pacífica porquanto estarão todos trabalhando pelo mesmo
objetivo. Ao contrário, a beligerância ou participação negativa e individualista
só contribui para a formação de uma sociedade rudimentar capaz de conviver com pedaços
de cadáver pelas ruas. E é assim que vai ser enquanto a juventude não entender
que o ser humano não é mais bicho e que por isso mesmo não pode abrir mão de
observar certas regras de conduta proibindo comportamentos que prejudicam a
vida em comum.
Só o
exercício do raciocínio, da meditação, é capaz de orientar para uma vida com
dignidade. O que se aprende nas escolas leva a um comportamento oposto à
racionalidade, razão pela qual se faz necessário começar a juventude a entrar
na escola que ensina o que nenhuma escola ensina: viver em sociedade. Tudo o
que se aprende nas escolas levam exatamente ao contrário do que deveria ser
para que a sociedade pudesse ser civilizada. Jovens que frequentaram as melhores
escolas se tornam velhos tão despreparados para a vida que atribuem a Deus a
responsabilidade por algum acontecimento auspicioso, ou se dizem amantes de
futebola, prática que visa exatamente manter as pessoas impedidas de se
desenvolverem espiritualmente. Ao contrário, torna as pessoas tão curtas de
capacidade mental a ponto de desconhecerem o verdadeiro caráter de negociatas
que tomou o lugar do esporte. Nossa sociedade torna banal a prática de roubar há
milênios condenada, tornando-se uma sociedade de ladrões em vez de cidadãos. Nossos
jornais mostram os mais variados tipos de roubo que vão da presidência da
república, como mostram os livros Honoráveis Bandidos, Privataria Tucana e O
Chefe. A partir do topo da pirâmide, o vírus da roubalheira desce até à base. A
imprensa está noticiando que a senadora Kátia Abreu, ora ministra da
agricultura, além de pecuarista (como os fazendeiros do império) e adepta do
agribiuzinesse, assumiu a responsabilidade por um empréstimo de um milhão de
reais embolsados por um filho seu lá no BNDES, empréstimo que não foi pago.
Sabendo-se que o exemplo vem de cima, compreende-se perfeitamente o motivo pelo
qual a situação cá embaixo é de ratazana. Caso haja alguém que ainda não tenha
visto o filme dos malabarismos que rolam lá em Brasília desde mesmo antes dela
existir (e vá às favas quem diz para escrever “de ela”), mas poucos sabem o que
se passa por lá porque manada só se interessa por capim. Para começar a parecer gente, peça ao amigão
Google para mostrar o que diz o mestre do jornalismo Mauro Santayana (que
apesar de mestre ainda acredita em Deus) no artigo A CRISE DA RAZÃO POLÍTICA E
A MALDIÇÃO DE BRASÍLIA. A leitura deste trabalho é capaz de substituir o
desconhecimento até mesmo de quem prefere capim, pelo conhecimento da triste
realidade do que acontece em Brasília e contamina o resto do país.
Ainda que
demore, é inevitável a existência de uma juventude inteligente que nascerá
destes jovens que participam de grupos como os da Associação Brasileira de
Ateus e Agnósticos. São pessoas que aprenderam a realidade de sermos nós os
responsáveis por nós mesmos, o que significa a necessidade de assumirmos tal
responsabilidade em vez de esperar que Deus ou a corja da administração pública
cuide do nosso bem-estar. A geração do futuro cuspirá na lembrança desta
geração de requebradores de quadris e enchedores de igrejas e de latrinas que
não sabem fazer nada além de bobagem. Aliás, é bem feito que façam isso, e
tomara que seja uma cusparada grandona. Se nascemos sob o signo da torpeza, nele
não devemos permanecer. Nenão? Inté.
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