terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

ARENGA OITENTA E NOVE


País cagado de arara é esse nosso país nascido sob o signo da torpeza que o orienta até hoje e que por isso mesmo é do jeito que todo mundo sabe como é: de cabeça para baixo. Tão invertidas são as coisas por aqui que a canalhice, a burrice, a prostituição, o roubo, a falta de vergonha são os atributos mais apreciados pelo povo desse país de triste sorte. A espiritualidade que devia ser a marca predominante nos seres humanos, por aqui foi substituída pela animalidade que orienta os bichos no cio. Tudo gira em torno de sexo. As velhas se agarram à esperança de permanecerem sexualmente atraentes e exibem “corpão” artificial que a imprensa movida a dinheiro alardeia diariamente. Os jovens machos cultuam os músculos e as moças tornam públicas fotos nuas numa clara insinuação à prostituição de alto luxo almejada pelas senhorinhas cuja futilidade faz sonhar em também se tornar “celebridade”. Como se vê, até parece que o mestre Da Vince tinha os brasileiros em mente quando qualificou de enchedores de latrinas aqueles que nada aprendem na vida. Este é sem tirar nem por o caráter do brasileiro, a pior espécie de bicho que a natureza concebeu e que veio se aglomerar nessas terras belas, para desgosto dos poucos brasileiros que aprenderam com os Grandes Mestres do Saber a nobreza de uma vida com dignidade, o que não é em absoluto a forma de vida idiota de idolatrar “celebridades” e “famosos” que, na verdade, não passam de inexpressivos cagões.

E ninguém faz nada para sair do esgoto em que nos meteram. Aqui em minha cidade o esgoto corre por cima do asfalto e os carros salpicam as pessoas com o caldo putrefato, mas ninguém se incomoda pela adaptabilidade nata às porcarias, qualidade proveniente do tipo de educação ministrada no berço esplêndido da nossa origem. Sabendo-se ser o homem o resultado do que aprendeu na infância, vamos saber o que o pesquisador e historiador Laurentino Gomes nos conta do resultado de suas pesquisas sobre o começo da república quando ela substituiu o regime imperial lá no ano de 1889, e que pode ser lido na página 22 do livro que tem como título exatamente o ano de 1889: “Os salões do império procuravam imitar o ambiente e os hábitos de Viena, Versalhes e Madri, mas a moldura real compunha-se de pobreza e ignorância. Havia uma flagrante contradição entre a corte de Petrópolis, que se julgava europeia, e a situação social dominada pela mão de obra cativa, na qual mais de um milhão de escravos eram considerados propriedade privada, sem direito algum à cidadania. Nesse Brasil de faz de conta, destacava-se uma nobreza constituída, em sua maioria, pelos fazendeiros donos ou traficantes de escravos. Eram eles os sustentáculos do trono, que, em contrapartida, lhes conferia títulos de nobreza não hereditária, tão efêmera quanto a própria experiência monárquica brasileira”. Aí está, portanto, uma coisa sobre a qual se refletir: sendo tais práticas incompatíveis com uma sociedade civilizada, por que, então, estão em vigor até hoje? A escravidão apenas mudou de forma. Hoje é aceita pacificamente por milhões que acorrem ao apito da fábrica onde vão produzir as coisas inúteis que a multidão avança para comprar assim que a loja abre, estando todos satisfeitíssimos com esta vida de serem obrigados a fazer e comprar as coisas que a luzinha mágica da televisão manda comprar. Ela faz os escravos se sentirem tão felizes que vivem a requebrar os quadris e a encher as igrejas, os campos de futebola e as latrinas. Mas não é só a escravidão que nos acompanha, e com maior número de escravos, outras mazelas que impediam o desenvolvimento mental nos tempos do império continuam impedindo do mesmo modo nos tempos de república. Ainda segundo Laurentino Gomes, desta vez citando Oliveira Viana, que afirmou no livro O Ocaso do Império, o seguinte: “Eram realmente os ministros os que deturpavam as intensões do monarca”. E o próprio Laurentino confirma que os ministros no antigo regime eram os verdadeiros culpados pelas deturpações do regime monárquico. Como se vê, a única diferença é só no nome do regime de governo. No mais é tudo igual. Aí estão trinta o nove ministérios custando cada um deles uma montanha de dinheiro para ser esbanjado, o que inviabiliza o êxito de qualquer administração pública tenha ela o nome que tiver. Aliás, como disse o personagem do mestre Raul Cortez da novela O Rei do Gado, um bom presidente não pode fazer que de um mau ministério saiam boas obras, mas um bom ministério pode tirar boas obras de um presidente ruim.

Apenas uma das coisas do sistema imperial contadas por Laurentino não é mais hoje como era naquele tempo porque ficou ainda mais danosa à sociedade. Se, como diz o historiador, os salões do império procuravam imitar o ambiente e os hábitos de Viena, Versalhes e Madri, hoje os palácios europeus estão superados em suntuosidade e esbanjamento pelos palácios de Brasília onde não é necessário prestar conta das despesas pessoais. Cartõezinhos mágicos que só mesmo a magia explica, chamados Cartões Corporativos, uma espécie de varinha de condão, dispensa preocupação com o saldo da conta bancária porque duzentos milhões de súditos param por um instante o que estão fazendo, pagam a conta do cartãozinho mágico e voltam a rebolar no axé, no futebola e na igreja onde também já se rebola. É muito duvidoso que algum chefe de palácio europeu conte com os aplausos de seus pagadores de imposto por trepar acima das nuvens, principalmente depois de ter sido pau-de-arara, coisa que por aqui transforma em herói o autor de tal façanha. Mas não é apenas a suntuosidade dos palácios que nos acompanha.  Quando o mestre Laurentino disse que o trono (governo daquela época) era sustentado pelo apoio dos fazendeiros que eram donos ou também traficantes de escravos, e que em contrapartida a esse apoio o trono lhes concedia títulos nobiliárquicos, parece estar descrevendo o que ocorre também em Brasília e se espalha pelo resto deste país de idiotas. Do mesmo modo como acontecia em 1889, também acontece agora. Quem sustenta o governo são também os fazendeiros e donos de escravos e do agribiuzinesse, e das empreiteiras, além dos fazendeiros colonizadores das bundas brancas que chegam de Me Ame com pastas 007 vazias e voltam cheias.

Até nas entrelinhas pode ser encontrada a origem negativa das coisas que nos tornam inferiores como o tal de “jeitinho”. Ele estava presente lá na arrumação que o trono fez para transformar brutamontes em nobres, e hoje transforma palhaço e chutador de bola em legisladores, analfabeto e ignorante em doutor. Além disso, a mesma ignorância e pobreza que reinava do lado de fora dos salões europeizados do império, também hoje os que não fazem parte dos apadrinhados pelas sombras dos palácios vivem os mesmos vexames oriundos da ignorância e da pobreza que viviam os súditos no império. Se uns padecem da ignorância de ajuntar riqueza como querendo ser dono do mundo, outros chafurdam na ignorância de se sentir a gosto na pobreza tanto de bens materiais como espirituais ao viver sem dignidade esperando como cão caseiro que lhe sirvam a comida através dos vários tipos de bolsa.

Pode-se bater pé firme que tá tudo do mesmo jeito dos tempos de antanho. Também hoje o governo retribui aos fazendeiros que lhe garantem eleição colocando à disposição de sua sanha o couro do lombo da cambada que paga imposto. Com o começo mostrado pelo livro 1889, só poderia mesmo dar nesse fim que resultou nessa espécie insignificante de sociedade que somos nós, por culpa exclusiva de quem não pensa.

O jornal Folha de São Paulo publicou há algum tempo um artigo de pessoa importante no mundo intelectual, portanto, bem preparado pelo sistema de educação, e que sabe escrever, dizendo que na sua juventude, juntamente com amigos, comiam à vontade em algum barzinho e depois simplesmente diziam que não tinham dinheiro para pagar. Isto demonstra o quanto estamos distantes de uma sociedade sem necessidade cerca elétrica. Quando alguém que chegou ao mais alto grau da escala educacional que a sociedade dispõe e pratica atos desonestos como distração evidencia a impossibilidade de andar rumo à civilização. Não é o espírito jocoso da juventude que justifica servir-se do serviço de um restaurante e se negar a corresponder com sua responsabilidade de retribuir com o pagamento da despesa feita. É o desconhecimento da necessidade da cooperação de cada um para que possa haver paz para todos. Somente com a participação positiva individual se forma uma coletividade pacífica porquanto estarão todos trabalhando pelo mesmo objetivo. Ao contrário, a beligerância ou participação negativa e individualista só contribui para a formação de uma sociedade rudimentar capaz de conviver com pedaços de cadáver pelas ruas. E é assim que vai ser enquanto a juventude não entender que o ser humano não é mais bicho e que por isso mesmo não pode abrir mão de observar certas regras de conduta proibindo comportamentos que prejudicam a vida em comum.

Só o exercício do raciocínio, da meditação, é capaz de orientar para uma vida com dignidade. O que se aprende nas escolas leva a um comportamento oposto à racionalidade, razão pela qual se faz necessário começar a juventude a entrar na escola que ensina o que nenhuma escola ensina: viver em sociedade. Tudo o que se aprende nas escolas levam exatamente ao contrário do que deveria ser para que a sociedade pudesse ser civilizada. Jovens que frequentaram as melhores escolas se tornam velhos tão despreparados para a vida que atribuem a Deus a responsabilidade por algum acontecimento auspicioso, ou se dizem amantes de futebola, prática que visa exatamente manter as pessoas impedidas de se desenvolverem espiritualmente. Ao contrário, torna as pessoas tão curtas de capacidade mental a ponto de desconhecerem o verdadeiro caráter de negociatas que tomou o lugar do esporte. Nossa sociedade torna banal a prática de roubar há milênios condenada, tornando-se uma sociedade de ladrões em vez de cidadãos. Nossos jornais mostram os mais variados tipos de roubo que vão da presidência da república, como mostram os livros Honoráveis Bandidos, Privataria Tucana e O Chefe. A partir do topo da pirâmide, o vírus da roubalheira desce até à base. A imprensa está noticiando que a senadora Kátia Abreu, ora ministra da agricultura, além de pecuarista (como os fazendeiros do império) e adepta do agribiuzinesse, assumiu a responsabilidade por um empréstimo de um milhão de reais embolsados por um filho seu lá no BNDES, empréstimo que não foi pago. Sabendo-se que o exemplo vem de cima, compreende-se perfeitamente o motivo pelo qual a situação cá embaixo é de ratazana. Caso haja alguém que ainda não tenha visto o filme dos malabarismos que rolam lá em Brasília desde mesmo antes dela existir (e vá às favas quem diz para escrever “de ela”), mas poucos sabem o que se passa por lá porque manada só se interessa por capim.  Para começar a parecer gente, peça ao amigão Google para mostrar o que diz o mestre do jornalismo Mauro Santayana (que apesar de mestre ainda acredita em Deus) no artigo A CRISE DA RAZÃO POLÍTICA E A MALDIÇÃO DE BRASÍLIA. A leitura deste trabalho é capaz de substituir o desconhecimento até mesmo de quem prefere capim, pelo conhecimento da triste realidade do que acontece em Brasília e contamina o resto do país.

Ainda que demore, é inevitável a existência de uma juventude inteligente que nascerá destes jovens que participam de grupos como os da Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos. São pessoas que aprenderam a realidade de sermos nós os responsáveis por nós mesmos, o que significa a necessidade de assumirmos tal responsabilidade em vez de esperar que Deus ou a corja da administração pública cuide do nosso bem-estar. A geração do futuro cuspirá na lembrança desta geração de requebradores de quadris e enchedores de igrejas e de latrinas que não sabem fazer nada além de bobagem. Aliás, é bem feito que façam isso, e tomara que seja uma cusparada grandona. Se nascemos sob o signo da torpeza, nele não devemos permanecer. Nenão? Inté.

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