A observação da vida leva à
conclusão de que uma mentira repetida mil vezes tem a desvantagem de assumir
foros de verdade. Mas o fato de ser considerada verdade não quer dizer que o
seja. Continua sendo mentida e como tal convence de se estar procedendo
corretamente, quando, ao contrário, procede-se erradamente. O fato de ter a
vida dos seres humanos como paradigma duas grandes mentiras que acreditam serem
verdades vem orientando-os de forma tão equivocada que eles produzem sua
própria infelicidade em vez da comodidade indicada pelo pouco de sabedoria
existente na natureza. Resultou em desassossego generalizado o procedimento
humano orientado por duas grandes mentiras transformadas em verdade pela
repetição transmitida de pais para filhos através das gerações. Uma destas
mentiras é a promessa dos administradores públicos de organizarem uma sociedade
justa com os recursos que seus membros lhes entregam para esta fim Outra grande
mentira é contar com proteção divina. Da administração pública, em troca de
muitos bilhões a sociedade é enganada com o mínimo necessário para conter a
explosão que aconteceria se nada recebesse. Apenas migalhas e nada mais. Outra
mentira que virou verdade de tanto ser repetida e transmitida de pais para
filhos é Deus. O comportamento de esperar lisura dos administradores públicos
na aplicação do erário trouxe ao caos proveniente da falta do dinheiro cujo
destino a ninguém mais é dado o direito de ignorar porque a imprensa mostra
diariamente o que é feito dele, enquanto que o comportamento de esperar de Deus
alívio para os sofrimentos decorrentes da falta da aplicação correta dos
recursos públicos, embora esperada desde que se tem notícia da existência das
religiões, nunca veio nem nunca virá simplesmente por não existir Deus.
É, pois, por ter seu comportamento
fundamentado em duas mentiras transformadas em verdade que o ser humano é
infeliz de uma infelicidade da qual nem sabe existir como evidenciam as
festividades na juventude e tormentos depois dela em consequência de ter passado
a vida inteira brincando e correndo atrás de dinheiro, sem ter tido um momento sequer
de reflexão. Quando acontece de algum gato pingado parar para pensar, tais
pensamentos versam sobre inutilidades como a preocupação em saber de onde
viemos, para onde vamos, qual nossa finalidade no mundo. Enfim, apenas
baboseiras, quando em primeiríssimo lugar a preocupação de todo aquele capaz de
pensar deve ser no sentido de se viver de forma agradável, o que é inteiramente
possível, dependendo unicamente de que os recursos produzidos pelos seres
humanos sejam gastos visando tal objetivo. Entretanto, graças às mentiras tidas
como verdades, não se percebe ser inteiramente inaceitável do ponto de vista do
bem-estar social a existência das fortunas individuais mostradas à sobeja pela
imprensa do mundo inteiro.
Se a humanidade vai de mal a pior,
tal fato se deve exclusivamente à falta de meditação sobre como ir melhor. Toda
informação precisa ser examinada e reexaminada antes de ser aceita como
verdadeira. Caso contrário, cai-se na mentira de ganhadores do Nobel de ser a competição
a forma ideal para se viver em sociedade. A competição é uma invenção
antissocial que deu origem à acumulação de riqueza num só lugar e miséria nos
outros lugares. A sintonia fina da reflexão de Machado de Assis levou-o a dizer
no conto A Igreja do Diabo que a economia tem por base a avareza. Portanto, a
felicidade humana depende de uma juventude menos fácil de ser enganada que se
ponha a refletir sobre a necessidade de pensar. Inté.
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